quinta-feira, 10 de março de 2011

Mini ensaio em forma de hipérbole - as desigualdades

Não tem de haver uma explicação lógica.
Pode ser que a lógica seja uma abstração que distorce a realidade e as relações entre causas e efeitos e se enrede sem solução nas circunstancias dos eventos.
O caso é que o coeficiente de Gini continua a crescer, aqui e além.
A desigualdade de circunstancias e de resultados é grande.
Por exemplo, na guerra da Bósnia acontecia, em simultaneidade, um concerto sinfónico em Serajevo e  o bombardeamento da ponte de Mostar.
Enquanto Napoleão agredia os povos da Europa (embora paradoxalmente lhes oferecesse o código civil libertador), Beethoven apresentava as suas sinfonias no Musicverein, por baixo do qual passam agora composições do metropolitano em leito de via especialmente tratado, enquanto de forma diversa vizinhos de outros metropolitanos se queixam das vibrações induzidas.
Nos países escandinavos vive-se em paz (com alguns sobressaltos, mas predominando o conceito de paz e de segurança social, nos termos do artigo 22 da declaração universal dos direitos humanos, pelo menos por enquanto), e em paises mediterrânicos não.
Nós por cá, nem todos bem.
Há uns de nós recebendo razoáveis rendimentos e outros não, sem que a qualidade ou a quantidade do que cada um produziu tenha obrigatoriamente que ver com a quantidade de rendimento recebida.
Já se fazem manifestações por causa disso.
Dizem os que gostam de se ver na televisão ou de se ler nos jornais, que são as coisas a funcionar a duas velocidades e que isso não pode ser.
Mais uma metáfora.
Ninguém ligou a quem avisou quando foram tomadas as medidas de desregulamentação da economia.
Que se vivia melhor em economia de mercado, foi a proposta de quem agora volta a propor o mesmo (valha a verdade que legitimamente, porque se os manifestantes que se manifestam agora, a 12 de março, tivessem votado nas ultimas eleições presidenciais para sufragar os mecanismos de garantia de cumprimento do artigo 23 da declaração universal dos direitos humanos, o do direito ao trabalho, duvido muito que o senhor presidente da republica portuguesa tivesse recolhido o numero de votos suficiente para a sua eleição, mas não devemos fazer ficção histórica).

Então a explicação, ou a hipótese, apenas isso, uma entre entre infinitas hipóteses, é que vivemos na beira enlameada de uma poça de água estagnada e um deus criança entretem-se acocorado a vergastar as formigas que nós somos, a jogar-lhes em cima a água suja, a pisá-las, e sendo muitas as formigas, há sempre algumas que estão bem.
O deus criança açula uns contra os outros, pôs-lhes cérebros supostamente racionais apenas para que uns possam deduzir raciocínios lógicos de que a culpa é dos outros, mas estes outros também têm os mesmos cérebros de ilusão e também culpam precisamente do mesmo aqueles uns.
Ou nem sequer pôs cérebros ou cortexes novos, foi por estouvadice e desatenção que deixou perder genes aos organismos antecessores dos homens-formigas na escala da evolução, por exemplo os genes inibidores do crescimento das células e como consequencia os neurónios desenvolveram-se para além do razoável, e divertiu-se ainda a limitar os comportamentos poligâmicos.
De vez em quando, a mãe deus, ou o pai deus, que dedução por dedução, se não pode haver relógio sem relojoeiro, também não pode haver relojoeiro sem pai nem mãe, chama o deus criança e repreende-o, não faças isso às criaturas, coitadas, elas têm sensibilidade como qualquer bicho, mas daí a pouco lá está outra vez o deus criança nas suas sádicas atividades.
E assim sem fim, pelo menos por enquanto.

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