sexta-feira, 12 de março de 2010

A queda do viaduto sobre o IP4

Custou-me acreditar em mais este acidente, o do viaduto em betonagem no IP4.
Encara-se com naturalidade a nomeação "de imediato", como se apressam a dizer, de uma comissão de inquérito que fará recomendações para se evitar a repetição do acidente.
Parece-me estranho que antes da comissão de inquérito arrancar no local, já os ferros caidos tenham sido retirados.
Encara-se, como um facto natural, não parar a circulação automóvel quando se executam obras críticas.
Parece-me que há demasiada apetencia por bodes expiatórios, enquanto os níveis decisórios mais elevados se consideram isso mesmo, elevados e acima de qualquer culpa, sem estabelecer correlações entre prazos curtos, custos reduzidos dos empreiteiros, ausencia de monitorização instrumental das deformações, deficiente controle da qualidade dos subempreiteiros, dum lado, e deficiencias de execução, do outro.
Pessoalmente, não me interessa agora procurar culpados.
Interessava-me mais que o conceito de segurança em obra em situações críticas fosse mais respeitado e tivesse prioridade sobre os outros critérios, como a rapidez de execução e a economia de meios, produtividade e competitividade.
Para ser mais direto, não é admissível em circunstancia nenhuma que se betone uma laje com pessoas a passar por baixo.
A circulação deveria ter sido interrompida durante o período de betonagem (a água do betão contribui, nesta fase, para o aumento do peso que os prumos de apoio da cofragem têm de suportar; acresce que o colapso de um ou vários prumos vai aumentar o peso que cada um dos outros prumos vai suportar; a saturação dos solos com as chuvadas que cairam também é um fator desfavorável).
Ao longo do tempo, tentei na minha empresa que em situações de trabalhos de risco fosse interrompida a circulação dos comboios.
Infelizmente nem sempre o consegui.
Há por vezes um conceito de facilitismo, de desprezo pelo risco, de maior preocupação em cumprir prazos do que privilegiar calmamente a segurança; muitas vezes já os prazos foram mal definidos porque não o foram com base nas análises técnicas mas sim com base em critérios de impacto mediático.
Eu diria que as empresas correm o grave risco de que decisões importantes como definir um prazo,estimar custos, ou avaliar os riscos de uma fase de uma obra, sejam tomadas por profissionais que ignoram ou não querem cumprir a teoria e prática de engenharia, embora possam e saibam manusear muito bem os conceitos económicos.
Mas neste caso, posso estar enganado, e o tempo o dirá, mas o inquérito será uma perda de tempo.
Quem já fez obras destas sabe que as estruturas de suporte das cofragens podem abater, podem cair.Por isso não devia haver circulação durante a fase da betonagem.
Aguardemos.

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