segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O trio elétrico - acidente em Minas Gerais

Trio elétrico significa, no Brasil, o carro do som.








Com o passar do tempo, o carro do som tornou-ser um camião com toda a aparelhagem sonora que permite levar a musica de carnaval às povoações mais distantes.
O trio elétrico pode ter um piso superior e facilmente se imagina que possam ser utilizados pendões ou objetos suscetíveis de provocar a tragédia que se verificou no estado de Minas Gerais, com a colisão com as linhas aéreas de 6000 volt.

Interessaria neste caso que técnicos da especialidade, da companhia de distribuição elétrica e das instancias oficiais e das universidades, investigassem as circunstancias do acidente e as divulgassem publicamente.

Existem neste momento dispositivos de proteção que permitem desligar as linhas quando ocorrem defeitos (indicadores de passagem de defeito à terra e relés de defeito da corrente homopolar).
Há 40 anos a sua fiabilidade deixava muito a desejar e por isso ocorreu uma acidente grave numa aldeia de Trás os Monts no preciso dia da inauguração do posto de transformação. Um cabo caiu e as proteções não atuaram. As pessoas que se deslocavam nas imediações morreram por terem sido submetidas à chamada tensão de passo, isto é, a distribuição das linhas de potencial a superficie da terra desde o ponto de contacto da cabo até ao ponto de potncial zero, era suficiente para eletrocutar a pessoa que se encontrasse apoiada nos dois pés entre essas linhas de potencial. As proteções não atuaram a tempo por não terem distinguido a situação de defeito (tensão anormal do neutro, valor anormal da componenete homoploar) da situação normal.

Acidentes do mesmo tipo são o contacto acidental (na realidade, devido ao efeito das capacidades parasitas, nem é necessário o contacto) de gruas com linhas aéreas de alta tensão, a instalação de antenas em telhados próximos de linhas aéreas, a execução de obras de viadutos sob linhas aéreas ou o corte de árvores nas suas imediações (a propósito, cito uma situação de elevado risco olimpicamente desprezada pelos decisores: turistas no primeiro piso dos autocarros sightseying quando equipados com guarda-chuvas passando sob a catenária dos elétricos ou da CP ou sob linhas de média tensão).

Atualmente os dispositivos de proteção são computorizados, embora possa sempre haver dificuldades de regulação que impeçam a deteção a tempo da situação de defeito.
Um dos riscos que se correm com a privatização das companhias de distribuição elétrica e a sua pulverização é justamente o desprezo pelas normas de segurança e a relutancia perante os custos dos equipamentos mais eficazes.

No caso do acidente no Brasil, podem ter prevalecido as dificuldades de deteção e de regulação da sensibilidade dos detetores de defeito, mas os cidadãos e as cidadãs têm direito a ser esclarecidos se os equipamentos instalados para deteção de defeitos eram os adequados, não bastando declarações da própria companhia (por razões óbvias).
Outra hipótese pode ter sido, no caso de o camião não dispor de um gerador de potencia suficiente para alimentar a instalação sonora e de iluminação, uma deficiente ligação temporária à rede fixa.

Embora os testemunhos registados pelos meios de comunicação social possam não ser fiáveis (uns dizem que não estava ninguem sobre o camião, outros dizem que sim), tudo indica que a situação se manteve durante algum tempo, até, provavelmente, o defeito se tornar franco e provocar a atuação das proteções de curto-circuito .
A hipótese de uma serpentina de fita de alumínio não parece credível , dado que rapidamente fundiria.
Seria mais provável a colisão de um objeto mais robusto e rotura do cabo (a averiguar a resistencia mecânica dos isoladores de fixação).
O cabo caido sobre o camião não é um defeito franco, fechando-se a corrente por capacidades parasitas; quem estiver sobre o camião e tocar quem estiver em terra provoca uma corrente de descarga fatal; quem se aproximar do camião é tambem eletrocutado pela tensão de passo; se não existirem, ou estiverem desreguladas, proteções homopolares e de di/dt (variação da corrente), a linha aérea trifásica continuará a ser alimentada.
Em exploração, trata-se de um problema complexo que exige muita atenção aos executantes da manutenção.
Na realidade, não deverá fazer-se fé apenas nas proteções.
Deveria ser evitado o traçado de linhas aéreas nas povoações, deveria interromper-se a alimentação das linhas durante a execução dos trabalhos inadiáveis (para isso a rede é malhada), deveria aumentar-se a altura dos postes (inconveniente: maiores gastos de manutenção na verificação periódica do estado de tensão mecânica dos condutores)

Consultada a informação da EDP na internet, registaram-se numa rede de média tensão no Alentejo, protegida de acordo com as normas, durante 14 meses, 104 defeitos, sendo 20 devidos a fenómenos atmosféricos, 8 a avarias de equipamentos e 76 a causas não identificadas, de que se supõe a maior parte ser atribuida a aves.

A propósito deste tema, não posso deixar de recordar o esforço dos técnicos que conseguiram, durante a construção da linha de metropolitano para Odivelas, cujo viaduto cruza uma linha trifásica de 220 mil volt,  especiais cuidados durante as obras e a instalação de uma gaiola de Faraday (aquela malha de rede metálica que coroa o viaduto) para proteção dos passageiros, das comunicações e dos equipamentos. Aquela linha deveria ser enterrada em cabos protegidos.

Informação sobre a deteção de defeitos em:

http://paginas.fe.up.pt/~ee08053/Tese.pdf

Vivam os Oscares

Vivam os Oscares.
Este blogue aplaude entusiasmado, embora o som das suas palmas pouco alcance.
Este blogue dedicou vários posts a um dos filmes premiados agora pela academia de Hollywood (categoria documentário): Inside job (a verdade da crise - por que será que os portugueses são especialistas em traduções dos títulos tão más?)




De modo que aplaude o realizador Charles Ferguson quando, perante a frívola e estouvada plateia, afirma com todas as letras: "Mais de dois anos depois da crise provocada pelos especuladores financeiros (e defensores da desregulação nos governos e nas universidades) nenhum dos responsáveis foi preso (ao contrário, alguns dos responsáveis estão no governo de Obama), e isso não é bom".

Aplausos.

Por cá, bem, nós por cá todos bem; mas podiamos reparar, guardadas as devidas distancias, que os senhores professores de economia e os senhores gestores bancários que querem governar as nossas opiniões continuam a insistir que o caminho é privatizar e desregular (quando se reduzem as depesas públicas ao mínimo dos mínimos é o que se quer dizer).
Mais valia que vissem bem o filme e que analisassem os factos numa economia mais pequena, a da Islandia. E percebessem as relações de causa e efeito entre as privatizações dos bancos, a desregulação e a bancarrota da Islandia.
E que percebessem as medidas da primeira ministra Sigurdardottir para a lenta recuperação que a Islandia está a conseguir.

