quinta-feira, 31 de maio de 2012

A carta de Marco Sechhi sobre a ligação ferroviária Sines-Lisboa-Madrid

Este blogue deixa aqui registado mais um facto interessante que ilustra a  mentalidade portuguesa de quem decide. Ou mais concretamente, de quem tem o poder decisório e não sabe decidir.
A ligação ferroviária entre Lisboa - Madrid - Europa é a terceira prioridade nos projetos da rede transeuropeia.
Este simples facto deveria levar os decisores portugueses a atribuir-lhe a máxima prioridade.
Mas não. Houve vagas referencias na cimeira ibérica de 9 de maio de 2012 a ter a linha Sines-Irun em bitola europeia a funcionar em 2018 (teriamos de ter já a trabalhar a todo o vapor os gabinetes de projeto para isso, mas não consta).
Neste momento, a prioridade de Madrid é o corredor de mercadorias Algeciras-Barcelona (de Barcelona a França já há bitola europeia) e a ligação Madrid-Valladolid-Irun (mercadorias e passageiros).
Do lado de Portugal, continuam as declarações de intenção, depois de se terem parado as obras do TGV.

Vem agora o coordenador dos transportes da comissão europeia, Marco Sechhi, proavelmente estupfacto com a indecisão nacional, enviar uma carta ao senhor ministro Alvaro e à senhora ministra do fomento espanhol Ana Pastor.
A carta é datada de 18 de maio de 2012 e tomou-se conhecimento dela, em Portugal, quase duas semanas depois através do El periodico de Extremadura de 29 de maio (o que quer dizer que no ministério da Economia e transportes foi decidido que não era de interesse publico a sua divulgação - será preciso mais alguma coisa para ficar comprovada a ineficiencia em transportes deste ministério?).
http://www.elperiodicoextremadura.com/noticias/temadeldia/bruselas-propone-a-portugal-construir-un-tren-alternativo-ave_656923.html

Sugere em pormenor fases progressivas  de desenvolvimento do projeto, incluindo uma primeira fase com bitola convencional (pode ser com travessas bi-bitola) entre Évora e Caia, um objetivo intermédio de uma viagem Lisboa-Madrid para pasageiros em quatro horas e meia, e lembra que os fundos europeus podem atingir 95%!!
Que pena, o senhor ministro que tutela os 5% ,que faltam , não querer, até porque para querer era preciso perceber os detalhes da técnica de transportes (por exemplo, a ineficiencia energética do transporte por avião comparada com o ptransporte em alta velocidade ferroviária traduz-se em gastos adicionais de importação de petróleo), coisa que não se ensina nas faculdades de economia, e saber alguma coisa de história, por exemplo que os 5% podiam vir de subscrição pública, que era como se compravam as coisas de interesse público durante a bancarrota do fim do século XIX; mas não sei se estas coisas foram dadas e apreendidas na cadeira de história da economia do curso do senhor ministro.

Mas pode sempre acontecer que dê um rebate de consciencia nos senhores decisores.
Este blogue gostaria muito de retirar as acusações de ineficiencia.
Não se importava nada de se enganar nisso.
Mas neste momento não acredita que se tenha enganado.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Variações sobre o tema da ignorancia

Não são só os politicos que se distinguem pela ignorancia com que falam das coisas.
Alguns comentadores da nossa praça, muito apreciados, fazem afirmações que revelam ignorancia  ou ocultação deliberada de factos.
Foi o caso de, ao passar os olhos por um livrinho sobre descobertas da humanidade, "Encyclopedia of inventions", de Terry Breverton, ed. Quercus Publishing UK, dar com a pequena nota em que o autor descreve a invenção das engrenagens epicicloidais e setoriais.
Uma engrenagem epicicloidal contem uma série de pequenos carretos suportados por um planetário, como por exemplo o diferencial de um automóvel.
Uma engrenagem setorial transmite o movimento entre dois carretos ou entre um carreto e uma cremalheira, sendo que num dos carretos parte do perimetro está desprovida de dentes. Isto é, a transmissão do movimento é intermitente.
A nota da enciclopédia de Breverton refere a mais antiga descrição escrita conhecida destes mecanismos, no século XI, por Al-Muradi, engenheiro e cientista da Andaluzia, na Espanha islamica, no seu "Livro dos segredos sobre os resultados do pensamento". As aplicações eram principalmente relojoaria (movimento por água), máquinas de guerra e de gestão de água.
Mais adiante, outra nota menciona Al-Jazari, engenheiro do século XII, onde hoje é o Iraque. Descreve no  "Livro do conhecimento de dispositivos mecanicos engenhosos" 50 aparelhos de irrigação, relojoaria, metalurgia, fundição, etc.Foi o inventor da manivela como conversor do movimento rotativo em movimento de vai-vem para aplicação em bombas de água de aspiração.
Também vem referido Omar Kaiam, séculos XI-XII, Pérsia. Para alem de poeta foi tambem matemático, astrónomo e filósofo. Antes de Copérnico, demonstrou a teoria heliocentrica. Calculou a duração do ano com uma precisão superior à do calendário gregoriano de 1582. Autor do livro "Tratado de demonstração de problemas de Algebra". Descobriu a solução das equações de terceiro grau.

Lembrei-me então de uma afirmação extraordinária dos senhores comentadores Miguel Sousa Tavares e Vasco Pulido Valente, a propósito do confronto das duas culturas, de que a cultura islamica não tinha contribuido em nada para a civilização humana.
É natural que da formação deles não tenham feito parte as engrenagens epicicloidais.
Mas podiam informar-se melhor.
É preocupante pensar que as grandes decisões são aconselhadas e tomadas por ignorantes.
É dificil o progresso sem o conhecimento científico.
E o conhecimento da evolução das técnicas e da ciência faz parte desse conhecimento.


Nota:  embora não tenham chegado até nós documentos escritos pelos gregos antigos com a referencia de mecanismos epicicloidais e setoriais, foram descobertos junto da ilha de Antikitera restos de um mecanismo complexo que permitia mostrar as posições relativas do sol e dos planetas ao longo do ano de acordo com as teorias astronómicas da Grécia antiga.
É impressionante como então se projetavam e construiam mecanismos tão complexos.
Ver:
http://www.youtube.com/watch?v=qsr62p4h4Y8&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=UpLcnAIpVRA&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=Ly3cpBFWF-o&feature=related

terça-feira, 29 de maio de 2012

O elogio da ignorancia





Como diziam os italianos, si non e vero e ben trovato.
Este blogue permite-se uma pequena reflexão, admitindo até que o vídeo foi fabricado, tão primitivo é o comportamento da senhora chanceler que tem de se duvidar, para caricaturar uma verdade: que os decisores deixam os pormenores incómodos da realidade para os técnicos, enquanto flutuam no seu mundo independente desses pormenores.
Mesmo que o vídeo seja falso, esta divergência entre a realidade e o mundo como os políticos querem que seja é uma triste verdade.
E é uma ilustração perfeita do poder da ignorância.
A ignorância não só é atrevida como é poderosa, submete a razão e o conhecimento à falsidade do mundo construído artificialmente em reuniões de políticos.

Duvido que um bom humorista conseguisse criar um diálogo assim:
Merkel - Berlim deverá estar aqui, não? (apontando para a região de Moscovo)
Professora – Aqui (apontando para Berlim)
Merkel – Aqui (apontando para Berlim) ou aqui ?(apontando para Moscovo)
Professora – Aí é Rússia
Merkel – O quê? Rússia? Tão perto?

A mesma dificuldade interpretativa de um mapa, da sua escala, das posições relativas das cidades, da topologia das ligações entre elas, fica patente nas declarações do senhor primeiro ministro português e do seu ministro da economia e transportes quando traçam as linhas ferroviárias de alta prestação (é preciso ser ignorante em técnica ferroviária para criar este neologismo ferroviário) de Sines a Irun e de Aveiro a Salamanca (não discuto a sua necessidade, só afirmo que não sabem do que falam). Já se avançou no projeto em articulação com os projetistas espanhóis? E mais dentro das fronteiras portuguesas, já se deu andamento às promessas do caminho de ferro para Viseu e para a Lousã que o senhor ministro da economia e transportes fez às populações? E não temos outro exemplo de ignorancia quando se faz aquele ar chocado depois de cortar nos investimentos, nas empresas e nos salários  e com  voz pausada se diz que não se estava à espera de um desemprego tão elevado?

Voltemos à caricatura da senhora chanceler por ela própria ou por pelo manipulador de sons e imagens.

Coloquemos a hipótese do subconsciente trair o politico, como o cronista supôs, que as palavras traiçoeiras estão sempre à espera de uma oportunidade para tramar o politico incauto. Moscovo é algo que está muito longe na cabeça da senhora, mas confrontada com a realidade está demasiado perto.
Porquê? Pela mesma razão que os cavaleiros teutónicos medievais achavam que Moscovo estava tão perto que deviam conquistá-lo (vá lá, vão à cinemateca ver o Alexandre Nevsky ou o Ivan o Terrivel, de Eisenstein, com a grande musica de Prokofief), que o grande prussiano Frederico achava que a Polónia era a Alemanha de Leste, porque as populosas tribos alemãs não cabem no território pequenino que dá pelo nome de Alemanha. Coisa amplamente explicada pelo cabo Adolfo.

Como dizia Eisenhower, que era tudo menos um perigoso esquerdista, perante os resultados da obra de alemães assim, tenho vergonha dos meus antepassados serem alemães.

Mas talvez tenha sido apenas uma caricatura, aproveitaram alguém parecido com a senhora ou puseram outras palavras nas suas imagens.
Que pensariam as pessoas se fosse verdade, que os seus assuntos são resolvidos por ignorantes?
Talvez o que a senhora queira fazer à Grécia não seja o que nós estamos a pensar, nem a proposta das zonas económicas seja uma forma de protetorado económico ou de colonialismo.

