domingo, 11 de abril de 2010

Histórias da Carris de Lisboa

Passo os olhos por uma história da Carris e encontro motivos de admiração e de interesse.

O contrato para as linhas com tração elétrica é de 7 de Julho de 1899 e resultou de uma visita do administrador da Carris, Alfredo da Silva, em 1892, às principais cidades europeias, para recolha de informação sobre o melhor sistema de tração. O primeiro elétrico circulou em 1901.

O contrato de concessão da Carris, por 99 anos, data de 10 de Abril de 1882 e era apenas uma entre várias concessões de exploração de vias férreas concedidas pela câmara da capital, entre tração animal e tração por cabo funicular movido por máquina de vapor.

(ver em:
http://cid-95ca2795d8cd20fd.skydrive.live.com/self.aspx/Hist%c3%b3ria%20dos%20ascensores%20de%20Lisboa/historia%20ds%20ascensores.pdf                                                                                               )
Destaque para uma companhia dirigida tecnicamente pelo engenheiro francês do elevador de Santa –Justa (Raul Mesnier du Ponsard) que explorou ascensores de tração por cabo entre a Praça de Camões e a Estrela, e entre a Rua da Palma e o Largo da Graça.

Também muito curiosas as linhas de monocarril Larmanjat para Sintra e entre o Martim Moniz e o Lumiar; e o ascensor por cabo funicular entre o Largo D.João da Câmara e S.Sebastião, em 1899, pela rua de Santa Marta e Rua de S.Sebastião, que rapidamente foi substituído pelos elétricos na Avenida da Liberdade.

Viviam-se tempos de liberalismo económico, com várias companhias a utilizar os mesmos carris, o que faz lembrar agora a preocupação da Comissão Europeia em liberalizar os caminhos de ferro de modo a que vários operadores possam utilizar a mesma infra-estrutura de via.

A evolução económica e política foi no sentido da concentração pela Carris, que adquiriu sucessivamente os concorrentes. Ou estes faliram, simplesmente.
Interesses económicos e políticos àparte, existem razões de segurança que aconselham a que a mesma infraestrutura não seja partilhada.
Mas falta sensibilidade aos políticos e aos economistas para aceitarem isto. E ficam muito escandalizados quando acontecem apagões nas malhas partilhadas de distribuição de energia elétrica em alta tensão.
Faltará sensibilidade e algum conhecimento das experiencias históricas, como se as receitas liberais fossem uma grande conquista da ciência moderna.

Mas também na evolução do urbanismo em Lisboa se encontram vestígios muito interessantes de desagrado dos cidadãos.
Citação de José Rodrigues Migueis, em 1928, na Seara Nova nº 126: “Lisboa é um acampamento erguido à pressa por uma legião de construtores gananciosos, bárbaros, ignaros… guindados a orientadores da estética da capital, a ditadores da urbe nova”.

Voltando à história da Carris, mais duas anotações:
1 – O contrato de 7 de Julho de 1899 foi assinado entre a Carris e a sociedade Wernher-Beit (dois ilustres capitalistas alemães que tinham feito fortuna na África do Sul, em negócios de minas de diamantes, e que tinham a sua sede em Londres); daí a dias a sociedade Wernher-Beit transferia todas as suas obrigações para a Lisbon Electric Tramways, também de Londres. Não admira que a ligação entre alemães e ingleses fosse tão estreita; ambas as nações disputavam a África meridional, sem esquecer que o kaiser Guilherme II, o da I Grande Guerra Mundial,  imperador da grande Alemanha enquanto estes factos ocorriam, era filho da filha da rainha Vitória de Inglaterra.
2 – Embora a sociedade Lisbon Electric tenha feito um bom trabalho técnico, é uma pena assinalar que a câmara de Lisboa desde o princípio se manteve alheada das questões técnicas do transporte em Lisboa, delegando na concessionária, sem nunca ter criado uma tradição de “know-how”. Nisso contrastou, pela negativa, com outras capitais europeias.

PS - Na primeira versão deste texto, referi erradamente o nome e o parentesco do imperador da Alemanha quando começaram a circular ascensores de tração por cabo em Lisboa (1890). As refer~encias já foram corrigidas, graças à colaboração dos leitores.

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