segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O trio elétrico - acidente em Minas Gerais

Trio elétrico significa, no Brasil, o carro do som.








Com o passar do tempo, o carro do som tornou-ser um camião com toda a aparelhagem sonora que permite levar a musica de carnaval às povoações mais distantes.
O trio elétrico pode ter um piso superior e facilmente se imagina que possam ser utilizados pendões ou objetos suscetíveis de provocar a tragédia que se verificou no estado de Minas Gerais, com a colisão com as linhas aéreas de 6000 volt.

Interessaria neste caso que técnicos da especialidade, da companhia de distribuição elétrica e das instancias oficiais e das universidades, investigassem as circunstancias do acidente e as divulgassem publicamente.

Existem neste momento dispositivos de proteção que permitem desligar as linhas quando ocorrem defeitos (indicadores de passagem de defeito à terra e relés de defeito da corrente homopolar).
Há 40 anos a sua fiabilidade deixava muito a desejar e por isso ocorreu uma acidente grave numa aldeia de Trás os Monts no preciso dia da inauguração do posto de transformação. Um cabo caiu e as proteções não atuaram. As pessoas que se deslocavam nas imediações morreram por terem sido submetidas à chamada tensão de passo, isto é, a distribuição das linhas de potencial a superficie da terra desde o ponto de contacto da cabo até ao ponto de potncial zero, era suficiente para eletrocutar a pessoa que se encontrasse apoiada nos dois pés entre essas linhas de potencial. As proteções não atuaram a tempo por não terem distinguido a situação de defeito (tensão anormal do neutro, valor anormal da componenete homoploar) da situação normal.

Acidentes do mesmo tipo são o contacto acidental (na realidade, devido ao efeito das capacidades parasitas, nem é necessário o contacto) de gruas com linhas aéreas de alta tensão, a instalação de antenas em telhados próximos de linhas aéreas, a execução de obras de viadutos sob linhas aéreas ou o corte de árvores nas suas imediações (a propósito, cito uma situação de elevado risco olimpicamente desprezada pelos decisores: turistas no primeiro piso dos autocarros sightseying quando equipados com guarda-chuvas passando sob a catenária dos elétricos ou da CP ou sob linhas de média tensão).

Atualmente os dispositivos de proteção são computorizados, embora possa sempre haver dificuldades de regulação que impeçam a deteção a tempo da situação de defeito.
Um dos riscos que se correm com a privatização das companhias de distribuição elétrica e a sua pulverização é justamente o desprezo pelas normas de segurança e a relutancia perante os custos dos equipamentos mais eficazes.

No caso do acidente no Brasil, podem ter prevalecido as dificuldades de deteção e de regulação da sensibilidade dos detetores de defeito, mas os cidadãos e as cidadãs têm direito a ser esclarecidos se os equipamentos instalados para deteção de defeitos eram os adequados, não bastando declarações da própria companhia (por razões óbvias).
Outra hipótese pode ter sido, no caso de o camião não dispor de um gerador de potencia suficiente para alimentar a instalação sonora e de iluminação, uma deficiente ligação temporária à rede fixa.

Embora os testemunhos registados pelos meios de comunicação social possam não ser fiáveis (uns dizem que não estava ninguem sobre o camião, outros dizem que sim), tudo indica que a situação se manteve durante algum tempo, até, provavelmente, o defeito se tornar franco e provocar a atuação das proteções de curto-circuito .
A hipótese de uma serpentina de fita de alumínio não parece credível , dado que rapidamente fundiria.
Seria mais provável a colisão de um objeto mais robusto e rotura do cabo (a averiguar a resistencia mecânica dos isoladores de fixação).
O cabo caido sobre o camião não é um defeito franco, fechando-se a corrente por capacidades parasitas; quem estiver sobre o camião e tocar quem estiver em terra provoca uma corrente de descarga fatal; quem se aproximar do camião é tambem eletrocutado pela tensão de passo; se não existirem, ou estiverem desreguladas, proteções homopolares e de di/dt (variação da corrente), a linha aérea trifásica continuará a ser alimentada.
Em exploração, trata-se de um problema complexo que exige muita atenção aos executantes da manutenção.
Na realidade, não deverá fazer-se fé apenas nas proteções.
Deveria ser evitado o traçado de linhas aéreas nas povoações, deveria interromper-se a alimentação das linhas durante a execução dos trabalhos inadiáveis (para isso a rede é malhada), deveria aumentar-se a altura dos postes (inconveniente: maiores gastos de manutenção na verificação periódica do estado de tensão mecânica dos condutores)

Consultada a informação da EDP na internet, registaram-se numa rede de média tensão no Alentejo, protegida de acordo com as normas, durante 14 meses, 104 defeitos, sendo 20 devidos a fenómenos atmosféricos, 8 a avarias de equipamentos e 76 a causas não identificadas, de que se supõe a maior parte ser atribuida a aves.

A propósito deste tema, não posso deixar de recordar o esforço dos técnicos que conseguiram, durante a construção da linha de metropolitano para Odivelas, cujo viaduto cruza uma linha trifásica de 220 mil volt,  especiais cuidados durante as obras e a instalação de uma gaiola de Faraday (aquela malha de rede metálica que coroa o viaduto) para proteção dos passageiros, das comunicações e dos equipamentos. Aquela linha deveria ser enterrada em cabos protegidos.

Informação sobre a deteção de defeitos em:

http://paginas.fe.up.pt/~ee08053/Tese.pdf

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