segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O São Carlos em 2010-2011

A fotografia com a senhora ministra vinha no Oje de dia 16 de Setembro de 2010 e mostra-a, sorridente, ouvindo a soprano Ana Franco que cantava uma ária de Gianni Schicchi,  oh mio babino caro (oh meu papá querido).
O título anuncia 10 óperas para  a temporada 2010-2011.

Como se sabe, a senhora ministra demitiu o anterior diretor artístico do S.Carlos com o argumento de que a sua programação não era o que o publico do S.Carlos desejava.
Na altura, como espetador, protestei porque achei a sua programação com interesse e achei tambem que os diretores artisticos não se despedem como os treinadores de futebol, até porque neste caso o senhor parece ter levado uma indemnização superior a 150.000 euros e as programações de ópera têm de fazer-se com mais de 2 anos de antecedência.

Eis porque não pode agora aceitar-se o argumento de que a temporada foi o que se pôde arranjar com o tempo disponível e com os cortes típicos dum país em que o orçamento da cultura não é comparável com 1% do orçamento, apesar de já representar quase 3% do PIB.
Isto é, sendo a senhora ministra uma boa pianista, como se pode comprovar com os discos que ela já gravou, como teria sido bom ter-se limitado a ser pianista., para bem dos melómanos.

Sobre os cortes, também há a dizer que se estranha muito não haver apoiantes particulares e mais mecenas empresariais e  para complementar o esforço do ministério da Cultura. Assim como assim, esquecida a adesão popular nos espetáculos do Coliseu, ir à ópera poderia ser uma associação mutualista.
E além disso, depois daquele estudo que a senhora ministra encomendou ao senhor economista Mateus e que demonstrou que a cultura é um domínio gerador de mais valias (venda de espetáculos a televisões estrangeiras, receitas publicitárias em transmissões televisivas, promoção da venda de bilhetes junto de turistas) , custa a aceitar que a temporada seja pobre (sem menosprezo pelo trabalho dos participantes nos espetáculos; é que 10 óperas é pouco, nas condições em que vão ser apresentadas).

Quanto à temporada, são de facto 10 óperas, mas convirá esclarecer o seguinte, para que não se oiça só dizer mal do anterior diretor e do seu trabalho, como convem à propaganda da senhora ministra:
- duas das óperas são apresentadas em versão concerto (Dona Branca  de Alfredo Keil e Cavaleria Rusticanna de Mascagni, sendo que esta ultima vai ser apresentada isoladamente, apesar de ter pouco mais de uma hora de duração, pelo que seria expetável ser apresentada com outra no mesmo espetáculo)
- três das óperas já tinham sido contratadas pelo diretor anterior (Dona Branca, Katia Kabanova de Janachek e Banksters)
- Paint me é uma ópera de câmara de Luis Tinoco (sobre os contos de Canterbury) e é uma produção da Culturgest
- Blue Monday é uma ópera sinfónica de jazz de Gershwin que dura menos de 30 minutos (é apresentada no mesmo espetáculo com Gianni Schicchi de Puccini)
- Banksters  de Nuno Corte-Real (ou o banqueiro gangster, sobre Jacob e o Anjo de José Régio) tem uma duração de 1 hora, pelo que seria expetavel no mesmo espetáculo ser apresentada outra ópera
- a ópera para crianças Hansel e Gretel de Humperdinck será apresentada no teatro Camões, embora seja uma produção do Teatro de S.Carlos
- Restantes óperas:  O chapeu de palha de Florença de Nino Rota, e Carmen de Bizet
- Número de óperas que fazem parte da assinatura: 6
- aplaude-se a participação de cantores portugueses, mas faltam co-produções com outros teatros de ópera europeus (evidentemente que não havia tempo para as combinar)
- aplaude-se a contratação do maestro Martin Andre para diretor artístico, mas receia-se que a sua presença não seja a tempo inteiro, assim como se tivesse sido pedido emprestado
- lamenta-se que o diretor geral da Opart tenha declarado que há problemas graves, mas que só os discutirá na intimidade do seu gabinete e do gabinete da senhora ministra; é que viola o art.48º da Constituição (direito à informação de assunto de interesse público).

Mas que haverá de fazer-se? se estamos no país da maravilhosa imperfeição, como diz Eduardo Lourenço.
No entanto, considerando que   se estava à espera de pior, e a atenção dada nesta temporada aos cantores e musicos portugueses, é de aplaudir.
Mas não nos esqueçamos que, como dizia um senhor que não será um expoente da cultura mas que falou sabiamente, "assim não ganhamos o jogo". Isto é, quando tivermos o TGV, vai-se  à ópera em Madrid e volta-se logo a seguir, coisa que os nossos concidadãos de Barcelona não precisarão de fazer. Será a otimização dos custos através da centralização , do ponto de vista dos gestores de Lisboa, e a afirmação da soberania do ponto de vista dos gestores de Barcelona.

Mais informações em:
http://www.saocarlos.pt/gca/?id=958
e  em:
fanaticosdaopera.blogspot.com

sugerindo, para quem tem crianças, a Hansel e Gretel (sobre um conto de Grimm), cantada em português, no Teatro Camões, no Parque Expo. Pode ser que a maioria das crianças não goste, mas se uma só  delas gostar, terá valido a pena.

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