quinta-feira, 21 de outubro de 2010

A conjetura do economista envergonhado

Há médicos assim. Inibem-se de dizer a verdade ao doente. Mesmo que o assunto não seja sério, preferem manter a sua ciência longe da compreensão dos cidadãos e cidadãs.
Há economistas assim.
Uma análise psicanalítica poderia colocar a hipótese de ser por insegurança própria, resolvendo-se em vergonha ou inibição.
Têm pudor em explicar os efeitos nocivos das suas leis.
É apenas uma conjetura, a do pudor do economista.

Por exemplo, a lei de Philips, vive escondida, como já tenho dito.

A lei dos rendimentos decrescentes
A lei dos rendimentos decrescentes, também ( em inglês: rate to profit to fall - RTPF).
É uma lei de grande impacto na interpretação de fenómenos históricos e sociais. Aumentando um fator de produção mantendo os outros fixos, chegará uma altura em que a produtividade marginal  decrescerá (por exemplo, uma exploração agrícola aumenta a produção e o rendimento total até ao momento em que há excesso de mão de obra; idem para uma empresa em que o número de acionistas ultrapassou o ponto de equilíbrio).
Mas não se fala nela, apesar de Adam Smith e,especialmente David Ricardo, a terem desenvolvido; como se se quisesse manter os cidadãos e as cidadãs na ilusão de que a descida dos rendimentos de um investimento pode evitar-se indefinidamente. Valha a verdade que depois de Adam Smith e David Ricardo foi Marx que desenvolveu as aplicações desta lei, e os economistas de agora não gostam disso.
Porém a lei explica o que aconteceu, por exemplo,  em Opidium (a cidade romana a nascente de Óbidos, descoberta com a construção da A8) e em Conimbriga. As cidades floresciam e de repente desertificaram. Disse-se que tinham sido as invasões dos bárbaros. Ora, o conceito de invasão dos bárbaros é muito discutível e parece  ser primário, preguiça de se pensar melhor, porque as populações "agarradas" às economias locais, principalmente à produção agrícola, sempre foram prevalecendo ao longo das misceginações que se foram fazendo (ver Claudio Torres sobre este conceito). O que a lei dos rendimentos decrescentes explica é que a economia das cidades romanas assentava na escravatura, e foram aumentando de forma insustentável, como se diz agora, o número de escravos necessários para manter as cidades em funcionamento (poderiam ter utilizado a força do vapor que já era conhecida, mas os decisores políticos da altura não perceberam as variáveis em jogo e insistiram na escravatura) até que o rendimento decrescente levou as cidades ao declínio e à constituição dos montes agrícolas, unidades de produção agrícola autónomas, que depois deram nos feudos e nos conventos religiosos que tinham carater descentralizado e dimensões adaptadas à tecnologia da época. Isto é, a lei dos rendimentos decrescentes, não sendo o único fator,  ajuda a compreender o declínio do império romano (e também dos outros) e a ascensão do movimento religioso.

O indicador de Gini da desigualdade de rendimentos
E o indicador de Gini? Já tinham ouvido falar? Eu , pelo menos, desconhecia, apesar de ser um elemento estatístico.
Não, não se fala, mas é um indicador utilizado pelas Nações Unidas para estabelecer uma lista ordenada de países.
O indicador de Gini mede a desigualdade de rendimentos dos cidadãos  de um país, ou média  de todas as diferenças entre os rendimentos de todos os cidadãos           (ver http://en.wikipedia.org/wiki/Gini_coefficient#Credit_risk    e  http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_countries_by_income_equality  ).

E o que é mais importante, é que este indicador é um dos critérios de avaliação das agencias de "ranking" do risco do crédito.
Porque são os economistas tão envergonhados que não nos explicam isto mais claramente?
Isto é, mantendo os outros parâmetros, se quisermos taxas de juros mais baixas temos de baixar o indicador de desigualdade de rendimentos.
Por exemplo, o da Dinamarca é da ordem de 0,25, e o de Portugal é de 0,38 (valores limite teóricos: 0 para todos os cidadãos com rendimentos iguais, e 1 para um cidadão detentor de todo o rendimento nacional).
Podem consultar a lista no endereço indicado.
Como dizia Fernando Pessa, e esta, hein?

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