terça-feira, 11 de junho de 2013

Psicologia do poder politico em Portugal

Nós portugueses somos um bocadinho diferentes, não muito, mas  o suficiente para caraterizar algumas síndromas.

1 - os eleitores delegam, na prática apenas no primeiro ministro e no presidente da República, em detrimento da sua representação por deputados, governantes e poder judicial; sintoma de que não participam (aliás a elevada abstenção confirma-o); na realidade, a burocracia e os formalismos predominantes dificultam a compatibilização da vida particular de cada um com a representação por deputados ou grupos de cidadãos; é uma falha grave da democracia, com o carater direto, que deveria ser assegurado pelas freguesias (no sentido exatamente oposto, o atual governo extinguiu freguesias) e um sistema de comunicação destas com o poder central,cada vez mais longínquo e uma legião de comentadores a criar ruído;

2 - o poder executivo tem tendencia a considerar-se a sede do poder legislativo, através do controle  pelos poucos do executivo dos mais deputados no Parlamento do partido ou partidos com maioria relativa ou absoluta. O controle por poucos consegue-se através de mecanismos eleitorais internos dos partidos, com a agravante da tendencia de polarização do pensamento desse partido em torno do seu dirigente máximo; trata-se duma falha interna do partido que limita a escolha do primeiro ministro e, consequentemente, a sua qualidade técnica e gestionária deixando de fora personalidades mais competentes. Primeiro nos partidos e depois no seio do executivo, a opinião cristaliza ou polariza-se em torno de um ou dois governantes chave, em pensamento unico, as mais das vezes configurando um modelo de representação da realidade que a simula muito mal (como se pôde ver pelo falhanço dos multiplicadores da recessão em função da austeridade e do crescimento da dívida e do desemprego)

3 - os governantes atuais comportaram-se como os jovens inexperientes que chegam a uma empresa e paralisam os orgãos e alteram a estrutura; ensinam os especialistas de gestão que por pior que funcione uma empresa, são maiores os prejuizos de uma paralisação instantanea do que transição progressiva e participada; a paralisação do tunel do Marão e do troço Poceirão-Caia (que já previa uma linha de mercadorias) e as informações de que o atual governo afinal a quer desbloquear, e a obsessão de cortar despesas públicas e reduzir os quadros de pessoal, são um bom exemplo desta furia destrutiva do trabalho dos outros;

4 - igualmente o conflito geracional que os novos governantes criaram a propósito da redução das receitas da Segurança Social e dos cortes das reformas configura um comportamento semelhante ao  dos guardas da revolução na revolução cultural maoista, perseguindo os acusados de conduta burguesa e prática de uma cultura contrária ao interesse nacional; em  domínios como este, é como se o MRPP tivesse subido ao poder para terminar com os privilégios dos burgueses e social-revisionistas dos anos 70 do século passado (guardadas as devidas distancias, dado que os apoiantes do atual governo não andam a atacar fisicamente ninguem, contrariamente ao que faziam os militantes do MRPP nos tempos da militancia do atual presidente da Comissão Europeia);

5 -da mesma forma, a aplicação do pensamento único tem o objetivo muito restrito de entregar a atividade económica a grandes grupos económicos ou financeiros, suportado por uma pequena parte da opinião pública que tem horror à participação cidadã e à prioridade ao interesse coletivo e ao Estado de bem estar (por isso este é apodado de Estado assistencial ou previdencial, com a conotação negativa dessa designação), tudo subordinado à teoria de Hayeck e de Friedman como modificadora da estrutura da sociedade, configura uma prática estalinista e vanguardista de imposição desse pensamento único com menosprezo e calúnia de qualquer oposição. Um bom exemplo é a necessidade já reconhecida pelo governo de renegociação de tempo e taxas de juro, coisa que desde os primeiros dias do memorando os partidos de esquerda tinham reclamado no Parlamento (guardadas as devidas distancias entre a prática sanguinária de campos de concentração de uns e a prática desprovida de empatia dos atuais governantes para com as vítimas dos cortes nas despesas assistenciais e de saúde e da politica de desemprego necessária à contenção de custos)

6 - a inexperiencia e o isolamento da realidade dos atuais governantes leva-os ainda a ignorar os riscos da política suicida de dependencia alimentar e energética do exterior , satisfazendo-se com indicadores de melhorias em áreas restritas, como o sucesso de algumas, poucas, grandes empresas agroindustriais ou empresas de importação e processamento de combustíveis fósseis; esta é a atitude normal de quem não compreende o funcionamento real da economia nem das atividades primária e secundária, embasbacando-se com o aparato e a imagem dos setores terciário e quaternário a que associam como quinta essencia a inovação.

