terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Do mesmo modo que uma fatalidade... ou de como falham bons projetos

Do mesmo modo que uma fatalidade que nos afeta a todos, é esta maneira tão portuguesa de enrolarmos as coisas e deixar que uma variável saia do domínio em que é inofensiva e se conjugue com outras para produzir uma inconformidade.
Ou dito por outras palavras, porque tem de ser assim, esta descoordenação e esta incapacidade de prever os efeitos negativos do que fazemos?
As fotografias não mostram nada de grave.
O que é fotografado não é grave, apesar de exibir em pano de fundo a crise dos saldos e da pouca procura no consumo e o bairrismo inocente de normalizar a cor das alcatifas de rua à porta das lojas, consoante o bairro (talvez seja mais grave  o apelo documentado pela montra da agencia de viagens, a estimular a exportação do nosso pouco dinheiro).
Mas o mecanismo que leva a este estado de coisas é, sim, grave, e amplia-se e estrangula-nos, porque os bons projetos acabam em desvios.
Talvez não a todos, mas a muitos.

A água que cai nos telhados deve ser drenada para o sistema de esgotos pluviais.
Sob pena de ultrapassar a carga admissível pela cobertura.
Há muitos anos um concidadão nosso, já desaparecido, projetou estas caleiras encastradas na calçada à portuguesa, pré-fabricadas, em cimento com pedaços de vidraço e face reticulada e polida, o tubo de escoamento por dentro, a todo o comprimento.
O modelo espalhou-se por todo país.

A normalização embarateceu os custos de produção.
Mas o projetista não contou com o uso massivo dos passeios para estacionamento automóvel.
As caleiras estão sempre a partir-se e gerar poças no caminho das pessoas.
Felizmente não é o caso aqui, neste passeio, sujeito a fiscalização da EMEL.
E também não contou com a forma expedita, para que os senhores com responsabilidades autárquicas fiquem bem vistos pelos eleitores, como os empreiteiros lançam tapetes de asfalto para recobrir os pavimentos fustigados pelos rodados dos pesados e dos ligeiros que desaceleram positiva e negativamente a taxas superiores às admissíveis pela integridade dos pavimentos.
É o que se vê na segunda foto.

As saídas dos tubos de drenagem sufocadas pelo asfalto adicional.
E então, voltemos à primeira foto, o tubo de queda deixou de abocanhar o tubo de escoamento horizontal,e lança , em jorro alegre, toda a água que pode no caminho das pessoas.
Funciona? funciona.
De acordo com o projeto?
Não, não funciona de acordo com o projeto idealizado.
É uma pena, o projeto até era interessante.

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