terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Viva a República

Hoje, 31 de janeiro de 2012, comemora-se a revolta republicana de 1891.
Reproduzo, infelizmente em más condições, caricaturas de todos os presidentes da República.
A evolução é lenta, mas os ideais são claros: liberdade, igualdade, fraternidade.





Junto a esta homenagem o convite para audição do extraordinário programa da Antena 2 , da série "Em sintonia com António Cartaxo - a musica e a sociedade", dedicado aos músicos perseguidos pelo nazismo alemão, com destaque para o compositor checo Viktor Ullmann e a sua ópera o Imperador da Atlantida.
A musica ao serviço da sociedade, que é também o objetivo da República.

http://www.rtp.pt/programas-rtp/index.php?p_id=1132&c_id=1&dif=radio&idpod_audio=104780&idpod=





1% e Christine Lagarde

1%.
Podiamos começar por aqui.
Fazer as contas a todas as nossas dívidas para um juro de 1%.
Fazer como na Idade Média, quando o papa fixava o valor limite do juro aos Sforza, aos Medici, aos Templários.

Mas parece que não, que os economistas que nos governam acham pouco, 1%.
E então acham, os credores privados da dívida grega, que pelo menos 4,5% a 30 anos era uma boa solução para perdoarem 100 mil milhões de euros de dívida.
Vêm  os credores públicos e dizem que o melhor é baixar a taxa para 3,5%.


Vou recordar aqui, para quem não viu o filme Inside Job, as intervenções da senhora nas entrevistas do filme, cujo objetivo é o de explicar como  a crise de setembro de 2008 aconteceu:
"Preocupa-me haver muita gente que quer voltar ao antigamente, ao modo de operar de antes da crise".
Perguntada  se como ministra das finanças de França não tinha previsto a crise, respondeu que em fevereiro de 2008 tinha perguntado a Hank Paulsen, dirigente da Goldman Sachs e secretário de estado do tesouro de Bush, se estava a tomar medidas para  resistir ao tsunami que se aproximava, e que este lhe respondeu que estava tudo sob controle (o que era mentira).
Perguntada se tinha tido conhecimento de que o Lehman Bros ,  o Fanni Mae e a AIG iam falir e qual  a reação que teve, respondeu que só teve conhecimento depois do facto consumado e que a sua reação foi "holly cow" (expressão idiomática, traduzível por fogo, poças, c'o caraças, ou macacos me mordam).

Portanto, parece tratar-se de uma senhora lúcida e honesta, mas a quem falta algum poder para dar umas boas bofetadas nos dirigentes económicos e impor-lhes soluções. De modo que vai dizendo umas coisas, a ver se os convence, mas sem lhes dizer que são uns ignorantes, mesmo do ponto de vista de Adam Smith, de que se confessa seguidora. Aliás, contrariamente à opinião mais vulgarizada, Adam Smith  punha em primeiro lugar o interesse social e só depois o interesse egoista.




Nesta fotografia, retirada da noticia do DN sobre o encontro de Davos, a senhora diz uma coisa óbvia: que os grandes economistas do BCE ainda não devem ter entendido,que o FMI (e o BCE) precisam de fundos para estabilizar as dívidas dos países.


Numa altura em que tanto se dicute e em que são apresentadas soluções em cimeiras de chefes de governo, talvez seja altura de insistir:


- no aspeto técnico-financeiro, que o BCE deveria assumir o papel de um banco central liberto da obrigação de só emprestar aos bancos privados, de modo a que os estados pudessem financiar-se a taxas baixas;

- no aspeto político, que o parlamento europeu e os seus eurodeputados, eleitos pelos eleitores europeus, assumam o seu papel decisório (desde sempre o órgão soberano numa coletividade é a assembleia de sócios, nunca a sua direção) em substituição das cimeiras de chefes de governo, como claramente se exprimiu o presidente do parlamento, Martin Schulz.



Mas duvido que os principais governos da Europa, ideologicamente agarrados aos ideais neo liberais e à ideia de supremacia económica, aceitem esse programa.

Talvez por isso a senhora Christine Lagarde ande por aí a falar por rodeios.

Assunto a seguir.

                                                                                                  



Fez agora 40 anos, o domingo sangrento na Irlanda do Norte




Não sou grande apreciador da banda irlandesa U2, com sede fiscal há vários anos na Holanda, mas retive a sua canção Domingo Sangrento, que encontrei no blogue esquerdanet.


Fez no dia 30 de Janeiro 40 anos que a polícia inglesa cometeu um massacre durante uma manifestação de irlandeses.

O governo inglês pediu recentemente desculpas e reconheceu que na altura inventou um falso pretexto para a intervenção.

Neste mês de Janeiro de 2012, recordou-se também o Holocausto pelo nazismo alemão e a repressão da revolta da Marinha Grande pelo exército e a Legião Portuguesa do Estado Novo, em 1934.

Convem recordar tudo isto, para os eleitores não se deixarem enganar pelo ar compenetrado e sério com os senhores governantes pretendem sempre justificar as suas intervenções, quer internas, quer no estrangeiro, em lugar de as discutir em debate alargado.

Evolução da população em Portugal de 1995 a 2010

Dados retirados da Pordata.
Tendencia para diminuição da população.
Casamentos a diminuir, divórcios a aumentar.
Ligeira descida do número de nascimentos, ligeira subida do número de mortes, descida do saldo migratório.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Parabens aos bombeiros de Santa Marinha do Zezere

Parabens, porque num só dia nasceram 3 meninas nas suas ambulancias, a caminho de um hospital a 60 km de distancia.
Quem decidiu fechar maternidades invocou o argumento de más condições para o parto.
Felizmente os bombeiros têm dado boa conta do recado, ultrapassando as más condições das ambulancias.
Mas existe agora o probema dos custos do transporte.
Quem decidiu fechar maternidades explicou na altura que não tinham estudado o problema do transporte porque não lhes competia fazê-lo ( não se apercebendo que estava dizendo ao jornalista uma petição de principio e que um problema se estuda primeiro decompondo-o em estados simples e depois integrando esses estados sem se esquecer de nenhum).
Na verdade, este é mais um caso da lei de Fermat-Weber, em que os locais centrais "secam" os locais afastados.
Só que os locais que são penalizados são pessoas.

Quem decidiu fechar maternidades foi muito louvado por economizar.
Mas só economizou numa parte do problema.
Agora os bombeiros estão a sofrer a falta de pagamento dos transportes.
 Somos um país de pessoas em cargos importantes muito competentes, mas apenas numa parcela ínfima do problema (por exemplo, resolver o problema de uma empresa pública com despedimentos, para aumentar os gastos com a segurança social e os riscos de instabilidade social;  resolver o defice de um ano com transferencia de fundos de pensões para agravar o defice do ano seguinte com o pagamento de pensões).

