domingo, 30 de março de 2014

De março de 1974 a março de 2014

28 de março de 2014 - foto no MSNBC
29 de março de 1974, da esquerda para a direita, um cantor que não consigo identificar (José Barata Moura?) e a Ana Maria do Introito, Manuel Freire, José Jorge Letria, Vitorino, Fausto, José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Nuno Gomes dos Santos, Isabel Maria e Luis Pedro Faro do Quarteto Introito, Maria do Amparo e Carlos Moniz - foto na Visão/História nº20 de abril de 2013, Arquivo da Torre do Tombo     (nota: feita uma correção na legenda)






40 anos separam as duas fotografias.
Sobre o palco do Coliseu dos Recreios de Lisboa o canto de intervenção e resistencia à incultura e à violencia da guerra em 29 de março de 1974.
O canto rememorativo e tambem resistente à incultura e à violencia da politica de empobrecimento em 28 março de 2014.
Porém a resistencia de agora não é organizada.
Um dos oficiais do 25 de abril de 1974 no Terreiro do Paço sintetizou, o país é agora uma colónia alemã.
Era diferente em março de 1974, a canção de intervenção havia anos que vinha fazendo o seu efeito nas coletividades de cultura e recreio, em espetaculos proibidos pela PIDE e pela GNR, disseminando lentamente  sua mensagem para uma sociedade participativa e não violenta.
Agora é dificil competir com a dispersão televisiva, com os concursos caça talentos em que se valoriza a imitação aos gritos das canções anglo saxónicas, com o alheamento pelos cantores portugueses das realidades culturais e sociais.
É grande tambem a dificuldade de entendimento entre eles para ações comuns.
Como não se deve voltar aos locais onde se foi feliz, tambem não de deve repetir tal e qual o que foi uma ação eficaz noutros tempos contra outros governos opressores.
Mas seria muito bom que cantores como Rui Veloso, Sergio Godinho, Paulo de Carvalho, Pedro Abrunhosa e outros dos mais antigos, Filipa Pais, os Deolinda  e outros dos mais novos, tratassem mais nas suas canções a ligação da juventude à realidade e à luta contra o desemprego e a colonização atuais, em espetáculos por esse país fora, lentamente disseminando a mensagem.
Ou talvez , em vésperas de eleições europeias com a esperança de que o novo parlamento possa alterar a origem da colonização, seja eu a divagar, para que alguém possa dizer, "que parvo que sou"...


sexta-feira, 28 de março de 2014

Não, não está tudo bem - Notícias dos reformados do metropolitano


não, não está tudo bem


A militante sindical reporta o impasse.
Aguardamos que o Tribunal Constitucional se pronuncie sobre a inconstitucionalidade dos cortes dos complementos de reforma.
Receamos que a pressão nos meios de comunicação social induza o tribunal a deixar passar a título excecional.
Mas maior é o receio de que os cortes no metropolitano nos gastos de manutenção e nas despesas com pessoal  baixem o nível de segurança na circulação dos comboios.
A militante sindical dá conta da manifestação desse receio e dos seus fundamentos reais em reuniões que tiveram no ministério.
Que está tudo bem, dizem do lado do governo, que é essa a informação que recebem dos gestores.
Não, não está tudo bem.
Explorar metropolitanos exige o cumprimento de rigorosas medidas de segurança.
Que têm evidentemente custos.
O recente incidente de um comboio que deslizou em dia de chuva até descarrilar no acesso do parque de material á estação do Campo Grande é um exemplo dos elevados riscos que se estão correndo.
Os comboios estão circulando sem a travagem eletromagnética ativa (permite a adesão de eletroimans aos carris), pelo que o comboio envolvido no incidente deslizou até à linha em que podia circular outro comboio.
Este é um facto inegável ligado à redução de custos no programa de reparação e reposição em serviço da travagem eletromagnética.
Os metropolitanos existem para reduzir desperdícios no consumo de energia nos transportes, considerando a menor eficiencia energética do transporte individual.
Por isso reduzir encargos com os metropolitanos que reduzam a sua eficiencia é contribuir para um aumento do desperdício energético.
Sabendo-se como o país é dependente do exterior em energia primária, cortar despesas no metropolitano que reduzam a sua eficiencia é um ato imples de sabotagem económica, não é um meritório, para os padrões do governo, de equilibrio orçamental.
Tudo isto deveria ser explicado à troika, para que compreendesse que os cortes não podem ser cegos.
Mas não é essa a posição oficial.
Por isso continuam os reformados do metropolitano, considerados pela comunicação social como uns privilegiados vindos do tempo do desperdício em gastos sociais, a ver os seus contratos de reforma em incumprimento (quando uma parte não cumpre pode ser alvo de ação depenhora dos seus bens, isto é, os reformados poderiam apropriar-se de ativos da empresa) e a concentrarem-se em frente do ministério da economia (que sabe de transportes o senhor ministro da economia ?) enquanto a militante sindical entrega a moção sobre a segurança da exploração ao senhor chefe de gabinete e outra militante, cá fora, grita com voz bem colocada as palavras de ordem - parem de roubar quem passou a vida a trabalhar.

em frente do ministério, "parem de roubar quem passou a vida a trabalhar"




Não em meu nome, a privatização dos serviços públicos de tratamento dos lixos

Não em meu nome.
É verdade que a privatização dos lixos fez parte do memorando assinado com a troika pelo PS, PSD e CDS.
Mas ninguem é infalivel nem obrigado a conhecer todos os pormenores de um negócio.
E aqui quem assinou enganou-se, ou ignorou dados relevantes.
Isto se não quisermos por a hipótese de má fé ou dolo para prejuizo público para beneficio de poucos, o que configuraria motivo suficiente para anular a cláusula do memorando.
A EGFdetem 51% do capital de 11 empresas intermunicipais.
O diligente governo espera vendê-la por 200 milhões de euros.
O Estado investiu 1000 milhões de euros, que são os ativos da empresa (em 2012 investiu 45 milhões).
Os 200 milhões de euros servirão para abater na divida pública de 210.000 milhões.
Os lucros da EGF nos ultimos 3 anos foram de 62 milhões de euros.
É este rendimento, que poderia ser utilizado na redução do defice, que se vai perder, transferido para um grande grupo do ramo e seus associados banqueiros.
Como diz Medina Carreira, esta privatização é mais um disparate de um governo que perdeu a cabeça.
Candidatos à privatização: Mota Engil/SUMA, Sound Global de Hong Kong/Teixeira Duarte, Odebrecht, DST de Braga.
Mais uma vez, grandes escritórios de advogados e grupos financeiros "assessoram" o ministério no processo de privatização: Citigroup, Banco BIG, Morais Leitão.
É o regime oligárquico (governo de grupos) e plutocrático (governo do dinheiro) em que vivemos e em que não deviamos viver por contrariar o principio da igualdade de direitos.
Tambem o principio da sustentabilidade ambiental é ameaçado pela prevalencia do lucro (quanto mais lixo se produzir mais a empresa lucrará).
                                                                    fonte:   www.stal.pt

terça-feira, 25 de março de 2014

A colina da saudade


Exmo Senhores

Assunto: Comentários ao estudo prévio de urbanização da zona do Campo dos Mártires da Pátria

