terça-feira, 26 de junho de 2012

Semiótica, a interpretação dos sinais dos governantes

Um dos interesses dos blogues é o de permitir aos psicólogos e sociólogos recolherem elementos para avaliação da vida quotidiana dos cidadãos e cidadãs.



Do ponto de vista de quem escreve, há ainda a irresistível necessidade de exprimir o que se pensa de fenómenos que nos afetam.


Para este humilde escriba, a semiótica dos decisores é uma fonte de grande interesse.


Por se ver por exemplo o senhor ministro de voz pausada encravado com o reconhecimento de que receita fiscal, ao fim de 5 meses, caiu 2,8% relativamente ao ano anterior. Ele foi avisado, inclusivamente por correlegionários seus, dos malefícios da lei de Laffer, que chega um momento em que aumentar impostos significa perda de receita. A forma como se exprime, e por isso invoco a semiótica, indicia pouca capacidade em relacionar os seus cálculos financeiros com as leis da física e com a técnica de navegação.


Indicia uma fé cega nos objetivos, só desmentida quando é evidente o afastamento do objetivo (é a diferença entre a ciência e o senso comum: a demonstração cientifica dispensa a evidencia próxima) paradoxalmente à prática da marcha à vista.


No fim dos anos 40 do século XX, Norbert Wiener desenvolveu a teoria da predição, que no fundo foi a generalização do que os engenheiros militares balísticos já sabiam. Por isso não é aceitável virem senhores ministros das finanças e primeiros ministros dizerem que “ainda é cedo” para considerar seja que medidas forem, embora tristemente (indiciando, pela calma forçada e contida com que respondem a acusações de graves atentados aos princípios da democracia, uma preparação específica) vão colocando a hipótese de afinal não atingirem o défice objetivo sem renegociação (podem sempre justificar que os condicionalismos externos a isso obrigam, uma vez que que parece estar esgotada a desculpa do governo anterior).


Em marinharia, desprezam-se os navegadores à vista, os que só reagem à vista do rochedo, os que não sabem ler uma carta, nem identificar os rochedos e as ameaças à navegação, nem traçar uma rota de longa distancia considerando os desvios devidos às influencias externas das correntes e dos ventos.


Ministros das finanças e primeiros ministros que navegam à vista ignoram as conquistas da ciência, e só colocando a ciência na equação, como costuma dizer o professor Carvalho Rodrigues, a rota será segura.


A surpresa com os números do desemprego (excluindo a hipótese hipócrita de que os governantes apenas estão a aplicar a lei de Philips de modo a reduzir a procura e as importações) e da redução da receita fiscal assim o mostram.


De 1 de Janeiro a 31 de maio de 2012:, relativamente a igual período de 2011:
- aumento do IRS de 13,1% para 3.333 milhões de euro
- redução do IRC de 15% para 1.819 milhões de euro
- redução do IVA de 2,8% para 5.719 milhões de euro

PS em 2 de julho de 2012 - defice público no 1ºtrimestre de 2012:  7,9% do PIB; sendo o objetivo para 2012 de 4,5%, seria necessário que em cada um dos três trimestres seguintes o défice fosse de 3,4%, o que parece muito dificil com as medidas trecessivas tomadas pelo governo. Entretanto, ignora-se qual o défice privado, de particulares, de bancos e de empresas, o que significa que não está a haver monitorização e controle do endividamento; tinham pois razão os econmistas que reivindicaram uma auditoria à dívida, para se saber para onde está a ir o dinheiro. Enfim, malefícios do contexto.

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