Talvez não passe tudo de uma ilusão, que as grandes decisões económicas e financeiras da Europa são tomadas por ignorantes.

Resta a esperança de que as eleições na Renânia Norte, que deixaram o partido da senhora na oposição, se repitam nas eleições legislativas de Setembro de 2013.

domingo, 27 de maio de 2012

A impossibilidade operacional no Rock in Rio



a roda gigante no Rock in Rio

Retiro da página do facebook do metropolitano de Lisboa a informação que, nos cinco dias do Rock in Rio, o metro fechará a estação da Bela Vista à 01:20.

A hora oficial de fecho dos espetáculos é às 04:00.
Oiço na TV chamar a isto uma greve às horas extraordinárias.
Ainda no facebook leio que o metropolitano não assegura o serviço até cerca das 04:00, como nos outros anos, por “motivos de impossibilidade operacional”.

Uma impossibilidade operacional poderá ser uma falta de meios materiais que inviabilize a operação, ou uma falta de condições de segurança. Pode ser uma falta de meios humanos. Pode ser uma falha de coordenação, pode ser um condicionalismo externo que impeça a circulação dos comboios (um caso de “force majeur”, por exemplo, qualquer coisa como acidentes naturais ou como se ter perdido a chave da garagem e não se conseguir tirar de lá a carrinha). Pode, ainda por mais um exemplo, a falta de meios materiais ou humanos  estar relacionada com a política feroz de cortes mais ou menos cegos nas despesas de operação, de manutenção ou de investimento; ou pode ser consequencia do contexto e crescimento do desemprego que convida a roubar cobre dos equipamentos do metro e depois não há condições para circular. Pode ser um desaconselhamento económico para evitar prejuízos, apesar de neste caso os custos serem marginais, aqueles que estão na parte da curva em que os custos crescem menos quando aumenta a quantidade produzida e até teoricamente podem ser custos de dumping. Pode ser um caso político, de proibição por reunião de conselho de ministros, ou pode ser uma impossibilidade técnica porque os recursos se tornaram obsoletos e a sua exploração altamente deficitária (como acontece com o carro, velhinho, a consumir mais precioso combustível do que quando era novo). Aquilo que uma impossibilidade operacional pode ser ...

Mas será seguramente uma metáfora perfeita da dificuldade de organização e de trabalho em equipa de que sofre o nosso país e a sua população, da deficiente metodologia que se segue para tomar decisões, normalmente fulanizadas e polarizadas em processo progressivo, sem análise de cálculos que fundamentem as decisões. E longe, demasiadas vezes longe do conceito e da prioridade ao serviço público.

Não gosto da musica dos Metallica, nem dos Evanescence, nem dos Sepultura, nem dos Linkin, nem sequer de Springsteen.
Não dependo de rituais com sincronia dos movimentos dos braços ao som distorcido com predominância da secção rítmica sobre as melodias e os acordes harmónicos.
Mas daria algo que me fizesse falta para que quem gosta possa usufruir do espetáculo, ou do ritual de socialização, de normalização ou de afirmação, ou o que for.
Apesar de cada entrada diária custar 61 euro e o bilhete pacoviamente VIP por um dia subir a 240 euro num país de coeficiente de Gini elevado.
Apesar de não faltar dinheiro para equipar o parque da Bela Vista para o Rock in Rio, mas não haver dinheiro para o dotar de infra-estruturas de apoio aos munícipes durante todo o ano.
Passada a euforia, nem sequer há uma esplanada ou café a funcionar.

Por isso me custa ver a impossibilidade operacional de organizar o serviço do metropolitano.
Por isso me custa ver desprezada a noção de serviço público, aplicável sempre que é necessário transportar pessoas.
Imagino a satisfação dos senhores do ministério da economia e transportes, a concitar o apoio, de quem não teve metropolitano, para combater “as regalias dos trabalhadores do metro”, como eles dizem.
Talvez haja algo de cínico no sorriso com que terão imaginado que com a nova administração de quatro elementos que o decreto lei anunciou para a fusão do Metro e Carris as coisas correriam de forma diferente.
Como dizia Trindade Coelho, ou melhor, como ele repetia dos latinos, abyssus abyssum, abismo atrai abismo.
Num contexto de desprezo visceral pelo artigo 23 da declaração universal dos direitos humanos, a vaga de desemprego e de despedimentos acaba por refluir e afetar quem mantem o seu emprego.

Penso que as organizações de trabalhadores poderiam estar mais abertas a aceitar sacrifícios, com a condição de poderem participar no controle efetivo da repartição equitativa dos sacrifícios por todos os setores da sociedade, poderem participar no controle efetivo do destino e aplicação dos dinheiros dos empréstimos (isto é, saber a composição das dívidas pública e privada para se poderem corrigir as distorções da repartição de sacrifícios) e poderem participar em debates alargados para tomada de decisões sobre assuntos de transportes.
Talvez por serem poucos a pensar como eu é que provavelmente a “impossibilidade operacional” é uma metáfora perfeita do nosso país.
Do que se poderia fazer com as pessoas que temos se a organização fosse outra.

Dizia a TV que não houve problema, porque a Carris disponibilizou autocarros.

Mais uma vez temos um problema de gestão de energia e de transportes.
Se nos 5 dias tivermos 250.000 entradas, poderemos estimar 50.000 deslocações de saída a pé, 100.000 de automóvel, 50.000 de comboio e metro e 50.000 de autocarro. Fechando mais cedo, estimo que 30.000 deslocações terão sido transferidas do metro para autocarros. Se cada percurso for de 5 km, temos 150.000 passageiros.km em modo rodoviário quando poderiam ter sido em modo ferroviário.
Gastou-se cerca de 9.000 kWh em energia equivalente a mais, só em transportes, por se terem transportado os passageiros em autocarros (cálculo para consumos marginais específicos de 60 Wh/pass.km no metro e de 120 Wh/pass.km ou 0,11 litros/pass.km em autocarro).
E isto sem falar nas emissões de CO2 a mais devidas aos autocarros.

Mas é claro, em vez de se resolver a questão em conjunto e em profundidade, o argumento da energia acabará por ser jogado como fator de atribuição de culpas.

Expressão bem achada, esta da “impossibilidade operacional”.




fogo de artifício no Rock in Rio; somos um país produtor de fogo de artifício, muitas vezes em deficientes condições de segurança, mas somos produtores



Adaptando Fernando Pessoa (Álvaro de Campos):

"Come chocolates, pequena;

Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria"
Come chocolates, pequena,
e vai ao cinema, vê telenovelas e vai ao Rock in Rio.


sexta-feira, 25 de maio de 2012

Do Tua, em Trás os Montes, a Oerlikon, na Suiça








A MFO cerca de1930

vista do Google street antes do deslocamento


Oerlikon, antigo subúrbio ao norte de Zurique, entretanto integrado nesta cidade.
Desde o fim do século XIX a Brown Bovery aí produziu máquinas e equipamentos elétricos e construiu locomotivas elétricas.
Com o tempo foram-se reduzindo as instalações industriais e deslocalizando-as.
Da antiga MFO (machinenfabrikOerlikon) apenas ficou o edifício da direção, aquela construção esguia de 3 andares com 80 metros de comprimento e 12 de largura que se vê na foto de 1930 e na vista do Google Street junto dumas vias férreas “espremidas” por sua causa.

Longe de mim estar a incensar os suiços; que eles sim, sabem o que fazer, enquanto nós, por cá, vivemos em “apagada e vil tristeza”.
Detesto o provincianismo embasbacado de quem se deslumbra com o que “eles”, no estrangeiro, fazem.
“Eles” e nós são pessoas como todas as pessoas são. Apenas podem divergir nos métodos usados.
Com consequências importantes.

Chegou-se à conclusão , em Oerlikon, que era preciso “descomprimir” as vias férreas, alargá-las, para aumentar a capacidade dos canais ferroviários.
Imagino que a maioria dos colegas de engenharia civil que em Portugal fossem chamados a fazer o programa base e o projeto da obra escreveriam no parecer, com elevada probabilidade, que “a única” solução seria demolir o edifício para passarem as novas vias.
As entidades decisoras tomariam por intocável o parecer, perguntariam quanto custava e aprovariam, provavelmente com um preço irreal, abaixo do verdadeiro.
Mas em Oerlikon havia um problema, o edificio estava classificado como arqueologia industrial, fazia parte do património cultural.
E os colegas de engenharia civil arranjaram-se de modo a desenvolver um projeto de deslocamento de 60 metros para oeste do edifício.
Terão rejeitado a hipótese de desmontar o edificio possivelmente por já ser de betão armado, apesar de revestido de tijolos, à boa maneira germânica.
De modo que, como se pode ver nos vídeos, o edificio foi mesmo arrastado, a poder de macacos hidráulicos, os 60 metros necessários para dar passagem às novas vias.

