segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

No melhor pano cai a nódoa – reflexões sobre acidentes





Janeiro, mês de acidentes - Janeiro de 2013 foi um mês fértil em acidentes ferroviários: Egito, Eslovaquia, Indonesia, Suíça, Suécia, Áustria, Portugal, África do Sul.
Não comentei ainda neste blogue o acidente na Suíça, em Nehausen am Rheinfall, no dia 10.

Colisão na Suíça - A locomotiva de um comboio suburbano de duplo piso, ao mudar de via num aparelho de via à entrada da estação de Neuhausen, colidiu, durante a mudança de via, com a testa de um suburbano ligeiro que tinha acabado de sair da estação.


o comboio com locomotiva procedia em contra-via da estação de origem da linha e estava a mudar de via

hipótese: a locomotiva descarrilou antes de embater no suburbano ligeiro

o Reno em fundo



17 feridos e suspeitas e hipóteses várias.
Porque estavam dois comboios com sentidos diferentes na mesma via, numa zona de via dupla, sendo necessário a um deles mudar de via ? porque vinha o comboio com locomotiva em contra-via desde a estação anterior, origem da linha? Procedimento habitual de lançamento de comboio na hora de ponta?  Terá havido não cumprimento da sinalização ou imprudência do condutor do suburbano, que ao arrancar da estação não terá considerado a possível menor aderência devido às condições atmosféricas, e não terá conseguido “segurar” a sua composição antes do “distrito” (limite a partir do qual está a ocupar o espaço do comboio que está a mudar de via)? Ou terá havido um descarrilamento prévio do comboio com locomotiva devido a má operação da agulha (lança reta indevidamente encostada e lança curva na posição de mudança de via, por exemplo, é o suficiente para um descarrilamento por galgamento por falta de bitola)?
Mas, claro, dado o carater circunspeto dos suiços, é provável que fiquemos por aqui quanto à explicação do acidente.
A referencia neste blogue é feita apenas para sublinhar os riscos nas zonas de agulha e que no melhor pano cai a nódoa, como se diz coloquialmente, mesmo que esse pano seja o da precisão suiça (o que apenas é motivo para reforçar as condições de segurança e subir o nível de exigência de aceitação de riscos).

Acidente do voo JAL123 - Lembrei-me de voltar a este tema ao ver o episódio do National Geographic dedicado ao acidente do voo JAL 123 com um Boeing 747 que ficou sem o estabilizador vertical em 1985.
As consequências foram catastróficas (520 mortos) .
http://en.wikipedia.org/wiki/Japan_Airlines_Flight_123

A causa do acidente foi uma deficiente reparação do anteparo da cauda para manter a pressurização interior (o anteparo tinha fendilhado na sequencia do toque da cauda na pista de aterragem, 7 anos antes). O erro foi da manutenção da JAL por falta de fiscalização (o responsável japonês da manutenção cometeu suicídio) e da oficina da Boeing que executou a reparação sem cumprir o projeto de reparação da própria Boeing. O anteparo e a emenda rebentaram por fadiga do material e a explosão subsequente arrancou o estabilizador vertical e cortou os tubos hidráulicos de comando, deixando o avião sem controle.
Mais uma vez em empresas com elevada credibilidade como a JAL e a Boeing se cometeu um erro básico.
Com a agravante das autoridades japonesas terem recusado a ajuda da força aérea americana para mais rápido acesso ao local do acidente (o que provavelmente teria permitido que o numero de sobreviventes fosse maior do que 4).
Com a agravante do mesmo tipo de acidente se ter repetido em 2002, motivando uma intervenção coerciva do NTSB (National Transportation Safety Board) e da FAA (Federal Aviation Administration).
Como se vem repetindo neste blogue, o objetivo da investigação de acidentes e da participação pública no debate correspondente não é punir responsáveis e expô-los no pelourinho.
É evitar que os acidentes se repitam.
Parece mais importante.

Aluimento em Alcântara no balastro da linha de Cascais - O que me leva agora a interrogar-me, depois de ver a noticia de que tinha surgido um buraco de 1 m de diâmetro junto do balastro da linha de Cascais, na estação de Alcantara, e fendas transversais no asfalto das faixas rodoviárias, se não seria melhor esclarecer publicamente a questão.
É que o aparecimento de um buraco no solo significa que houve um arrastamento de inertes por uma linha de água, que pode ser uma linha de água  subterrânea ou uma conduta cuja água transporta os inertes (pelo que será inútil tapar o buraco; a àgua continuará a arrastar os inertes); mesmo que o buraco advenha da derrocada de uma conduta, o mais prováel é essa derrocada ser devida a um arrastamento de inertes.
É que o local é de aterro, executado no século XIX (Eça de Queirós e Antero do Quental deixaram referencias à obra a decorrer).
Fica a menos de 300 m do caneiro de Alcântara (parece que o caneiro foi bem dimensionado, mas a manutenção é cara ao longo dos anos, e há duvidas quanto ao comportamento e à capacidade de retenção da bacia de Alcântara em caso de precipitação anormal).
Diz a noticia que havia um aqueduto seco por baixo (possivelmente não estaria seco se houve arrastamento de inertes).
Não estará relacionado, embora distante, com o caneiro de Alcântara?
Ou com as recentes obras das condutas para a ETAR que trazem os esgotos do Terreiro do Paço?
Penso que a opinião pública deveria ser informada de tudo o que possa dizer respeito a isto.
Bem basta não existir disponibilidade financeira para executar o projetado nó ferroviário (cujo projeto sempre foi duramente criticado neste blogue) , nem para remodelar o material circulante e as infraestruturas da linha de Cascais, que já ultrapassou o limite da obsolescência técnica e económica (apesar da excelente intervenção da EMEF na parte de tração e controle e renovação da caixa do material circulante nos anos 90).

O problema da linha de Cascais - Perante a desesperada necessidade de investimento, lá teremos de esperar do atual governo, invocando o desesperante memorando com a troika, que proponha as concessão a privados da linha de Cascais.
O problema está em que esses mesmos privados não acreditam em contos de fadas e, por maior que seja o período de concessão, mesmo a la Carris no inicio do século XIX, não quererão fazer investimentos de que não possam recolher retorno nem deixar de receber uma indemnização compensatória (lá vamos outra vez para o investimento a cargo dos contribuintes, e o lucro da exploração para os privados).
Pelo que não vejo outra solução que não seja candidatar o projeto “chave na mão” da nova linha de Cascais, desde que bem elaborado, aos fundos europeus do horizonte 2020 (embora o atual governo prefira desviar os fundos para empresas meritórias na sua dimensão, mas sem o efeito multiplicador de um investimento público deste tipo; depois até podiam concessionar a exploração; até podia ser um dos termos da candidatura, para amaciar as fúrias privatizadoras dos eurocratas; desde que o concessionário pagasse uma renda interessante para as finanças públicas; coisa de que duvido, o ser interessante para as finanças públicas, onde se viu as cochonilhas a cuidarem do limoeiro?).


























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