segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Holanda, Holanda



Difíceis, ao longo dos tempos, as relações económicas com a Holanda.

Em 1579 foi proclamada a União de Utreque.
Era a republica holandesa dos Paises Baixos, uma oligarquia de burgueses mercadores, agricultores e industriais.
Defendiam-se da ocupação espanhola e austríaca, os Habsburgo.
Porque cargas de água, teria sido por presunção do direito divino do rei, terem-se os Habsburdo espanhois convencido da missão divina de governar a Europa?
O livre comércio e a tolerância religiosa foram fatores para a prosperidade económica da Holanda, a qual  veio a permitir-lhe expulsar os invasores.

Por esse tempo, em 1580, formou-se a união ibérica entre Portugal e a Espanha, mas isso não impediu que o comércio entre Portugal e a Holanda prosseguisse.
Os navios holandeses traziam para Portugal cereais da Polónia (o pão do  mar), artefatos da Alemanha, texteis da Inglaterra, armas e tecidos luxuosos da Itália.
E levavam de volta, para a Holanda e para o Báltico, sal, vinho, azeite e pimenta.
Lisboa tinha uma vida comercial intensa, agora que os surtos da peste negra amansavam, depois do grande morticinio do fim do século XIV e de recidivas esporádicas até ao início da união ibérica.
Num desses episódios de peste negra, em 1506, ocorreu um massacre de judeus e cristãos novos com origem na igreja de S.Domingos em Lisboa (quando alguém gritou, vendo a  imagem de um santo a chorar, que era a humidade a escorrer, milagre, milagre, e um cristão novo, contrariado ter acrescentado que maior milagre seria o santo ter poupado a cidade à peste; seguiu-se um frade a pregar a perseguição aos judeus) o que originou a criação da praça da tolerancia, em frente da igreja de S.Domingos:
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2010/10/de-lisboa-cidade-da-tolerancia-luanda.html

Muitos judeus e cristãos novos emigraram na altura por causa disso, uns para aTurquia, outros para a Holanda.
Foi um episódio que deixou muito má fama dos portugueses, na Holanda, e que ainda hoje é lá do domínio público.

Mas voltemos aos primeiros tempos da união ibérica; estamos agora no princípio do século XVII; o negócio de importação e exportação florescia, que em Portugal sempre se privilegiou a importação, mas os cristãos novos continuavam a ser incomodados, por mais eficiente que fosse a sua atividade económica.
E a família de Spinoza emigrou por isso para a Holanda.
Spinoza, polidor e lapidador de lentes e diamantes e extraordinário filósofo, de uma família portuguesa de mercadores.
Poderia ter sido também português, não fora a intolerancia e a estreiteza de vistas dos governantes.

A principal riqueza transacionável (se não considerarmos transacionável a capacidade intelectual e produtiva de Spinoza) exportada por Portugal era o sal, cuja produção, por razões meteorológicas, se fazia com maior produtividade em Portugal.
O sal era importante para a conservação dos alimentos, nomeadamente o peixe que a Holanda exportava.

Entretanto as companhias holandesas, sempre financiadas por armadores particulares, expandiam-se pelo Índico e pelo Atlantico sul, colidindo os seus interesses económicos com a companhia estatal (real) portuguesa ou os seus concessionários.
O facto de Portugal estar integrado na união ibérica não ajudou, especialmente quando rebentou a guerra dos 30 anos , que infernizou os povos da Holanda, que se libertava, e da Espanha, que enviava os seus filhos a oprimir outros povos.
Agravada, com o endividamento da guerra, a situação económica do império espanhol, a partir de 1621 o vice rei em Portugal, duque de Olivares, sobe constantemente os impostos; a proteção aos mercadores de Sevilha, servidos pelo porto de Cadis, prejudica os mercadores de Lisboa; pior do que isso, Espanha proibe o comércio com a Holanda e os mercadores holandeses abandonam os portos portugueses.
As companhias holandesas financiam corsários para interceção das cargas e navios de guerra para ocupação de extensas zonas das colónias no Brasil (principal exportação: açúcar) e em Angola (principal exportação: escravos).
Interessante era o facto de metade da frota comercial portuguesa se ter perdido com as ações de corso holandesas no atlântico sul, mas as companhias de seguros, que já as havia nesse tempo, serem holandesas, assim como sociedades de capital de risco. Os prémios eram da ordem  de 15% do valor da carga  (açúcar e prata, esta do Uruguai), e os juros dos empréstimos aos mercadores de 120% , o que suportava as perdas (cada navio faria mais do que viagem de ida e volta na sua vida útil.

