domingo, 21 de fevereiro de 2010

Desastre na Madeira

Não vi televisão durante o sábado e a antena 2 que ouvi enquanto escrevia os últimos blogues não deu a notícia sobre as enxurradas na Madeira.
Mais uma vez a impotência perante o desastre, e desta vez foi connosco.
A sugestão do senhor presidente da Republica é de apoiar.
A engenharia militar é uma das razões por que as Forças Armadas devem ser mantidas com expressão no orçamento do Estado.
Recordo a sua atuação impecável nas enxurradas de 1997 que provocaram 13 mortes no Alentejo e no Algarve. A rápida construção de uma ponte em Tavira, que ainda funciona.
Recordo também as inundações de 1967. Uma ponte destruida numa povoação elevada, Pinteus, a Norte de Loures; gente morta em carros arrastados na estrada de Loures e em habitações precárias; a Associação do Técnico mobilizou-nos e seguimos em camionetas da Legião Portuguesa até aos locais piores, onde ajudámos com pás a desobstruir casas.
Segundo informações de meteorologistas, um dos principais fatores da precipitação excecional na Madeira foi a elevada temperatura da água do Atlântico (aumenta a corrente ascensional e a velocidade de condensação em contato com o ar frio). Outra lição que se retirou foi a necessidade do radar meteorológico para aumentar o período de previsão.
A engenharia militar poderá ajudar no estudo das condições topográficas e no levantamento das soluções corretivas (recordo que Eugénio dos Santos era capitão engenheiro militar).
Há ainda o LNEC e professores universitários da especialidade.
A CML há anos que debate com especialistas os riscos de inundações em Lisboa.
Não me agrada o “enfiamento" da ribeira de Alcântara no seu caneiro. Também na Estrada da Correia, junto da estação de metro da Pontinha a linha de água que ia dar a Sete Rios e daí ao vale de Alcântara se ocultou sob os pavimentos. Nestas coisas devíamos dar ouvidos ao senhor arquiteto Gonçalo Teles.
Há pouco tempo houve inundações em Sete Rios, culpabilizando-se a deficiente drenagem do viaduto do eixo norte-sul, que veio demonstrar a insuficiência da drenagem do próprio largo de Sete Rios.
É verdade que são situações excecionais, mas a drenagem deve estar dimensionada para a situação excecional e não para a média, mesmo que o período de ocorrência da exceção seja de 100 anos.
Mais recentemente o deslizamento de terras na CREL (insuficiência de drenagem, ausência de árvores e de estacaria para retenção dos solos, saturação dos solos com água, princípio de liquefação, deslizamento dos solos).
A experiência de deslizamentos de terras e de liquefação de solos (comportamento do solo como se fosse líquido), especialmente estudada no Japão, poderá ajudar (o indicador principal é a percentagem de argila e de areia nos solos; esta técnica teve aplicação através do LNEC no tratamento dos solos exteriores ao túnel reforçado do Metropolitano de Lisboa do Terreiro do Paço). Ainda há menos de uma semana terá ocorrido essa liquefação em Maierato, na Calábria, sul de Itália. A vertente de uma colina separou-se e deslizou centenas de metros, felizmente sem vítimas.
A questão central é portanto de ordenamento integral do território, sendo que se impõe um levantamento de todas as condições do terreno e isso exige um grande esforço inter-disciplinar, desde a topografia, ao urbanismo e ao estudo da liquefação dos solos. Não há nenhum sábio com visibilidade mediática ou muito apreciado por um decisor político que possa abarcar todas as disciplinas. Mais uma vez aqui se põe o problema do método de escolha dos “Manuel da Maia”, dos “Eugénio dos santos” e dos “Carlos Mardel” para a equipa de estudo.
Até que ponto é que não deveria tentar-se o método de apresentação de candidaturas com as propostas de coordenação inter-disciplinar?
Aguardemos, esperando também que seja aberta uma conta para contribuição para o esforço de reconstrução e de proteção futura, independentemente do apoio que é esperado da UE.

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