Infelizmente, não me foi possível, durante o período de debate público, documentar-me e estudar em profundidade a vossa proposta para o reordenamento da zona do Campo dos Mártires da Pátria.
Venho assim, provavelmente a destempo, invocar alguns princípios que julgo deverem prevalecer sobre quaisquer decisões.
1 - manutenção da identidade - os cidadãos têm direito à manutenção da identidade de parcelas significativas das suas cidades, incluindo os  moradores de outras zonas. Por isso, é correta a designação para esta zona de "colina da saúde", apoiando a existencia significativa de estabelecimentos de ensino de medicina e enfermagem, de investigação de medicina e farmaceutica e de estabelecimentos hospitalares 
2 - centralização versus descentralização - 2.1 perante os progressos verificados na gestão informática e nas tecnologias de comunicação, a centralização num grande hospital pode não ser a melhor solução quando comparada com a manutenção de unidades locais mais antigas. Acresce: 2.2 os elevados custos de manutenção dos hospitais antigos são  mais devidos à falta de especialização e a pequena dimensão e falta de regulação do mercado de obras de reabilitação do que a custos mais vantajosos de construção nova; 2.3 - quando se centraliza, deverão contabilizar-se numa analise completa de custos beneficios os prejuizos de maiores percursos para o ponto central e da congestão das movimentações internas com longos percursos 2.4 existem exemplos em Nova Iorque e em Paris de hospitais a funcionar nas mesmas instalações há mais de cem anos.
3 - programa base de reordenamento - considerando o anterior, discorda-se de programas base   fundados no aproveitamento urbanistico dos edificios ou dos terrenos dos antigos hospitais; como os profissionais sabem melhor do que eu, uma zona urbana deve ter percentagens de zonas verdes, de equipamentos sociais, de escritórios, de habitação , de oficinas (as tecnologias permitem controlar os ruidos e as emissões nocivas), de comércio; essas percentagens deverão ser estudadas em várias hipóteses de reordenamento, para que os cidadãos possam escolher entre modelos diferentes, em debate público com divulgação pela internet, em vez de se aguardar que apresentem propostas
4 - entidades para elaboração dos programas base - os programas base do numero anterior deverão ser elaborados não por concurso ou seleção da entidade elaboradora,  mas em concursos de ideias abertos
5 - reabilitação de edificios - nas subzonas em que os edificios particulares devam manter-se,será conveniente proceder-se a emparcelamentos ou fusão de numeros matriciais para garantir a comodidade e atratividade dos novos fogos (onde existiam 3 fogos poderá ser necessário passar a haver apenas 1, de modo a garantir estacionamento coberto e divisões habitacionais maiores)
6 - ligação às principais linhas de transporte - por razões de eficiencia energética, deverá evitar-se o transporte individual e coletivo rodoviário com combustíveis fósseis. Deverá assim privilegiar-se os percursos pedonais, de bicicleta, de veiculos elétricos, incluindo infraestruturas de carregamento, e, para ligação transversal (sentido leste-oeste) e longitudinal (sentido norte-sul) com correspondencia comas as linhas d emetropolitano, deverão prever-se futuras linhas de transporte "on demand" em sitio próprio e cabinas automáticas em viadutos desmontáveis pré-fabricados, obrigando a algumas demolições

PS em 27 de março de 20\14 - leio no DN que o senhor presidente da câmara de Lisboa garantiu em Assembleia Municipal que vai ser elaborado um PAT - Programa de Ação Territorial e que só depois será retomada a apreciação dos PIP - Pedidos de Informação Prévia que prevê a reconversão dos 4 hospitais em hoteis ou habitação.
Eu tenho humildemente de reconhecer a legalidade do procedimento e a representação legitima do presidente da câmara e da assembleia municipal.
Mas tenho tambem o direito de lamentar o que me parece ser a demagogia que tudo isto representa.
O senhor presidente, do alto da sua maioria e simpatia que consegue concitar junto dos eleitores, apesar de mais de uma vez demonstrar a deficiente preparação em assuntos técnicos (ficaram célebres os casos do contrato da corrida aérea Red Bull, a imposição da altura de 5 contentores em Alcantara quando a Liscont apenas empilhava 4, a lei que fez sobre o endividamento das câmaras que inviabilizou um pedido de empréstimo que mais tarde fez, as áreas que ficaram sem cobertura de forças policiais quando "reformou" a PSP e a GNR, as duvidosas economias na centralização das freguesias da Baixa, na descentralização das competencias para as freguesias e na indemnização à Bragaparques (que na minha humilde opinião não deveria receber um centimo  por ter tentado enriquecimento na sobrevalorização dos terrenos do Parque Meyer e na desvalorização dos terrenos de Entrecampos)).
Mas enfim, o senhor presidente não faz isso por  mal, nem por mal acredita acriticamente no que os rodeiam, uns que põem os critérios técnicos acima dos politicos e outros não. E a verdade é que os eleitores gostam do senhor e, provavelmente porque a maioria das pessoas não  liga aos pormenores técnicos (por alguma razão a iliteracia em matemática e em física é muito forte entre os portugueses), votam mesmo nele e eu tenho de suportar as consequencias da vontade da maioria.
Porém choca-me, provavelmente por defeito da minha sensibilidade, o ar convencido com o senhor pretende evidenciar uma democraticidade de procedimentos que a  mim me parece falsa.
A recolha de contributos em assembleias em que a pessoa tem de pegar no microfone e falar para a plateia é tudo menos um processo democrático; qualquer pessoa com experiencia em congressos sabe que os participantes devem ser divididos em pequenos grupos e os relatores de cada grupo apresentarem os resultados num painel de conclusões; a internet permite uma preparação prévia, uma circulação das propostas por todos os interessados e a monitorização da inclusão das propostas no trabalho final. Não foi isso que se fez.
Seriam ainda bem vindos concursos de ideias em que grupos de estudantes de arquitetura pudessem participar (a história da ópera de Sidney diz alguma coisa?). 
No fundo, está-se a seguir um processo que vai acabar por não impedir a desativação dos 4 hospitais, nem a construção do novo hospital central, nem resolver o absurdo de uma empresa pública, a Estamo, que compra coisas ao Estado. 
Está-se a validar, sob a capa de um procedimento democrático, a decisão autocrática, ou melhor, oligárquica (poder de grupos), ou ainda melhor, plutocrática (poder do dinheiro).
E é pena, a colina da saude, os seus habitantes e os lisboetas não mereciam que ela se transformasse numa colina da saudade do que ela foi e do que poderia ter sido.   