Repito que não quero criticar as entidades decisoras portuguesas por comparação com as suiças.
Na Suíça existe dinheiro (algum dele de origem portuguesa, se a memória não me falha de quando li as notícias sobre as contas na Suíça do sobrinho de Isaltino de Morais, e de outros concidadãos patriotas) e por isso foi possível dispor de 10 milhões de euros para tirar o edificio do caminho em vez de o destruir.
Em Portugal seria mas difícil, 10 milhões de euros é o dobro do que custaria instalar elevadores para as pessoas de mobilidade reduzida entre a Rua Ivens e o mezanino da estação de metro Baixa Chiado.
É também o dobro do que custa a obra da ANA que decorre atualmente para ligação da entrada das “chegadas” do aeroporto da Portela ao átrio de bilheteiras da estação de metro.
E uma fração dos ordenados de um conjunto de jogadores portugueses de futebol.
Também é verdade que em Portugal se gastou dinheiro assim, quando a vertigem dos fundos europeus que afluíam ao país permitiu ao metropolitano de Lisboa pagar as obras de remodelação de toda a Praça da Figueira, do Rossio, das instalações da Suíça (a pastelaria), do Nicola, dos edifícios não ardidos da calçada do Carmo.
Ah, e também uma coisa parecida com este caso de Oerlikon – as fundações do edifício da estação da CP do Rossio estiveram escoradas enquanto se construía uma espécie de tambores que as reforçaram, de modo ao túnel do metro poder passar por baixo.
Foi uma obra interessantíssima, nada divulgada.
E obviamente impossível de quantificar na fase do lançamento do concurso.

É tão fácil virem depois os publicanos, como dizia o rabi galileu, verberar quem fez a obra; que tinha previsto 60 milhões de euros e gastou 300 milhões (custo das ligações Rossio-Cais Sodré e Restauradores- Baixa Chiado).

Pois, custa muito dinheiro viver numa capital europeia.
Critiquem os gastos, mas ao menos respeitem a qualidade técnica da obra.

Imagino o que diriam de mim se durante a obra de construção da estação de metro do Terreiro do Paço tivesse proposto o deslocamento para nascente do edificio da gare fluvial de sul e sueste, aquele monstrozinho modernista de Cotinelli Telmo, para longe o suficiente onde não ofendesse as linhas rigorosas e clássicas da praça (na realidade não propus isso; propus a sua desmontagem e reconstrução bem longe, e o avanço da frente ribeirinha sobre o rio).

Mas deixem-me explicar por que fiquei tão impressionado com o arrasto do edificio da MFO.
Foi porque me lembrei do Tua.
Numa altura em que a UNESCO lembrou ao governo a possível incompatibilidade com a classificação do Douro vinhateiro.
Mas o governo saberá demonstrar que a barragem já está fora dos limites (embora haja vinhas no vale do Tua), além de que a UNESCO está dominada por perigosos esquerdistas que não merecem os subsídios das economias florescentes e competitivas.

A história do Tua deixa-me triste.
É um exemplo da forma portuguesa de discutir os problemas e de impor soluções.
Até pode ser possível a convivência da barragem com o Douro vinhateiro, mas esqueceu-se que a principal questão era a falta de respeito pelo valor de arqueologia industrial da linha férrea (e o desaproveitamento do potencial turístico). Por exemplo, o viaduto e o túnel das presas, mesmo junto da foz do Tua, onde vai ancorar a barragem, era uma peça preciosa da engenharia do século XIX, já destruída pela barbárie dos decisores.
É também interessante recordar o escrito do atual senhor secretário de estado da cultura em 2010: “defender o ultimo comboio regional … é combater este país abjeto que destruiu a nossa paisagem, a nossa memória e a geografia do tempo” (como escreve bem, o senhor secretário de estado, embora de forma muito datada).

Publicou este humilde blogue uma análise de uma possível solução conciliatória, reduzindo o valor da energia produtivel por ano, reduzindo a extensão de linha a destruir, reduzindo a volumetria do armazenamento.
Em síntese, propunha o estudo da cota de 160m em vez da cota de 170, para que se está a construir.
Dum lado, a insensibilidade dos decisores (que advogariam a demolição “tout court” do edificio da MFO) que se recusaram a estudar a cota de 160m (liminarmente recusada muito antes da minha proposta).
Do outro lado , a inflexibilidade de parte do movimento ecologista, recusando concessões (por exemplo, aceitar a barragem a 6 km mais para montante da foz).
Ver:
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2011/02/tua-tua.html

Enfim, os métodos portugueses de tomada de decisão continuam a ser:

- os decisores resolvem os seus programas com os projetistas em secretismo, começando a polarizar-se a solução em torno da opinião de quem detem o poder decisório, sem contestação;
- impõem as soluções sem colocar todas as hipóteses, algumas das quais poderiam ter menor impacto ambiental,
- fogem ao debate público aproveitando a pouca capacidade de organização da sociedade portuguesa em moldes de fundamentação científica.

Que pena, esta barbárie; mas não quero que se pense que estou a dizer que no estrangeiro é que se sabe analisar as questões, organizar os debates, pôr hipóteses e resolvê-las com fundamentação científica.



quinta-feira, 24 de maio de 2012

As escadas musicais do metro de Estocolmo e as escadas rolantes da estação Aeroporto do metro de Lisboa



Que memória a minha.
Só agora, quando recebi este email de um colega e amigo é que me recordei de já ter visto esta ideia para tornar as escadas fixas mais atrativas.
Podia ter proposto ao metropolitano evitar a despesa das duas escadas mecânicas que estão a ser instaladas, à ultima hora, na estação do Aeroporto.
Mas a minha memória anda assim...esquecida da "funtheory"...

quarta-feira, 23 de maio de 2012

A coroa circular da Rotunda do Marquês

http://www.tvi24.iol.pt/sociedade/avenida-da-liberdade-transito-na-avenida-da-liberdade-liberdade-antonio-costa-transito-tvi24/1349911-4071.html


Há uns anos já, surgiu no Metropolitano, com pedido de parecer, o projeto, que agora é tornado público, de remodelação da rotunda do Marquês de Pombal com uma coroa circular exterior para circulação de autocarros.

Antes de mais, devo dizer que o objetivo de tirar partido do túnel rodoviário e de reduzir a intensidade de tráfego rodoviário na Avenida da Liberdade é inquestionável.

Não quero assim opor-me a esse objetivo, que para mim seria mais bem conseguido, apesar de forma antipática, com as famosas portagens à entrada da cidade.

O tráfego automóvel particular na Avenida da Liberdade ficará reduzido a uma faixa ascendente e a outra faixa descendente, o que será uma medida altamente dissuassora.

Mas não posso deixar de criticar formalmente os seguintes aspetos da proposta da CML:

I – alteração dos sentidos de circulação do tráfego automóvel nas laterais da Avenida da Liberdade – dado que a circulação automóvel em Portugal se faz pela direita, o automatismo que se encontra registado no cérebro dos peões, que iniciam a travessia duma artéria, é esperar que o transito venha da esquerda e é para esse lado que normalmente se vota a cabeça. Quando nos anos 70 do século passado um vereador da CML resolveu trocar os sentidos de grande parte das artérias de Lisboa, o número de atropelamentos subiu de forma intolerável. Corrigida a aberração (assim classificada do ponto de vista do peão, uma vez que do ponto de vista automóvel ela tem vantagens, deixando-se ao critérios dos cidadãos a avaliação do que é mais importante, o peão ou o automóvel) ela mantem-se nas ruas Alves Redol e Viriato, por exemplo, e foi introduzida na lateral norte/poente do ultimo quarteirão da Avenida da Liberdade e na lateral exterior da rotunda do Marquês entre a Rua Bramcamp e a Avenida Fontes Pereira de Melo. Por outro lado, torna-se confuso para quem atravessa a Av.Liberdade a mudança sucessiva do sentido dos  4 conjuntos de vias da travessia.

II – aumento da intensidade de tráfego nas laterais exteriores da rotunda e da Avenida da Liberdade – este aumento dever-se-á fundamentalmente a autocarros, aumentando assim a probabilidade de ocorrência de atropelamentos e as suas consequências (isto é, conduzindo a um risco intolerável) devido à proximidade das saídas dos acessos ao metropolitano e à circulação em “contre sens”(acresce a incomodidade para os utilizadores do elevador de superfície no topo norte/poente da Avenida da Liberdade)

III – aumento dos pontos de colisão do tráfego rodoviário nos pontos de interseção da coroa circular exterior com os percursos de acesso às vias interiores da rotunda – deve no entanto dizer-se que possivelmente estes pontos de colisão equivalerão aos pontos de colisão e de atrito de escoamento nas atuais 5 vias da rotunda por má condução ou conduão agressiva dos automobilistas. Espera-se que na consulta pública seja apresentada a matriz das interferencias dos vários percursos, na situação atual e na situação proposta;

IV – convirá obter a confirmação, da parte do metropolitano, de que não haverá conflito entre as fundações da coroa circular exterior que atravessará o topo da Avenida da Liberdade, com a laje de cobertura da estação de metro.

transito intenso ascendente na Av.Liberade, mesmo fora das horasde ponta


Observações:

1 – a necessidade de intervenção na rotunda e na Av.Liberdade parece confirmar a pouca eficiência do túnel rodoviário enquanto fator de eliminação de cruzamento de percursos principais ;

2 – a pouca eficiência do túnel rodoviário é também patente pelos elevados riscos para a circulação de autocarros que impedem a sua utilização por estes

3 - no que toca aos pontos de colisão e atrito de escoamento devidos à existência de 5 vias de rodagem na rotunda atual, seria muito interessante tentar a aplicação de medidas de redução de conflitos (embora com tendência para aumentar o tempo de escoamento nalgumas condições de utilização) com adaptação das novas regras do código da estrada, nomeadamente:

3.1 - o tráfego ao longo da via mais exterior da rotunda não seria autorizado a cruzar uma via de entrada (isto é, só poderia utilizar a via mais exterior quem saisse na próxima saída da rotunda)

3.2 - seriam probidas as ultrapassagens no interior da rotunda, entendendo-se como ultrapassagem a mudança de maior para menor coordenada angular de um veículo relativamente aos veículos nas vias adjacentes, segundo o sentido do movimento dos ponteiros do relógio; isto é, a velocidade angular de qualquer veículo seria sempre igual ou inferior à de um veículo que circulasse com uma coordenada angular menor nas vias adjacentes