Tem um nome isto, em psicologia: visão de túnel, ou tubular, e estuda-se no capítulo das patologias.

Mas parabens aos bombeiros e às felizes mães.

Carta aos adam smithistas, a propósito do acordo de desacerto social

do DN de 29 de janeiro de 2012: "...as leis do trabalho são importantes, mas são um terço das medidas do acordo... a legislação laboral não é a panaceia dos problemas da  economia portuguesa"
         
de uma entrevista na RTP2 em 25 de janeiro de 2012:  "a rigidez da legislaçao laboral portuguesa terminou, segundo critérios da OCDE, em 2003"

                               

Escrevo-vos por causa da nossa civitas iniquitatis, da nossa comunidade de desigualdade.
Dirijo-me especialmente ao primeiro ministro do governo do meu país e aos seus ministros das finanças e da economia.
É verdade que vocês dizem sistematicamente que a politica de sacrifícios é para todos por igual, que existe equidade nas decisões que vocês tomaram.
Recordo-me de que na minha infancia pensei como vocês.
Razão tinha Freud, a infancia condiciona o resto da vida.
Eu estudava, cumpria o meu programa de educação.
Não compreendia como podia haver quem não tivesse sucesso na vida que não fosse por preguiça ou por culpa própria.
Felizmente, para a minha consciencia, a minha família explicou-me a tempo que havia desigualdade na sociedade portuguesa, e que eu estava no grupo dos privilegiados.
E se era desigual, a sociedade portuguesa nos anos 50 do século XX...
Tenho com vocês em comum o ter tido uma família que me pôde proporcionar um curso superior.
Nunca vos ocorreu que a probabilidade de um cidadão ou uma cidadã ter um sucesso semelhante ao vosso na vida profissional é muito menor no grupo de quem não teve pais a facultar-lhe um curso superior ou um curso de qualificação profissional?
Essa diferença de probabilidade tem um nome, é a desigualdade.
Não gosto da desigualdade.
A desigualdade penaliza quem não tem acesso a uma educação continuada até à qualificação profissional.
E os resultados dessa penalização surgem com uma constante de tempo, ou atraso geracional, sob a forma de insucesso escolar, vandalismo, desemprego, criminalidade, impreparação profissional.
E são medidos pelo coeficiente de Gini e pelos inquéritos do PISA.
O que comprova, salvo melhor opinião, que não são as leis do mercado que os neo adam smithistas defendem, que vão corrigir este atraso em que nos encontramos.
Donde, impor medidas de austeridade a quem foi vítima dessa desigualdade, dificultando o desenvolvimento global da sociedade, vai agravar essa desigualdade, digamos, estrutural, quer as vítimas, trabalhadores por conta de outrem, tenham ou não a sorte de manter os seus empregos.


Nem sequer seria suficiente, embora necessário, estender essa austeridade aos escalões sociais mais ligados aos rendimentos de capital para diminuir a desigualdade, porque estou falando de uma desigualdade dinamica, que se agrava cada vez mais com a diferença de tratamento na educação entre os jovens cujos pais têm capacidade económica e os que não os têm.
O cabeçalho deste blogue manter-se-á negro enquanto vocês favorecerem a desigualdade.


Vocês falam como os sacerdotes que prometem o paraíso a quem não recebe, empregado ou desempregado, o suficiente para pagar a casa, a alimentação, a escola, os transportes, a saúde.
Vocês prometem o crescimento económico depois de um ou dois anos de austeridade, e que esse crescimento será assegurado pelo mercado livre, pela livre iniciativa, que produzirão riqueza donde se poderão derivar impostos para a saúde e  educação.
Certamente que apresentarão estatísticas, dentro de um ou dois anos, dizendo que demonstram que tinham razão e que a culpa era, como diz o senhor ministro da economia, dos trabalhadores por conta de outrem que tinham excesso de regalias através dos seus acordos coletivos de trabalho.
Mas eu já não quero saber se vocês têm razão ou não, quer se trate das vossas pequenas questiúnculas que enchem jornais e caixas de comentários na internet, quer se trate de grandes opções em horizonte temporal de dois anos ou mais.
Porque tenho apenas um padrão para aferir o sucesso de uma política, e que é o de que se está ou não a cumprir, ou se está ou não a tender para o seu cumprimento, da declaração universal dos direitos humanos.
Vocês dirão que não há dinheiro para cumprir a declaração, e eu direi que se não existe dinheiro para isso é porque as instituições não estão a funcionar regularmente, e que se justificam assim medidas excecionais.
Não propriamente de austeridade, mas de acesso a fontes de financiamento que viabilizem esse cumprimento (juros a 20%, depois do senhor ministro das finanças dizer com aquele ar pausado e candido que "os mercados" já acreditavam outra vez em Portugal?!).
Mesmo que se vá buscar o financiamento também aos rendimentos de capital, apesar dos detentores desses rendimentos ameaçarem exportar os seus capitais.
Seria outra forma de austeridade, mais no sentido da deslocação, mais para o lado do trabalho, da linha de separação entre os rendimentos do trabalho e os rendimentos do capital.
Mas duvido que vocês façam o que estou a pedir.
Ou que se sentem à mesa com quem não pensa como vocês, com quem representa sensibilidades   políticas que não as vossas, para combinar o que se deve fazer.
Duvido que abdiquem, por vontade própria, do monopólio de decisões em que se acastelaram.
Não querem saber de governos de coligação alargada extravazando o quadro partidário, como se fez na Islandia.
Aliás não querem ouvir falar na Islandia, esse tão mau exemplo.
Pena, porque Adam Smith era um homem sério e de formação científica, que punha o interesse social à frente do interesse egoista do empreendedor ou da empáfia dos governantes.
Releiam os textos, a ver se não é como eu digo.

