quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Cenas da vida quotidiana de um cidadão em Portugal, Lisboa, em dezembro de 2011

Cena 1 - Talão abandonado numa caixa Multibanco, no Centro Comercial Colombo:

Levantamento, montante: 60,00 euros
saldo contabilistico:      593,51 euro
saldo disponivel:           601,41 euro
saldo autorizado:            19,73 euro

Após a operação de levantamento, o distraido detentor da conta ficou a saber que pode movimentar 19,73 euros, e que tem de aguardar que lhe depositem na conta o seu ordenado, de cerca de 600 euros, para poder usufrui-lo. Este tempo de espera resulta em beneficio para os bancos. O valor médio de uma renda de casa modesta em Lisboa é de 450 euro. Sobram 150 euro. Segundo um dos membros da troica, os salários em Portugal devem baixar porque atualmente são mais altos do que o valor que é produzido.

Cena 2 - Numa carruagem de metro na linha verde, um rapazinho, talvez de 9 anos, para o pai:
"porque não vamos à Assembleia falar com eles, com o primeiro ministro, para ajudar a resolver a crise? Há tantas lojas a fechar e pessoas desempregadas, que podiamos empregar essas pessoas nas lojas"
"Pois, dizia o pai, mas não pode ser só lojas, alguem tem de produzir nas fábricas, nos campos"
"É nisso que podiamos ajudar o Passos Coelho, dizer-lhe que podia empregar essas pessoas"
O pai sorria, mas era um sorriso triste.
O menino, que tem aspeto de inteligente e generoso, aprenderá um dia a lei de Philips: existe uma correlação fortemente positiva entre o desemprego e a contenção dos preços (a contenção dos preços é a politica oficial do BCE,  a qual não foi sujeita a eleições pelos cidadãos e cidadãs europeus)

Cena 3 - Na sala de espera de um hospital privado, 01:30.
Ao fim de uma hora e dez minutos de espera, abriu-se a porta de um dos consultórios e é chamado o nome do cidadão que esperava. Não houve triagem para avaliar o estado de gravidade do cidadão.
No jornal desse dia vinha anunciado o aumento dos custos para os utilizadores dos hospitais públicos e, no jornal do dia seguinte, a de que qualquer cidadão ou cidadã sem capacidade para pagar as despesas no hospital público pode registar no sistema informático das finanças a sua isenção (antigamente, no tempo do para-fascismo, chamava-se atestado de pobreza,  que era obtido na junta de freguesia).
Espera-se aumento da procura de hospitais privados.
Espera-se aumento do tempo de espera.

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