segunda-feira, 28 de novembro de 2011

A ética não é uma entrada no dicionário da teoria económica que está sendo praticada

A ética não faz parte do dicionário da economia que está sendo praticada.
Houve um tempo em que um ministro das finanças do  meu país repreendeu um deputado que pedia ao governo medidas conta os ladrões dos bancos (não os assaltantes, mas os gestores).
Tenha termos, disse o senhor ministro.
Daí a uns dias, os gestores eram publicamente denunciados por práticas danosas.
Ignoro se o senhor ministro pediu desculpa pela frase infeliz "Tenha termos".
Se não o fez, cometeu uma infração à ética.
Recentemente, chocou-me um jovem deputado, dirigindo-se a um senhor ministro do atual governo, perguntar-lhe se não tinha vergonha na cara por valorizar uma medida que segundo o deputado não o merecia.
Também ele foi repreendido, ignoro se com ou sem razão porque não conheço os pormenores do caso que se discutia.
Mas conheço o caso que se passou comigo, quando depois de algumas incertezas o governo atual divulgou a boa nova de que os juros do empréstimo de 78.000 milhões de euros seriam de cerca de 4%.
Fui ao calculador das prestações e amortizações, e para um empréstimo a 15 anos obtive uma prestação mensal de 576,96 milhões de euros, o que conduziu a um valor total pago de 103.852,8 milhões de euros.
O total de juros seria assim de 103.852,8 - 78.000 = 25.852,8 milhões de euros.
Posteriormente, a comunicação social informou que a comissão da troica para o empréstimo é de 655 milhões de euros (1,2 milhões de euros por  mês para cada uma das 3 entidades emprestadoras).
Temos assim que juros e comissões são, em 15 anos, 26.507,8 milhões de euros.

Foi portanto surpreendente o anuncio de que afinal os juros serão 34.400 milhões de euros, isto é, mais 8.547,2 milhões de euros.
Voltando ao calculador, determinei a taxa como sendo próxima de 5,2%.

Noutras profissões, mais respeitadoras das regras da matemática e das leis da física, um erro de 30% como este, anunciar 4 e impor 5,2, é classificado como incompetencia, desatenção grosseira, simples ignorancia ou vontade expressa de enganar.
E um erro destes justificaria uma renegociação das condições de prazo e taxa de juro.
Mas não parece neste caso que a ética comande a politica de informação económica aos cidadãos.

Tambem não parece que os problemas do nosso país se resolveriam apenas passando a taxa de 5,2 para 4%, quando o nosso país não tem a capacidade produtiva, por exemplo, da Irlanda. Lá, o grupo de assaltantes/gestores de bancos causou danos maiores do que no nosso país, mas a estrutura produtiva da Irlanda tem maior capacidade para compensar os danos, e era aí que se devia pôr a tónica, mas os economistas que nos governam cingem-se aos números, e têm dificuldade em compreender os indicadores que traduzem o funcionamento da industria.

Resta-nos assim a liberdade de expressão de deixar escrito que os senhores economistas que governam a Europa e que não querem mudar a política do BCE, e que governam o nosso país e que não querem partilhar os sacrifícios com os beneficiários dos rendimentos do capital, deveriam reconhecer o falhanço do seu sistema financeiro.
Quanto mais tarde o reconhecerem, maiores serão os danos.

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