domingo, 14 de fevereiro de 2010

Economicómio XLIII – uma situação explosiva 5




Retomo o tema da situação explosiva, especialmente a nº1 (as dívidas - ver blogue de 4 de Janeiro de 2010) e a nº4 (previsão da evolução da dívida nacional – ver blogue de 28 de Janeiro).
Vou citar economistas credenciados.

ENTREVISTA DO PRESIDENTE DO BCP
O senhor presidente do BCP afirmou (e eu acredito) que é muito mais difícil fazer crescer o PIB do que controlar o défice e a dívida.
Será caso para dizer, então porque não controlamos?
Talvez porque achemos maioritariamente bem que os portugueses tenham, em 2009, comprado 161.000 automóveis ligeiros, o que dará aproximadamente 2.415.000.000 euros.
Leram bem, são à volta de 2,4 mil milhões de euros. Admitindo que um automóvel ligeiro se amortiza em 5 anos e que tem uma manutenção de 5%, temos que o sistema de transporte individual custa aos cidadãos cerca de 5 milhões de euros por ano, EXCLUINDO OS RESTANTES CUSTOS DE OPERAÇÃO (VULGO, COMBUSTÍVEIS).
Deveríamos comparar com os custos dos sistemas de transporte coletivo.
A um ignorante como eu de economia, custa a aceitar que os economistas que nos dirigem não reconheçam na compra de automóveis ligeiros um caso de viver acima das capacidades. No entanto, é um excelente exemplo do que se pode fazer para alimentar receitas fiscais e para demonstrar a teoria da vantagem comparativa de David Ricardo em 1817 (estou a ir outra vez ao Economia para todos, de David Moss) .

TEORIA DA VANTAGEM COMPARATIVA
A teoria da vantagem comparativa diz que não vale a pena perdermos tempo a projetar e fabricar automóveis (eu escrevi projetar e fabricar, não escrevi só fabricar, para não criticar a Auto Europa de Palmela) , coisa em que outros são muito bons, mas devemos em troca vendermos-lhes as coisas em que somos bons (desde os jogos para telemóvel do senhor professor António Câmara, até aos vinhos, cortiça, moldes de plástico, sapatos, T-shirts, medicamentos,sol do Algarve e castelos do Alentejo). E assim o PIB dos outros aumenta e o nosso também.
Conclusão, nada a opor a que se comprem os 161.000 automóveis (menos do que em 2008), desde que se exporte mais.
Devia ser a isto que o senhor presidente do BCP se referia.
Lá está, depois vêm os economistas (que produzem relatórios) dizer que só com o aumento da produtividade, quando me parecia melhor, a mim que tenho dificuldade em produzir relatórios, produzir as grandes quantidades de bom vinho e bom calçado.

ENTREVISTA DO DR JOÃO SALGUEIRO
O segundo economista credenciado que queria citar é o senhor doutor João Salgueiro, antigo ministro, que numa entrevista ao DN diz mais ou menos a mesma coisa que David Ricardo e a sua vantagem, e, tanto quanto me lembre, diz pela primeira uma coisa que se deve fazer em concreto.

DESAFIO AOS PORTUGUESES
Diz que se deve fazer listas do que podemos fazer, nós portugueses, neste campo da vantagem comparativa.
Esta ideia de fazer listas está na origem, por exemplo, do micro-crédito, dos bancos de tempo, das lojas de arranjos de roupa, de reparação de sapatos, da criação de cavalos na Quinta da Curraleira e dos rebanhos a atravessar a estancia de turismo (não é sinal de subdesenvolvimento, como diziam os provincianos do tempo das vacas gordas, é sustentabilidade, como dizem os provincianos de agora), apanhar ramos de árvores trazidos à praia e fabricar objetos decorativos (ver acima a foto do estudo prévio na praia) ou de utilidade, como candeeiros rústicos, cabides, … é o princípio da economia de subsistência, de difícil convivência com a fixação das prioridades em ter um carrinho novo e que acelere muito. E que os economistas oficiais têm muita dificuldade em compreender, porque não a deviam perseguir, deviam aprender com ela, e depois façam os acertos fiscais.
Ou podiam adotar uma postura mais interventiva, como falei no blogue de 8 de Junho de 2009 (ver em:
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2009/06/o-pensamento-portugues-xxxix-o-mosteiro.html ), a propósito de uma quinta do Estado, à moda das Vinhas da Ira de John Steinbeck, em Seiça.
Ou perder complexos e acreditar nas estatísticas das cooperativas e unidades de produção que registaram atuações produtivas na reforma agrária (eu sei que muitos economistas não acreditam que tivesse havido intervenções produtivas, ou não querem acreditar, ou acham que a única intervenção produtiva foi a venda de louça da companhia das Índias aos burgueses de Lisboa, ou ficariam com problemas de auto-estima se se rendessem à evidencia, mas que houve produção de bens alimentares em condições de rentabilidade, houve) e … reativá-las nas zonas em que a terra permaneceu abandonada após o fim da reforma agrária…

DESAFIO AOS ESTRANGEIROS
E o senhor doutor João Salgueiro, comentando as dificuldades burocráticas em Portugal lançou o desafio: como convencer estrangeiros a investir em Portugal?
Ora, dentro da tal vantagem comparativa, podemos deixar os reformados do centro e do norte da Europa estacionar no inverno as suas auto-caravanas nos parques de estacionamento das nossas praias para que eles comprem o pãozinho fresco e as verduras nos supermercados da vila (ver as fotos das auto-caravanas no parque de estacionamento; em chegando ao Verão voltarão à terra, que os verões na Europa do norte são aprazíveis; esperemos que não venha um sacerdote do templo expulsá-los porque faria muito mal à economia da vila). Ou, voltando ao blogue de 8 de Junho de 2008, a propósito do exemplo do fluviário de Mora, descer um pouco mais para sul e aproveitar a Torre de Brotas (ver em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Torre_das_%C3%81guias )
pousada para os senhores feudais do tempo de D.Manuel I repousarem das caçadas, classificada como monumento nacional e desgraçadamente se degradando, quando podia ser um espaço turístico.
Ou ouvir o que têm para dizer o casal, ele sueco e ela canadiana, que se estabeleceram no Alentejo a fabricar mosaicos hidráulicos decorativos.
Em tudo isto parece que a estrutura decisória deste país se dispersa nos seus mecanismos auto-bloqueantes…e que todos nós continuamos com grande dificuldade de nos organizarmos em equipas.

a continuar …quanto mais não seja para ver se percebo se é mesmo mais fácil controlar as dívidas e o défice do que o PIB.



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