Self service low cost

O restaurante tinha um letreiro na montra: "self service low cost".
Na mesa ao lado da minha, dois homens um pouco  mais velhos do que eu conversavam, o menos velho dos dois mais falador.
Falava alto porque o parceiro devia ser surdo.
- Já disse à Tania, cortei na televisão e no telefone. São para aí 40 euros.
Na verdade, os custos com telecomunicações subiram mais do que os da energia e água.
Os operadores de telecomunicações têm um tempo de retorno dos investimentos mais curto.
E têm grande massa de capital para investir.
A unica dúvida é se não estão, eles que vendem telemóveis com alarme para idosos sozinhos, e os senhores economistas que tomam decisões, a matar a galinha dos ovos de ouro.
É que pela conversa dos dois, parecia que até disporiam de ativos (possivelmente uma casa antiga).
Porém, esta economia moderna é assim, não permite aos comuns mortais a rentabilização de um ativo.
Por um lado, os pequenos proprietários estão descapitalizados, não podem investir.
Por outro, se por um bamburrio obtivessem capital para investir, nunca teriam retorno porque estamos em deflação (um investimento rentável hoje deixa de o ser nos anos seguintes porque o preço do produto irá baixar nesses anos seguintes).
Sinceramente, penso que não foi o mercado, apesar da insensibilidade das leis do mercado, que levou a isto. Acho que foi deliberado e concertado... pelos defensores das leis do mercado.
Mas sou eu apenas a achar.

segunda-feira, 24 de março de 2014

Contraluz no metropolitano



As imagens têm destas coisas.
Suscitam comentários e emoções.
Nunca se sabe o que está fora do campo de observação, se ameaças, se forças benfazejas, se indiferença simples.
E o desconhecido gera receios.
Nunca se sabe o que o objeto esconde, se por trás da árvore está a floresta do exército adversário.
Tão fácil fazer um filme de terror, desde que se usem as imagens. Mais dificil será fazer uma peça de teatro como Macbeth, donde vem a imagem da árvores a esconder a floresta.
Nesta fotografia, vê-se um comboio em contraluz, sobre o viaduto do Campo Grande.
Explorando a fotografia pode iluminar-se o campo de visão, divisar alguns passageiros, pormenores do desenho das guardas do viaduto.
Mas eu prefiro em contraluz.
O objetivo do metropolitano e transportar pessoas o mais rápido, confortável e seguro que economicamente seja razoável.
Não interessam aos beneficiários do seu serviço, no sentido de não deverem incomodá-los,  os pormenores técnicos da montagem do serviço de transportes.
O ideal seria o transporte instantaneo, sendo a infraestrutura de transporte perfeitamente transparente.
Não podendo ser, eis o contraluz, rasgando os céus de Lisboa.
Uma árvore entre o observador e o comboio, sem esconder a realidade por trás,  relembra as preocupações ambientais, outro dos fundamentos da existencia de metropolitanos, pese embora o apetite dos investidores pela facilidade do transporte rodoviário e as confusões que os senhores do governo e da troika geraram com o processo de concessões/privatizações.
Enquanto a secretaria de Estado dos transportes vai alimentando a fantasiosa ideia de fusão entre a REFER e a EP.
Juridicamente deve ser um caso interessante, embora os modelos juridicos sejam uma péssima imitação da realidade; economicamente deve ser mais fácil fazer recair o ónus das más decisões sobre um conselho de administração,em vez de dois; mas é pena não pensarem que as soluções jurídicas e economicas têm um vasto historial de afastamento da realidade.
As intervenções dos decisores do governo e da troika, mais do que os cuidados de um elefante numa loja de porcelanas, fazem-me lembrar o critério seguido em todos os metropolitanos, o de preparar a sala de comando de itinerários de forma a que um bando de orangotangos possa entrar, sentar-se à mesa e digitar todo e qualquer comando sem que os sinais fiquem permissivos e as agulhas se movam.
É o próprio sistema que rejeita ordens incompatíveis com a segurança, colocando-se num estado de imobilização.
No caso da gestão e das estratégias que vêm sendo seguidas não, confesso que a minha geração cometeu o erro de não ter preparado o metropolitano para resistir a tão desajeitadas intervenções.
Na sua sabedoria popular e ingénua, a maioria dos seus trabalhadores optará pelo procedimento do sistema de segurança quando operado por orangotangos.
Paralisará com greves contra as concessões/privatizações.
Não será uma reação racional, será simplesmente física.
Com o cortejo de incomodidades para a restante população que deveria ter um sistema de transportes operacional todos os dias.
Que zonas do cérebro, que grupos de neurónios desenvolvem a angustia no cérebro de quem trabalha que se sente ameaçado pelo desconhecido que não está na imagem do contraluz?
Podemos imaginar que será a mesma zona, o mesmo grupo de neurónios que excitaria os centros de angustia dos cérebros dos altos quadros do BP se lhes dissessem que os seus vencimentos seriam reduzidos de 60%, que o seu plano de pensões ia ser anulado, que o seu automóvel de serviço ia ser vendido.
Ou dos cérebros dos governantes que fossem informados que iriam ser julgados por gestão danosa e por omissão de deveres, num tribunal eficiente e respeitador do artigo da constituição que diz que incumbe ao Estado providenciar politicas de pleno emprego.
Mas eu sou conciliador.
Não serão apenas os interessados privados que deram sugestões para novas formas de financiamento do transporte público que permitam a concessão/privatização.
Eu repito as minhas sugestões para redução do desperdício energético nos transportes e financiamento do transporte coletivo, que há anos, na minha vida profissional e neste blogue, em  modestos trabalhos sem préstimo tenho formulado, por exemplo, no ultimo congresso da ADFERSIT, em outubro de 2013, em que um simpático ex-ministro da coloração do atual governo saudou a apresentação de sugestões para o governo saber o que deveria fazer:

