segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Rappresentatione di Anima e di Corpo, de Emilio d'Cavalieri

A cultura dominante privilegia a surpresa como fator de apreciação.
Valoriza-se quem e o que tem capacidade de surpreender os cidadãos e cidadãs.
A mim me parece que estamos assim a menosprezar o trabalho honesto, rotineiro e discreto, que afinal, por criar bens essenciais à sobrevivencia, permite os picos de destaque de quem consegue surpreender.

Mas a verdade é que me surpreendi, também por demérito meu por ignorancia, quando tomei conhecimento da igreja de Marvila a propósito do concerto pelo grupo vocal Olisipo e o grupo instrumental Melleo Harmonia.

http://www.paroquiamarvila.pt.vu/

a igreja de Marvila

azulejos da igrea de Marvila

os intérpretes, coordenados por Jenny Silvestre

Pela igreja, construida durante o declinio económico da primeira  metade do século XVII, pela qualidade dos intérpretes, e pela beleza da musica da oratória "Rappresentatione di Anima e di Corpo".
Música da transição do renascimento para o barroco, mas com sonoridades modernas, contemporanea da construção da igreja.

O interesse da oratória é o de ter sido a primeira oratória na história da música, contando as contradições entre a alma, o corpo e o intelecto, com as pinturas da capela sixtina como inspiração.
Aparentemente é um texto moralista e subordinado  à moral católica, mas a mim me pareceu, que estou sempre a querer desnudar as intenções piedosas, que o convite à fruição dos prazeres da vida é explícito, depois de protestar a submissão do corpo à alma e ao intelecto.

Excertos do texto:
"eu choro, filho,   o teu desumano âmago"
"fugi do pecado e felizes retornai aos vossos lares
"dificil concordarem, o corpo, a alma e o intelecto"
"festa, festa para todos"

Tenho pena por não conseguir convencer ninguém a gostar deste tipo de música e de literatura, que as pessoas acham aborrecido, mas o valor cultural desta oratória e desta igreja são enormes.
Aplausos para os intérpretes.

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