7 - o encantamento e a obsessão dos atuais governantes com as teorias de Haieck e Friedman pode seguir os mesmos esquemas mentais da reação das crianças que não aceitam a disciplina escolar e aderem com entusiasmo infantil às  teorias demolidoras do ordenamento que rejeitam; no fundo encaram estes pais da revolução da nova economia como justiceiros libertadores e tentam emulá-los; as críticas das pessoas mais experientes e sensatas são recebidas como prova de que estão certos e acabam por desencadear os mecanismos cerebrais de satisfação dos centros de prazer;
8 - finalmente, o comportamento dos atuais governantes, muito dependente de critérios de imagem e marketing, reproduz o comportamento de crianças mal comportadas quando são apanhadas: apressam-se a chamar a atenção para as falhas dos outros para ver se escapam à censura dos educadores. Não faltam exemplos, como a insistencia nos erros do governo anterior (que são de facto evidentes, que foram atempadamente registados neste blogue, mas que não contribuiram tanto para o desastre como os atuais governantes querem fazer crer), quando já está comprovado que o comportamento do setor bancário e financeiro, interno e externo, com a especulação, a bolha imobiliária e a subida das taxas de juro,e a abertura da União Europeia à Europa de Leste foram os principais fatores para o desastre. A recente perseguição aos comissários politicos membros de administrações de empresas públicas associados a contratos swap é também exemplo de uma furia justiceira para encandear a opinião pública, sem esclarecer convenientemente as cláusulas prejudiciais e desviando a atenção das verdadeiras razões da divida das empresas públicas: o crescimento das taxas de juro dos empréstimos, o investimento por conta das empresas em vez de sair do orçamento do Estado ou em maior percentagem dos fundos QREN e os preços artificialmente baixos dos títulos de transporte; o paradoxo é evidente, quando os derivados credit default swap são uma emanação das teorias de livre mercado financeiro tão do agrado dos atuais governantes; o criticável na triste história dos swap é a submissão à banca e à finança, coisa que o atual governo é o primeiro a dizer querer respeitar especialmente quando desfralda a bandeira da conquista da confiança dos mercados (os swap são um produto típico "dos mercados"). Outro exemplo é a recente acusação de ocultação de uma auditoria aos Estaleiros de Viana do Castelo; é verdade que o comportamento do governo anterior foi incorreto ao nomear alguns comissários politicos para a adminstração dos estaleiros e ao deixar na gaveta a auditoria realizada pela inspeção de finanças em 2009, mas também é verdade que o que lá vem é do conhecimento público de quem tem seguido a triste, tristissima novela dos estaleiros. Mais grave, muito mais grave é o atual governo ter deixado passar 2 anos sem ter tomado medidas de recuperação para os estaleiros (nomeadamente ter deixado passar tempo demasiado para o cumprimento do contrato dos asfalteiros venezuelanos e deixado apodrecer o caso do Atlantida, casos que não têm nada que ver com a auditoria ocultada). E a propósito disto, um esclarecimento para quem ainda não reparou: as diretivas europeias falam explicitamente que, em casos de defesa, que é o caso dos estaleiros e dos seus "patrulhões" construidos e por construir, um estado europeu é livre de injetar o capital e por isso o estado português não tem que "devolver" 181 milhões de euros. O próprio comissário Almunia já reconheceu que os estaleiros de Gdansk também receberam fundos públicos.
Defesa Nacional está fora das leis da concorrencia, o que é lógico, porque se não estivesse, a lei da concorrencia estaria a prejudicar a segurança militar de um estado. Pode não ser o entendimento dos gabinetes de advogados que os senhores governantes contratam para analisar este caso, e devo reconhecer que os senhores ministros e os senhores deputados da comissão de defesa do Parlamento têm mais experiencia do que eu de trabalho conjunto com esses advogados (por exemplo, o atual e o anterior presidente da comissão de defesa do Parlamento são sócios do mesmo escritório de advogados). Assim, para não se crer numa promiscuidade entre gabinetes de advogados e poder político, teremos de considerar, a exemplo dos professores que detetam dificuldades de interpretação de textos nos seus alunos, a hipótese de perturbações no desenvolvimento cognitivo (capacidade de reconhecer e processar padrões e imagens).

Conclusão - os factos anteriores recomendam o que já se propôs neste blogue: que os atos dos senhores governantes sejam submetidos a uma análise cuidada por parte de psiquiatras cujo relatório deveria ser tornado público.


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