Difíceis, as relações entre Portugal e a Holanda.

Porque tinha a Holanda tanto exito, apesar do imperialismo espanhol-austríaco?
Devido à livre iniciativa comercial e marítima dos seus mercadores e à parcimoniosa política fiscal da república.
Isto prova que, em determinadas circunstancias, um sistema económico de cariz liberal é a melhor solução, mas noutras não, como se verá adiante, pelo que, perante um problema, não há que aplicar panaceias ideológicas, mas ver quais as medidas acertadas.
E talvez a razão seja também a lei de Fermat-Weber.
(ver:
 http://fcsseratostenes.blogspot.com/2010/08/o-problema-de-fermat-weber-da.html  )


Fermat foi contemporâneo de Spinoza. Diz a lei que um sistema que esteja a crescer é porque tem capacidade atrativa sobre os elementos de outros sistemas, e quanto mais cresce por atrair os capitais, perdão, os elementos dos outros sistemas, mais força tem para atrair mais elementos de outros sistemas.
É tambem o que explica que num sistema entregue a si próprio, os ricos fiquem cada vez mais ricos (porque podem investir em atividades produtivas) aumentando a diferença entre os mais ricos e os mais pobres (porque aumentam sucessivamente o seu nível de austeridade) , embora o nível médio de riqueza possa subir, isto é o valor médio e a dispersão sobem.

As finanças de Portugal, à aproximação da restauração, em 1640, estão nas últimas, e a carga fiscal ultrapassara os limites do suportável.
Uma das medidas saneadoras depois da restauração foi o reatar oficial das relações comerciais com a Holanda e a recuperação dos territórios do Brasil, e para isso a diplomacia de D.João IV teve de assinar uma série de tratados entre 1654 e1661, em que Portugal  pagou uma indemnização  à Holanda sob a forma de uma renda anual de  cerca de 300 contos de reis durante 40 anos, ficando os mercadores holandeses, regressados a Portugal, com o monopólio do sal.
Para uma ordem de grandeza do índice de preços, multiplique-se por 6.000 para ter o valor atual da renda referida (300x6000x5=9 milhões de euros; base de cálculo do fator: o quociente entre o salário médio atual e o salário médio no século XVII, 30.000 reis)
Pode ainda ver-se na marginal da Figueira da Foz um interessante edificio construido nesta época com os capitais holandeses para este negócio, decorado com azulejos de Delft.
A descoberta do ouro do Brasil veio resolver o problema da balança de pagamentos, aliviar a carga fiscal e iniciar um processo de industrialização. Mas só funcionou no século XVIII.

Entretanto a Holanda entrou em leve decadencia por  motivo da guerra da sucessão de Espanha entre os interesses franceses e ingleses, no princípio do século XVIII , por motivo das medidas não liberais de Colbert em França (o mercantilismo) e porque a Inglaterra iniciou o seu período  de supremacia clara, castigando a Holanda com o tratado de paz da guerra de sucessão de Espanha.


Difíceis, as relações com a Holanda.


Fontes:
     - História Económica de Portugal, Leonor Freire Costa, Pedro Lains e Susana Munch Miranda, 
                                                                                                                       ed.A esfera dos livros
     - História Económica do Mundo, Rondo Cameron, ed. Publicações Europa-América

                                      nota: evidentemente, as opiniões expressas neste texto poderão não ser as           
                                               dos autores dos livros citados

Sem comentários:

Enviar um comentário