3.3 - analogamente às regras náuticas, teria prioridade o veículo que circulando numa via interior e pretendendo mudar de via, já tivesse pisado a marca de limite das vias, uma vez que seria válida a proibição em 3.2

4 – a atual intensidade de tráfego automóvel particular na Avenida da Liberdade indicia as carencias de ligações rodoviárias fáceis na circular da Av.Berna (Alcântara-Av.Ceuta-Av.Berna-Olaias-PçPaiva Couceiro-Santos o Novo) e a inexistência da nunca realizada, dados os seus elevados custos, circular Santa Apolónia- cruzamento da Av.Liberdade imediatamente a norte dos Restauradores-Av.24 de Julho; estes factos sugerem as possíveis adaptações das vias existentes às funcionalidades daquelas circulares, o que exige um plano de reurbanização

5 – é desejável reduzir o número de carreiras de autocarro que circulam neste momento na zona e que coincidem com linhas de metropolitano


Conclusões:

Considera-se gravoso alterar os sentidos de circulação normais nas laterais da Av.Liberdade e a criação da coroa exterior da rotunda por provavelmente induzir aumento do número de atropelamentos

As três moedas

O Deutsche Bank propôs a criação do geuro para a Grécia.
Possivelmente terão lido este humilde blogue (brinco, claro), que em 2 de maio de 2012 propôs a utilização de três moedas.
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2012/05/mais-alimentos-com-grande-pegada.htmlhttp://fcsseratostenes.blogspot.pt/2012/05/mais-alimentos-com-grande-pegada.html

Mas um partido de esquerda achou mal.
Desconfiou logo do Deustsche Bank.
Pode ser que tenham razão mas é uma pena.

A criação do "banker" é uma proposta dos economistas aterrados, juntamente com outras (BCE a emprestar diretamente com taxas baixas como a reserva federal , eurobonds, etc) que têm sido rejeitadas pelos partidos da direita dogmática defensores de Friedman e Hayeck, e que têm dominado com os resultados que estão à vista (claro que  senhor ministro Vitor Gaspar acha que o probema foram as medidas queinesianas de alguns e pouco influentes governos, cada um mantem a sua fé intangível) a economia da Europa no último decénio.
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2010/10/economicomio-lxii-as-22-medidas-dos.html

Pior que tudo no nosso país, é a dificuldade de discutir as coisas abertamente e com espirito cientifico.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Critica de cinema - Era uma vez na Anatólia








Filme muito interessante. O desenrolar da ação é lento mas o filme prende a atenção. Especialmente porque conta uma história, uma busca policial e judiciária por terras da Anatólia, que não é o tema central.

Tem alguns recados pelo meio, por exemplo, o comentário, quando algo não correu bem, que assim a Turquia não consegue entrar na união europeia.

Ou quando o presidente da junta da aldeia perdida faz o seu discurso sobre a falta de dinheiro para reparar o muro do cemitério e construir uma morguue, porque não pode enterrar os mortos depressa; tem de aguardar que os filhos venham da Alemanha; e é só quando morrem os pais que eles voltam por poucos dias à aldeia.

Anatólia, um dos teatros do desenvolvimento da cultura europeia, uma terra em que as pessoas são como nós, com o mesmo código genético, com as mesmas normas de sobrevivência, de procedimentos policiais, judiciários ou hospitalares.

Mas também com o que nos separa.

O tema principal é a mulher e o seu papel determinante, apesar de ser obrigada a andar com lenços a tapar o cabelo, ou condenada a fenecer numa aldeia perdida, ou a servir de pretexto para um homicídio, ou a querer e a morrer de amor porque o marido teve uma aventura, embora o filme não conte nenhuma destas histórias.

Como qualquer obra de arte, às vezes é mais importante o que não se mostra e apenas se sugere, do que o que se mostra.

E é bom ver filmes como este.

Aproxima as pessoas, como o iraniano “Uma separação”.

Critica de ópera - La rondine (a andorinha) no S.Carlos








La rondine, opera de Puccini, estreada em Monte Carlo em março de 1917, decorria a guerra na Europa. A Itália ao lado da Inglaterra, França e USA contra a Alemanha, Áustria e Turquia. Uma guerra tribal em ponto grande.

Enquanto na preparação das batalhas os generais utilizavam o número de mortos como mais um fator de produção de vitórias, Puccini, italiano, terminava o seu trabalho com os libretistas austríacos e apresentava a sua ópera em Monte Carlo.

Como se vem dizendo neste blogue, a ópera tem uma componente subversiva.

Por exemplo, de Verdi, o Don Carlo combate de forma demolidora a insanidade da Inquisição e do poder absoluto, o Nabuco apela à liberdade de um povo, e Stifelio condena quem condena a mulher adúltera.

Houve até o caso de “La muette de Portici”, de Auber, que catalizou a revolução de 1830 que levou à separação da Bélgica relativamente aos Países Baixos.

Dora Rodrigues, a cortesã apaixonada ,e Mário Alves, o jovem de boas famílias

Marco Alves dos Santos, o poeta boémio, e Carla Caramujo, a camareira da cortesã

Aparentemente leviana e retratando de forma melodramática as angustias e os amores de um jovem sem problemas de dinheiro e de uma mulher mais madura amante de um banqueiro, a ópera La rondine, que significa andorinha, tem para nós o significado político de ser a única ópera apresentada pelo S.Carlos neste ano, após os cortes determinados pelo governo terem inviabilizado os espetáculos anunciados.

Por outro lado, um dos temas da ópera é a liberdade de movimentos da andorinha e a sua capacidade de emigrar.

Parece que nem de propósito, quando as politicas do governo forçam os jovens do país a fazer como as andorinhas.
o lustre principal do S.Carlos

o camarote presidencial sempre deserto

o salão nobre preparado para o lançamento de um modelo automóvel de uma marca de luxo, ou uma forma de reduzir o defice do teatro

Terá sido uma bofetada com luva branca nos senhores que têm dinheiro para enviar uma delegação ao campeonato da Europa de futebol mas não têm dinheiro para a cultura (governo de um país que dedica à cultura menos de 1% do seu orçamento público não merece grande respeito) nem sequer para combinar uma digressão a Madrid ou Barcelona do excelente espetáculo que o S.Carlos conseguiu produzir.

Duvido que os senhores do governo que tutelam a politica cultural percebam sequer o nível artístico atingido pelos intérpretes, de que me permito destacar a soprano Dora Rodrigues, nem o valor”de mercado”, como eles dizem, das suas prestações.

Aliás, o camarote presidencial do S.Carlos está sistematicamente vazio, não vão os espetadores vaiar eventuais ocupantes, que ainda por cima fariam um esforço insano por ver e ouvir uma ópera.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

As rendas da co-geração

O senhor ministro da Economia disse aos jornalistas que estava muito contente por ter reduzido as rendas que sobrecarregam "o tarifário " da eletricidade.

O senhor ministro não tem formação em Física, e tem tendencia para esquecer

que um sistema físico é conservativo, isto é, o balanço global é constante, o que pode variar á proporção dos componentes.

Ou dito de outra maneira, quando se poupa num lado, 100 milhões de euros, diz o senhor ministro, gasta-se no outro, nada se cria (nas zonas de expansão do universo e da energia escura a conversa é diferente , mas o senhor ministro da Economia não está lá ainda).

Claro que não são populares as “rendas”. Infelizmente não é possível eliminar o termo fixo da equação linear de primeiro grau das tarifas de qualquer fluxo.

Os senhores economistas sabem isso, mas assim talvez ganhem votos.

O problema é que a energia é um grande problema, e a senhora preseidente da associação de co-geração europeia fez declarações pouco abonatórias do senhor ministro.

Claro que vão dizer que é uma parte interessada.

Só que é uma parte interessada numa solução parcial do problema da energia que tem reflexos nas exportações de bens transacionáveis (coisa que os senhores economistas sabem que é importante).

A engenharia das energias ensina que a co-geração, ou produção combinada de eletricidade e calor (ou produção de mais eletricidade com o mesmo combustível aproveitando o calor para fazer vapor turbinando-o e aumentando o rendimento da produção de energia elétrica para quase 70%).

No caso português, a co-geração tem utilizado o gás natural, principalmente à entrada de centros industriais que produzem bens exportáveis (combustíveis refinados, pasta de papel…).

As medidas deste governo vão aumentar os custos de produção e aumentar também as emissões de CO2 por utilização de fontes de energia mais poluentes por menor rendimento de conversão.

Não se discute a necessidade de aproximar os custos de venda dos custos de produção, eliminando subsídios (o que deverá ser feito após discussão aberta com as partes interessadas), mas alterações bruscas em qualquer sistema, como qualquer pessoa com formação física sabe, induz instabilidade.

E porque será que na Alemanha subiram os estímulos à co-geração?

Como disse um produtor nacional, alguém no ministério da Economia anda a dormir.

Do ponto de vista energético, a politica do senhor ministro da Economia é perigosa, mesmo que reduza as tarifas.

Extrato das declarações da senhora presidente da Ecogen Europe:

"Portugal deve olhar bem para as oportunidades que a directiva de eficiência energética traz, em vez de olhar para isto como um custo … se o País quer manter o sector industrial forte e cortar importações, deve apostar na eficiência da rede energética para ser competitivo … se quer que a indústria cresça, não pode sabotar as indústrias existentes".

É um principalmente um problema de energia, de eficiência energética, não é um problema de custos.

Mas é difícil explicar isto.