  • limitação severa de velocidade em vias rápidas e em ambiente urbano, privilegiando as deslocações pedonais e em segunda prioridade em bicicleta 
  • penalização do estacionamento urbano 
  • portagens nos acessos às zonas centrais urbanas 
  • correspondencia com o TI em “park and ride” 
  • desenvolvimento de redes de aluguer partilhado de bicicletas e pequenos automóveis elétricos em pontos de correspondencia com o TC 
  • taxação extraordinária da venda de combustíveis 
  • criação de escalões de consumo de combustível 
  • benefícios fiscais para as empresas que paguem as deslocações em TC aos seus empregados ou clientes ou emitam cartões de desconto associados ao TC 
  • afetação do IMI ao financiamento do TC 
  • Taxação de empresas (0,5 a 1% dos salários) servidas pelo TC, tipo “versement” francês 
  • Concessão à empresa de TC, incluindo as mais valias, da urbanização de novos bairros servidos pelas suas linhas, tipo Hong Kong  
  • politica de reorganização urbanística e de reabilitação habitacional 
Aliás, se procurarem bem no ministério, pode ser que encontrem nos arquivos o decreto lei 208/82 de 26 de maio, que instituia a TMT  (taxa municipal de transportes), do tipo do "versement" francês, mas que nunca entrou em vigor por omissão de regulamentação.
É tudo uma questão de prioridades.
Como se diz no Brasil, evoé.





domingo, 23 de março de 2014

As ligações energéticas à Europa

Como dizia Duna Guedes, os políticos não percebem nada de cidades, e eu generalizo, de qualquer coisa (se soubessem estariam a trabalhar nela em vez de querer reduzir a realidade aos seus modelos).
Isto a propósito da afirmação de Durão Barroso de que as ligações energéticas à Europa são do maior interesse mútuo.
Algum técnico preocupado com o interesse nacional terá soprado a solução? Ou algum dos poucos governantes com formação técnica o terá feito? ou finalmente o diretorato de energia da união europeia conseguiu fazer perceber aos políticos como se resolve o problema?
A problemática da produção de energia a partir das renováveis já tem sido tratada neste blogue, tentando demonstrar que tem de ser ultrapassada a ganancia dos produtores com centrais de combustíveis fósseis (rendas para a disponibilidade das centrais para compensar a intermitencia das renováveis), ou a ignorancia paralizante de alguns ambientalistas.
Remeto para o texto em
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2013/10/viabilidade-das-energias-renovaveis-em.html

de que repito esta parte:
"parecerá razoável considerar do interesse da UE, atendendo à estratégia de redução de emissões de gases com efeito de estufa e de importação de combustíveis fósseis, a sua participação como investidora em linhas de transmissão de alta tensão contínua ligadas às fontes de produção solar e eólica em Portugal e Espanha, rentabilizando assim o excesso de capacidade instalada em Portugal e Espanha, e melhorando a reação aos picos de consumo por aumento da capacidade de interligação França-Espanha"


(o facto de se propor tensão contínua para a linha de transmissão deriva de questões de estabilidade em vazio da tensão da linha em alternada com um comprimento da ordem de um quarto do comprimento de onda de 50 ciclos/s, isto é, 1500 km)
e para os textos em
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2011/05/politica-energetica.html

e restantes textos em
fcsseratostenes.blogspohttp://fcsseratostenes.blogspot.pt/2011/05/politica-energetica.htmlt.pt/search?q=renováveis

Não parecendo que este blogue pudesse influenciar tão altas personagens credoras do reconhecimento do povo por tão bem terem sabido conduzir as coisas ao estado em  que se encontram,  resta-me pensar que talvez tenham sido convencidos, a propósito da crise na Ucrania, pela questão do fornecimento de gás e petróleo pela Russia à União Europeia.
Talvez...




sábado, 22 de março de 2014

Uma reestruturação

o texto seguinte faz parte de umas memórias de um metropolitano; embora
o tenha escrito para ser apenas isso, uma memória, lembro-me dele sempre
que leio ou oiço uma notícia sobre a preocupação dos senhores governantes,
dos senhores analistas e comentadores políticos, dos senhores economistas,
que do alto da sua ignorancia e distanciamento da realidade evocam a necessidade
imperativa de "reformar o Estado". Como diria António Aleixo, calai-vos que
pode o povo querer uma reforma a sério.