PS em 31 de janeiro de 2012 -  Pobre ministro da voz pausada; como aumenta o contraste entre o seu otimismo e a realidade; os juros a 3 anos ultrapassaram 24%; não é sustentável, não é possível pagar as dívidas assim; o BCE tem de poder emprestar diretamente aos governos, não são "os mercados" que podem resolver isto. Como diz o ditado castelhano, "de enero a enero, el dinero es del banquero". E pobre secretário de estado, tão convencido que estava que bastava um partido de orientação neo liberal subir ao poder para os juros baixarem. Eu até acredito que eles acreditem em si próprios. Santa ingenuidade. Se calhar minha, também.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Os direitos de autor e as limitações à disseminação da cultura

Este blogue manifesta-se contra os projetos de lei que pretendem limitar a disseminação da cultura através da Internet, com o pretexto eufemista da defesa dos direitos autorais.
Na verdade, os principais prejudicados com a livre circulação de informação são os grupos editoriais.
Não se pretende eliminar os fatores de remuneração dos autores, mas a circulação das suas obras contribuem para um aumento da sua procura.
Espera-se, portanto, que não vinguem os projetos de lei que ameaçam essa disseminação.
A cultura, tal como a ciência desde que a academia de ciências britânica quebrou o sigilo, precisa de não estar escondida.

Tentativa de sistematização dos pontos fracos do Costa Concordia

No caso do Costa Concordia
vantagens
Inconvenientes
obs
Casco comprido e estreito
Permite velocidades elevadas
Menor resistência ao rolamento (balanço transversal, adornamento)
O rolamento é provocado pelo binário resultante do centro de gravidade estar acima do centro de impulsão ou metacentro;Compensação por estabilizadores variáveis; compensação por giroscópio?
A solução clássica contra o binário de rolamento são os robaletes ou quilhas laterais próximas da linha de flutuação (solução aplicada no Atlântida, com o inconveniente de aumentar a resistência ao deslocamento e diminuir a velocidade)
Pequeno calado
Permite velocidades elevadas por menor resistência ao desslocamento; permite acesso a portos antigos e assoreados
Menor resistência ao rolamento (balanço transversal, adornamento)

Pequeno lastro
Idem
Idem
A existência de lastro junto da quilha baixa o centro de gravidade aproximando-o do metacentro , reduzindo o binário desetabilizador
Casco simples
Idem
Sensível a abalroamentos, com paralização das máquinas (gerador elétrico que alimenta as manobras) se entrada de água

Ausência de casco duplo e de  compartimentos estanques no sentido longitudinal e no sentido transversal

Qualquer abertura no casco conduzirá à diminuição da impulsão, ao adornamento (aumenta a distancia entre o centro de gravidade e o metacentro) e ao afundamento
A compartimentação longitudinal e transversal permitiria manter a flutuação, embora com alguma inclinação, após rotura de uma parte do casco
Construção acima da água exagerada
Permite lotações elevadas
Sensibilidade a ventos laterais e danificação de cais quando amarrado


Baleeiras de salvamento de modelo obsoleto
economia
Impossibilidade de baixar as baleeiras com o navio inclinado; impossibilidade de evacuação rápida

Inexistência de hélices azimutais
economia
Maior dificuldade de manobras com o navio degradado
As hélices azimutais, rodando +90º a -90º permitem realizar manobras de forma mais segura e em menos espaço
Provável não sinalização das rochas
economia
Riscos de navegação
Os regulamentos internacionais prevêem a sinalização de rochas submersas na superfície das águas e o alarme de proximidade da costa ou por semáforos ou por rádio-farois; embora os equipamentos de localização por GPS já sejam precisos, não são considerados de segurança por estarem sujeitos a condicionalismos políticos



Penso que, para além do dramatismo associado à morte de passageiros e tripulantes e ao sofrimento causado, tem faltado nos meios de comunicação social o aspeto técnico.
É uma pecha do jornalismo.
Aconteceu com os acidentes do Concorde e do voo AF447.
Fala-se muito, o tempo passa e dados técnicos ficam por explicar ao público (por exemplo, no caso do Concorde faltava uma peça no trem de aterragem que desviou o avião do caminho normal de descolagem e destruiu o pneu que fuou o depósito de gasolina - erro de projeto posteriormente corrigido no Concorde; no caso do AF447 procedeu-se posteriormente a substituição de todas as sondas Pitou defeituosas, mas continua nos Airbus a prevalecer o automatismo sobre os pilotos - no caso do acidente os pilotos não tinham experiencia suficiente para lidar com as avarias ou fucionamento deficiente das sondas  e do automatismo).

No caso do Costa Concordia, para alem do comportamento incorreto do capitão (na marinharia chama-se dar resguardo a manter uma distancia de segurança relativamente ao obstáculo, para dar conta, por exemplo, duma rocha não assinalada), julgo de notar:
- a exploração de cruzeiros só  é rentável e só consegue os preços baixos que se praticam com navios rápidos, de grande capacidade e de pequeno calado. Para serem rápidos têm de ser compridos, estreitos e sem "robaletes" (quilhas laterais que reduzem o balanço transversal ou rolamento ou tendencia para adornar; os estabilizadores (pequenas "asas" submersas) provavelmente necessitam de energia para aumentarem a sua extensão e terá faltado após o acidente; provavelmente idem para eventuais giroscópios. 
- Com pequeno calado, a tendencia para estes barcos se virarem é muito grande porque o centro de gravidade é muito elevado e o metacentro ou centro de impulsão pode estar mais abaixo
- provavelmente, para diminuir o peso do navio, o casco não estará dividido em compartimentos estanques tanto longitudinal como transversalmente
- provavelmente o Costa Concordia bateu primeiro, a sul do porto,  numa rocha que abriu um rasgão de menos de 50 m (1/6 do comprimento total) com entrada de água a provocar avaria no gerador que alimenta os comandos, e nos estabilizadores e giroscópios (se os tinha); navegou ainda mais mil metros, provavelmente com a intenção do capitão de entrar no pequeno porto, mas a volta terá sido de 360º e adornou para estibordo (direita) até tombar nos rochedos

Penso que é inadmissível que, com um rasgão daquele comprimento, em águas tranquilas, um navio daqueles não ter meios para manter a flutuação. Não tem nada de "fail-safe".
Para mim, é erro de projeto, embora esta classe de navios seja mesmo assim para rentabilizar a exploração .
Calados maiores, robaletes (foi exatamente por se ter acrescentado robaletes para garantir a estabilidade ao Atlantida que ele depois não cumpriu os valores da velocidade), construção acima da linha de água mais baixa, divisórias reforçadas para compartimentos estanques no casco, tudo isso iria aumentar o peso do navio e reduzir a velocidade, ou reduzir a capacidade de transporte de passageiros.

Os preços baixos são tentadores (é mais barato viver num navio de cruzeiros do que num hotel de 4 estrelas) mas as condições de projeto destes navios são precárias, e ainda no último verão houve dois casos de avarias graves no mar alto por provavel economia de manutenção.
Tem havido ainda acidentes com navios desta classe, alguns mortais, devido à sensibilidade ao vento (em caso de tempestade são sistematicamente arremessados contra os cais e danificam-nos). Em 2007 deu-se o afundamento de um navio de cruzeiros junto da ilha de Santorini.
A excessiva concentração de pessoas a bordo torna impossível uma evacuação rápida, agravada no caso do Costa Concórdia pelo modelo obsoleto das baleeiras.