Senhores professores economistas, vão ao cinema, vão ao cinema, olhem que não há mais metafísica no mundo senão nos filmes  (paráfrase da Tabacaria de Alvaro de Campos, de que cito:
"...Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras..".)

Enquanto não forem ao cinema não vale a pena argumentar convosco.
Deixem de ofender a inteligência das pessoas que têm o seu trabalho e não são economistas.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Very fast post in blog 43 - A renovação do parque escolar

Do mesmo modo que uma demasiadamente grande parte dos contratos públicos do nosso país, a renovação do parque escolar foi vítima de soluções baratas que supostamente satisfazem os cadernos de encargos ou as boas regras da arte.
São exemplo disso os estores exteriores (efetivamente o comportamento energético dos edifícios é melhor se os estores forem exteriores), como pode ver-se na fotografia de duas janelas da escola Pedro Nunes.
Cumprimentos a quem faz a manutenção. O tipo de estores é frágil, mas não parece haver estores avariados.
Infelizmente, na maior parte das escolas renovadas, a fatura da eletricidade subiu exageradamente.
Porque não é possivel fazer projetos eficazes em pouco tempo.
Introduzir num projeto a smedidas economizadoras de energia requer tempo.
É uma regra de bom procedimento, alocar o tempo necessário para um bom projeto.
O que contraria os critérios economicistas.
Mas que se pode fazer?
Até foram invocadas as urgencias para permitir os ajustes diretos.

Ruinas 18 - Na Lapa







O valor estético desta porta serve de contraste com o estado do prédio





Notar o pormenor deste prédio na fotografia seguinte.
 


No centro da fotografia pode ver-se um esticador. Trata-se de um recurso utilizado na manutenção de edifícios para tentar solidarizar paredes opostas através da tração num perno com rosca e flange dum lado e o varão de travamento que se vê na  fotografia.
Mas é uma solução de recurso, não estrutural.




Prédio recuperado. Mas a dúvida é grande. A fachada foi bem pintada, mas terá havido reforço estrutural?




Num anexo do antigo Instituto Superior de Economia a solução economista: construção de apartamentos para venda, possivelmente de luxo (porque será que preferem vender poucos apartamentos de luxo em vez de venderem muitos apartamentos de preços controlados?)











Ruinas

Um prédio recente em frente das ruinas anteriores. O projeto terá sido feito por um arquiteto e verificado por outro arquiteto na câmara de Lisboa. Mas o resultado é deplorável, salvo melhor opinião.














Ruinas





Ruinas com vista para o rio







                                                                               
Escadaria para a rua das Janelas Verdes. Não é uma ruina. É bonito, embora não cumpra os requisitos da mobilidade e acessibilidade.





À venda, na rua das Janelas Verdes, perto do Museu de Arte Antiga











Dois prédios recentes mais perto ainda do Museu de Arte Antiga. É o tipo de arquitetura que fica muito bem no computador ou em fotografias. Mas , salvo melhor opinião, perto do museu, não parece grande coisa.


O Terreiro do Paço antes do terramoto no Museu Nacional de Arte Antiga. Foi uma pena o plano de reconstrução da Baixa não ter considerado a recuperação da darsana da Ribeira das Naus.
Existe agora um pequeno plano da câmara para arranjo da zona da Ribeira das Naus. Digo pequeno porque olhando para esta pintura imagino que o plano deveria ser o avanço assumido da frente ribeirinha sobre o rio.
Mas não parece que os detentores do poder decisório estejam interessados no conceito.




Um problema de transportes

A notícia passou discreta.
Um médico cubano foi morto em casa, perto do Areeiro, por um assaltante na presença do senhorio do assassinado.
Imediatamente os departamentos de comunicação da polícia recordaram que os indicadores da criminalidade violenta estão a melhorar.
Mas na semana anterior tinha havido na mesma zona outro assalto com violencia.
Continua a verificar-se o deserto do debate sobre estas questões.
Como não sou especialista de segurança, proponho a seguinte perspetiva de técnico de transportes.

A atividade de assaltante requer algumas das condições necessárias ao exercício das atividades legais.
Assim, os assaltantes precisam de um sistema de transporte casa-atividade, até porque preferem exercer a atividade longe do local de habitação ou em bairro diferente daquele em que assaltam (para sentirem mais segurança no local que habitam).
A zona do Areeiro, em que os habitantes têm um rendimento acima da média da cidade, há anos que é palco da atividade dos assaltantes.
Nos anos 80 e 90, com o desmantelamento de bairros precários adjacentes à Av.Gago Coutinho, a criminalidade diminuiu, até porque está intimamente ligada a movimentos geracionais ou a flutuação de populações desempregadas ou subempregadas.
A minha hipótese é que a criminalidade atual é praticada por assaltantes que moram nas zonas servidas pelas carreiras suburbanas de autocarros que têm término junto do Areeiro, ou ferroviárias com paragem no Areeiro (sugere-se que a polícia procure o assaltante nestas zonas).
Sendo assim, os motoristas de autocarros dessas carreiras e das carreiras entre as povoações terminais, poderiam ajudar as forças de segurança a identificar os pontos de maior risco, numa perspetiva de prevenção e não de repressão.
Será interessante analisar as causas e as circunstancias das manifestações de jovens, normalmente desempregados, em bairros ditos problemáticos, de que foi exemplo o recente incêndio de um autocarro.
Parecerá que os fatores principais que conduzem à violencia urbana continuam a ser o desemprego, o insucesso escolar de há uns anos antes, a ineficiência sanitária e a ineficiência do sistema de segurança.
Até certo ponto, poderá dizer-se que a violencia é estimulada pela desativação do estado assistencial ou social.
A manterem-se as condições de carencia atuais, será altamente provável uma escalada da violencia urbana seguida do reforço das forças de segurança (os decisores acharão que é mais barato aumentar o orçamento das forças de segurança do que atenuar as causas da violencia através de investimento contra o desemprego).

Em resumo, mais uma vez se colocam as hipóteses de que o sistema de transportes reflete a estrutura e os fenómenos sociais, e de que é necessária uma política de investimentos  contra o desemprego, para produção de bens e serviços exportáveis.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Ainda o outsourcing

Seja C o custo dos meios de produção de um bem ou serviço que uma empresa publica tem de adquirir.
Vamos admitir que esse custo é fixo, independentemente do bem ser produzido pela empresa publica ou por uma empresa exterior.

O preço que a empresa publica terá de pagar se for ela a produzir o bem ou serviço será:
                            P pub = C/n pub      
sendo n pub o rendimento de produção da empresa publica.

