segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Economicómio LXIV - "Economia portuguesa, as últimas décadas", de Luciano Amaral

Mais um livrinho da coleção Fundação Francisco Manuel dos Santos que trago para casa do supermercado, no meio das batatas e dos sumos. Não é desprimor nenhum a companhia. A produção de bens alimentares é um sinal de força de qualquer economia se for garantida a autonomia alimentar. Custa o mesmo que 100 g de presunto de Barrancos.
O autor, especialista em história económica, propõe três soluções para a crise, lembrando que uma é positiva mas fortuita, outra negativa, e a terceira o que o cidadão quiser.
- a positiva: um país mais ou menos amigo (a China ou outro dos BRIC?) resolver investir a sério no país
- a negativa: abandono da união monetária europeisa e declaração de bancarrota (aumentar o período de pagamento dos juros)
- a positiva ou negativa conforme o cidadão quiser: como na jangada de pedra de Saramago, integração do país numa unidade política em que seja uma região subsidiada como atualmente é a Itália do Sul ou a  Alemanha de Leste
Eu, que sou pessimista, prefiro as 25 medidas do livro "os ultimos 200 anos da nossa economia e os próximos 30 anos", de Luis Monteiro, ou as 22 medidas dos economistas franceses horrorizados.
Luciano Amaral não é simpático, do ponto de vista económico, para os primeiros governos pós 25 de Abril . Fala nos choques petrolíferos de 1973 e 1979, mas talvez não explique toda a extensão dos impactos que eles tiveram; também me pareceria útil referir o relatório do MIT, que não foi muito critico, nos finais de 1975, sobre o estado da economia portuguesa.
Muito interessantes os dois gráficos:
- um sobre o PIB per capita desde 1820 , que era na altura 85% da média dos paises mais desenvolvidos, sendo agora 60% e o PIB por trabalhador-hora (a negregada produtividade do fator trabalho), que era em 1960 de 35%, sendo agora 50% da média dos países mais desenvolvidos;
- o outro sobre a despesa publica em percentagem do PIB, que era em 1960 de 18% (30% na Europa desenvolvida) , sendo 46% em 2008 (43% na Europa desenvolvida, que essa coisa do Estado-Providencia também é uma obrigação conforme a declaração universal dos direitos do homem).
Enfim, a ler, embora pareça faltar ao autor um mínimo de confiança em medidas concretas.

Nota: não vem no livrinho, mas vem a propósito citar esta estatística, de não sei donde: dívidas em janeiro de 2010 em percentagem do PIB de:
banca privada.......... 47%
pública.................... 53%
privada.................... 12%
empresas publicas.... 30%  (sendo ML, MP, CP e EP responsáveis por metade)
Temos mesmo um problema aqui. Mas como diz o autor, estas coisas não acontecem de repente, foram acontecendo apesar dos momentos favoráveis e fortuitos desde há muito. Não parece haver muito motivo de orgulho de quem quer que seja.

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