A exploração de um metropolitano exige o cumprimento de padrões de segurança rigorosos.
Senti que a orientação dos técnicos de engenharia, muitos deles com experiencia anterior na CP, era nesse sentido, o que diferenciava o metro, empresa jovem, da maioria das empresas de transportes da época.
Também o ambiente entre os trabalhadores e nos seus orgãos sindicais, ainda antes da revolução de 25 de abril de 1974, revelava modernidade, com acordo coletivo  e espírito de abertura.
Recordo, no dia da entrevista para a minha admissão, com Rocha Cavalieri, a sua preocupação, como diretor de exploração, com a greve dos maquinistas, em fevereiro de 1974.
Para ele, os comboios não circularem colidia com o seu código deontológico, afetava o seu compromisso de garantia da disponibilidade do transporte à comunidade.
E na verdade, os engenheiros deviam ter um juramento semelhante ao de Hipócrates, darem ao objeto da sua atividade profissional, neste caso transportar pessoas, a prioridade máxima.
Com mais ou menos sobressaltos, os dias que se seguiram à revolução não foram tormentosos.
Algumas mudanças nos lugares de chefia, convites até a jovens engenheiros, recem admitidos para assumirem funções de responsabilidade, enquanto seniores se transferiam para gabinetes de estudos e de obras novas ou de apoio à administração, preparando a remodelação das estações e, de colaboração com os consultores alemães da Deconsult, o plano da futura rede.
Não houve grande animosidade entre grupos, prevaleceu, sobre ímpetos de vingança, a consideração pelo prestígio profissional do ex-membro da Legião Portuguesa, ou do familiar do latifundiário morto numa rixa com trabalhadores rurais. A comissão de trabalhadores foi representativa com pluralismo e até desconfiada quando eu lhe respondi que talvez não devessem procurar chefes para substituir os anteriores, mas antes desenvolver a getão participativa e coletiva.
Os  comboios não pararam, apesar do boicote de alguns fornecedores estrangeiros, e a comunidade de trabalho cumpriu a sua missão, não de Hipócrates, mas talvez de Hieron, o da força do vapor.
Não pararam, estranhamente para quem se deixava impressionar pelo que lia nos jornais; até a própria economia do país, apesar das descapitalizações e da quebra do PIB, reagiu bem à crise internacional do petróleo de 1973, a ponto de uma equipa do MIT fazer um relatório elogioso em novembro de 1975.
A maioria viveu dias de intensa esperança, acreditando que podia participar na vida política e ter uma opinião sobre os problemas do país.
O meu especialista de peças de precisão para as máquinas de impressão de bilhetes, pela sua ingenuidade natural, era o exemplo juvenil, embora já fosse avô, de quem passava muito do seu tempo a pensar em mudanças, no bairro, na empresa, no país.
Dizia-me sempre, depois de rejeitar sistematicamente as minhas propostas de alterações nos mecanismos em que trabalhava, para corrigir deficiencias de funcionamento, porque achava que as tinha melhores:
- Sabe, isto está a precisar de uma reestruturação.
E assim serenava, mesmo sem apresentar, por simplesmente ignorar quais deveriam ser, propostas concretas de reestruturação da empresa ou da nossa área.
Era o tempo da experiencia da cooperativa da Torre Bela, na estrada de Alenquer, com as mulheres do campo a recolherem cuidadosamente todas as azeitonas caídas para fazer azeite e óleo combustível.
Ou da cooperativa Salvador Joaquim do Pomar, registada como unidade coletiva de produção, no Escoural, ocupada e descrita nos jornais como foco de agitação de partidos politicos.
Porém eu estive lá na véspera da promulgação da lei da reforma agrária.
Em surdina os trabalhadores agrícolas murmuravam “a terra a quem trabalha, vamos ocupar, já”, mas os discursos dos militantes do partido acusado de agitador repetiam: “esperem pela promulgação da lei no Parlamento”. 
E não vi travessas da companhia das Índias à venda na beira da estrada.
Ou do voo do Harvard T6 em 11 de março de 1975, que vi da janela do meu gabinete, quando discutia pormenores do sistema de travagem automática com o técnico francês instalador.
Ou do grupo de adolescentes que atravessava ao fim do dia a Praça de Londres, já a bomba do Harvard T6 tinha caído sobre o Ralis, seguindo um ingénuo professor barbudo, calvo embora ainda jovem, gritando “a reação não passará”, em véspera da nacionalização das grandes empresas.
Nasce no nosso cérebro uma ilusão, uma construção de fé numa lei universal da qual se deduz a lei que rege uma aplicação concreta. Pensa-se que há uma verdade, uma lógica.
Adora-se essa verdade, como se não existisse por si a realidade, quando a adoração pode ser apenas uma manifestação de insegurança que se compensa com a imposição aos outros.
Mas a realidade é difusa, tem aspetos contraditórios para uma mesma existencia.
A lei que se julgou universal só é aplicável num domínio restrito.
Não existem verdades e soluções únicas.
Num ápice estamos a defender uma coisa com argumentos que nos parecem lógicos, mas se tivessemos optado por defender o contrário também alinhariamos argumentos de lógica imbatível para sua defesa.
Não é possível criar um modelo de representação exata da realidade.
Vivemos na caverna e só vemos as sombras de Platão. 
Não procuremos só a síntese, analisemos as diversas perspetivas, tentemos deslocar para um lado ou para o outro, a linha que separa o modelo de sociedade de uns, do modelo de sociedade de outros, da garantia de serviços públicos de uns , ou da expetativa de outros de crescimento dos mercados livres, conforme seja nesse instante melhor para a comunidade nacional, com o contributo de todos, como defendeu o major Melo Antunes depois da crise politica de novembro de 1975.
Por isso fomos felizes no metropolitano, por não terem degenerado em violencia as nossas discussões ao longo das peripécias da transição da ditadura para a Republica democrática.
- Sabe, isto está a precisar de uma reestruturação.  
Isto dizia sem ter lido Chandler e a sua teoria baseada na observação das grandes empresas norte americanas, “structure follows strategy”.
Que mais importante que a estrutura são as pessoas, o seu modo de pensar e agir, de colaborarem umas com as outras, de se organizarem em equipa, de circularem a informação e planearem a ação, de monitorizarem os resultados e de corrigir as deficiencias.
De definirem a estratégia ao serviço da comunidade.
Isso foi feito, com as nossas limitações, dentro do metropolitano, com o crescimento aos poucos da sua frota e da sua rede.

Isso foi feito no país, com a maravilhosa conquista das melhorias na saúde pública, especialmente na redução da mortalidade infantil, e na democratização do ensino.

quinta-feira, 20 de março de 2014

O nervoso dos mercados


O diretor da empresa discográfica gostava de se sentar à mesa de gravação e regular a intensidade do sinal nos vários canais de gravação.
Os técnicos, avisados da visita do diretor, reduziam a sensibilidade dos controles. O diretor entretinha-se a empurrar para trás e para a frente os potenciómetros, convencido que estava a influenciar a gravação.
Assim os economistas que nos governam se entreteem a acalmar o nervosismo dos mercados embora os potenciómetros que controlam os juros escapem completamente ao controle seja de quem for.
Isto a propósito da crença que nos querem impor de que qualquer protesto provoca aumento de juros.
Por acaso, e porque o comportamento das muitas variáveis  não é controlável, até pode acontecer que os juros baixem depois de ações que provocariam o nervosismo dos mercados.
Por exemplo, depois de o próprio primeiro ministro se ter queixado de que o FMI tinha um discurso ao nivel da direção e outro ao nivel dos seus enviados especiais e que isso revelava alguma hipocrisia, os juros baixaram.
E agora, depois da apresentação do manifesto dos 70 para a reestruturação do excesso da divida sobre os 60%, não é que os juros a 10 anos desceram aos 4,43%?
Claro que ironizo, o movimento dos juros é internacional e não é a nossa pequenina economia a principal causa do seu movimento, e os tais mercados estrangeiros detêm apenas 23,1%, ou 50.000 milhões da divida publica. Os restantes mercados suscetiveis de se enervarem são a troika,  com 74.000 milhões, ou 34,4% da divida total, e os bancos, seguradoras e particulares nacionais, com 92.000 milhões e 42,5% da divida.
Nervoso fico eu, quando vejo que o investimento estrangeiro em 2011 foi de 8.000 milhões de euros, em 2012 de 6.600 milhões e em 2013 de 2.300 milhões.
E que a variação do investimento liquido em 2013 foi de -4%, isto é, a capacidade produtiva ou os ativos em 2013 diminuiram em relação a 2012.
E que as importações continuaram a subir.
O pobre governo não quer ouvir falar destes aspetos negativos. Prefere empolar os indicadores positivos.
Em psicologia social chama-se a isto o instinto da sobrevivencia, querer acreditar na prevalencia dos sucessos sobre os insucessos.
Mas seria melhor atender à equação do saldo orçamental igual ao investimento e exportações menos poupanças e importações. Sem investimento nada feito.

PS em 21 de março - Apenas para registo e comparação, as taxas de juro a 10 anos dos outros PIIGS:
Grecia                 6,9
Irlanda                3,1
Itália e Espanha  3,4

A economia abutre

Salvo melhor opinião e apesar da fragilidade deste blogue por não poder apresentar uma fundamentação sólida com cálculos e estatísticas, temos em Portugal bons exemplos da economia abutre (vulture funds:
http://en.wikipedia.org/wiki/Vulture_fund).