O preço que a empresa terá de pagar se contratar uma empresa exterior para produzir o bem ou serviço será:
                            P priv = (C/n priv) + luc C
sendo n priv o rendimento de produção da empresa privada e luc o coeficiente em valor unitário do lucro

Fazendo as simplificações e para que  P pub > P priv, é preciso que:
                            n priv > n pub/[1 - (n pub x luc)]

Isto é, a empresa publica fica a ganhar se contratar uma empresa exterior quando o rendimento da empresa exterior for maior do que o rendimento da empresa publica a dividir pela diferença entre 1 e o produto do rendimento da empresa publica pelo coeficiente do lucro da empresa exterior (lógico, se o lucro for zero, o preço a pagar será menor se o rendimento for maior.

O problema estará então no lucro.
Por exemplo, se:
                               n priv = 0,8
                               n pub = 0,6
                               luc = 0,5
não compensará contratar a empresa exterior.

Conclusão, é preciso estudar para cada caso, se é aplicável ou não a contratação por outsourcing.
É que o outsourcing não é uma solução universal.

Um conceito de segurança em transportes

A IATA assinalou com satisfação a melhoria em 2010 dos indicadores de segurança do transporte aéreo.
23 acidentes com vítimas mortais - 786 mortes (menos do que os mortos em acidentes rodoviários em Portugal em 2010) - 2.400 milhões de passageiros - 36,8 milhões de voos - 1 morto por 500.000 voos.
Comentando estes números, um piloto afirmou "Com nortada, em Lisboa ou Funchal, nenhum avião aterra com pilto automático".
É bom trocarem-se impressões, porque muita gente está convencida que o piloto automático é mais seguro do que o piloto humano.
Tudo depende das circunstancias.
Continuo a pensar que o acidente da Air France em 2009, no voo Brasil-França, se deveu ao piloto automático e à deficiencia de sensores de velocidade (de notar que o relatório final não foi conclusivo por falta das caixas negras).
E no caso de metropolitanos, há tambem muita gente que crê na automatização integral (condução automática sem maquinista).
Sim, é seguro, mas depende das crcunstancias.
Exige construção de raiz, com portas de proteção nos cais, com caminhos de evacuação de emergencia nos tuneis, com deteção de incendios.
Sem isso, não é mais seguro do que a condução com a presença de maquinista, para detetar situações de perigo.
É uma questão de conceito e de prioridade às coisas da segurança.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Very fast post in blog 42 - as auto-estadas e os parques de estacionamento

O tráfego automóvel em 2010 diminuiu 2%.
O volume de negócios dos concessionários de auto-estradas e parques de estacionamento subiu 0,5% (mais 1.400 milhões de euros).
O comprimento da rede de auto-estradas em Portugal vai crescer este ano 370 km  (isto para não falar da diminuição do tráfego em troços que foram alargados por terem atingido o limiar do tráfego que depois baixou).
Estimam-se 6 milhões de euros por cada km construido.

Em termos macro-económicos, o conjunto parece inconsistente.

O planeamento das redes de transportes coletivos ferroviários permanece também inconsistente (370 km de auto-estrada equivale grosso-modo a 25 km de tuneis e estações de metro ou 120 km de viadutos e estações sobrelevadas de metro).

É pena, tudo isto contribui para o endividamento, e, ah, é verdade, para a  ineficiência energética e a emissão de gases com efeito de estufa.





Para algumas análises interessantes sobre a problemática das auto-estradas, ver o blogue:

http://anossaterrinha.blogspot.com/

Very fast post 41 - o telemóvel e o metabolismo

Com a devida vénia ao DN, a revista JAMA noticiou um estudo do instituto de saude NIH dos USA que concluiu que o metabolismo da glucose no lobo temporal e no cortex orbito-frontal aumenta 7% com o uso sistemático do telemóvel.
Continua-se sem se saber se isso tem consequencias para a saude.
Mas que o metabolismo aumentava, já se sabia desde o princípio, desde as primeiras experiencias com cultura de células de crescimento estimulado pelas radiações d efrequencia elevada.
Continua a ser válido o princípio da precaução, especialmente com as crianças.

Very fast post 40 - Cruzeiros para todos

O anuncio seduz um qualquer. O cruzeiro no mediterrâneo fica mais barato do que alugar um quarto e hotel em Lisboa.
Montar e sustentar um hotel no mar conduz a um custo de produção específico inferior a fazê-lo em terra firme?
Não pode ser.
Algo está a viciar as contas.
Segundo o princípio da conservação, está-se a ir buscar a algum lado o dinheiro para subsidiar os cruzeiros.

Isto para não falar na cultura de escapismo, de fuga à fealdade da realidade que estes cruzeiros do amor representam; peço muita desculpa a quem trabalha no ramo e ganha a sua vida a receber os navios.
Para mais deixam algumas divisas.
Mas as recentes avarias indiciam cortes nos custos de manutenção e os valores de poluição que os navios produzem são insustentáveis ambientalmente.

Enfim, não estou a condenar nada, mas gostava de compreender como as oisas funcionam.

Very fast post in blog 39 - O outsourcing

Notícia do DN de 23 de Fevereiro de 2011: a despesa publica subiu 2,7% em janeiro de 2011  relativamente a janeiro de 2010, apesar da dimuição dos quadros de pessoal. As despesas subiram graças ao aumento de 10,5% do outsourcing.
Cansei-me, durante a minha vida profissional ativa, de dar o parecer que há casos em que o outsourcing é aplicável e outros não.
Reportei os resultados da experiencia alheia, muitos deles desastrosos, como no metro de Londres.
De nada serviu.
Limito-me a registar que a crença no outsourcing universal significa ignorancia ds dados reais e muita falta de respeito por quem trabalha nas empresas publicas.

O talhante qualificado





A frase foi muito clara: O problema é a falta de profissionais qualificados em Portugal. O pingo doce tem vagas para talhante que não consegue preencher.

Ingressei imediatamente no conjunto de cidadãos e cidadãs que temem a rápida reconversão das escolas profissionais.
Mas resolvi reparar nos preços da carne do pingo doce e da concorrencia do comércio tradicional.




As imagens mostram cartazes de preços de carne em talhos tradicionais.
No mesmo dia, os preços num pingo doce eram, para o coelho 4,99 €/kg; para o lombo de porco 3,99 €/kg; para o vitelão (nome mais fino que novilho) vazia 12,57 €/kg.

