sexta-feira, 8 de junho de 2012

Rodoviarium XXIX - continuam as mortes de jovens nas estradas



Não quero dar lições a ninguém, nem sequer a ministros que têm a responsabilidade e a obrigação, por diretiva europeia, de reduzir a sinistralidade rodoviária.

Mas são preocupantes a inoperância dos senhores ministros, de que a alienação da realidade do senhor ex-ministro Rui Pereira foi um exemplo trágico, e a aparente incapacidade (porque nenhuma afirmação pública do senhor ministro contradiz esta aparência - ver http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2011/11/religiao-da-morte-e-o-telefone-que.html) do atual senhor ministro Miguel Macedo debater as relações de causa e efeito e as correlações que envolvem a elevada taxa de sinistralidade rodoviária.

Não quero dar lições a ninguém, mas era dispensável toda a polémica sobre os concursos da ANSR – Autoridade nacional para a segurança rodoviária; que em tempos de guerra não se limpam armas, e era urgente aplicar medidas para reduzir a sinistralidade (de que uma das mais urgentes é precisamente o lançamento de campanhas publicitárias mostrando as boas práticas de condução, uma vez que as campanhas pela negativa são contraproducentes).

Vem isto a propósito de continuarem os acidentes mortais com jovens.

Na técnica de transportes, um acidente, especialmente se pouco comum ou de consequências graves, requer uma análise das causas e circunstancias.

As empresas de transporte, numa ótica de auto-desculpabilização, têm tendência para esquecer a divulgação dos relatórios ou minimizar a gravidade do que originou o acidente.

Aparentemente, o ministério da administração interna comporta-se da mesma maneira, senão pior, abandonando a ANSR à sua divulgação mensal de estatísticas, com pouca visibilidade das poucas recomendações.

6 de Junho de 2012, 04:00, Vila Nova de Gaia – um grupo de 5 crianças, entre os 13 e os 16 anos, roubou um carro; depois de um carro patrulha ligar os “pirilampos” , aceleraram e despistaram-se ao fim de uma reta, com o pavimento ligeiramente molhado; morreram 3 no local e estão duas em estado grave no hospital

7 de Junho de 2012, 19:20, Leça da Palmeira – um carro parou numa passadeira de peões para dois adultos e uma criança de seis anos atravessarem; outro carro bateu por trás e empurrou o primeiro que atropelou os peões; a criança está em estado grave no hospital

Há cerca de um mês, uma menina de 11 anos que se tinha apeado do autocarro depois das aulas foi atropelada mortalmente por uma moto numa povoação em que não existe passadeira para travessia de peões.

Discutir publicamente as causas e as circunstancias destes acidentes e as medidas a implementar para os reduzir, deveria ser tarefa prioritária, desde os ministérios, aos institutos relacionados, até à própria comunicação social.

É um escândalo dar-se prioridade à campanha futebolística em detrimento do debate público e exigência de resolução destes crimes.

Não quero dar lições a ninguém, mas a primeira medida parece ser uma campanha publicitária que leve os espetadores a conduzir a uma velocidade mais moderada.

Porque é certo que existe uma correlação entre a taxa de sinistralidade e a velocidade média dos veículos.

Eu sei que o excesso de velocidade é uma compensação das frustrações e das contrariedades dos condutores e condutoras, que o sentimento de auto-estima na condução é a sublimação da insegurança relativamente ao posicionamento social ou hierárquico no mundo do trabalho, que é uma forma de afirmação de uma personalidade adolescente que ainda não ultrapassou a fase da mielinização, mas também sei que, se na televisão passarem sistematicamente (e obrigatoriamente, como serviço publico) imagens com o abrandamento de veículos à aproximação de passadeiras de peões e de paragens de transportes coletivos, os condutores e as condutoras melhorarão o seu comportamento (e evitando imagens negativas porque a defesa instintiva é sempre dizer: coitados, o que acontece aos outros).

Quanto ao caso do despiste e Gaia, uma pequena notícia no DN do mesmo dia dá a resposta:

A comissária europeia para a educação declarou que, em 2011, Portugal foi, com uma taxa de 23,2%, o terceiro pior país da UE em abandono escolar, e que “os estados membros têm de fomentar e aumentar a qualidade do ensino secundário e acesso ao ensino superior”.

Salvo melhor opinião, não querendo dar lições a ninguém, as entidades relacionadas com a sinistralidade rodoviária deveriam estudar e publicar as correlações entre o abandono escolar e o furto e despiste de automóveis e, sendo certo que o abandono escolar está correlacionado com a incapacidade parental, intelectual ou financeira, para assegurar a educação dos filhos, deveriam também estudar e disseminar os resultados do estudo sobre as correlações entre a sinistralidade rodoviária e a incapacidade parental, intelectual e financeira.





Sem comentários:

Enviar um comentário