sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Vou viver para Lisboa e deixo de pagar transportes

Com a devida vénia ao DN, que registou a frase do título numa entrevista a um morador no Montijo que trabalha em Lisboa, a propósito do aumento dos transportes coletivos.
Este blogue lamenta o aumento, que poderia ser faseado, mas reconhece que durante anos e anos se foi deixando aumentar o fosso entre os custos de produção e as receitas de exploração.
Desejaria este blogue que o anterior governo tivesse atualizado o plano estratégico dos transportes, e não se tivesse limitado a discursos em eventos e a falsos anuncios da publicação do plano atualizado.
Desejaria agora este blogue que o atual governo apresentasse o seu plano estratégico, com o faseamento das medidas, desde a melhoria da taxa de cobertura das despesas pelas receitas, ao esclarecimento da questão das amortizações e do serviço da dívida das grandes obras de infra-estruturas (que não devem estar nas contas das empresas públicas), até ao aumento de impostos sobre os combustiveis e sua aplicação nos transportes coletivos, à melhoria da fiscalização do estacionamento indevido, da ultrapassagem dos limites de velocidade e das taxas de entrada nas cidades.
Julgo que não será pedir demais, dado que o atual ministério dos transportes tem chefe de gabinete e secretários de estado classificados como "super" e capazes de "brilhar", nas palavras do seu ministro.
O que me deixa um pouco desiludido, quando é o próprio ministro que vem dizer que eventualmente, poderá ser estudada uma taxa para entrada de automóveis nas cidades, a exemplo de Londres e Estocolmo.
É que, sendo uma medida já antiga e tão falada por alguns técnicos de transportes, admira como ainda se põe apenas a eventualidade de uma possibilidade de estudo. No próprio metropolitano de Lisboa foi proposta uma série de medidas que a própria empresa poderia dinamizar junto do ministério.
Espero  que, apesar da ausencia de inquéritos de tráfego fiáveis, o tal eventual estudo anunciado pelo atual ministro pondere bem que os suburbanos têm ainda alguma capacidade para absorver desistentes do transporte individual, mas que essa capacidade é limitada, e  que o metropolitano carece de aumentar a sua rede para sevir todas as zonas da cidade (não necessariamente em subterraneo e não necessariamente em modo pesado), pelo que será bom pensar em incluir no tal plano estratégico investimentos nos transportes coletivos a submeter a verbas QREN.
E tambem, evidentemente, uma vez que o problema dos transportes em areas metropolitanas é indissociável do problema da habitação. Não é possivel projetar uma rede de transportes sem integrá-la na politica urbanistica da cidade e da área metropolitana. E será bom controlar o preço da habitação em Lisboa, que irá subir se deixarem o mercado à solta.
Os aumentos dos transportes coletivos e os aumentos da tributação sobre o automóvel, combustiveis, portagens, acesso à cidade e estacionamento tornarão menos interessante viver nos arredores para quem trabalha em Lisboa, pelo que será de esperar um aumento de rendas de casa em Lisboa e um aumento de procura no metropolitano, contrariado pelo arrefecimento da economia, sendo que dificilmente o metropolitano responderá a um aumento da procura sem investimentos significativos.
Como quer que seja, será grave manter-se a inexistencia de um plano estratégico de transportes, o que indiciará uma falha mais grave de nivel geral, de falta de planeamento do país.
E como dizia Chandler, "structure follows strategy", pelo que se não houver estratégia, a estrutura será inutil e ineficaz.
Mas não sei se os supers do ministério dos transportes quererão saber desta minha preocupação, e certamente saberão melhor do que eu analisar as questões e propor soluções (tenho direito a uma mentira de vez em quando, não?).

PS - Vem posteriormente o senhor ministro dos transportes dizer que não é oportuno o estudo da taxa de entrada nas grandes cidades. Salvo melhor opinião, estudar de forma integrada e pluri-disciplinar as medidas de um plano estratégico, e a esta medida não se pode fugir (a menos que deixe de haver grandes cidade), é sempre oportuno.

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