Claro que a comparação não é perfeita (coelho 70% mais caro do que no comércio tradicional?!), mas ilustra a sobranceria com que as administrações das grandes superfícies falam ao país (neste caso a afirmação é literal).
Estão as grandes superfícies escandalizadas porque as escolas profissionais não formam talhantes e as instituições que os formam, tradicionalmente, os talhos do pequeno comércio, não os querem ceder, isto é, pagam-lhes melhor do que no pingo doce (lembrei-me agora dos pequenos clubes, que investem na formação de jogadores e depois os vendem porque os grandes pagam bem).
Deste modo, o pingo doce não pode poupar nos custos de formação do pessoal e tem de ser ele a investir na formação.
Não há direito.
Assim vão contratar talhantes para a Polónia (o que seria positivo para a balança de pagamentos portuguesa se a Polónia importasse os nossos bifes e os nossos coelhos).
Ou talvez o senhor presidente estvesse impressionado com as queixas da falta de talhantes a responder aos anuncios que lhe terão reportado na reunião da administraçõ, e então terá tomado a nuvem por Juno, isto é, o acessório, a imagem, pelo essencial, e teve um deslize perante as câmaras de TV; é uma hipótese.
Se é verdadeira a outra hipótese que já coloquei, que as grandes superfícies comerciais eliminam 2 postos de trabalho por cada emprego, e que estão a contribuir para o endividamento através da importação de alimentos, até era bom que fossem para  a Polónia.
Mas não sei, é apenas uma hipótese que me parece dever ser estudada pelas universidades da especialidade (economia) e sem ser estudado não há dados para as pessoas decidirem, é o costume neste país; eu confesso que não tenho capacidade nem para a estudar, nem para acreditar nas administrações das grandes superficies.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O filme de terror dos pequenos centros comerciais

Este pequeno video mostra o corredor deserto de um pequeno centro comercial que há uns anos dava emprego a muita gente num bairro de Lisboa. Apenas uma loja está aberta, quando está, naquele corredor.



As leis de mercado foram funcionando, ou, se acreditarmos mais nas leis da Física, funcionou a lei de Fermat-Weber (atração da maior parte dos recursos pelo polo dominante de fatores de atração, mesmo de peso inferior a 50% dos polos) e os empregos foram-se concentrando nos grandes centros comerciais.
Segundo uma estatística antiga, que seria muito interessante comprovar agora, por cada emprego num grande centro comercial (provavelmente a recibo verde) extinguiram-se 2 empregos no comércio pequeno ou tradicional.
Por outro lado, enquanto o pequeno comércio escoava a produção alimentar nacional, as grandes superfícies tendem agora a importar o que podem, a pretexto de vender mais barato.
Isto é, contribuem para o endividamento.
Não consta que o corredor do video tenha ficado deserto porque os empregados e empregadas não trabalhavam.
Donde, o trabalho não é o unico segredo para o sucesso.
Talvez que os administradores das grandes superfícies comerciais, sabedores do valor do trabalho e da aquisição de novos conhecimentos, queiram estudar a aplicação da lei de Fermat-Weber à economia dos seus empreendimentos, quanto mais não seja para não estarem tão convencidos que o sucesso se deve só ao seu trabalho.
Pena não haver uma visão integrada para estudar estes assuntos.
Coisa que tentei, com o habitual insucesso (o trabalho não é o segredo do sucesso nem do insucesso) em posts anteriores:

http://fcsseratostenes.blogspot.com/2010/08/o-problema-de-fermat-weber-da.html

http://fcsseratostenes.blogspot.com/2010/09/wal-mart-eos-seus-projetos-inovadores.html

http://fcsseratostenes.blogspot.com/2010/09/very-fast-post-in-blog-27-barnes-and.html

O grito

  Grito pela liberdade
                                                                          Karel Appel





Vou fazer a vontade ao senhor presidente do governo regional da Madeira.
Que gritem, disse ele, que gritem porque eu vou fazer o aterro.
Então eu grito.

Hoje dia 20 de Fevereiro, um cordão humano quis assinalar o aniversário da tragédia das enxurradas e quis tambem manifestar a sua opinião de que quer o aterro retirado.
Este aterro resultou dos aluviões e pedras arrastados para a baía do Funchal e depositados pelas máquinas de limpeza.
Onde? junto da marginal, no interior da baía protegida pelo molhe da Pontinha (molhe sul).
O problema é que o governo regional encomendou um projeto de aproveitamento do aterro e construção de um novo cais para navios de cruzeiros à empresa que costuma fazer-lhe os planos diretores e os projetos de outros portos da ilha (dá-me ideia de que a lei obriga a consurso publico para seleção do projetista, mas que hei-se dizer mais?).
Ninguém questiona a competência técnica dos autores do projeto do novo cais-aterro, fusão das fozes das duas ribeiras numa só e construção de 3 praias com molhes de proteção.
Mas costumam fazer-se, nestes casos, estudos de impacto ambiental com divulgação pública.
E a autorização do inicio das obras só é dada após aprovação pelo ministério ou secretaria do ambiente.
Se não é assim, tenho o direito constitucional de questionar, uma vez que os meus impostos tambem vão para aqui.
Existe risco de as condições de assoreamento se agravarem e limitarem o acesso de navios de cruzeiro de maior calado.
Por outro lado, é grande a probabilidade do projetado cais não estar suficientemente protegido pelo molhe sul da ondulação do sul e do sudoeste, inviabilizando assim  a sua utilização nos dias de maior agitação marítima.
Isto é, o problema e a solução parecem não suficientemente estudado e fundamentada.
É sina no nosso país.
O projeto da terceira travessia do Tejo é um bom projeto, mas os projetistas esqueceram-se de pedir o parecer do Instituto Hidrográfico sobre a cota do tabuleiro e sobre as condições de assoreamento (informação do próprio Instituto, a quem apenas foram pedidas plantas hidrográficas).
E assim aumenta a divergencia entre os métodos corretos, seguidos em países mais evoluidos, e os nossos métodos, mais virados para a inspiração carismática dos chefes, ainda que eles não saibam matemática, física ou engenharia.
Evidentemente que a complexidade deste problema exige a discussão técnica entre várias entidades e especialistas.
Mas não é prática corrente no nosso país.
É pena, gastar-se dinheiro agora para consolidar o aterro e agravar o assoreamento.
É pena, não se conseguir dinheiro para se prolongar o molhe sul, de modo a proteger melhor a bacia (outra hipótese, ainda  mais cara, seria duplicá-lo a sul) de modo a aumentar a sua capacidade de receção de navios de cruzeiro e de carga.