Por tudo isto, o capitão e o imediato não são os únicos culpados, e mais uma vez se verifica que a compressão dos custos e o aumento da taxa de rentabilidade passam por cima de questões básicas de segurança.

Enfim, faz-me lembrar o caso dos super petroleiros, que são agora obrigados a ter casco duplo, depois de várias catástrofes ambientais.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Carissimo Hassan Abu Hashish

Carissimo Hassan Abu Hashish, porta voz do governo do Hamas na faixa de Gaza

Antes de mais, salam, salam u leikum.
Com a cultura árabe aprendemos a saudação e o desejo de que a benção da paz desça sobre o próximo e sobre a sua descendencia.
Por isso mesmo não compreendi a tua proibição.
Proibiste a televisão Maan de prosseguir o seu programa "Palestinian Idol", depois de ter selecionado os melhores concorrentes.

Sabes, eu também não gosto do programa.
Mas às vezes até vejo, e posso apreciar a alegria com que alguns jovens cantam.
Pode ser que entre eles haja quem por ambição e narcisismo se esqueça de valores que deviam prevalecer, como a necessidade de garantir a todos a educação, a saúde, a segurança social.
Que certamente são preocupações do governo do Hamas.
Mas acima de tudo está a liberdade de expressão, desde que não se propagandeie a opressão do outro, claro.

Tenho imenso orgulho em pertencer à mesma espécie humana a que pertencem as palestinianas que se têm distinguido na cultura e no pensamento político, e aquelas que vi uma vez num programa de televisão, de cabelo descoberto, passando diariamente os postos de controle fronteiriços do ocupante israelita e respondendo com dignidade e orgulho aos soldados que as interrogavam.

Não digas que o  Profeta e a filha Fátima só quereriam que elas respondessem aos soldados invasores com o cabelo tapado. Onde está escrito isso? E o que está escrito foi escrito por quem? Tens confiança em quem te disse que quem escreveu isso estava a escrever a vontade do Profeta?
Sabes, a regra de ouro é, se queres acreditar nisso, está bem, mas quem não quise acreditar, também pode e também está bem que não acredite. Ninguém deve ser obrigado a acreditar no que não acredita.
Isso foi uma coisa que levou muitos séculos à espécie humana a passar ao papel, à Declaração do direitos do homem, até porque as religiões da revelação já são responsáveis, ao longo da história, por demasiadas mortes.
Apesar da  mensagem central dessas religiões ser a Paz.

Que o concurso não está de acordo com os costumes e tradições?
Ora, os costumes e as tradições estão sempre a mudar.
Mas convem que sejam sempre bem documentados.
Que só alguns gostam de música?
Ora, nem sempre a maioria tem de ter jeito para a música.

Vá lá, faz como a orquestra do divã Oriente-Ocidente.
Que junta jovens musicos israelitas e palestinianos, o sonho de Barenboim judeu e de Said árabe (escrevo por ordem alfabética).
Ficamos todos mais ricos e mais felizes.

Vá lá, levanta a proibição. Não se deve ser excessivamente moralista.

Salam.



 أبو حشيش حسن ، المتحدث باسم حكومة حماس في قطاع غزةبادئ ذي بدء ، السلام ، السلام  ش.الثقافة العربية تعلم تحية ونتمنى أن نعمة السلام تتنزل المقبل وعلى نسلهم.لذلك نحن لا نفهم الحظر الخاص.يحظر معان التلفزيون مواصلة برنامجها لل"أيدول الفلسطينية" ، بعد اختيار أفضل المنافسين.كما تعلمون ، أنا لا أحب هذا البرنامج.لكن في بعض الأحيان حتى رؤية ، وأنا يمكن أن نقدر الفرحة مع بعض الشباب الذي الغناء.قد يكون من بينها أن هناك أولئك الذين من أصل الطموح والنرجسية ننسى القيم التي ينبغي أن تسود ، والحاجة إلى ضمان أن تكون جميع مجالات التعليم والصحة والضمان الاجتماعي.ما هي المخاوف بالتأكيد حكومة حماس.ولكن الأهم من ذلك كله هو حرية التعبير ، شريطة أن لا  ظلم آخر ، بالطبع.أنا فخور للغاية تنتمي إلى الأنواع الإنسان نفسه أنهم ينتمون إلى الفلسطينيين الذين لديهم ثقافة متميزة والفكر السياسي ، وأولئك الذين رأوا مرة واحدة في برنامج تلفزيوني ، وكشف الشعر ، من خلال نقاط التفتيش الحدودية يوميا للمحتل الاسرائيلي والاستجابة مع الكرامة والاعتزاز ان الجنود استجوابهم.لا أقول أن فاطمة ابنة النبي وانهم يريدون فقط أن أرد على الجنود الغزاة مع تغطية شعرهن. أين هو مكتوب؟ وما هو مكتوب هو مكتوب على يد من؟ لديك الثقة في الذي قال لك أن كل من كتب كان الكتابة عن إرادة النبي؟تعلمون ، فإن القاعدة الأساسية هي ، إذا كنت أريد ان اصدق ذلك ، ودفع غرامة ، ولكن الذين لا يؤمنون ، ويمكن أيضا ، وكذلك الذين لا يؤمنون. يجب أن يجبر أحدا على الاعتقاد انه لا يعتقد.وكان هذا شيئا استغرق عدة قرون إلى الجنس البشري لنقل ورقة ، وإعلان حقوق الإنسان ، لأن الأديان من الوحي هي بالفعل المسؤولة ، وعلى مر التاريخ ، وفيات كثيرة جدا.على الرغم من الرسالة المحورية لهذه الديانات أن يكون السلامالمسابقة التي لا تتفق مع عادات وتقاليد؟الآن ، فإن العادات والتقاليد تتغير دائما.ولكن ينبغي أن يكون دائما موثقة توثيقا جيدا.إلا أن بعض الموسيقى مثل؟الآن ، ومعظمها لم كان دائما موهبة للموسيقى.هيا ، كما تفعل اوركسترا الأريكة بين الشرق والغرب.الذي يجمع بين الموسيقيين الشبان الاسرائيليين والفلسطينيين ، والحلم اليهودي بارنبويم وسعيد العربية (الكتابة في الترتيب الأبجدي).نحن جميعا أكثر ثراء وأكثر سعادة.هيا ، ورفع الحظر. لا ينبغي للمرء أن يكون مفرطا الأخلاقية.أحيي





segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Ainda o acordo de desacerto social - remuneração do fator trabalho

Escrevo desacerto porque, segundo os indicadores da OCDE desde 2003 que a rigidez das leis laborais em Portugal se atenuou, e porque o peso dos custos do fator trabalho nas empresas de produção de bens transacionáveis é de cerca de 15% e, portanto, estar a penalizá-lo pouco melhora no custo final.
Lá se vai a competitividade quando se põe a tónica na sua penalização.
Mas como a maioria daqueles senhores achava que aumentar o tempo de trabalho era aumentar a produtividade (demonstrando assim a incompreensão do conceito de quociente, neste caso produção em numerador e fator de produção em denominador) , vale pouco a pena argumentar.