Ver em :

http://www.cogeneurope.eu/about-cogen-europe_2.html



PS em 21 de maio de 2012 - Dado que a co-geração se destina a produzir calor, para alem de eletricidade,  ou a obter mais eletricidade a partir da mesma quantidade de um combustível fóssil, normalmente gás natural, ela tem sido muito utilizada à entrada de grandes instalações industriais. Diminuindo o volume de co-geração, no primeiro caso (produção de calor) a empresa industrial tem de obter o calor a partir de outra fonte, provavelmente óleo fuel, com maior impacto ambiental; no segundo caso (produção de eletricidade com elevado rendimento) a diminuição de co-geração induz o aumento do pedido de mais eletricidade à rede; em ambos os casos, diminui o pedido de gás à rede de gás, com risco dos fornecedores compensarem a quebra de receitas com o aumento das tarifas dos consumidore domésticos; mas esta é uma hipótese; isto dos mercados nunca se sabe)




O principal problema do País

Das notícias: a requalificação do pavilhão "Rosa Mota" perdeu os fundos comunitários.

Há desemprego porque não há obras nem o seu efeito indutor; não há obras porque o QREN não foi devidamente dinamizado, sendo que o primeiro passo é a elaboraçao de projetos bem feitos.
Como os decisores geralmente nunca fizeram projetos ou processos para empreendimentos (pequeno esclarecimento: há projetos que só podem ser feitos por fabricantes mas quem faz os processos de compra tem de perceber alguma coisa da técnica envolvida), desvalorizam a urgencia de os fazer.
Como também não são muito bons em planeamento (exige capacidade de memorização e seriação de prioridades de barras de execução temporal e interdependentes, que normalmente falta a quem tem muito jeito para falar em público), o tempo passa sem que os projetos se desenvolvam e a oportunidade passa.
Os decisores depois comunicam que os fundos se perderam e apresentam explicações exdruxulas como a que pretende justificar a perda dos fundos para o "Rosa Mota".
Deprimente.
E se quiserem ficar mais deprimentes, vejam o estado do "Carlos Lopes", em Lisboa.

Eis o grande problema deste país: falta de planeamento, falta de projetos.
E muita gente que não sabe fazer nem uma coisa nem outra (sem desprimor pelas respetivas atividades, que tudo é preciso neste mundo) a opinar e a decidir...

quarta-feira, 16 de maio de 2012

A Estatística e os chefes de Estado

Este blogue não é para discutir política, mas o seu escriba não resiste aos encantos da Estatística quando aplicada a temas políticos.
Já se viu a correlação entre o estreitamento das faixas da população com maiores rendimentos com o crescimento do respetivo rendimento per capita nessas faixas, enquanto as faixas de população com menos rendimentos aumenta a sua largura e diminui o rendimento per capita.
Falou-se já também na expressão matemática desse fenómeno através do coeficiente de Gini, ou de desigualdade social, em que Portugal vai perdendo os lugares que sucessivamente foi ganhando ao longo dos anos.
Poucos dias depois das eleições do chefe de Estado francês, vejo outra interpretação estatística interessantissima.
Uma empresa de sondagens e marketing, daquelas que correlacionam o código postal do comprador com a natureza, qualidade e custo dos artigos que compra e das lojas em que os compra, deu-se ao trabalho de correlacionar os bairros classificados pelo rendimento per capita dos seus habitantes, com os resultados eleitorais.
Os resultados que se obtivera são impressionantes pela regularidade e pouca dispersão (apertado intervalo de confiança) das curvas. Embora as variações das votações entre bairros sejam pequenas e a diferença entre os dois candidatos em cada bairro tambem seja pequena, verificou-se uma nitida correlação e uma veriação continua desde a votação mais significativa em Sarkozy nos bairros de maior rendimento, diminuindo progressivamente à medida que se consideram os bairros com o rendimento per capita a decrescer, até inverter a tendencia, com a votação mais significativa em Hollande nos bairros de menor rendimento per capita.
Ninguem manipulou os dados, é Estatística, amigo, diria este blogue.
E porque não é mais significativa a votação em Hollande, já que as faixas de população de menores recursos são mais largas?
Ora, isso aprendi eu na História de Portugal, nas guerras liberais, com a aliança das classes populares à aristocracia de D.Miguel.
E nos tempos que correm, com a campanha sistemática de desacreditação nos meios de comunicação social de tudo quanto seja serviços e servidores públicos, e com o endeusamento da "classe" de consumidor, aliás já entendida pelos imperadores romanos, quando falavam em panem et circensis.

É a Estatística...nem sempre em boas mãos.

terça-feira, 15 de maio de 2012

A 25ª cimeira ibérica de 9 de maio de 2012 - transportes ferroviários

A 25ª cimeira ibérica de 9 de Maio de 2012 não trouxe dados concretos sobre a construção das novas redes ferroviárias de ligação à Europa.

Continua a discussão bizantina sobre o privilégio a conceder ao transporte de mercadorias, esquece-se o transporte de passageiros entre as capitais Lisboa e Madrid (suscitando fundadas duvidas de que o objetivo é servir os interesses das low cost aéreas) e continua a “reafirmar-se a importância estratégica da bitola europeia para a competitividade das exportações “ e a formular-se intenções de que tudo avance “quando possível” e “o mais rapidamente possível”.

Todavia, não se deu conta de que equipas de engenharia estejam desenvolvendo os projetos e quais as decisões que terão de ser tomadas perante problemas concretos que vão surgindo (só surgirão se as equipas de projeto desenvolverem o trabalho).

Salvo melhor opinião, estamos a perder tempo com conversa fiada (pobre grupo de trabalho para  amelhoria do Lusitania-Hotel, como pode melhorar-se a linha pelo ramal de Caceres e Valencia de Alcantara sem grandes investimentos?) e a perder fundos europeus já decididos há muito com a Comissão Europeia (engraçado este argumento: no caso do transporte de passageiros em alta velocidade podem quebrar-se os acordos anteriores com a Comissão Europeia, mesmo que ela financie a construção e defina como 3ª prioridade, em toda a Europa, as ligações ferroviárias em alta velocidade ente Lisboa e a Europa).

Evidentemente que se aplaude a decisão de eletrificar Vilar Formoso – Medina del Campo (perto de Valladolid) , mas isso já tinha sido aprovado em anterior encontro Ana Pastor-Alvaro Santos Pereira, porque muitas toneladas.km de mercadorias ainda hão-se passar por Irun antes de termos bitola europeia para lá chegar (e não é tão grave como isso, o transbordo; é grave, mas não é tanto como muitas vezes se pinta; e são os próprios operadores que o dizem; evidentemente que um utilizador, como a Auto-Europa, ganharia com a rapidez do transporte, mas não é tão grave como isso).

Lamenta-se a ilusão que se mantem sobre a ligação ferroviária Porto Vigo, prometendo-se um “melhoramento progressivo e substancial através de, numa primeira fase, da potenciação como serviço internacional e, a médio prazo, através duma atuação sobre a infraestrutura ferroviária” (por Hermes e por Mercúrio, pelos deuses protetores dos transportes e do comércio, que conversa fiada de “potenciação” é essa? Um serviço ferroviário só melhora quando se atua nas infraestruturas e no material circulante; não há decreto-lei que possa alterar isto; andam a enganar as pessoas sérias do Norte que querem uma ligação ferroviária a sério, de mercadorias, que Vigo é um dos principais portos pesqueiros da Europa, e de passageiros, que a economia avança também com a deslocação de pessoas, como qualquer negociador que conheça as limitações e os inconvenientes das videoconferências sabe; só a médio prazo se vai atuar na infraestrutura?!).



Enfim, pode considerar-se parada a ligação ferroviária Sines-Irun. Amanhã, ao fim do dia, a situação estará no mesmo ponto em que estava ontem, ao fim do dia.

E na próxima cimeira continuará a reafirmar-se “a importância estratégica da bitola europeia”, e na próxima visita a Sines continuarão a formular-se votos para que a ligação seja o “mais rápido possível”.



Entretanto, submeto aos leitores este esquema topológico com os principais pontos por onde passarão as ligações ferroviárias de mercadorias e de passageiros à Europa.

Pelo comunicado da 25ª cimeira fica-se com a ideia de que a parte portuguesa não tem negociado convenientemente com a parte espanhola (por exemplo, a ligação pela hipotenusa entre Caia e Cáceres poupava quilómetros relativamente aos catetos por Merida; idem com o desvio por Toledo; e se a saida em alta velocidade se fizesse por Valencia de Alcantara e não por Caia? até que ponto não seria preferível fazer uma ligação direta Cáceres-Medina del Campo ainda antes da ligação de mercadorias Aveiro-Salamanca que é uma construção caríssima? E antes da ligação passageiros em alta velocidade Cáceres-Madrid (a ligação seria por Ávila-Madrid; já terá sido estudado, isto?) , que não há uma frente comum para negociar com a Comissão Europeia e que se está a perder tempo quando se devia estar a adaptar o projeto anterior para começar o mais depressa possível as obras (as tais de bitola europeia ou bi-bitola enquanto não houver continuidade) Sines-Poceirão-Caia.

Pelos menos é o que me parece.

O esquema ajuda talvez a compreender a complexidade da questão (se é complexa deve ser debatida abertamente).

Destaco o relativo consenso dos percursos Sines-Poceirão-Caia, os custos elevados da ligação Aveiro-Salamanca, a necessidade de melhorias das ligações atuais em bitola ibérica (de que a eletrificação Vilar Formoso-Medina del Campo é um bom exemplo). Os custos da ligação Aveiro-Salamanca já forma oportunamente estudadso quando se discutiu o traçado Lisboa -Madrid. De facto era tentador construir duma assentada as ligações Sines-Lisboa-Porto (passageiros tambem, claro) e sair por Salamanca até Madrd. Mas é carissima, a construção Aveiro-Salamanca, para as mercadorias não terem um gradiante superior a 1,7% e poderem ter curvas de raio superior a 1000 m. Por isso se foi para o traçado Poceirão-Caia...