Resta a esperança que o trabalho já realizado por especialistas, incluindo o LNEC e o IST, com as recomendações para reduzir os riscos de novas enxurradas, se concretize, até porque a câmara do Funchal dá indícios de querer aplicar as recomendações, sem gritos.


bacia do Funchal protegida pelo molhe sul/Pontinha



projeto do novo cais-aterro, foz unica e 3 praias

Informação sobre o projeto do porto do Funchal obtida no blogue de Paulo Farinha, pelo qual o felicito:

http://farinha-ferry.blogspot.com/2010/12/funchal-madeira-portugal-today-31.html





a nascente da marina vê-se o aterro-depósito dos detritos da enxurradas que será aumentado para sul com um cais; neste momento já se sentem os efeitos do assoreamento na bacia


           

         vê-se o aterro, limitado a poente pela marina
            e a nascente pelas duas fozes das ribeiras, cujas
           se pretende fundir numa só, aparentemente de
           forma imprudente

Amel Mathluthi

De modo imprevisto, no meio do facebook da minha amiga, vejo este video extraordinário durante uma manifestação em Tunes, em 24 de Janeiro de 2011. Amel Mathluti é uma cantora tunisina que tabém viveu em França.
Comovo-me a recordar, há 40 anos, quando outras Amel chegavam aos cine-teatros de pequenas povoações de Portugal, e a PIDE informava que não ia haver espetáculo.
As coisas avançam, apesar dos recuos que por aí se vêem.
Pena ainda não nos termos centrado em que o objetivo principal é cumprir a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Somos todos mediterrânicos e não cantamos só em dó maior, tónica e dominante.





http://www.youtube.com/watch?v=xdny0FTBohg&feature=player_embedded
















Tradução:

As minhas palavras são livres.
Eu sou livre entre os que não temem,
pertenço aos segredos que nunca morrem,
sou a voz dos que resistem,
encontro um sentido no meio do caos.
Eu bato-me pelos direitos dos oprimidos,
esgotados pelos cães
que roubam o trigo dos lares das pessoas,
que fogem da luz das ideias.

Eu sou livre entre os que não temem,
pertenço aos segredos que nunca morrem,
sou a voz dos que resistem.
Eu sou livre e as minhas palavras são livres.
Nunca esqueceremos
o direito ao pão, nem
os semeadores de sofrimentos,
os traidores.



Mais informação sobre Amel em:


http://www.myspace.com/amelmathlouthi

O choro dos Deolinda III, o professor de economia, e o meu choro

O professor de economia que escreve na revista semanal do DN  reafirma que vivemos num sistema de reforma do tipo pay and go, isto é, os descontos dos ativos pagam as reformas dos reformados,  e termina a sua crónica assim: se os jovens no futuro se recusarem a pagar a reforma dos seniores, quem os condenará por isso?
Pode ser uma interpretação do choro dos Deolinda, quando dizem que "esta situação dura há tempo demais" (parece-me a música melhor que a letra).
Vou ter de me lamentar, daí o choro no título.
Lembro-me do filme de Chabrol, em 1974, para uma série televisiva de históras insólitas: Les gens de l'été - as pessoas do Verão, sobre uma história de Shirley Jackson.
Um casal de reformados há anos que passava o verão numa pequena povoação, idílica e  campestre, do Puy de Dôme. Naquele fim de verão deixaram-se ficar. Os aristocratas da terra já tinham dado a festa de despedida e já tinham regressado a Paris. O dono do minimercado, que tinha sido tão simpático a ajudar a pôr a garrafa de gás no porta bagagens, no dia seguinte insinuou que estariam melhor em Paris do que ali. Os habitantes da terra consideravam que já tinham feito  sua obrigação durante todo o verão a atender com gentileza os burgueses de Paris; já tinham merecido assim o dinheiro que eles deixavam. Os velhos que se fossem, portanto. Mas de Paris  a filha responde pelo telefone que se deixem estar, como quem diz que têm muito que fazer e não lhes podem dar atenção. Chabrol mostra os olhares impacientes dos habitantes, sempre a interrogar, quando se vão embora, e o desespero dos velhos que decidem deixar a garrafa de gás aberta.
Uma solução à Stefan Zweig, só que este deixou escrito que se suicidava, em 1942, por não ter forças para combater a barbárie do nazismo, a oficialização de que uns são diferentes de outros, mas que tinha confiança nos jovens para que fossem eles a fazer esse combate.
Nos tempos que correm acha-se natural, pelo menos o professor de economia achou, que os jovens deixem de  pagar as reformas dos velhos.
Mas não penso numa solução tão radical por tal razão, tipo balada de Narayama.
Pensemos um pouco, e uma nova geração tão bem preparada certamente que compreenderá este raciocínio.
Na década de 70 do século passado havia, suponhamos, 3 ativos a pagar a reforma de 1 reformado, aliás pequena, a reforma.
Agora, nos anos 10 deste século, há 1 ativo a pagar a reforma de 1 reformado.
Deixemos de lado esta verificação tão simples: foram os seniores que contribuiram para tão elevados níveis de desemprego e para tão reduzidas taxas de natalidade? foram os seniores que levantaram obstáculos à plen integração do simigrantes, especialmente dos mais qualificados? Ou estamos a ser vítimas dos especuladores internacionais do género do Lehman Bros ?
Vejamos antes: houve mais 2 ativos, para alem de mim, que nos anos 70 pagaram a 1 reformado. Quer dizer que não foi preciso tudo o que eu descontei para sustentar o referido reformado, que por sua vez também tinha descontado na sua vida ativa. Sobrou dinheiro. Eu ingenuamente pensava eu que os meus descontos tinham servido para investir e para obter rendimento, que as reformas não vinham só dos descontos dos ativos num dado instante.

Terá razão o professor de economia?
Por essa ordem de razões, a que departamento do ministério das Finanças devo dirigir-me para reclamar o diferencial entre o que me pagariam no mercado de trabalho da altura e o que me pagaram durante os três anos de serviço militar obrigatório? E a dívida para os que não tiveram a minha sorte e estiveram mesmo no teatro da guerra colonial? E a dívida para as famílias dos que morreram nessa guerra ainda mais estúpida do que as outras?

Mas não vale a pena discutir, porque não dispomos de dados completos.
Valia mais a pena aplicar o artigo 22 da Declaração Universal dos Direitos Humanos: 
"Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social; e pode legitimamente exigir a satisfação dos direitos económicos, sociais e culturais indispensáveis, graças ao esforço nacional e à cooperação internacional, de harmonia com a organização e os recursos de cada país."

Mas como vão dizer que o país não tem dinheiro para satisfazer este artigo, vamos esperar o próximo movimento da geração Deolinda. No fundo, o lugar-comum continua válido: o futuro pertence-lhes.

