terça-feira, 8 de março de 2011

A metáfora dos marinheiros

Na Marinha estudou-se um anacronismo interessante.
Como se comportaria um marinheiro do tempo dos descobrimentos e das viagens à India no submarino Tridente?
Ou numa fragata dos anos 60 do século XX?
Provavelmente seria inutil.
Talvez não o fosse num dos navios que levou a corte para o Brasil, e seguramente seria muito util nos primeiros navios que trouxeram o ouro do Brasil.
Os ensaistas costumam dizer que não se deve olhar para os factos históricos exclusivamente com as lentes de óculos contemporaneos, isto é, julgar personagens que não dispunham do conhecimento de factos que hoje temos.
Lembrei-me disto ao ler num editorial, possivelmente influenciado, o editorial, pela canção A luta é alegria, que o Manifesto do Partido Comunista, escrito por Marx e Engels em 1848, apelava à revolução violenta.
De facto vêm no Manifesto o substantivo luta e o adjetivo violenta.
Mas ninguém utiliza agora os termos que Galileu e Newton utilizaram nos seus evangelhos da Física nascente.
Nem ninguem se limita agora ao dominio da mecanica clássica, agora que até a mecânica quantica já é antiga.
Embora todos apliquem agora os conceitos e as fórmulas da mecânica clássica se apropriado.
Por isso mais valia que se traduzisse esse conceito de luta violenta e que se tivesse um bocadinho mais de consideração pelas técnicas de análise marxista dos modos e das tecnologias de produção, dos mecanismos da sua apropriação e distribuição de rendimentos, dos fenómenos de interação entre as instituições sociais, os grandes grupos económicos e  as empresas por um lado e as mudanças tecnológicas pelo outro.
Seria um debate mais científico e mais aberto, com argumentos e não com adjetivos e mecanismos de normalização em grupos restritos, embora alguns destes grupos possam pensar que o entrincheiramento e o atirar adjetivos ao adversário político seja mais seguro (e contudo, paradoxalmente, defendem na economia o derrube dos muros e das trincheiras).
Provavelmente mais profícuo, o que seria francamente desejável.
Até porque a proposta marxista era aproveitar os avanços tecnológicos para aliviar o esforço de trabalho das populações e aumentar-lhes os benefícios.
Ora, quando se pretende fazer recair sobre as faixas da população com menores rendimentos o maior esforço para recuperar da crise, ou se tomam medidas que privam as faixas de menores recursos de meios de subsistencia, o que se está a fazer na prática é tender para a reconstituição do estádio social que motivou os termos em que o Manifesto foi escrito.
Isto é, é querer um retrocesso histórico de mais de 160 anos.
Pessoalmente discordo dessa reconstituição e parece-me que as medidas já citadas neste blogue seriam  mais eficazes.



Ver o Manifesto em:
http://www.pcp.pt/publica/edicoes-avante/25501144/manifpc.html

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