sábado, 12 de maio de 2012

Falas de governantes - eu não minto, não engano, não ludibrio

É curioso analisar as falas de governantes.
O senhor minstro das Finanças do governo anterior, Teixeira dos Santos, dizia que se podia enganar, mas que não enganava ninguém.
O atual senhor ministro, Vitor Gaspar, diz que não mente, não engana, não ludibria.
Não é por ter lido o testemunho elogioso de um antigo colega italiano do senhor ministro nas lides da finança central da Europa, que o dá como pessoa sensível, mas até acredito que não mente nem engana.
O que não quer dizer que eu não me sinta enganado.
Quando se faz um orçamento com base no preço do petróleo a 80 dólares eu sinto-me enganado, independentemente de me quererem enganar ou não ou de admitirem que se enganaram como Teixeira dos Santos.
Acredito, apesar de receber muito mal a informação de que os numeros do desemprego são superiores ao esperado.
Porque esperaram mal, porque acreditaram que os manuais por onde estudaram estavam completos e não estavam.
Porque ignoraram a correlação entre o desemprego e o custo de vida (lei de Philips).
Parece que os senhores economistas do poder central da Europa já perceberam que têm de deixar a inflação subir um pouco.
Mas ainda não confessaram porque receiam a reação da população.
Cortar em tudo, provocar a recessão e achar que os numeros são inesperados?! ( na verdade para mim são, esperava mais; em agosto do ano passado fiz contas a um abaixamento do PIB de 5%; parece que será 3,3% a 3,5%; tambem me engano eu, mas não sou economista, nem disponho das informações de que os senhores governantes dispõem).
É caso para dizer, como a senhora deputada Heloisa Apolónio: "os senhores andam a dormir?" Ou será um caso de dissonancia cognitiva? Sensível aos prejuizos que causa, mas a sentir-se obrigado a causá-los?
Já que o senhor  ministro gosta de citações, vou comparar, talvez abusivamente, mas como tambem considero abusivo eu ser enganado desta maneira com as previsões orçamentais e de desemprego e com a ignorancia da lei de Philips, vou mesmo comparar o seu ar pungente quando toma contacto de perto com a triste realidade do desemprego, com a atitude pungente da branca e inocente vestida de rendas,  ignorante da fealdade deste mundo, a heroína do Germinal de Zola, Cecile Gregoire, quando desce aos infernos da vida dos mineiros deVoreaux.
A rapariga ignorava que se vivesse tão mal e o episódio acabou  em tragédia. Coisa que sinceramente não lhe desejo, nem a ninguém. Desejaria apenas que se abrisse mais às propostas de quem não pensa como o senhor.
Por exemplo, para não estarmos a fulanizar com ninguém da atualidade, vamos até ao ano 1907 neste abençoado país.
Como sabe, Portugal não podia, desde a bancarrota de 1892, ir aos mercados , como novorricamente se diz agora porque estava num plano de resgate com o Barings que veio a falir em 1995 com os derivados de Singapura. Em 1907 aconteceram duas coisas que contradisseram frontalmente a teoria do corte de investimentos quando há escassez de capital.
Uma, foi o inicio da construção das fábricas químicas da CUF nos terrenos do Barreiro. Iniciativa de Alfredo da Silva, engenharia do francês Stinville. Agora que vivemos a esperança das renováveis, evoco que uma das produções era óleo combustível obtido a partir do bagaço da azeitona. Em Portugal somos assim, conhecemos as soluções, mas gostamos de descobrir toda e qualquer espécie de dificuldade para evitar que as soluções se executem.
Outra, foi a decisão de construção da central termo-elétrica da Junqueira.
Ambas as ações exigiram investimento que os senhores economistas que detêm o poder de decisão neste momento em Portugal considerariam desajustado ao estado das finanças de então.
Ambas as decisões exigiram a participação de uma engenharia atualizada na construção das fábricas e da central.
Não se vê neste momento no governo nenhuma destas condições essenciais.
Os senhores economistas e financeiros decisores não querem aceitar que o seu papel deve ser o de encontrar soluções que tornem possíveis os investimentos (isto é, que não os precludam, ou não os precluam, como gosta de conjugar o senhor ministro das Finanças) que têm de se fazer, não o de avaliar e decidir a eficácia física do investimento.
E a ausencia da engenharia, da sua visão física, no ministério da Economia e dos Transportes, é gritante, sem desprimor pelos colegas que lá estão, que eu refiro-me ao nivel decisório.
Mensagem, contra a paralisação dos investimentos, para os senhores ministros das Finanças e da Economia: citação de Ronaldo: "Assim não ganhamos o jogo"; citação de Manuel de Oliveira: "Parar é morrer".

Referencias:
- 100 anos da CUF, a fábrica no Barreiro, António Camarão, António Sardinha Pereira, José Miguel Leal da Silva, ed. Bizancio
- A central Tejo, a fábrica que eletrificou Lisboa, Fernando Faria, Luis cruz, Pires Barbosa, ed. Bizancio

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