quarta-feira, 24 de novembro de 2010

à memória dos mineiros de 17 anos

O primeiro ministro da Nova Zelandia comunicou a morte dos 29 mineiros depois de uma segunda explosão na mina de carvão.
Uma das primeiras noticias relatava a reação de um colega nosso. Digo colega porque era um técnico: "num país como a Nova Zelandia estas coisas não deviam acontecer porque existem normas de segurança". Acresce outra inconformidade: o mineiro mais jovem tinha 17 anos; num país civilizado pode? num país civilizado subscritor da declaração universal dos direitos do homem a família precisa dos rendimentos de trabalho de um mineiro de 17 anos?
Foi essa a reação do nosso colega dos caminhos de ferro belgas, ao acidente com vítimas mortais nos arredores de Bruxelas, em Janeiro deste ano,  porque não havia ATP (Automatic Train Protection), nem sequer balizas de train stop que evitassem o acidente depois do maquinista, devido à neve, ter passado um sinal vermelho.
É verdade que para os volumes de produção de carvão e de tráfego de passageiros a percentagem de vítimas mortais é pequena.
Mas como disseram os técnicos referidos, chocados por ver que critérios de economia podem conduzir a situações destas juntamente com a convergencia de outras circunstancias, isto não deveria ser assim.
É fácil convencer as pessoas que os custos devem ser reduzidos e se deve cortar na despesa. Mas há cortes cegos, e a redução nos custos da segurança pode dar nisto.
Arriscamo-nos também a que depois venha justificar-se oportunisticamente um investimento "por razões de segurança" quando as razões podem não ser de segurança.
Por isso os debates devem ser abertos, fundamentados com antecedencia, e não submetida a condução dos processos a critérios só económicos.
Sei do que falo quando refiro o acidente ferroviário da Bélgica: não é aceitável que linhas e material circulante com aquele tráfego não estejam protegidas por ATP.
No caso das minas de carvão, em que o perigo vem do metano, acredito no colega neo-zelandês: se os sistemas de segurança estiverem bem montados , a probabilidade de desastre é muito pequena.
Mas a segurança exije custos, pelo que o critério de comercialização de um bem essencial como o carvão , isto é, energia, não deve estar dependente apenas do preço do mercado.
Será tão dificil de aceitar isto, pelos senhores economistas, que a segurança tambem tem um preço, que é o benefício, e que o carvão barato significa preço de dumping porque a segurança não entrou nos fatores de produção? E que dumping, até numa teoria liberal, é proibido.
Não querem que se mude o modelo económico-político, não é?

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