Parece que o ministério da defesa encara a possibilidade de comprar umas fragatas em segunda mão à marinha dinamarquesa, porque só existem dois navios modernos de superfície, os dois patrulheiros construidos em Viana do Castelo. Como se sabe, os patrulheiros foram construidos com prejuizo porque a série era de 8 e ficou limitada a 2. O governo conseguiu apoio da opinião pública para fechar os estaleiros de Viana do Castelo com a desculpa de prejuizos na construção.
Mas não contabilizou os prejuizos da compra ao estrangeiro de fragatas com 12 anos de idade. Pode ou não o fabrico nacional ser superior à aquisição ao estrangeiro? Ou prefere-se enviar para o estrangeiro o dinheiro que for preciso para poupar o pagamento interno que for possível?  A necessidade da compra é que existem zonas maritimas que não estão a ser patrulhadas (os armadores internacionais de pesca agradecem, desde os coreanos predadores do atum aos pequenos espanhois de Ayamonte, predadores das conquilhas).
Economia abutre é o governo dos Açores participar nas decisões que inviabilizaram o cumprimento da velocidade contratual do Atlantida e lançar os estaleiros de Viana na insolvencia.
Economia abutre é respeitar todos os formalismos juridicos de um ministro que não sente o serviço público dos assuntos maritimos (se sentisse saberia responder a Bruxelas que o tratado de funcionamento europeu prevê exceções à lei da concorrencia para questões de defesa como a patrulha da zona maritima) e impedir o acesso a verbas comunitárias.
Economia abutre é negociar contrapartidas do contrato dos submarinos a beneficiar os estaleiros e que foram deixadas por cumprir.
Economia abutre é debicar bocadinhos apeteciveis do que resta dos estaleiros, beneficiando outros estaleiros navais (comprar um estaleiro quando se é proprietário de outro estaleiro e fechá-lo não é concorrencia, é atuação abutre).
Economia abutre é, passo a passo, inviabilizar o negócio da construção dos asfalteiros para a Venezuela. Por ironia do destino e inépcia dos seus governantes (a síndroma da posse da verdade sem partilha com quem pensa de forma diferente), a Venezuela, onde se encontram as maiores reservas do planeta de combustíveis fósseis, encontra-se neste momento sob o olhar atento de abutres, aguardando.

A estratégia da economia abutre seguida pelo ministro da defesa parece ser seguida tambem pelo secretário de estado dos transportes, no processo de concessão e privatização dos transportes urbanos, muito contente por ter recebido 9 respostas à consulta para o interesse dos privados.
A ideia abutre é aproveitar os bons bocados, deixando no Estado a dívida do financiamento das ampliações e da construção das estações do metropolitano, por exemplo. Parece que a coisa vai ao ponto de quererem abocanhar apenas uma estação ou um grupo de estações, ou uma linha, o que der mais jeito, mas sempre com um limite para a cobertura das despesas operacionais pelas receitas.
O senhor economista Alexandre Patrício Gouveia, funcionando como porta voz do governo, foi ao programa de Judite de Sousa, Olhos nos olhos, de 17 de março de 2014,
http://www.tvi24.iol.pt/programa/4407

explicar que se antecipou em dois anos as instruções da troika de anular o prejuizo operacional  das transportadoras publicas urbanas.
Disse que era saudável, ter passado de um prejuizo anual de quase 250 milhões de euros para resultados positivos (apesar de ainda terem sido pagos os complementos de reforma), graças à saida de 20% de pessoal (é verdade, mas reduzindo a capacidade operacional), à eliminação da sobreposição de carreiras da Carris e do Metro (deve estar mal informado, continua a sobreposição de carreiras inteiras de autocarros) e à redução de fornecimentos e serviços externos (é verdade, mas reduzindo não só a qualidade de serviço, mas os niveis de segurança; saudável, isto?).
gráfico com a despesa das transportadoras públicas urbanas apresentado no programa Olhos nos olhos de 17 de março de 2014

Que o Estado não tem vocação para gerir os transportes, porque a gestão privada é mais produtiva e competitiva (esta afirmação é uma ofensa para quem trabalha ou trabalhou nas empresas públicas, mas já se sabe que o insulto é uma arma dos governos das elites). Que a divida das empresas subiu a 19.000 milhões e que o pessoal era excessivo (que sabe ele de transportes para avaliar a extensão de um quadro de pessoal? e contabilizou os custos das rescisões para não vir queixar-se do aumento das despesas sociais com os encargos das pensões?).
Que a rigidez laboral é um obstáculo ao investimento estrangeiro, embora o gráfico que apresentou mostre que a rigidez laboral na Alemanha na Holanda é da mesma ordem de grandeza de Portugal. Claramente negativo para a Alemanha, disse o senhor, esquecendo que a segurança no emprego é um fator de estabilidade psicológica, que por sua vez é condição sine qua non para a produtividade (tal como transportes coletivos eficazes entre o local de habitação e o local de trabalho). A rigidez laboral não é, nessa perspetiva, um fator negativo, mas um objetivo de felicidade (não confundir produto interno bruto com felicidade interna bruta).
indice de rigidez laboral na Europa, a laranja situação em Portugal se o tribunal constitucional chumbar as propostas do governo/troika e a verde no caso de as aprovar; notar o efeito thatcheriano no Reino Unido e a posição média da Grécia; aparentemente, não é o fator decisivo na economia, salvo melhor opinião


Foi muito curiosa a educada divergencia entre Medina Carreira e Patricio Gouveia, quando o primeiro criticou a estratégia obssessiva de privatizações, especialmente no caso em que o Estado ganhava dinheiro, como nos CTT, ou em questões essenciais como as águas ou o lixo: "o governo parece que perdeu um bocado a cabeça". E quando deu o seu testemunho sobre os transportes no Reino Unido, antes e depois de Thatcher. Os transportes degradaram-se. E Patricio Gouveia, lesto como um prosélito que repete só os exitos da sua fé: sim degradaram-se, mas as despesas públicas reduziram-se e os contribuintes pagam menos.
Assim é muito dificil, quando se dá preferencia aos números em detrimento da qualidade de vida dos cidadãos, refiro-me tambem ao Reino Unido.









quarta-feira, 19 de março de 2014

Contrabaixo, poemas de Diogo Lopes editora Alfarroba

Contrabaixo é um livro de poemas de Diogo Lopes, pianista de 14 anos portador de uma doença rara, neuromuscular degenerativa, Charcot-Marie Tooth.
A receita da venda do livro, edição Alfarroba, 8 euros, destina-se à criação da associação portuguesa daquela doença.
Proponho que o comprem.




