quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Nando e Beto, ou das vantagens em deixarmos as regras eleitorais como estão

Nando ficou muito contente consigo próprio quando foi eleito presidente da sociedade Sabedoria das Multidões - Produtora Lírica de Ilusões.
Os accionistas votaram inequivocamente nele, apesar de a imprensa sensacionalista ter contado umas histórias duvidosas da sua vida privada.
Nando desempenhou muito bem o seu papel de vítima perseguida e exposta nas bocas grandes do mundo e, como ele próprio dizia, com muito talento, convenceu os accionistas.
Porém, os mesmos accionistas, fazendo jus ao nome da sociedade na parte que diz “Sabedoria das Multidões”, e respeitando religiosamente as regras eleitorais em vigor na sociedade, arranjaram maneira de eleger para o Conselho de Fiscalização um número de delegados não afectos a Nando superior ao número de delegados seguidores incondicionais de Nando.
E isso era o que toldava a felicidade de Nando.
Isso e a diminuição dos resultados das vendas das ilusões produzidas pela sociedade; mas desta matéria se ocupava o tesoureiro, técnico contabilista reputadissimo.
Beto também ficou eufórico quando chegou a vez dele e os accionistas da sociedade Os Desunidos da Beira-Rio, uma empresa de lazer e de contentores ligada à exploração marítima e fluvial, pertencente ao grupo-holding da Sabedoria das Multidões - Produtora Lírica de Ilusões, o elegeram presidente da “Desunidos”.
E no calor da vitória, Beto proclamou que quem não pensava como ele tinha perdido.
Ter-se-á Beto precipitado ao fazer tal afirmação, já de si perigosa porque radica nas ideias mazdaistas do Bem e do Mal do século VII antes de Cristo.
Porque os accionistas da “Desunidos” fizeram como os accionistas da “Produtora Lírica”, e elegeram para o Conselho de Fiscalização mais delegados não afectos a Beto, do que delegados seguidores incondicionais de Beto.
Beto empalideceu quando lhe foram dizer que não iria poder fazer aprovar as grandes opções estratégicas da “Desunidos” sem introduzir correcções que os delegados não afectos, representando a vontade dos accionistas que os elegeram, acharem por bem propor.
É natural que haja sempre correcções a propor num grande projecto, uma vez que muitos pares de olhos vêm melhor do que poucos pares de olhos, e nenhum par de olhos vê melhor do que um conjunto alargado de pares de olhos.
É uma lei da psico-sociologia, que se há-de fazer; embora Beto, mal aconselhado, considere infalíveis as suas equipas técnicas; mas só quando concorda com elas.
Beto recompôs-se, recuperou as cores e a calma e retomou com Nando uma velha e perigosa ideia: reformular as regras eleitorais.
Na realidade, por um feliz acaso (serendipity?), as regras eleitorais das empresas do grupo “Sabedoria das Multidões” estão muito bem feitas e permitem aos accionistas minoritários fazer ouvir a sua voz nas assembleias do Conselho de Fiscalização, como factor de contra-poder das estratégias maioritárias.
Nem todas as empresas são assim, havendo assembleias eleitorais em que um accionista poderoso, por ter a maioria das acções, consegue o poder absoluto, sem oposição e sem representação dos accionistas minoritários, na presidência executiva e no Conselho de Fiscalização.
A Humanidade já passou por essa fase no século XVIII, no tempo da delegação divina do poder na monarquia absoluta e o próprio sistema uninominal das eleições presidenciais dos estados unidos da América do Norte é uma sobrevivência desses tempos.
Mas as técnicas de gestão e as leis da matemática entretanto desenvolvidas permitiram regras eleitorais como as que vigoram no grupo “Sabedoria das Multidões”.
Nando e Beto vociferam que assim não há condições para governar as empresas (na realidade, para as governarem só como eles querem, não) e tentam convencer os accionistas a autorizar a mudança das regras.
Mas os accionistas são sábios e não irão nisso.
Assim o espero.

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