segunda-feira, 8 de junho de 2009

Arquitectorium 2 – O mosteiro de Seiça, o pavilhão da pala e o paço de Avis

Há dias, lancei um desafio aos meus amigos arquitectos:

"Nem no desleixo e na falta de manutenção nós somos originais. Pelos vistos os Américas não nos ficam atrás.
Aceitam o desafio de fazerem um powerPoint com 16 edificios portugueses ameaçados? Sugiro para começar a torre do castelo de Serpa. Tambem o defunto Hotel Estoril Sol, digno parceiro do Plaza Century.
Pobres estádios demolidos do Benfica e do Sporting. Até um estádio do Frank Lloyd Wright vai pelo mesmo caminho. E têm as pirâmides 7 milénios... é possível à Humanidade regredir. Com esta tecnologia toda e regride...

Check out this page on MSN:
http://cityguides.msn.com/articles/slideshow.aspx?cp-documentid=19546585&imageindex=1 "


Dado que não houve seguimento, eu insisto.

1 - Comecemos pelo mosteiro de Seiça, na freguesia de Paião, Figueira da Foz. Vejam as fotos. Conheciam?

http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=482672



É um bom exemplo de uma unidade económica que não se adaptou à evolução. Floresceu no tempo dos coutos medievais de caça sob uma ordem religiosa, depois ligado à exploração agrícola dessa ordem. Com a perda do poderio económico das ordens religiosas no século XIX, tem um pequeno período de prosperidade abrigando uma unidade fabril. Mudança de tecnologia e queda na degradação de hoje.
A Câmara da Figueira adquiriu o mosteiro por 225.000 euros mas não tem agora dinheiro para a recuperação.
Pensa-se em pousada ou em turismo rural.
Aceitam-se ideias e sugestões para investimento que justifique a recuperação.
Imaginemos o que mais falta faz no nosso país, sem ser aquela coisa intangível de capacidade de organização planificada e de tomada de decisões para objectivos úteis: talvez escolas ou hospitais. E lembremo-nos do guru Drucker, que defendia que devíamos desenvolver os nossos clusters tradicionais. Pronto. Está decidido: pode ser uma escola agrícola com terrenos suficientes para a prática de agricultura de subsistência. Digo-vos que foi das melhores aguardentes vínicas que já provei, uma destilada no Paião. Já não deve fabricar-se, mas que aguardente.
De modo que aqui fica a sugestão. Para a operacionalizar, é preciso contratar alguns jovens licenciados em várias disciplinas (arquitectos, por exemplo, agrónomos/silvicultores, advogados, ah, é verdade, economistas) para fazer os projectos, incluindo o emparcelamento dos terrenos à volta. Não deve haver entidades privadas interessadas. Pode inscrever-se no orçamento do Estado uma verba pequenina para se irem fazendo os projectos? Ah, também podemos destinar uma percentagem nas licenças de construção duma área razoável à volta para financiar os primeiros anos do projecto?
Gostaram da ideia? Querem saber donde a tirei? Das vinhas da ira, John Steinbeck, escritor de simpatia pelos conservadores/direita, anos 30, logo a seguir à grande depressão. Recomendo a frase do Henry Fonda, com ar ingénuo e incrédulo, e sem saber nada de finanças, como dizia Pessoa de Jesus Cristo: “Mas porque não faz o governo mais quintas destas?”
2 – Passemos ao pavilhão da pala. Dizem-nos que os gestores andam à procura de um destino para o pavilhão de Portugal na Expo98. E que é uma pena uma obra de arquitectura tão excelsa estar assim exposta à inutilidade e degradação. Talvez este seja um caso emblemático da imprudencia da falta de planificação que nos caracteriza agora (parece que o problema do mosteiro de Seiça, até ao dealbar do século XX, não foi a falta de planificação). Então faz-se um programa de arquitectura para um edifício servir de sede do conselho de ministros?
E não se ouve alguém perguntar: “O quê?”
Ou talvez não me tenham contado bem a história.
E depois vem aquela da pala que dá direito a fotografias nas revistas internacionais de arquitectura.
Mas o que tinham contra o outro mosteiro, o de S.Bento?
Que bom que é termos mostrado ao mundo a nossa capacidade de realizar a Expo98.
Valha a verdade que falharam a marina (gostaria muito que as obras da marina dêem resultado, mas como o projecto não circulou em debate público, está-me a fraquejar a fé; feitios), a incrível sobre-exploração das áreas de construção e a triste ideia de não substituir o oleoduto para abastecimento de combustível do aeroporto da Portela.
E falhou também o pavilhão da pala .
A pala é uma estrutura muito interessante de engenharia civil, com recurso à técnica do pré-esforçado; se ocorrer um incêndio com concentração de calor sob a pala ela corre o risco de entrar em colapso devido às características do pré-esforço, que exigem ainda uma verificação periódica do estado de tensão dos aços. Isto é, trata-se de um espaço que não pode entrar em degradação.
Se não tivessem sido construídos dois horríveis edifícios ali junto do Cais do Sodré (só são horríveis vistos do rio), eu diria que ficaria bem no pavilhão da pala o observatório da tóxico-dependencia ou a sede do controle costeiro.
Mas assim, vou ter de recorrer ao binómio, ou uma escola, ou um hospital.
Aqui, talvez apareça um privado para um hospital, não acham? Eu sugiro um hospital para tratamento de doenças do foro das carências de serotonina e outros neuro-transmissores.
Vale a sugestão?
3 – O paço de Avis . Já aqui falei no paço de Avis. Sugiro um passeio até lá. É uma sensação estranha ver um edificio tão grande e tão antigo ainda de pé, mesmo não tendo manutenção. Talvez os meus amigos economistas aprovassem um plano de viabilidade para transformar “aquilo” numa pousada para turistas alemães, chineses, japoneses, angolanos ou russos, com programas pré-estabelecidos para conhecer os castelos alentejanos (por falar em Alentejo, não é que foi um êxito o investimento num fluviário em Mora? Quem diria, ainda por cima feito sem nós nem o governo sabermos…).
Que acham os meus amigos arquitectos de tudo isto?

PS em Outubro de 2009 - Contrariando o meu pessimismo e graças ao correcto procedimento de alguns decisores, a marina da Expo reabriu em Agosto de 2009. Votos de sucesso na sua manutenção.

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