Nota: segundo os meus recibos durante a vida ativa profissional, a taxa social dos meus descontos foi, durante grande parte do tempo, 35% do salário bruto.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

O tunel do Marão

A cidade estado de Singapura ainda tem um território adjacente com alguns quilómetros quadrados.
Graças ao florescimento da economia, foi possível construir na região uma rede de auto-estradas e de vias férreas rápidas.
Confirmando o aforismo que só os ricos podem poupar, a engenharia singapurense desenvolveu um método de construção simultanea das auto-estradas e das vis férreas de modo a reduzir os custos.
Também na China, há vários anos, a engenharia chinesa explicou aos decisores a problemática da energia dos transportes, e por isso foi lançada a construção de uma extensa rede ferroviária (o critério básico é que o atrito da roda de ferro contra ferro é menor do que o atrito da roda de borracha contra o asfalto, donde o consumo específico de um veículo ferroviário ser muito menor do que o de um veículo rodoviário; quando há grandes quantidades de carga a transportar, isso é decisivo). Foi desenvolvido um processo de construção pré-fabricada de viadutos, por módulos, com instalação mecanizada, mais rápida e económica do que a construção tradicional por aterro.

Lembrei-me disto quando vi a reportagem da visita do governo às obras do túnel do Marão.

Tiro o chapéu aos técnicos que o projetaram e executaram, mas ... não explicam aos decisores a componente física da questão?
Estudaram física, que estava no currículo do curso... ou será a dura realidade da economia a fazer com que deixem a física na sombra.

Mais além do Marão, Bragança não tem uma ligação ferroviária de características modernas (também já não tem a linha do Tua, de características obsoletas mas a preservar pelo seu valor de arqueologia industrial e turístico).
O distrito de Bragança perdeu em 20 anos 30% da população.
É uma enormidade.
A falta de comunicações racionais não é uma causa, mas é mais um sintoma da doença que levou à perda de cidadãos e cidadãs.
A reporter disse que para lá do Marão mandam os que lá estão, e logo a seguir o chefe do governo disse que com o tunel irá deixar de ser assim porque são vencidas as dificuldades de comunicação.
Sim, com uma rede de auto-estradas, num país com o maior indicador de quilómetros de auto-estrada por habitante, só igualado pela Austria.

É pena o túnel do Marão não ter uma valência ferroviária, porque assim um país sem dinheiro não pode poupar na exploração das suas vias de comunicação, a menos que queira que Trás os Montes viva eternamente a sua desertificação em apagada e vil tristeza.

O afrodisíaco

Nota: Este post contem afirmações que podem ser consideradas escandalosas por leitores ou leitoras de sensibilidade mais delicada, aos quais se recomenda que não leiam o que se segue

Este blogue não consegue sincronizar-se com o fluir rápido das notícias e das efemérides.
De modo que só agora, dia 20, reparou numa citação de Henry Kissinger num artigo sobre S.Valentim.
Que o poder é o maior afrodisíaco.
Nunca estou de acordo com Henry Kissinger, o tal que ralhou com o coronel Melo Antunes antes do 25 de Novembro por causa dos comunistas no poder.

Salvo melhor opinião, e com base na evolução da bio-química, para deter o poder político é necessária uma dose elevada de serotonina e de outros agentes neuro-transmissores colinérgicos.
São estes neuro-transmissores que permitem a estabilidade de desempenho dos políticos que dominam os mecanismos do poder.
Mas, em contrapartida, contraem os músculos de forma que impedem o afluxo do sangue aos corpos cavernosos responsáveis pela ereção.
Por isso se diz aos políticos,aos generais, aos dirigentes empresariais: Relax, Make love, not war.

Por isso não queiram os políticos enganar o seu povo.
Não é o poder que é afrodisíaco.
O que o poder faz é estimular, através dos neuro-transmissores, uma produção exagerada de dopamina que vai excitar os centros cerebrais do prazer, quando o detentor do poder impõe o seu parecer a quem não o tem.

Nesta perspetiva, o simples facto de um cidadão ou cidadã manifestar uma opinião contraria ao poder dominante é motivo para quem o detem antecipar o prazer de dizer não. Viciaram-se na dopamina, não sabem resistir-lhe.

Por isso o detentor do poder acha que ele é afrodisíaco.
Não é. Apenas produz a mesma dopamina que os afrodisíacos.
Assim se compreende a afirmação que o poder corrompe quem o exerce, no governo, na guerra, nas empresas.
Ficaram na história os tratamentos para a virilidade, perfeitamente ingénuos e inúteis, a que Napoleão se submeteu.
Por isso não devia haver dirigentes ditatoriais; deviam repartir o poder, debater de forma aberta as possíveis soluções, relaxar, ser mais humanos...
no seu próprio interesse, deviam ouvir os cidadãos e cidadãs.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Tua, Tua

                                                                                                                                                                      

                                                                     viaduto e tunel das presas,
 junto da foz do Tua, foto do blogue 
           http://alinhaetua.blogspot.com













Hoje, dia 18 de Fevereiro de 2011, é um dia importante por marcar a irreversibilidade de uma decisão, sem que a inteligência e a inventiva tivessem encontrado uma solução melhor.
Não consensual porque consensual significa sempre o predomínio da força sobre a análise racional dos dados (nós em Portugal , ou os nossos representantes ou delegados, até privilegiamos a ausencia de dados fiáveis para sobre eles argumentar).
Mas uma solução em que as populações de Trás os Montes e os técnicos projetistas se pudessem rever por servir o património, as comunidades locais e por as necessidades energéticas do país saírem consideradas.

Não foi assim.
Com base em estudos, aliás excelentes do pontode vista técnico, da COBA, Procesl e Profico, escolheram, os detentores do poder, a alternativa da cota de 170 metros para o nível máxino das águas da albufeira, depois de estudar alternativas de 210, 200, 195 e 180m.
A solução de 170m implica o alagamento da linha férrea numa extensão de cerca de 20 km.
Será viável a exploração entre Brunheda (a 20 km da foz do Tua), ou mesmo S.Lourenço (a 14 km da foz do Tua)  e Mirandela (a 51 km da foz do Tua), numa extensão de cerca de 30 km ou 36 km.
Estão previsto 35 milhões de euros para meios de transporte complementares para fazer o by-pass aos troços subersos da via férrea.
A cota no ponto previsto para a barragem, a cerca de 1 km da foz do Tua, é de cerca de 100m mas a restituição da água é feita  no Douro a jusante da foz do Tua, à de 75m.
A linha férrea é uma notável obra da engenharia do século XIX, o que, aliado ao elevado interesse turístico, permite classificá-la como um património de arqueologia industrial a respeitar.

Apesar de tudo, se a cota máxima de 170m vier a ser respeitada na construção da barragem, os decisores escolheram uma solução menos agressiva do que as alternativas de cota mais elevada.
Não podemos acusá-los de não terem usado alguma contenção e tentado minimizar os danos (se efetivamente respeitarem a cota de 170m).
Mas dispensava-se a sobranceria do primeiro-ministro e do presidente da EDP quando dizem que não havia outras soluções (correndo assim o risco de que os considerem inseguros, visto que uma das características freudianas dos inseguros é terem muitas certezas... o que vale é que os inseguros têm a certeza de que Freud não lhes é aplicável).
Lamenta-se que não tenha sido estudada com profundidade a solução dos 160m.
Que obviamente produziria menos energia por ano e teria menos capacidade de armazenamento da energia eólica por bombagem.
Mas esse seria o preço da preservação do património, quando se dá valor ao património.