Talvez se perceba melhor com a parábola que um leitor atento do DN enviou para as cartas ao diretor:
"Era uma vez um senhor e um criado para trabalhar no campo. O criado abalava de manhã, de enxada às costas e farnel debaixo do braço, que era o almoço feito a mando do senhor. Mas o trabalho não avançava. Um dia, o senhor seguiu o criado e verificou que ele, chegado ao local de trabalho, atirava a enxada ao chão, deitava-se ao lado e cantarolava: "- o meu amo só me dá pão de rolão e vinho vinagrão. Deita-te para aí enxadão ". O senhor, em vez de se escandalizar, percebeu, e no dia seguinte mandou preparar um bom almoço para o criado. Seguiu-o e viu-o trabalhando arduamente enquanto cantarolava:"-o meu amo já dá bom vinho e bom pão, trabalha enxadão".

Vox populi, sem precisar de fazer contas para explicar as coisas, que isso compete aos académicos que não o têm feito como deve ser, pese embora a boa paga que recebem.

Ópera no S.Carlos

Tarde de domingo de janeiro de 2012.
Terá sido, provavelmente, a última ópera apresentada no S.Carlos este ano.
E, se a política cultural do atual governo se mantiver, tão cedo não haverá ópera no S.Carlos.
Estão previstos concertos para ir ocupando os músicos, e rentabilização do espaço, como os economistas gostam, como restaurante, entre outros usos.
S.Carlos como restaurante

É verdade que existem dificuldades financeiras, mas as manifestações culturais de um povo são também um indicador importante.
Veja-se a imagem do camarote real/presidencial do S.Carlos.
Há muitos anos que não o vejo habitado.
Isso mostra bem a importância que os governos e os presidentes da República dão à cultura.
Os senhores governantes não gostam de ópera

Farão bem, do seu ponto de vista, em não irem à ópera.

Como já tenho dito, a ópera é subversiva, os compositores e os libretistas têm sempre segundas intenções.
Veja-se o caso desta ópera, Cosi fan tutte (assim fazem todas)  que se receia ser a última por muitos anos: Mozart pôs a empregada doméstica a cantar:
"Que vida maldita, a de criada!
de manhã à noite
sua-se, trabalha-se, faz-se e depois,
de tudo o que se faz, nada é para nós.
Há já meia hora que bato;
o chocolate está pronto, e a mim compete-me
cheirá-lo e ficar com a boca seca?
a minha boca não será, por acaso, igual à vossa, ó elegantes senhoras?"
Nada mal, para século XVIII, em Viena, capital do Império.
15 minutos antes do inicio. A sala encheu-se. A taxa de ocupação não justifica os cortes

Fazem bem, os senhores do governo, em não irem à ópera.
O primeiro ministro hungaro foi vaiado quando entrava na ópera de Budapeste.
Berlusconi, ainda primeiro ministro, teve de ouvir, logo a seguir ao coro dos hebreus, do Nabuco (Vai pensamento, sobre asas douradas...) o maestro Ricardo Muti a protestar contra os cortes na cultura "estou triste com o que se passa no meu país").
Os bárbaros tomaram o poder, mas ainda podemos chamar-lhes bárbaros.


Transcrevo um email recebido:
No último dia 12 de março a Itália festejava os 150 anos de sua criação, ocasião em que a Ópera de Roma apresentou a ópera Nabuco de Verdi, símbolo da unificação do país, que invocava a escravidão dos Judeus na Babilônia, uma obra não só musical mas também, política à época em que a Itália estava sujeita ao império dos Habsburgos (1840).
Sylvio Berlusconi assistia, pessoalmente, à apresentação, que era dirigida pelo maestro Ricardo Mutti. Antes da apresentação o prefeito de Roma, Gianni Alemanno - ex-ministro do governo Berlusconi, discursou, protestando contra os cortes nas verbas da cultura, o que contribuiu para politizar o evento.
 
Como Mutti declararia ao TIME, houve, já de início, uma incomum ovação, clima que se transformou numa verdadeira "noite de revolução" quando sentiu uma atmosfera de tensão ao se iniciar os acordes do coral "Va pensiero" o famoso hino contra a dominação. Há situações que não se podem descrever, mas apenas sentir; o silêncio absoluto do público, na expectativa do hino; clima que se transforma em fervor aos primeiros acordes do mesmo. A reação visceral do público quando o côro entoa - "Ó minha pátria, tão bela e perdida?"  Ao terminar o hino os aplausos da plateia interrompem a ópera e o público se manifesta com gritos de "bis", "viva Itália", "viva Verdi".
 
Não sendo usual dar bis durante uma ópera, e embora Mutti já o tenha feito uma vez em 1986, no teatro La Scala de Milão, o maestro hesitou pois, como ele depois disse: "não cabia um simples bis; havia de ter um propósito particular".
 
Dado que o público já havia revelado seu sentimento patriótico fez com que o maestro se voltasse no púlpito e encarasse o público, e com ele o próprio Berlusconi.
 
Fazendo-se silêncio, pronunciou-se da seguinte forma, e reagindo a um grito de "longa vida à Itália" disse RICCARDO MUTTI:
 
"Sim, longa vida à Itália mas... [aplausos]. Já não tenho 30 anos e já vivi a minha vida, mas como um italiano que percorreu o mundo, tenho vergonha do que se passa no meu país. Portanto aquiesço ao vosso pedido de bis para o Va Pensiero. Isto não se deve apenas à alegria patriótica que senti em todos, mas porque nesta noite, enquanto eu dirigia o côro que cantava "Ó meu pais, belo e perdido", eu pensava que a continuarmos assim mataremos a cultura sobre a qual assenta a história da Itália. Neste caso, nós, nossa pátria, será verdadeiramente "bela e perdida". [aplausos retumbantes, inclusive dos artistas da peça] Reina aqui um "clima italiano"; eu, Mutti, me calei por longos anos.
Gostaria agora...nós deveriamos dar sentido a este canto; como estamos em nossa casa, o teatro da capital, e com um côro que cantou magnificamente e que é magnificamente acompanhado, se for de vosso agrado, proponho que todos se juntem a nós para cantarmos juntos."