A ligação Barcelona-França de alta velocidade em bitola europeia já está a funcionar (mercadorias e passageiros) e a ligação Saragoça-França foi chumbada pela Comissão Europeia. A ligação Algeciras-Barcelona vai arrancar rapidamente. Será uma pena se não se aproveitar para melhorar a ligação Caia-Madrid (reduzindo os quilómetros dos desvios).



PS em 16mai2012 - Ver a declaração conjunta em

O esquema ajuda a imaginar como o ministerio de fomento espanhol deve ter ficado descansado com a cimeira. Apenas tem de se preocupar com a eletrificaçãozinha até Medina del Campo e com umas melhoriazitas no Lusitania Hotel. O resto pode esperar. Entretanto, todo o vapor (projetos e negociação de fundos com Bruxelas) com a ligação de Algeciras a Barcelona (Tarragona) e com a ligação Madrid-Irun por Valladolid. Quem conhece a história das negociações das águas desde meados do século passado entende o que pretendo dizer. Na atualidade, isso significa que o governo português entendeu qye nºao precisava de ter uma frente comum com o governo espanhol para concretizar a 3ª prioridade das redes transeuropeias. Estou tentado a fazer um exercício de imaginação: se eu fosse alemão ou francês não entendia porquê.

domingo, 13 de maio de 2012

A imagem é mais clara do que a argumentação

Tem razão os críticos da oposição.
Perdem-se em palavras e discussões bizantinas.
Mais vale uma boa imagem, como a do cartonista do DN, e fica esclarecida a afirmação do senhor primeiro ministro, que ele aprendeu nos powerpoint dos cursos acelerados de boa gestão, sobre a transformação da ameaça do desemprego numa oportunidade.



Eu creio que a imagem do senhor que sai do seu emprego também pode ilustrar aquela ideia que, depois de descer por um declive abaixo, se retoma o crescimento (passem as redundancias, claro).

Transcrição de Boaventura Sousa Santos de novembro de 2010


Este texto foi escrito por Boaventura Sousa Santos e publicado numa quinta feira, em 18 de Nov de 2010:


“…A preocupação com as dívidas é importante mas, se todos devem (famílias, empresas e Estado) e ninguém pode gastar, quem vai produzir, criar emprego e devolver a esperança às famílias?

Neste cenário, o futuro inevitável é a recessão, o aumento do desemprego e a miséria de quase todos.

A história dos anos de 1930 diz-nos que a única solução é o Estado investir, criar emprego, tributar os super-ricos, regular o sistema financeiro. E quem fala de Estado, fala de conjuntos de Estados, como a União Europeia. Só assim a austeridade será para todos e não apenas para as classes trabalhadoras e médias que mais dependem dos serviços do Estado...”

Como pois pode alguém vir agora dizer, dezoito meses depois, que os números do desemprego são inesperados? Especialmente depois do estado português ter utilizado dinheiros públicos não para investimento, mas para salvação de acionistas de bancos?



A crise explicada às crianças




Fico um bocadinho de pé atrás com os livros que explicam às criancinhas as coisas económicas.
Não gosto do livro de João César das Neves quando dá o exemplo do egoísmo do padeiro como resposta à necessidade do pai da criancinha encontrar pão para ela, esquecendo a outra parte da ideia de Adam Smith, que o padeiro deve ter uma responsabilidade social.
Com o novo livro ilustrado de João Miguel Tavares, "A crise explicada às crianças", continuamos a discutir se se deve ser de esquerda ou de direita. Mas reconheço que não era possível apresentar no livro cálculos fundamentadores de medidas a tomar para atenuar a crise e que a ideia do livro, apresentando duas perspetivas opostas, é interessante (problema: vai induzir as criancinhas a perguntar qual o lado dos bons e o dos maus; quando se devia retirar de ambos os lados aquilo que pudesse contribuir para a solução).
O défice é o urso guloso que se endivida, o mel é o capital e os mercados são as abelhas laboriosas.
O senhor ministro das finanças teve a simpatia de apresentar o livro e, obviamente, disse que a culpa tinha sido do urso.
Isto de andar à procura de culpados também não me parece saudável para as criancinhas, bem basta a inserção no subconsciente da culpa do pecado original, que porque ninhuem o viu tem mesmo de ser subconsciente.
E questionado sobre a questão do desemprego, nada disse.
Mas digo eu.
O desemprego foi aquela doença inexplicável e inesperada (do ponto de vista da direita, claro) que atacou as abelhas e arruinou a maioria das colmeias dos apicultores norte-americanos e levou a que houvesse mel insuficiente para repor aquele que tinha sido consumido. Ou dito de outra forma, a toxicidade do mel acabou com a saúde dos mercados.
Quanto à inexplicabilidade da doença, os especialistas estudaram o assunto e concluíram: alguns pesticidas tinham um componente que provocava degeneração das abelhas, tornando-as incapazes de produzir o mel necessário.
É isso, os mercados não podem ser deixados entregues a eles próprios, que se arriscam a criar produtos tóxicos para eles próprios. Só precisam de uma pequena ajuda do urso imprudente para completar o quadro da tragédia.

Mas pode ser que urso e abelhas ganhem juízo.

http://sicnoticias.sapo.pt/economia/2012/05/12/vitor-gaspar-explicou-crise-as-criancas-mas-esquivou-se-a-perguntas-para-adultos

PS em 21 de maio de 2012 - Fiquei chocado quando recentemente li a notícia de que a produção de mel em Portugal cairá muito este ano devido ao período de seca (falta de água , florescimento fora de tempo e crescimento excessivo e não sustentável dos enxames). Depois de há tempos se ter verificado uma corrida à compra de enxames e ao seu roubo por incapacidade de responder à procura, estamos agora na situação de ter de importar mel.
É possível que o autor do livro da crise explicada às crianças pondere que afinal não é bonito estar a atirar com as culpas para cima do urso, que não tem culpa nenhuma da seca. Tampouco as abelhas têm culpa da seca. Isto de causas externas é assim.
Algures, onde pelos vistos autor, ilustrador, apresentador, leitores e comentadores ainda não vislumbram, haverá um ponto de equilíbrio entre o urso, as abelhas  e o mel.
PS em 5 de junho de 2012 - dada a proximidade do tema, convirá ver este "post" em conjunto com o de Victoria Grant, uma criança a discursar sobre a crise:
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2012/06/victoria-grant-public-banking-institute.html
Imaginemos a contrariedade do autor e do seu ministro das finanças se a menina Victoria tivesse intervindo na sessão de lançamento, a criticar o aumento dos impostos que o urso tem de pgar para os juros do mel poderem subir...




No reservations - culinária interveniente

A senhora diretora do Magazine semanal do DN ficou desolada com o programa de culinária No Reservations, de Anthony Bourdain, que o canal Travel dissemina pelo planeta.

A senhora diretora costuma encher as páginas do magazine com exemplos de heróicos portugueses e portuguesas que espalham o seu talento pelo país e pelo estrangeiro.

Vidas de sucesso e de coragem a seguir, para combater a crise.

Eu, que como pessoa mediana acho que as pessoas normais é que devem resolver a crise, funcionando como pessoas normais, sem heróis nem lideres superiores, pensei dedicar-lhe um comentário sobre a ópera Albert Herring, de Benjamin Britten, outro que não acreditava em heróis condutores de homens:
http://en.wikipedia.org/wiki/Albert_Herring


Como costumo dizer, a ópera é um fenómeno subversivo, e esta goza com a ideia da eleição de um modelo que sirva de exemplo à comunidade, no caso a rainha de Maio.

Como nenhuma das candidatas podia classificar-se como irreprensível, do ponto de vista da moralidade vigente, foi eleito o rei de Maio, Albert Herring, filho bem comportadinho da dona da mercearia da terra, dedicado ao trabalho e livre de tabaco e álcool.

Mas na festa da coroação alguém lhe misturou aguardente na limonada e as coisas acabaram por ser pouco exemplares.

Talvez Bourdain, na sua visita a Lisboa, tenha posto aguardente na limonada. A senhora diretora do Magazine não gostou de ver as ruas decrépitas de Lisboa e o desanimo dos portugueses perante a crise, desde António Lobo Antunes a José Quintela. Que, no entanto, vão discorrendo de forma bizantina sobre o carater do povo português.

Ficou escandalizada. Talvez tenha sido mais um caso de dissonância cognitiva (discrepância entre aquilo em que se acredita ou o que se pensa ou sente sobre uma coisa e o que, de repente, se vê como sendo realidade).

Pena a senhora nunca ter tido uma palavra de crítica contra os iluminados gestores que foram desertificando Lisboa através da deslocação de serviços para a periferia.

Nem nas páginas da sua revista criticou a importação de alimentos e de acessórios de moda feminina.

Ao menos podia aplicar a sua teoria de admiração dos bons exemplos a Carla, a senhora pescadora de Lisboa que apanha polvos, robalos e marisco que não precisam de vir da Tailandia e do Vietname. Mas a personagem não tinha carisma.   Alem de que é uma vergonha não denunciar a politica vergonhosa contra os pescadores de Lisboa (não houve sucedâneo para a doca de Pedrouços).