Recordo que a potencia que se pode produzir com uma barragem é proporcional ao caudal garantido (cerca de 300 m3/s de valor máximo no inverno) e à queda util média (cerca de 80m).
Um dos objetivos da barragem do Tua é, complementarmente, ter capacidade de armazenamento para absorver variações de caudais e para, através de bombagem, armazenar a energia produzida pelas eólicas que de outra forma se perderia.
Do ponto de vista energético a solução 160m é evidentemente pior, obrigando a mais trabalho de bombagem devido à menor capacidade de armazenamento.
Estima-se uma potencia instalada de 220 MW (no caso da solução 170m será de 250 MW) e uma produção anual de 260 GWh (milhões de kWh).
Seria uma central hidro-elétrica praticamente de fio de água, como o Picote, por exemplo.
Poupança na importação de gás natural ( 1m3 produz 4kWh) para a mesma energia produzida com a barragem:
sol.160m...........65 milhões de m3
sol.170m...........75 milhões de m3
sol.200m...........88 milhões de m3

Ou poderiamos prescindir de mais volume de armazenamento e reduzir o comprimento da albufeira.
Para isso, a barragem (seria interessante, muito interessante mesmo, reparar que a localização escolhida pra a barragem está DEMASIADAMENTE  próxima da região do Douro vinhateiro) poderia deslocar-se para montante  até 6 km da foz, para salvar um dos troços mais pitorescos do vale do Tua, e o comprimento da albufeira segundo o nível de 160m seria apenas de 5km, permitindo a exploração ferroviária entre Tua (km 0) e Castanheiro (6km) e entre Santa Luzia (km 11) e Mirandela.
Sacrificar-se-ia assim apenas 5km da via férreacom a solução 160m.































Como plano para o futuro, uma vez que serão insuficientes os 35 milhões de euros disponibilizados para substituição da ligação ferroviária no troço inundado, propor-se-ia um caminho de ferro de cremalheira como by-pass do troço de via a submergir (entre o km 6 e o km 11) entre os apeadeiros Castanheiro e Santa Luzia, passando pelas povoações da serra de Castanheiro e Paradela (10 quilómetros). Existe material circulante suscetivel de funcionar na via normal e em via de inclinação até 20% com cremalheira.



esquema da linha do Tua em:


http://pt.wikipedia.org/wiki/Linha_do_Tua


O interesse que toda esta triste história da linha e da barragem do Tua tem para os técnicos ferroviários é, a meu ver:
1 - mais uma vez ter-se visto a deficiente forma de tomada de decisão, orientada desde o princípio sem consideração do valor patrimonial e turistico da ferrovia e sem debate alargado das soluções técnicas, pese embora o cumprimento dos procedimentos de divulgação dos relatórios de avaliação ambiental e das reuniões tidos com as câmaras municipais (em nenhuma destas ações foram debatidas as questões em termos técnicos, como os próprios relatórios confirmam quando se escreve que a solução de 160m não foi estudada); qualquer investimento publico deve estudar o maior numero possivel de alternativas, fazê-lo com argumentos técncos envolvendo todas as disciplinas, e evitar a orientação para um pré-determinado tipo de solução;
2 - dada a complexidade do problema devida à topografia da região, deveriam ter-se estudado de forma inventiva soluções técnicas minimizadoras dos danos, como por exemplo, escavação de encostas e leito do rio para ganhar volume de armazenamento, proteção de troços da via com tuneis submersos (prolongamento do tunel das presas, junto da foz, por exemplo) ou barragens laterais, funiculares para by-pass dos troços de via submersos, servindo as povoações da serra a cotas mais elevadas, barragens parciais; mais uma vez se comprovou que não é prática corrente dar oportunidades à inventiva (estou a recordar-me do paradigma da inventiva nos transportes ferroviários: o metropolitano de Wuppertal; não é uma solução universal, mas vale pela inventiva).

Sobre Carris

 



Este blogue cumprimenta o colega António Vasconcelos pelo seu belo livro  "Sobre Carris", ed.Media XXI.


Aqui se reunem textos publicados ao longo da sua carreira de jornalista técnico e ferroviário.



Aqui se revela, através de crónicas de viagens e de pesquisa,  a paixão por uma coisa que quer responder à necessidade humana de mobilidade, mas numa perspetiva de serviço das comunidades e de escolha racional pelos meios mais eficientes energeticamente - a ferrovia.

 
E que interessantes algumas das soluções encontradas ao longo da história dos comboios, sempre em evolução, conforme se pode ver pelas excelentes ilustrações.



Parabens ao Autor e votos de que continue a escrever sobre este tema.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

La Révolution des Frites

Apoio a revolução das batatas fritas. Acho que tem que ver comigo. A revolução pretende protestar por não se constituir um governo de coligação porque os senhores dos partidos não são são suficientemente democráticos para se entenderem. Quando democracia é as pessoas entenderem-se, com representação proporcional. Disparate querer desagregar a Bélgica. Claro que foi um país criado artificialmente, mas ao fim destes anos todos e no seio da UE que triste ideia criar mais países. É vontade de dar espaço aos caciques. Abaixo (só descer do poleiro, nada contra a integridade física de ninguém) os caciques, os tribalistas, os que estão nos partidos para olharem para os seus umbigos e para se ouvirem.

"Een (um em flamengo ou holandês) = un (um, em valão ou francês)"

"Se diviser? Pas en notre nom"

"Não queremos os países que nos querem deixar."

Apoiado.

Ver comentários às eleições em
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2010/06/o-pensamento-portugues-imediatista-e-um.html

Notar que os dois partidos mais votados foram o independentista flamengo, com 27 deputados, e o partido socialista valão, com 26.


Ao meu colega Adérito da EMEF

Este blogue está triste.
O meu colega da EMEF, das lides das normas ferroviárias, não resistiu aos seus problemas cardíacos já antigos.
Duma dedicação e capacidade profissional impecáveis, com o objetivo de serviço da comunidade sempre presente.
Traduziu muitas normas de material circulate e o glossário ferroviário.
Praticante de pesca desportiva.

