segunda-feira, 15 de junho de 2009

Economicómio VI – Califórnia, Califórnia

Economicómio VI – Califórnia, Califórnia

Vão mal as coisas, com a Califórnia.
O paradigma do sonho americano. A população dispersa, o predomínio do automóvel, Sillicon Valley, Hollywood. Um actor como governador do Estado.
A Califórnia, se fosse um país independente, seria o 10º em PIB.
Mas vem agora o actor governador, provavelmente depois de industriado pelos economistas neocons que lhe fazem as contas e o mapa das decisões, informar que as finanças do Estado faliram, que o deficit se tornou incomportável, e que o número de alunos por turma vai ter de aumentar.
Já tinha causado surpresa a falta de resposta dos bombeiros e da protecção civil aos incêndios que desflorestaram parte significativa da Califórnia e desalojaram muitos habitantes.
Depois, aquele acidente no suburbano de Los Angeles. Os comboios sem protecção automática nenhuma…
Mas agora compreende-se. Foi o deficit.
Isto de se ser o 10º no PIB tem os seus perigos. Foi assim que a Polónia começou, nos anos 80. Era o 10º também, na altura.
Pelos vistos não é a ideologia que resolve as coisas. O contexto multi variáveis complica tudo.
E actores como chefes de estado não ajuda, especialmente se o petróleo não está barato (seria interessante estudar a correlação entre os êxitos do reaganismo e do tatcherismo e os preços baixos do petróleo e a abundância do petróleo do mar do Norte; e também a correlação entre a crise política em Inglaterra neste ano da graça de 2009 e o declínio da produção de petróleo do mar do Norte).
De modo que os gurus economistas têm muito trabalho aqui na Califórnia para fazer.
Sugiro primeiro que vejam o “Crossing over”, como diagnóstico da imigração ilegal.
E depois, talvez rever os princípios da religião oficial, de que é preciso crescer sempre, e aumentar a produtividade.
É que se uma produção contribui para o agravamento da situação global (por exemplo, produzir automóveis agrava as coisas porque contribui para a extinção do petróleo e para o aumento da poluição), aumentar a produtividade ainda é pior.
Concordarão os distintos economistas em passar a avaliar a produção, isto é, o PIB? Em passar a calcular o valor das coisas em vez do custo e do preço da coisa? (“o economista é quem sabe o custo de todas as mercadorias, mas desconhece o valor delas”). Vale a pena investir em desenvolvimento de programas de toques e jogos para telemóvel?

3 comentários:

  1. Os britânicos continuam a dispor de energia barata, sobretudo graças aos acordos com a Noruega para o fornecimento de gás e petróleo do Mar do Norte. Aliás, a maior jazida de gás natural do mar do norte abastece exclusivamente a Grã Bretanha e foi descoberta no inicio desta década.
    Reagan, tal como o actual governador da Califórnia, também era actor, e não foi por isso que os EUA deixaram de ter um crescimento fulgurante.
    Embora não me recorde da causa do acidente do ano passado, o mais grave acidente ferroviário da Califórnia e talvez o pior do mundo teve origem num erro humano (o maquinista passou o sinal vermelho, o que não teria acontecido o comboio fosse conduzido por uma máquina).
    O aumento da produtividade, embora não seja uma religião (ao contrário de várias doutrinas políticas) permitiu que as condições de vida sejam hoje, e apesar da crise, as melhores de sempre, basta ver que, não só, permitiram a criação dos actuais sistemas de protecção social, como permitiram reduzir significativamente o tempo da jornada de trabalho. É curioso observar que países como a China apresentam jornas bem maiores que os países europeus ou norte americanos, será da ideologia?
    A economia é a ciência que estuda a decisão e não o preço. Como está bom de ver, para se decidir quanto melhor e em maior quantidade for a informação melhor, e é por isso que os economista trabalham o custo e não preço, pois este conceito engloba toda a informação disponível, seja ela tangível ou não.
    Se ninguém comprasse jogos e toques de telemóvel ninguém investiria. O entretenimento é o negócio do século XXI.

    PJP

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  2. É verdade, o entretenimento é o negócio do século XXI. E desenvolve-se com grande produtividade.
    Mas,o que eu questiono é se o rumo está certo. Neste sentido: se as economias dominantes estão a diminuir o fosso entre ricos e pobres (por favor, da Riqueza das Nações, outra vez não)enquanto há petróleo barato, porque depois vai ser mais difícil (e a produção do mar do Norte já está a baixar...), ou se pelo contrário as economias vão continuar a envenenar com "produtos tóxicos". Insisto: o crescimento de Reagan e de Tatcher só foi possível graças ao petróleo barato (e à produtividade, claro, mas como dizia o doce rabi, os filhos das trevas têm uma produtividade muito maior do que os filhos da luz).

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  3. Carissimo anónimo PJP
    Não leve a mal a referencia à religião. A religião é uma necessidade do cérebro humano (a criança, antes de sofrer a educação,dá vida ao boneco, fala com ele e atribui-lhe actos) e o cérebro humano preenche os intervalos entre os pontos de informação como muito bem entende (engana-nos). O meu ponto de vista é que a fé na produtividade tem muitas semelhanças com a religião e é uma visão incompleta da nossa "oikos". Que, concordo inteiramente, estuda a decisão. Não perca oo próximo Economicómio sobre a decisão do TGV (vê? se eu fosse neo-liberal. com este suspense, cobrava já publicidade no blogue).

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