domingo, 16 de março de 2014

Dostoievski

As citações do DN têm muito interesse. Serão escolhidas em função da atualidade e serão aplicáveis aos acontecimentos noticiados, mas podem ter um grande domínio de aplicação.
Por exemplo, a citação de Dostoievsky:
"O criminoso, no momento em que pratica o seu crime, é sempre um doente".
É o que este blogue vem dizendo, que as técnicas da psicanálise deviam ser aplicadas em força neste país, aos criminosos e a todos os que decidem pelas maiorias e pelas minorias sem conseguir compreender ou sequer ouvir a sua  argumentação ou as suas propostas, por doença, o que elas dizem ou sentem.
"Totalmente fora de questão", é o que se diz quando se tem o poder e não se quer, ou não se pode, por doença, ouvir os outros.

sexta-feira, 14 de março de 2014

Abra os olhos

Agora que se aproximam eleições,



Abra os olhos e combata a fraude deste governo




A falta de diversidade do governo pode sair-lhe cara:

- mais impostos
- mais desemprego
- mais emigração
- mais investimento líquido negativo
- maior degradação da balança comercial de bens
- maior tempo de espera na saúde, educação e segurança social

De Álvaro de Campos/Fernando Pessoa, Livro de versos, 1934

Saí do comboio,
Disse adeus ao companheiro de viagem,
Tínhamos estado dezoito horas juntos.
A conversa agradável,
A fraternidade da viagem,
Tive pena de sair do comboio, de o deixar.

Amigo casual cujo nome nunca soube.
Meus olhos, senti-os, marejarem-se de lágrimas...
Toda despedida é uma morte...
Sim, toda despedida é uma morte.
Nós, no comboio a que chamamos a vida
Somos todos casuais uns para os outros,
E temos todos pena quando por fim desembarcamos.

Tudo que é humano me comove, porque sou homem.
Tudo me comove, porque tenho,
Não uma semelhança com ideias ou doutrinas,
Mas a vasta fraternidade com a humanidade verdadeira.

A criada que saiu com pena
A chorar de saudade
Da casa onde a não tratavam muito bem...

Tudo isso é no meu coração a morte e a tristeza do mundo,
Tudo isso vive, porque morre, dentro do meu coração.

E o meu coração é um pouco maior que o universo inteiro.


segunda-feira, 10 de março de 2014

Versão atualizada da gestão escocesa, "poupar o que for possível"

Exemplos da versão atualizada da gestão escocesa, a de ir retirando a palha ao cavalo, aumentando a sua produtividade (quociente entre um produto e um meio de produção), até ele morrer de fome. São também uma variante da orientação "custar o que custar":
1 - fecho de tribunais - "Vamos gastar o que for preciso em transportes para poupar o que for possivel com o fecho de tribunais". Gastar-se-á em transportes e ter-se-á como prejuizo o arrefecimento das economias locais para alem da desertificação em curso. Não parece ter sido feita uma análise custos/prejuízos-receitas/benefícios
2 - espera para operar cancros - "Vamos suportar o prejuízo que for preciso com o aumento dos tempos de espera das operações, para poupar o que for possível com a diminuição da produtividade dos IPO e dos seus quadros de pessoal". Há anos que a comunicação social regista o desencanto e o desgosto dos profissionais que foram abandonando os IPO ou assistindo à redução da sua capacidade.
3 - deslocação de trabalhadores da câmara para as juntas de freguesia - "Gaste-se o que for preciso com o reforço das competencias das freguesias e a manutenção do que for preciso na câmara,  para poupar o que for possivel". Um pouco como a aglutinação das antigas juntas de freguesia. Mantêm-se os encargos com as sedes das antigas juntas e arranjam-se mais encargos com uma nova sede da união de freguesias, a freguesia "maior". Insiste-se na fé nas centralizações, apesar de se aparentar a descentralização. Mas tudo isto é muito discutível.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Portem-se bem, senão...


Pessoalmente, não simpatizo com algumas técnicas publicitárias, provavelmente por excesso de suscetibilidade minha.
No metropolitano, onde este anuncio está exposto, aconteceu uma vez afixarem um anuncio , integrado numa campanha de segurança rodoviária, que dizia: "Atravesse em segurança, olhe para os dois lados". Isto, numa estação de metro, era demais.
Neste caso, embora não tenha a gravidade de aconselhar uma travessia de vias eletrificadas,  parece-me revelar  insensibilidade na forma como se tratam os passageiros.
Diz o anuncio que a falta de validações pode levar a menos carreiras de autocarros, menos comboios na linha e portanto maior tempo de espera e, consequentemente, degradação do serviço.
1 - Quem lê não tem título de transporte válido. Trata-se de um utilizador que não liga muito à programação das suas atividades. Não se importará com a degradação do serviço. Quando ele estiver mais degradado adaptar-se-á à situação. É coisa que não o preocupa. Desenrascar-se-á.
2 - Quem lê validou. Pagou o seu direito a circular com um aumento de 1% quando a inflação foi de metade, é prejudicado pelos cortes de investimento e de operação para reduzir custos e é agora ameaçado com menos autocarros, menos comboios, mais tempo de espera e mais degradação? Porque os outros, os que não validaram, continuam a não validar? Querem que se organizem milícias de passageiros enfurecidos contra os que não pagam?
Na verdade, as perdas devido às fraudes  implicam degradação de serviço se não forem compensadas financeiramente. Depositar a principal responsabilidade no cartão viva ou zapping permite de facto reduzir o tempo que o motorista de autocarro dedica à entrada de passageiros e portanto melhora a produtividade em termos de numero de autocarros e de motoristas. Idem para o numero de bilheteiras do metro. Porem, os custos do equipamento e a antipática obrigatoriedade de comprar o cartão desapareceriam em grande parte se se gastasse algum dinheiro com um quadro de pessoal mais elevado nas brigadas de fiscalização.
Fiscalizar e organizar sistemas de cobrança eficazes é obrigação da empresa.
Garantir condições de cidadania, de educação dos cidadãos, de emprego e de convivencia saudável é obrigação do governo (ver constituição).
Se a taxa de fraudes é elevada, isso é consequencia principalmente de disfuncionalidade social e as suas consequencias constituem dívida do Estado à empresa. Acresce que os seus custos deveriam ser incluidos na análise custos-benefícios quando se despedem pessoas, se estimula o desemprego, se degrada o ensino e a assistencia na saúde, ou se baixa o nível cultural das emissões de TV (estou a pedir demais à capacidade de entendimento dos defensores dos despedimentos?). Por exemplo, os custos com circuitos internos de televisão de segurança pessoal deveriam ser levados à conta do estado e não da empresa, tal como o serviço da dívida. Qualquer gestor de empresa privada candidata à concessão/privatização pode explicar isto ao senhor secretário de Estado, não preciso de ser eu.
Quanto à empresa, apesar do relativo sucesso da gestora do sistema de cobrança sem contacto Otlis, seria bom que reconhecesse que o sistema não é amigável para utilizadores ocasionais e contem algumas deficiencias graves, desde a impossibilidade física dos equipamentos evitarem a fraude e portanto não permitirem a redução significativa da fiscalização (coisa de que pessoalmente informei os colegas decisores na altura, acrescentando que há outros meios eficazes de contagem de passageiros para distribuição de receitas de contagem eletrónica a simples inquéritos regulares), nomeadamente no caso dos autocarros, à dispendiosa aquisição e manutenção dos equipamentos (a título de exemplo, são raras as redes alemãs com sistemas semelhantes de canais fechados).