 
Foi assim que Mutti convidou o público a cantar o Côro dos Escravos.
Toda a ópera de Roma se levantou... O coral também se levantou. Vê-se, também, o pranto dos artistas.






Os holandeses no Algarve

Janeiro de 2012.
Os holandeses gozam o sol do sul, beneficiando do triunfo da sua economia.
Muitos deles reformaram-se em idade mais jovem do que a maioria dos reformados portugueses, mas isso será porque a economia holandesa é mesmo mais forte.
Já há muitos anos, já era assim no século dos Descobrimentos.
Estão no Algarve em hoteis, em autocaravanas e em casas alugadas.
Ou, de como o turismo, ou o que é preciso construir e pôr a funcionar, também é um bem transacionável.






domingo, 22 de janeiro de 2012

Arte de rua, ou Madona no Algarve

Poda severa nas árvores da rua de uma povoação do sul do país, no sotavento do Algarve.
Os podadores, em complemento da sua ação, deixaram uma forma de arte de rua.
A tradição judaico cristã "empurra-nos" para a imagem de crucificações



Mas eis que um podador menos sensível ao complexo de culpa coletivo e à compensação redentora fez a sua catarse com uma dançarina, talvez uma mulatinha


terça-feira, 17 de janeiro de 2012

O naufrágio do Costa Concordia e as agencias de rating

Agora que quase todos condenaram à pena máxima o comandante do Costa Concordia, que, na realidade, não parece estar inocente, mas sabe-se como a tradição de culpa na cultura ocidental gosta de prender bodes expiatórios no pelourinho, vou tentar chamar a atenção para algumas questões pouco ventiladas durante o julgamento que a opinião pública e os comentadores fizeram. 
Por se tratar de uma questão de transportes, em que o conceito básico deve ser o de transportar as pessoas com o menor incómodo e a máxima segurança possíveis.
1 – do historial do comandante fazem parte, entre outras, duas desobediências, uma por sair do porto de Marselha com mau tempo contra o parecer da autoridade marítima, e outra por o seu navio ter sido visto demasiado perto da costa (o limite mínimo dos mínimos é de 200 metros);
                  - a questão é se a companhia deveria entregar a responsabilidade de um navio com 5000 pessoas a um profissional destes; é flagrante a analogia de comportamento com o piloto do avião em que morreram Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa; 
2 – o navio naufragado tem quase 300m de comprimento, 30m de construção acima do nível da água e 8,5m de calado; do lado de bombordo do casco do navio naufragado é visível um rombo longitudinal de cerca de 50m, ficando incrustado um pedaço do rochedo em que bateu; esse e outros rochedos encontram-se na proximidade de um cabo que o comandante entendeu “rasar” segundo uma tradição; antes de atribuirmos as culpas todas ao comandante conviria esclarecer:
                  2.1 – será que a tradição era conhecida mas tolerada na companhia, ou havia consequências disciplinares quando praticada?
                  2.2 – as rochas estavam assinaladas nas cartas? Existiam balizas de sinalização à volta dos rochedos submersos? (existem sinais específicos para assinalar a presença de rochas submersas  com indicação de qual o lado seguro para as contornar; duvido que o navio estivesse em automático àquela distancia da costa; as rochas deveriam estar sinalizadas)
3 – o navio naufragado continuou a navegar depois do choque, tentando virar para bombordo (lado esquerdo) e entrar no porto que serve as linhas de ferries, a cerca de 1000 metros do ponto de embate; aparentemente, terá adornado nessa manobra até se deitar nas rochas onde se encontra, uma vez que a sua rota era sul-norte e se encontra agora no sentido norte-sul;
                  - conviria esclarecer se é admissível fazer projetos de navios que adornam até virarem quando entra água numa extensão de um sexto do seu comprimento; a maioria dos navios de cruzeiros baseia-se neste conceito: pequenos calados para entrarem em portos pequenos, largura inferior à de segurança, pela mesma razão, grande altura de construção acima da linha de água.
Evidentemente que os navios são seguros se os giroscópios funcionarem e se não houver entrada de água. Cascos duplos, compartimentos estanques nos sentidos longitudinal e transversal, e calados e larguras maiores encarecem obviamente a construção e a exploração, reduzindo a velocidade. A tendencia para o balanço transversal  ou para adornar combate-se com quilhas laterais a todo o comprimento do navio, os chamados robaletes; porém, isso diminui a velocidade do navio e portanto a sua produtividade (foi a adição de robaletes ao Atlantida, cujo projeto original estava incompleto do ponto de vista da segurança, que reduziu a velocidade contratual; no caso do Costa Concordia, os pequenos estabilizadores horizontais parecem insuficientes para contrariarem o adornamento em situação de emergência). E lá se iam os maravilhosos preços do negócio de cruzeiros.
Já no ano passado ficaram patentes algumas inconformidades na manutenção e exploração de cruzeiros (eventualmente consequência de simplificações de projeto) quando vários navios avariaram em alto  mar. Aliás, o elevado número de passageiros serve exatamente para baixar os preços unitários.
E a segurança.
Por isso digo que é uma questão de transportes, esta do custo mais baixo não dever ser o critério primordial.

E também falo nisto porque navios de cruzeiros com calado da ordem de 10m não têm condições de segurança a norte do terminal de cruzeiros de Santa Apolónia, se as manobras se alargarem ou se sobrevierem condições de tempestade com vento sudoeste.