Como são ignaros os que desmerecem de quem trabalha nas empresas públicas.
E os economistas e os políticos que sabem os custos das coisas e das medidas económicas e políticas e não sabem o valor do que lhes está ligado.
O meu colega era 5 anos mais novo do que eu.
Como se pode falar em aumentar a idade da reforma?
Só porque as estatísticas mostram registos de maior longevidade?
Como diz António Barreto, a estatística não serve para nada, o que serve é a interpretação correta dos dados.
Claro que não estou a responsabilizar nenhum político nem nenhum economista pela morte do  meu colega, que sei que andava a ser tratado e que não queria tratamento discriminatório.
Mas subir a idade da reforma é aumentar a probabilidade, para muitos, de reduzir fortemente o usufruto dos anos da reforma quando ainda se tem alguma energia.

Que inferno, só existir nos limites mesquinhos do cérebro humano a ideia luminosa de que o meu colega está agora finalmente entregue à sua pesca desportiva, sem preocupações.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Arquitectorium 10 - Cuidado com os arquitetos


            Não sei se devemos seguir à letra a mensagem do cartaz.
            Talvez defender antes uma visão integrada do trabalho das várias disciplinas em função do objetivo de serviço da comunidade.
            Mas pode ser que não seja a problemática da exposição, que confesso não vi.

Dresden - 13 a 15 de Fevereiro de 1945

A televisão mostrou a manifestação em Dresden assinalando 66 anos dos bombardeamentos pela aviação inglesa.
Dresden não tinha tropas estacionadas nem fábricas de material bélico.
Foi uma simples e arbitrária retaliação sobre civis, uma resposta bárbara à barbárie.

Não se pretende agora condenar ninguém, mas não deve esquecer-se.

O choro dos Deolinda II

Com a devida vénia à SIC, reproduzo algumas ideias dadas pelo diretor do Instituto Superior Técnico à entrevistadora, no âmbito de uma reportagem sobre "Que parva que eu sou" (Nota: a letra da canção é muito clara, afirmando "E parva não sou!...que mundo tão parvo", pelo que não devemos chamar a esta geração "geração parva"):
- o IST tem 11.000 alunos dos quais 1500 em mestrado
- o seu orçamento é de 130 milhões de euros, sendo que só 46 milhões de euros vêm do financiamento oficial; o resto vem das receitas de prestação de serviços a empresas
- 96% dos recem diplomados encontram emprego até 6 meses após a conclusão do curso
- 6% dos diplomados montam empresa própria, e essa percentagem não sobe precisamente porque a empregabilidade é elevada
- efetivamente os cursos no IST são exigentes e continuam a requerer grande participação da Matemática e da Física, que são disciplinas pouco queridas da maioria
- a empregabilidade dos alunos confirma que há empresas em Portugal a produzir bens que podem ser exportados
- a Alemanha pode absorver grande quantidade de recem-formados (lado positivo: as remessas desses emigrantes; lado negativo: a formaçãpo destes técnicos custou dinheiro aos contribuintes que assim subsidiaram os contribintes alemães)

Pessoalmente, tenho acompanhado com satisfação a evolução positiva do IST, até porque é a minha alma mater.
E tenho continuado a lamentar as costas voltadas da maioria dos alunos do ensino secundário para a matemática e a física.
Os resultados do PISA, apesar das ligeiras melhorias, só confirmam isso, que os alunos do ensino secundário têm graves dificuldades de interpretação de textos e graves dificuldades em matemática.
Em vez de privilegiar os cursos virados para a economia de serviços não transacionáveis, a gestão do ensino deveria canalizar a procura para cursos superiores ou profissionais mais virados para  a matemática e para a física.
Como diz o professor Carvalho Rodrigues, a maioria dos portugueses não gosta de pôr a Ciência na equação, e devia.
Vejo com satisfação que a organização dos cursos no IST vai ao encontro das necessidades da economia, coisa que confesso que não se fazia muito bem no meu tempo (excesso de afluencia aos cursos de engenharia química, por exemplo).

Resumindo, deseja-se sinceramente que o grupo Deolinda continue a ter exitos nas suas intervenções e que a sociedade portuguesa se organize de modo a melhorar as condições de trabalho dos jovens licenciados (e dos jovens não licenciados, e dos licenciados seniores, e dos seniores não licenciados, etc, etc) mas seria interessante uma análise social determinar os números reais das condições de emprego dos jovens.
É mais um exemplo das dificuldades do PISA: não temos números para debater os factos.

Ruinas 17 - exemplos vários em Lisboa

Exemplos vários em Lisboa.
Não admira que a população da cidade se aproxime perigosamente de 500.000 habitantes, enquanto à boa maneira dos edis bizantinos se discutem as fronteiras das freguesias e as respetivas poupanças virtuais, o que não é exatamente sinónimo de poupanças reais, e muito menos de preparação de um plano de reabilitação e reorganização urbana.


 Campo Grande. Vestígios deixados pela grande burguesia da Republica nascente e pelos pedreiros que para ela trabalharam
Av.Forças Armadas/Av. 5 de Outubro - Um gaioleiro com a estrutura desequilibrada devido às intervenções hiper-estáticas nas lojas do R/C












Av. 5 de Outubro -  o objetivo não deveria ser apenas manter as fachadas. Para conservar estes prédios é necessário reforçar a estrutura interior e refazer as fundações.
Salvo melhor opinião, a reabilitação completa deste quarteirão requererá o sacrifício de alguns números de matriz e seu emparcelamento, de modo a obter espaço para estacionamento, incluindo em subterrâneos (necessidade de escavação interior e contenção da periferia), e logradouros coletivos.
Av. 5 de Outubro - Junto dos prédios da fotografia anterior. O prédio adjacente ruiu.
Salvo melhor opinião, este prédio necessita de reforço estrutural, e não apenas nas fundações.
Mas reconhece-se a carencia de verbas para proceder às obras.
Dado que a iniciativa privada e o funcionamento dos mercados não resolvem o problema, pareceria que as entidades oficiais poderiam ocupar-se da preparação de um plano de reabilitação.
As desculpas porém começam a fraquejar quando se sabe que há verbas da UE disponíveis para este tipo de reabilitações.
Mas é preciso o tal plano para as obter...
Na Av.Berna, a primeira circular de Lisboa, junto do Campo Pequeno
 Av.Sacadura Cabral , junto do Campo Pequeno - não é uma ruina. Este prédio acabou de ser reabilitado. Ignoro se foi feito o reforço da estrutura. Não está resolvida a questão do estacionamento.
Perto da Av.Roma
 Perto da Av.Roma. Construção dos anos 50 do século XX. É possível que não seja necessária a reabilitação da estrutura.
Av. 5 de Outubro - Não é uma ruina. Este prédio é um exemplar do modernismo dos anos 30, suponho.
Ruina, ruina, foi alguém ter ordenado a demolição da garagem, também de arquitetura modernista. Bárbaros, o conjunto era uma peça de museu.