quarta-feira, 29 de julho de 2009

A rapidez do castigo depois do descarrilamento na Croácia

Este pequeno comentário pretende recolher as informações disponíveis sobre as prováveis causas do descarrilamento de um comboio pendular na Croácia, perto de Split.
1 – o descarrilamento deu-se por excesso de velocidade relativamente ao estado da via (chama-se a atenção para que a velocidade é excessiva sempre em relação a qualquer coisa, e, no caso das velocidades elevadas, a exploração só é segura se o projecto, a execução e a manutenção da via férrea, forem correctos e adaptados a essas velocidades)
2 – o excesso de velocidade deveu-se, provavelmente, à presença de uma substancia lubrificante entrando na composição de um liquido retardante de chama, que tinha sido aplicado havia poucas horas antes; esse líquido retardante é eficaz na protecção contra a ignição de ervas secas em tempo quente; porém, aplicada por vaporização depositou sobre os carris uma camada lubrificante que impediu a travagem
3 – não obstante o que antecede, os próprios técnicos dos caminhos de ferro já tinham informado que o estado da via existente não é compatível com os comboios pendulares; em reforço desta afirmação, temos que no ano passado tinha havido um descarrilamento no mesmo local, sem a projecção mediática deste, no qual morreram turistas; o próprio comboio de socorro ao comboio agora descarrilado, em chegando ao mesmo local, entrou em velocidade excessiva e descarrilou (é uma fatalidade dos caminhos de ferro: originalmente construidos para velocidades de 60 km/h, suportam agora velocidades duplas – isso tem que ver principalmente com a estabilidade do leito de via e com a escala ou inclinação nas curvas para compensar a força centrífuga) ;
4 – já se encontram detidos responsáveis pelos caminhos de ferro e pela firma que vendeu o produto; quem mandou prender não se interrogou por que não mandou prender ninguém no ano passado; tampouco se interrogou por que na Croácia não se segue o método usado nos países anglo-saxónicos do gabinete oficial de investigação de acidentes fazer o seu trabalho fornecendo as informações factuais que for obtendo à medida que a investigação progride. Dito de outro modo, é essencial que se faça uma investigação isenta e precisa após cada acidente. Só assim se podem evitar as suas repetições. Deixemos o pelourinho no seu sítio histórico: a Idade-Média.
5 – em resumo, o transporte ferroviário é uma resultante com muitos componentes que interferem uns com os outros, requerendo que a cada alteração num dos componentes (por ex, alteração de velocidade, aplicação de um produto novo mesmo que aparentemente nada tenha com o assunto – recordo o perigo corrido no metropolitano de Lisboa quando se adoptou o processo de soldadura por arco eléctrico dos cabos de retorno nos limites dos circuitos de via, processo esse já abandonado) se faça uma reanálise de segurança de todo o sistema; é esta a mensagem que nos chega da Croácia.
PS - Relativamente aos perigos de utilização de produtos químicos nos carris, considerar também os líquidos e as massas lubrificantes para diminuir o atrito entre a roda e o carril que por um lado reduzem o perigo de gripagem e galgamento do carril nas curvas, reduzem também o ruído nas curvas, mas por outro lado podem aumentar as distancias de travagem. É imperativo que o aplicador do líquido ou massa o faça apenas no verdugo da roda (a coroa circular saliente relativamente à periferia de apoio da roda no carril) de modo a não escorrer para a mesa de rolamento. É aliás uma boa prática calcular as distancias de travagem para condições de má aderencia, como a presença de folhas mortas e humidas sobre os carris. No caso do pendular que descarrilou na Croácia, teria sido boa ideia pôr no caderno de encargos o requisito de travagem electromagnética (binário resistente devido a campos magnéticos entre o carril e electroimans a bordo).

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