domingo, 16 de junho de 2013

Nós, os portugueses, contra Einstein

Gosto dos portugueses, claro, mas isso não deve impedir a auto-critica.
Os portugueses têm o grande defeito de se fecharem em círculos restritos, fechados a uma visão integrada e abrangente.
Há quem se queixe de que os portugueses não valorizam o que fazem, mas reparem na preocupação que eles têm em acharem que são os melhores do mundo, que os seus atores são muito bons, que os seus jovens cientistas têm a comunidade científica aos seus pés, que os nossos criadores de moda são os  melhores, que os gestores das nossas empresas são muito bons, que o nosso vinho é melhor do que o espanhol (evidentemente que para umpaladar habituado desde criança a umtipo de bebida, uma bebida difernte não é tão agradável), que o nosso sol e as nossas praias são melhores do que as do Mediterraneo, que os jogadores de futebol portugueses são os melhores, etc, etc. Até no caso dos senhores ministros há portugueses que acham que fazem muito bem e outros que são extremamente incompetentes.
Trata-se de um sintoma típico de insegurança, quer as queixas de subvalorização, quer as gabações.
O grande e nocivo problema é que este defeito de considerar uma minoria como o suprasumo é uma forma de imobilismo que impede o progresso.
Não se consegue sair do círculo vicioso da mediocridade.
Prevalece o culto dos bonzos e do magister dixit.
Qualquer área de atividade é normalmente dominada por um grupo que se fecha à penetração do exterior.
O imperativo da renovação dos elementos dominantes defronta-se com o problema de que os sucessores (delfins, na gíria) só poderão vingar por subserviencia e incapacidade de contrariar o pensamento dominante.
Existem então duas classes de bajuladores: uma. de sinceros bajuladores que evidenciam a sua incompetencia, e outra de bajuladores disfarçados que esperam a sua oportunidade.
Nenhuma é saudável, nenhuma contraria o unanimismo.
Qualquer oposição que possa trazer nova luz à discussão é considerada uma afronta aos elementos dominantes, evidenciando claramente a sua insegurança e receio de perda.
Quer se trate de um clube de futebol, do executivo de uma câmara municipal, ou do governo.
Perante o avolumar dos problemas, decide-se reforçar o unanimismo e proclama-se a necessidade de consensos, agravando o problema.
Os governos nomeiam pessoas da sua confiança oriundos dos meios restritos em que se movem.
Porque os meios são restritos, sobrepõem-se as atividades na esfera pública e na privada, com conflitos de interesses escolasticamente negados, mas promíscuos na realidade.
A necessidade é outra, é a de dissensos, para que todas as hipóteses sejam analisadas e possa ser escolhida uma solução com plano de recuo (plano B) e com monitorização de resultados.
Tudo isto exigiria uma formação teórica e prática no método científico e a aplicação de princípios da física e da matemática, nomeadamente da estatística , da recolha de dados e do seu tratamento.
Não é isso que se vê, com a agravante da crónica dificuldade portuguesa da interpretação de textos (outra forma de insegurança radicada na precipitação com que se escolhe a primeira interpretação que parece ameaçar as convicções próprias).
Por isso as medidas que se tomam vão normalmente no sentido contrário ao que poderia aliviar o problema.
Veja-se a questão da lei eleitoral, por exemplo, que se pretende mudar diminuindo a componente proporcional e, portanto, caindo no unanimismo imobilista e alienado de soluções inovadoras (pese o risco de soluções inovadoras, que como tal exigem monitorização e plano B).
Por isso digo que é um defeito dos portugueses, aceitar que lhes digam que não há alternativa.
Há sempre alternativa, pode é durar mais tempo do que o desejável.
Nada há de determinista na natureza.
Nem a estupidez humana, que Einstein me perdoe, ele que tinha menos dúvidas sobre a expansão infinita dela do que sobre a expansão do universo.



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