Por mim, embora não seja apreciador de programas de culinária, acho que devia pegar-se no tema e fazerem-se uns programas com uns cálculos, sobre o que há a fazer em Lisboa e as necessidades de emprego para isso.
http://www.travelchannel.com/tv-shows/anthony-bourdain/photos/no-reservations-lisbon-pictureshttp://www.travelchannel.com/tv-shows/anthony-bourdain/photos/no-reservations-lisbon-pictures

sábado, 12 de maio de 2012

Mais alimentos com grande pegada ecológica

Nas bancas da fruta mais vestígios de grande pegada ecológica, dada a necessidade de transporte de tão linge:
Melancias do Senegal, peras da África do Sul, melões de Marrocos.
Passagem à banca do peixe e produtos do mar:
Mexilhões de Portugal (admiro-me) a 1,99 € o quilo, caracois cozidos de Marrocos a 6,99 € (mas basta ir a Palmela para comprar toneladas de caracois a tuta e meia...) ameijoas de França a 7,49 €, canivetes da Holanda a 3,99 €.
E assim vamos continuando a pôr no estrangeiro o dinheiro que recebemos aqui, sem diminuir a dívida externa e gastando o tempo em discussões bizantinas sem fazer cálculos concretos.
Eu tinha uma sugestão, mas os senhores economistas e financeiros que nos governam são capazes de não concordar.
Mantinhamos o euro a circular, mas criávamos mais duas moedas,o escudo e o banker. As pessoas receberiam o seu ordenado ou a remuneração de qualquer serviço prestado em duas partes:  uma parte em euros, correspondendo ao que é importado, e uma parte em escudos, correspondente ao que é produzido no país. Cambio dependente do mercado. Nos exemplos dados, os mexilhões seriam pagos no supermercado em escudos e os caracois cozidos de Marrocos em euros. A terceira moeda, o banker, seria aquela em que os bancos negociariam com o BCE. Não convertível fora dos circuitos bancários. Como reagiriam os mercados?

Falas de governantes - eu não minto, não engano, não ludibrio

É curioso analisar as falas de governantes.
O senhor minstro das Finanças do governo anterior, Teixeira dos Santos, dizia que se podia enganar, mas que não enganava ninguém.
O atual senhor ministro, Vitor Gaspar, diz que não mente, não engana, não ludibria.
Não é por ter lido o testemunho elogioso de um antigo colega italiano do senhor ministro nas lides da finança central da Europa, que o dá como pessoa sensível, mas até acredito que não mente nem engana.
O que não quer dizer que eu não me sinta enganado.
Quando se faz um orçamento com base no preço do petróleo a 80 dólares eu sinto-me enganado, independentemente de me quererem enganar ou não ou de admitirem que se enganaram como Teixeira dos Santos.
Acredito, apesar de receber muito mal a informação de que os numeros do desemprego são superiores ao esperado.
Porque esperaram mal, porque acreditaram que os manuais por onde estudaram estavam completos e não estavam.
Porque ignoraram a correlação entre o desemprego e o custo de vida (lei de Philips).
Parece que os senhores economistas do poder central da Europa já perceberam que têm de deixar a inflação subir um pouco.
Mas ainda não confessaram porque receiam a reação da população.
Cortar em tudo, provocar a recessão e achar que os numeros são inesperados?! ( na verdade para mim são, esperava mais; em agosto do ano passado fiz contas a um abaixamento do PIB de 5%; parece que será 3,3% a 3,5%; tambem me engano eu, mas não sou economista, nem disponho das informações de que os senhores governantes dispõem).
É caso para dizer, como a senhora deputada Heloisa Apolónio: "os senhores andam a dormir?" Ou será um caso de dissonancia cognitiva? Sensível aos prejuizos que causa, mas a sentir-se obrigado a causá-los?
Já que o senhor  ministro gosta de citações, vou comparar, talvez abusivamente, mas como tambem considero abusivo eu ser enganado desta maneira com as previsões orçamentais e de desemprego e com a ignorancia da lei de Philips, vou mesmo comparar o seu ar pungente quando toma contacto de perto com a triste realidade do desemprego, com a atitude pungente da branca e inocente vestida de rendas,  ignorante da fealdade deste mundo, a heroína do Germinal de Zola, Cecile Gregoire, quando desce aos infernos da vida dos mineiros deVoreaux.
A rapariga ignorava que se vivesse tão mal e o episódio acabou  em tragédia. Coisa que sinceramente não lhe desejo, nem a ninguém. Desejaria apenas que se abrisse mais às propostas de quem não pensa como o senhor.
Por exemplo, para não estarmos a fulanizar com ninguém da atualidade, vamos até ao ano 1907 neste abençoado país.
Como sabe, Portugal não podia, desde a bancarrota de 1892, ir aos mercados , como novorricamente se diz agora porque estava num plano de resgate com o Barings que veio a falir em 1995 com os derivados de Singapura. Em 1907 aconteceram duas coisas que contradisseram frontalmente a teoria do corte de investimentos quando há escassez de capital.
Uma, foi o inicio da construção das fábricas químicas da CUF nos terrenos do Barreiro. Iniciativa de Alfredo da Silva, engenharia do francês Stinville. Agora que vivemos a esperança das renováveis, evoco que uma das produções era óleo combustível obtido a partir do bagaço da azeitona. Em Portugal somos assim, conhecemos as soluções, mas gostamos de descobrir toda e qualquer espécie de dificuldade para evitar que as soluções se executem.
Outra, foi a decisão de construção da central termo-elétrica da Junqueira.
Ambas as ações exigiram investimento que os senhores economistas que detêm o poder de decisão neste momento em Portugal considerariam desajustado ao estado das finanças de então.
Ambas as decisões exigiram a participação de uma engenharia atualizada na construção das fábricas e da central.
Não se vê neste momento no governo nenhuma destas condições essenciais.
Os senhores economistas e financeiros decisores não querem aceitar que o seu papel deve ser o de encontrar soluções que tornem possíveis os investimentos (isto é, que não os precludam, ou não os precluam, como gosta de conjugar o senhor ministro das Finanças) que têm de se fazer, não o de avaliar e decidir a eficácia física do investimento.
E a ausencia da engenharia, da sua visão física, no ministério da Economia e dos Transportes, é gritante, sem desprimor pelos colegas que lá estão, que eu refiro-me ao nivel decisório.
Mensagem, contra a paralisação dos investimentos, para os senhores ministros das Finanças e da Economia: citação de Ronaldo: "Assim não ganhamos o jogo"; citação de Manuel de Oliveira: "Parar é morrer".

Referencias:
- 100 anos da CUF, a fábrica no Barreiro, António Camarão, António Sardinha Pereira, José Miguel Leal da Silva, ed. Bizancio
- A central Tejo, a fábrica que eletrificou Lisboa, Fernando Faria, Luis cruz, Pires Barbosa, ed. Bizancio

Notícias das low-cost em maio de 2012

A Easy jet vive feliz. Aumentou os preços dos bilhetes atendendo ao preço dos combustíveis, registou um aumento de oferta e de procura. Mas teve prejuízos no ultimo semestre. nada de grave, a British Airways e a Iberia também tiveram prejuízos.
E a Easy jet tem razões para estar feliz. Segundo o seu diretor em Portugal, o governo português, que a "convidou" para o terminal 2 da Portela, até já lhes perguntou pelo "tamanho dos seus aviões", para ver que aeroporto secundário há-de escolher (realmente, a unica pista do Montijo compativel com o aeroporto da Portela é um bocadinho pequenina e Alverca e Sintra são pouco compativeis).
Doutra "low cost" vêm também noticias: os protestos da Ryanair sobre as investigações da Comissão Europeia sobre eventuais privilégios anti-concorrencia concedidos a aeroportos alemães de "low-cost"; que essas investigações podem prejudicar as receitas do turismo. Interessante, quando são os próprios atores a chamar  a atenção para as suas graças.
Mas podem continuar tranquilos.
A cimeira ibérica não está a pensar poupar nas emissões de CO2 nas ligações Lisboa-Madrid.
Há mercado para continuarem, com a satisfação dos preços baixos pelos seus clientes.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Bernardo Sassetti

Fiquei profundamente emocionado com a noticia da morte de Bernardo Sassetti.
Porque para mim a música é a  mais elevada das artes, pela sua abstração, e Bernardo Sassetti era um grande músico.
Era também uma pessoa bem formada.

Este blogue referiu-se a ele, a propósito do metropolitano,  em :

Destaco o  espetaculo de bailado "Uma coisa em forma de  assim", para o qual compôs música maravilhosa que interpretou no palco do espetaculo:





Pela sua morte prematura, fica a imagem dum país em que os cidadãos e as cidadãs não conseguem dar o que podem dar.

Micro ensaio sobre a dicotomia consenso-cotejamento

Amavel comentador repreendeu-me por neste blogue, a propósito da poesia de Sofia de Melo Breyner,  eu dar alguma importancia  ao confronto esquerda-direita.

Não queria dar muita importancia.
Não sou adepto do mazdeismo do segundo milénio antes de Cristo, com a sua criação do inferno e do paraíso.
Mas não posso ignorar a dialética que se sobrepõe à evolução tecnológica.
E posso dar mais importancia a outros métodos, conforme tenho referido a propósito da Sabedoria das Multidões e da Revolução sem lider.
Também posso deixar-me iludir, nem que seja por um breve instante, com a expressão maravilhosa que o presidente do PASOK, terceira força mais votada, encontrou para o seu objetivo de formar governo: um governo "ecuménico".
"Ecuménico", palavra grega, é isso mesmo, etimologicamente, "aberto para o mundo inteiro", sendo aqui o mundo inteiro uma nação que precisa  de recordar que é o berço da cultura ocidental.
Recordar até o episódio em que a ganancia de Atenas pelo tesouro de Dilos rebentou com a confederação grega.
Aberto também aos criminosos de braço estendido?
Se isso salvar a nação sem violencia, onde está o mal?
Posso sentar-me ao lado de um pitbull se ele estiver açaimado e controlado, não?