Agora que quase todos condenaram à pena máxima a agencia de rating que baixou a classificação da França e de mais paises, a qual, na realidade, não parece estar inocente, mas sabe-se como a tradição de culpa na cultura ocidental gosta de prender bodes expiatórios no pelourinho, vou tentar chamar a atenção para algumas questões pouco ventiladas durante o julgamento que a opinião pública e os comentadores fizeram. 
1 -  no sistema financeiro internacional em vigor, as ditas agencias estão fazendo o seu papel, e se há diferenças entre os juros pagos pelos empréstimos à França e à Alemanha, é natural que as pobres agencias ajam em conformidade;
2 – talvez quem, Sarkozy e companhia, se sente muito ofendido com as agencias de notação, não queira reconhecer que as medidas que estão tomando não são muito eficazes do ponto de vista de rendimento nacional de cada país;
          2.1 -  qual é o mantra (ou bíblia sagrada, como dizem os economistas) do BCE e  
                  seus seguidores?
           2.2 -  conter os preços
           2.3 -  como é que se contêem os preços?
           2.4 - aumentando a taxa de desemprego (lei de Philips)
           2.5 - e como é que se compensa o efeito negativo que isto tem no crescimento?
           2.6 - baixando a taxa de juro para facilitar os empréstimos aos industriais
           2.7 - mas baixar as taxas de juro contribui para as pressões inflacionistas
           2.8 - e essas pressões inflacionistas combatem-se com mais taxa de desemprego
           2.9 – que fazer, consderando que há escassez de liquidez em muitos setores?
          2.10 – emissão de moeda, normalização dos financiamentos, politicas de
                     crescimento e emprego, controle mínimo dos off e in-shores...

Foi isto que as agencias de rating quiseram dizer, ou o que talvez quisessem dizer, que os governos europeus, enveredando pela austeridade depressiva e recessiva, deixam de ser parceiros de confiança.
É um problema também político, não só económico e financeiro (veja-se a "guerra" de Obama contra o tea-party, a tentar desenvolver políticas de emprego e os republicanos a oporem-se).
É isto que muito boa gente também acha, que a política do BCE tem de mudar, que o empresário de Angeiras, Matosinhos tem o direito, como cidadão europeu, de pagar por um empréstimo o mesmo juro que o seu homólogo de Russelsheim.
Infelizmente, parece que a maior parte dos eleitores portugueses ainda acha que a política do BCE está muito bem, porque permite o sucesso a alguns, e provavelmente esses eleitores acham que lhes sai a sorte grande, mantêm os seus empregos e não querem saber dos pontos 2.1 a 2.8.
É uma pena, esse egoísmo social.
Pode é dar no naufrágio à moda do comandante do Costa Concórdia.


Mais informação sobre agencias de rating em DN/Viriato Soromenho-Marques:
http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=2242206&seccao=Viriato%20Soromenho%20Marques&tag=Opini%E3o%20-%20Em%20Foco

domingo, 15 de janeiro de 2012

Os pasteis de nata e os pasteis de feijão

A senhora pediu ao empregado da pastelaria que lhe embrulhasse meia dúzia de pasteis de feijão.
A televisão mostrava, entretanto, o senhor ministro da economia propondo a internacionalização dos pasteis de nata para melhoria das exportações portuguesas e da balança de pagamentos.
O empregado já tinha o embrulho dos pasteis de feijão quase pronto, mas a senhora, seduzida pela ideia dos pasteis de nata, e possivelmente ignorando que eles já se vendem em Macau e no Japão, perguntou se não podia trocar os pasteis de feijão por pasteis de nata.
- Ora essa minha senhora, não custa nada, num instante desfaço um embrulho e faço outro.
E assim foi.
A senhora agradeceu muito, pegou no embrulho dos pasteis de nata e dirigiu-se para a porta.
- Mas minha senhora, esqueceu-se de pagar, disse o empregado.
- Não esqueci, não, o senhor disse que podia trocar os pasteis de feijão por estes, e até disse que não custava nada.
- Mas então pague os pasteis de feijão que encomendou.
- Encomendei, sim, mas não os levei, pois não?
E saiu.

Evidentemente que o que ficou escrito é uma anedota, de uma ponta à outra, mas lembrei-me dela com a história da "meia hora", que há dias vem sendo discutida a propósito de negociações do senhor ministro da economia com os parceiros sociais para a reformulação das leis laborais.
Como os livros de economia dizem, uma certa flexibilidade das leis laborais pode ser um fator da famosa competitividade das empresas produtoras de bens transacionáveis.
Pelo menos em ambiente de concorrência não regulada por mecanismos anti-dumping.
E era para isso, para melhorar a competitividade, que os senhores governantes se lembraram, já há uns meses, de acrescentar meia hora ao horário de trabalho diário.
Isto é, se fizermos a analogia com os pasteis de feijão, encomendaram a medida da "meia-hora".
Na altura houve especialistas de economia e não especialistas que chamaram a atenção que cada caso é um caso, que não há panaceias universais, isto é, que se uma empresa tem excesso de encomendas é ótimo trabalhar mais horas, mas se não tem é péssimo, e que aumentar o fator de produção correndo o risco de não aumentar proporcionalmente a produção (ver a influencia dos fatores psicológicos na produção ou ver a teoria dos rendimentos decrescentes) significa diminuição da produtividade.
Mas a tudo os senhores governantes reagiram como os três macaquinhos japoneses, o cego, o mudo e o surdo.
Até que agora, em plena fase de negociação com os parceiros, se voltam para eles e perguntam se podem trocar a "meia hora" por outro embrulho, por exemplo, por considerar como dias de férias as pontes entre fim de semana e feriado (teria sido uma falta de desatenção, como dizia a minha sogra, porque as pontes já eram contabilizadas como dias de férias, exceto se o trabalhador pedia a sua classificação como desconto no vencimento) ou reduzir proporcionalmente o número de horas semanais e o salário (salta-se de um extremo ao outro, é que no caso das empresas que têm excesso de encomendas não dá mesmo jeito nenhum reduzir o horário, embora infelizmente pareça que essas empresas são uma minoria).
Esperemos que, a exemplo da senhora dos pasteis de nada, não seja preciso pagar.

Então que sugere este blogue?
Para já, o que sugeriu sobre "kurzarbeit" (trabalho encurtado, suscetível de obtenção de fundos QREN para fins de formação) em :
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2011/11/pitagoricamente-jogando-com-numeros-ii.html

E também que considerem que querer uma legislação muito perfeita não é o essencial para resolver um problema, é apenas uma manifestação do complexo messiânico ou sebastianista que em linguagem corrente se sintetiza na frase "o que era bom era..." e depois continua tudo na mesma.
Como escreveu Camilo Castelo Branco, de que serve o regente fazer uma lei perfeita, se depois os tabeliões a aplicam mal?
Até porque, afinal, as leis atuais já são flexíveis o suficiente para permitirem despedimentos.
Uma colega minha foi despedida após processo disciplinar sumário que me pareceu injusto, há mais de um ano. Tinha o julgamento do recurso que interpôs no tribunal do trabalho marcado para janeiro deste ano, mas foi adiado para Maio.
Difícil, despedir em Portugal?










sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Habidom, prevenção rodoviária

A propósito da mensagem que publiquei em:
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2010/05/very-fast-post-in-blog14-sinal-de-peoes.html?showComment=1326456941431#c5535595801778166376

recebi a informação amável de que os sinais com alimentação solar tinham sido fabricados pela Habidom, uma empresa de Angeiras, Lavra, Matosinhos.
Ver:
http://www.habidom.com/site/conteudos.asp?id=1

Sinal de informação variável, comandado por radar (para medição da velocidade do veículo) e com alimentação solar

De salientar a capacidade de integração tecnológica e o valor do ponto de vista da prevenção rodoviária, nos produtos que a Habidom comercializa, .