Mas deixem-me apresentar o micro ensaio sobre a dicotomia esquerda-direita ,ou a dicotomia consenso-cotejamento.
Os jornais enchem-se com apelos dos políticos ao "consenso", não é?
Infelizmente "consenso" significa sempre a submissão, a troco de uma ilusão, de uma ideia a outra, em vez de se cotejarem as ideias, se fazerem as contas e se retirar de cada uma das ideias o que pode contribuir para a melhoria comum.
É fácil de demonstrar que o cotejamento tem vantagens.
Repare-se em dois grupos de jovens, um de rapazes e outro de raparigas, a chegar a uma esplanada com lugares vagos.
O grupo de rapazes busca imediatamente um consenso que não é mais do que a subordinação das vontades pacíficas da maioria de rapazes que reconhece a um deles a liderança para a escolha. Sentarem-se onde o "lider" propôs, poupa à maioria energia para se concentrar em assuntos mais importantes, como fazer propostas de ocupação de tempo do grupo, e analisar as vantagens e inconvenientes de cada proposta; possivelmente para o lider decidir depois, uma vez que não tem tempo para congeminar os pormenores de cada proposta.
O grupo de raparigas leva mais tempo a sentar-se, mas é um encanto vê-las; cada uma delas volta-se para cada uma das outras a interrogar "ficamos aqui?" enquanto percorrem toda a esplanada; estão a cotejar hipóteses (segundo o método científico no seu melhor) até que se sentam em animada conversa coletiva; está ali um grupo a pulsar em conjunto sintonizado, embora cada uma delas possa estar a dizer coisas diferentes umas das outras. Isto é, a decisão sobre o local de poiso  foi tomada após múltiplas trocas de opinião, e já estão a utilizar o mesmo método para a discussão sobre como vão ocupar o tempo.
Feitas as contas, cada tomada de decisão leva mais tempo, mas o conjunto de tomadas de decisão levou menos tempo e envolveu todas ou quase todas, o que melhora a coesão do grupo e a dedicação de cada uma no grupo.
Por outro lado, os resultados do PISA mostram com clareza que as raparigas ficam mais bem colocadas nos tetes de compreensão e interpretação de dados.
Não admira portanto que internacionalmente, por se seguir o método do "consenso", os resultados estejam tão mal.
Posto isto, ainda há duvidas que os grandes decisores têm de reconhecer que têm seguido caminhos errados até aqui?
Vá lá, governos ecuménicos, precisam-se.

Foyse gastando a esperança - ou a história económica de 5 séculos contada muito depressa

"Foyse gastando a esperança" é uma canção de autor anónimo português do século XVI que chegou até nós através do Cancioneiro de Paris.
É provável que seja uma composição de Pero de Escobar, que passou grande parte da sua vida em Espanha.
Um pouco anterior a Camões, que glosou o tema numas redondilhas ("... no meio desta porfia, de quanto bem pretendia , foi-se gastando a esperança ... quando já não era meu, fui entendendo os enganos...").
Não consegui encontrar uma versão para três vozes, conforme o original, mas a adaptação para piano de Nuno Raimundo é uma beleza.






O século XVI em Portugal foi caracterizado por uma grande acumulação de riqueza em faixas restritas da população, graças às mais valias do comércio das especiarias e da escravatura da India e de África, e do intercambio comercial com a Europa central.
Enquanto a nobreza e a realeza contraiam dívidas e a população fornecia mão de obra barata para a expansão.
Esperemos que 5 séculos depois as pessoas deste país não gastem a esperança em vão.
É que os esforços dos habitantes deste país, da sua maioria, dos que trabalham e não têm o poder de decisão, ao longo destes 5 séculos, raramente atingiram a convergencia necessária para melhorias substanciais.
E mesmo assim, nesses poucos casos, apareceram sempre depois alguns conterraneos muito senhores dos seus meios de produção ou fontes de rendimento a repreender a maioria dos seus concidadãos e concidadãs.

Voltando à poesia de Sofia de Melo Breyner - os Gracos

Voltando à poesia de Sofia de Melo Breyner, graças ás maravilhas da internet e do google, transcrevo uma fala da peça os Gracos, enquanto oiço do youtube a cena de Frigia e Spartacus

:


Os ricos nunca perdem a jogada

Nunca fazem um erro. Espiam
E esperam os erros dos outros
Administram os erros dos outros
São hábeis e sábios
Têm uma larga experiência do poder
E quando não podem usar a própria força
Usam a fraqueza dos outros
Apostam na fraqueza dos outros
E ganham
Tecem uma grande rede de estratagemas
Uma grande armadilha invisível
E devagar desviam o inimigo para o seu terreno
Para o sacrificar como um toiro na arena.

                                    Sofia de Melo Breyner

                     Os Gracos. I Acto. II Cena – Obras completas - 1968


Os Gracos foram tribunos da plebe na Roma do século II AC. Promoveram leis de reforma agrária e de promoção da plebe que os consules patricios anularam depois. Spartacus conduziu a sua revolta contra a escravatura já no século I AC.
É possivel que Sofia de Melo Breyner tenha visto o filme de 1960 com Kirk Douglas e se tenha lembrado de ir buscar o episódio dos Gracos.
Dum e doutro lado da cortina de ferro, como dizia Churchill, a humanidade produziu duas obras primas pela forma e pela mensagem.
Donde, não parece ser boa prática extremar as posições e pô-las a competir.
Embora ao longo da história se tenha assistido a esta luta entre quem quer generalizar os benefícios e quem os quer reservar a uns poucos.
Não se pretende diabolizar os ricos, embora a disseminação do video sobre os donos de Portugal possa ser interpretado por alguns como isso.
http://vimeo.com/40658606

Nem persegui-los.
Apenas se desejaria que eles se democratizassem, isto é, que as suas famílias não se fechassem tanto, não fossem tão ciosas dos oligopólios.
A humanidade também já conquistou a ideia da não violencia, de Gandhi, e a declaração universal dos direitos humanos (direito ao trabalho, vem lá).
O que já é suficiente, sem necessitar de argumentar com os custos da confrontação,  para nos deixarmos de propor a supremacia de uma ideia sobre outra.
Como diz José Matoso, é da diversidade que vem a regeneração, não do consenso que é mais uma forma de opressão de um pelo outro.
Devia ser o critério a seguir na formação dos governos, a participação alargada a todas as sensibilidades.
Mas como no tempo dos Gracos, há sempre alguém que não quer alargar a participação na res publica.
Pena.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Ruinas de Lisboa - o parque Mayer


decoração do que resta das paredes do teatro ABC


mais decoração no ABC


teatro ABC


mesmo ao lado do cinema S.Jorge, a caminho do parque Mayer
Uma pequena reflexão sobre o parque Mayer.
O parque deve o nome a Adolfo de Lima Mayer, sogro de Jorge de Melo (o antigo) e bisavô pelo lado paterno de Cristina de Melo, esposa de Antonio Champalimaud e neta de Alfredo da Silva, o dos bancos resgatados por decreto de Salazar aquando da crise internacional de 1929 (que, como se sabe, foi provocada pelos excessos dos portugueses) e fornecedor de barcos para o transporte dos revoltosos de Francisco Franco no inicio da guerra civil espanhola.
Recentemente um tribunal deu por inválida a permuta entre a câmara municipal de Lisboa e uma empresa imobiliária.
A câmara perderá assim a posse do parque Mayer.
Há uma hipótese de expropriação, mas não está, que eu saiba, ainda decidida.
A decisão de efetuar a permuta foi, a seu devido tempo, tomada de forma formalmente democrática na câmara.
Apenas um partido, com representação minoritária, votou contra, embora a opinião pública atribua a outro partido essa votação.
Posteriormente ficou amplamente provado que a permuta não era legítima (os preços unitários do terreno de Entrecampos, da antiga feira popular, pertença da câmara, foram minimizados, e os preços do parque Mayer, pertença da sociedade imobiliária, foram maximizados).
Estamos portanto perante um exemplo de claro erro da maioria e de como a democracia não dispõe, pelo menos por enquanto, de meios que a protejam da ganancia e da sofreguidão de alguns  empresários.
Aparentemente, seriam suficientes dois meios:
- o método seguido pelas empresas de produção, de incluir no seu organigrama orgãos especificamente de qualidade e de controle da conformidade de processos; estes e os orgãos restantes da empresa funcionam em regime de controle mútuo;
- o envolvimento de cidadãos e cidadãs, até ao nível de maior proximidade, no debate das propostas e disseminação dos resultados, segundo mecanismos de democracia direta, com a participação dos partidos mas sem a subordinação formal aos partidos (bibliografia que se propõe: A sabedoria das multidões, de James Surowiecky, ed. Lua de papel;  A revolução sem lider, de Carne Ross, ed. Bertrand)
 


não é só deformação da lente; as gaiolas de vidro modernistas estão mesmo tortas


Reconheça-se que a execução do segundo ponto deste programa é difícil, mas o aproveitamento do trabalho já realizado ao nível das freguessias e o seu reforço poderia ser um caminho a seguir (evidentemente em sentido contrário ao da fúria dos cortes cegos e extinção de freguesias e à triste ideia de acabar com o método proporcional nas representações partidárias) .

teatro Variedades

  
 Já começaram as obras no parque Mayer, pelo menos no teatro Capitólio, mas o tempo vai passando e as ruinas vão continuando.


teatro Capitólio

As paredes do teatro Variedades estão pintadas com reproduções de cartazes de espetáculos. Alguns eram lindissimos






cartaz de Almada Negreiros
Soleil de nuit, decor de Larionov - Ballets russes, 1913
uma bela doceira de Odivelas, a competir com as lavadeiras
uma bela artista desconhecida
digna de Josephine Baker

teatro Capitólio

obras do Capitólio

azulejos no guarda roupa Paiva


decoração mural junto do guarda roupa Paiva

guarda roupa Paiva; inutil tentar alugar um fraque, fechou