A novela do PET aos 13 de janeiro de 2012

Os governantes voluntariosos falavam em outubro de 2011 que poderiam dar seguimento ao requisito da Comissão Europeia de avançar com a ligação ferroviária de passageiros para Madrid com um quarto dos custos anteriormente previstos.
Isto porque a Comissão Europeia chamou a atenção que não bastava a ligação para mercadorias.
Na altura foi anotada a capacidade de fazer orçamentos e a rapidez com que dominavam todas as variáveis que entram num processo tão complexo e pluridisciplinar.
Mas nunca mais disseram nada, os governantes, sobre o novo projeto que ficaram de apresentar à Comissão Europeia.
Ela até contribuía, mas precisa de ver o projeto.
Ai o que acontece quando os governantes não se contêm ou falam de coisas que não dominam.
Mais tinha a Comissão Europeia chamado a atenção para que o plano estratégico apresentado pelo governo carecia exatamente do que ostentava no título, de estratégia, que um plano não é apenas um enunciado de intenções e de princípios, e que num plano estratégico de transportes tem de haver um diagnóstico e medidas de eficiência energética (o consumo do setor dos transportes é cerca de um terço da energia primária consumida).
É possível que o grupo de trabalho para a reformulação dos transportes nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto tenha recebido do governo também a incumbência de atenuar, no que lhes diz respeito, aquelas falhas do PET.
É possível, porque o secretismo continua, mais de um mês depois da entrega do relatório.
Este secretismo é inaceitável.
Os próprios deputados da Assembleia da Republica não têm ainda acesso ao relatório.
A democracia, por definição, é anti secretismos, e infelizmente verifica-se que a democracia não dispõe de mecanismos para evitar o secretismo.
O secretismo não é a alma do negócio, é o seu assassino.
Sabe-se isso desde o desenvolvimento do método científico, assente na partilha do conhecimento.
Consta que os dados que fundamentam o relatório até são consistentes e em quantidade razoável, embora continue a não se realizar um inquérito fiável à mobilidade nas áreas metropolitanas.
Consta ainda, apesar do secretismo, que uma das propostas estudadas no grupo de trabalho foi a criação d um passe-cidade Carris-Metro-CP, mas que as empresas privadas se opuseram terminantemente, agarradas que estão à distribuição de receitas que as favorece, conforme o inquérito desatualizado de 1998, porque nessa altura a rede do metro era menor.
Aliás, consta também que as empresas privadas não estão interessadas em divulgar o número de passageiros.km que transportam (e que é o produto de uma empresa de transportes de passageiros), só o número de passageiros.
E consta também que o grupo chegou à conclusão que a cobertura dos custos operacionais (incluindo gastos com pessoal)  pelas receitas na Carris e no Metro até é muito razoável no contexto dos transportes metropolitanos dos outros países , contrariando assim as críticas escandalizadas do senhor ministro da economia e transportes aos preguiçosos e   privilegiados trabalhadores do setor dos transportes.
Enfim, como o secretismo é compatível com a colocação de hipóteses, e constando também que o ministério da economia e transportes se sente obrigado a apresentar qualquer coisa brevemente, receia-se que a política demagógica e ignorante de cortar por cortar, sempre com o argumento de não haver dinheiro (e contudo, há dinheiro para desperdiçar em combustíveis fósseis na entrada e passagem  de automóveis em Lisboa e Porto), se sobreponha à análise profissional.
Aguardemos.

Ver:
http://www.cm-lisboa.pt/archive/doc/MOV_21_2_Jan_2012.pdf

PS - Pouco depois de escrever esta mensagem, leio no DN de hoje que o senhor ministro da economia e transportes adiou sine die a audiência pedida pela comissão de coesão social da assembleia metropolitana de Lisboa (AML) e marcada para 16 de janeiro.
O objetivo era debater questões como o desemprego na AML, as politicas de emprego e a rede de transportes  das áreas metropolitanas.


Se é verdade, trata-se de uma manifestação de desprezo e uma falta de respeito pelos cidadãos e cidadãs representados pela AML e pelos princípios básicos da democracia representativa.
Se é verdade que nem se consegue marcar uma data, só pode revelar ignorância e incompetência técnica sobre as questões de transportes.
Se é verdade, é provável que a razão tenha sido porque o grupo de trabalho tratou seriamente os dados recolhidos que contrariam os disparates que os senhores governantes anteriormente disseram sobre o tema (por exemplo, que 10.000  passageiros por dia é uma procura baixa, ou aquela da oferta ser 400% da procura), apregoando a aplicação como panaceia universal da religião da minimização do estado e das privatizações.
É apenas uma hipótese, mas o secretismo imposto pelo governo faz pensar assim.


Na verdade, pode não haver dinheiro, mas a incapacidade já revelada para os senhores governantes dominarem as questões de transportes ultrapassou, do ponto de vista técnico, os limites do razoável.
Deontologicamente, compete aos técnicos do setor denunciar isso.
E se não há dinheiro, só pode fazer-se o que qualquer entidade, singular ou empresarial faz num caso desses: uma auditoria para saber por tipo de despesas e de receitas quanto está a gastar e quanto está a receber.
Para se saber onde, quanto e em quê se pode ainda investir.
Mas a compreensão da necessidade de haver dados fiáveis para servirem de base a decisões não faz parte do dicionário.


Não pretendo que tudo isto seja mais uma razão para as greves do setor dos transportes, porque neste momento estas dão pretexto ao governo para pôr a população contra os trabalhadores do setor, e portanto a própria greve acaba por servir os interesses que pretendia combater. Por isso, seria mais lógico utilizar os mecanismos legais para fazer greves com serviços mínimos superiores a 90% ou outros protestos como a realização de paineis de debate das questões, convidando os senhores governantes para participarem, para apresentarem dados fiáveis e argumentos, seguindo-se a divulgação pública das conclusões. Isto é, dar a prioridade aos argumentos relativamente à tomada de posições de força, segundo o princípio de que a força da razão está na própria razão e não na força, podendo perder-se a razão se a força é mal utilizada.