Enfim, se quisermos explicar às criancinhas, é o critério de equidade que nos governa. Uns são os bons, os que validam e registam a sua efatura no respetivo site. Outros os  maus, os que abraçam o passageiro que vai a passar pelo canal de acesso e os que não usam fatura. Quem paga os prejuízos são sempre os bons, e se for preciso aumentam-se os custos ou degrada-se o serviço.
Não, não estou a diabolizar os maus, estou a criticar a fábrica de maus em que se tornou o governo e a troika. O principal criminoso não é quem puxa o gatilho, é quem paga para que ele puxe o gatilho ou não exerça a função social que pudesse evitar que ele puxasse o gatilho.
Tal como na medicina, a fraude combate-se prioritariamente evitando-a, não castigando-a.












A doença venezuelana

Penso que alguns indicadores são, par um país, o que as análises podem representar em caso de doença de uma pessoa.
O gráfico seguinte mostra as principais reservas comprovadas de petróleo por país e inclui já as estimativas do petróleo de xisto e areias betuminosas.
A Venezuela é o país que detem  a maior reserva.

fonte:A.Luis Fernandes

Considerando as notícias que chegam da Venezuela, nomeadamente descontrole da criminalidade e disfuncionalidade na distribuição alimentar, poderá talvez fazer-se o diagnóstico (mesmo sem cair no facilitismo de justificar com conspirações internacionais, apesar de ser do interesse das grandes mutinacionais de energia que o poder politico mude) de que é altamente provável que Nicolas Maduro sofra da mesma doença do primeiro  ministro português, de achar que deve governar com apoio expresso nas eleições de 29% dos eleitores.
O método proporcional permite que nos governos estejam representadas todas as tendencias acima de uma dada percentagem (3-5%).
A doença é não querer admiti-lo.
Pelas noticias chegadas de Viana do Castelo, parece também improvável que os asfalteiros venham a ser lá construidos.
Mas essa, a doença que destruiu os estaleiros, apesar da legislação europeia permitir apoios estatais no caso de equipamento de defesa (patrulheiros) e apesar da própria UE reconhecer que deve alterar a legislação de modo a alargar a intervenção do Estado em certos casos, pertence a outro tipo de doença, comum emPortugal, especialmente nos níveis decisórios das empresas e do governo.


Comboio Takargo em Coimbra


Comboio Takargo passando na estação de Coimbra-B.
Madeira de eucalipto para as fábricas de celulose.
Industria pouco desejada, mas util à economia.

terça-feira, 4 de março de 2014

Triste exemplo quando tanto precisamos de investimento






Não sei se as coisas se terão passado desta maneira, mas a ideia com que fiquei foi esta:

Num rasgo de abertura do governo atual para um debate alargado e participado sobre a análise e escolha de investimentos em infraestruturas (ironizo, claro, a inépcia do governo, depois de ter paralizado os investimentos públicos,  impede-o de se abrir dessa maneira; o  debate parece ter sido restrito a mecanismos habituais de ligaçáo ao poder politico, pese embora a propaganda deste video:
 http://www.youtube.com/user/gtieva    ).

Foram apresentados 30 projetos, de que há pouca esperança que venham a ser beneficiados pelos fundos do novo QREN, porque o governo atual tem outras ideias para aplicar os fundos (mais para as empresas a que o poder politico estará mais ou menos ligado), e o principal partido da oposição pediu informações e documentação de base que terá servido para as propostas.
O senhor governo disse que sim, que ia providenciar a documentação.
Mas depois disse que afinal não tinha essa documentação porque o grupo de trabalho também não (parece que dos 30 projetos só 15 tinham uma análise de custos benefícios e que os programas prévios de execução não estavam muito bem definidos). Ver:
http://noticias.pt.msn.com/governo-diz-que-entrega-nos-pr%C3%B3ximos-dias-ao-ps-documenta%C3%A7%C3%A3o-sobre-infraestruturas-priorit%C3%A1rias-1

Consta que o senhor secretário de Estado espera receber a dita documentação para fornecer ao tal partido da oposição (anoto que a secretaria de estado dos transportes deveria estar integrada no ministério da energia e ambiente e não no ministério da Economia, por demais teórico).

Este é apenas um exemplo da inépcia e da ignorancia da metodologia de abordagem da questão dos investimentos dos senhores que nos governam e que detêm algum poder de decisão.
Eu, para exercer a minha profissão, tive de prestar provas psicotécnicas, a licenciatura concedida pela escola não era suficiente.
Estes senhores não. São os mecanismos partidários do poder que  decidem.
Decidem mal, claro.
Depois dizem que são os salários e as pensões que são muito altos.
Ter a coragem de decidir sem uma análise de custos-benefícios...
Incompetentes.






domingo, 2 de março de 2014

Meus queridos amigos do partido comunista português

Meus queridos amigos

Como eu gostaria que vocês ouvissem um bocadinho só que fosse do que vos digo.
Eu sei que vocês têm tendencia para análises olhos nos olhos mas quando é assim fazem falta outros olhos para ajudar a análise.
Não devemos ter certezas e o que mais se aproximar delas deve ser suscetível de ser referendado, de acordo com os princípios do método científico, coisa que, certamente partilharão comigo.
Eu penso que vocês têm razão quando dizem que o relatório da ONU sobre a Coreia do Norte não é credível.
Claro que pode não ser rigoroso na descrição dos factos, que pode empolar acontecimentos, omitir outros que poderiam servir de atenuantes ou tender para servir um objetivo mais ou menos escondido.
Claro, claro, mas empolar de uma execução para 200 não é o essencial. O essencial é que uma execução já é intoleravelmente demais.
Intoleravelmente.
Como intolerável é haver uma dinastia de chefes de Estado (claro que se aplica às monarquias europeias) e não haver liberdade de expressão e de iniciativa económica (onde é que está escrito em Marx e até em Lenine que um cidadão ou uma cidadã não pode montar um negócio? escrito que não pode explorar o próximo está, mas que não pode montar um negócio não).
Por isso eu vos peço para reverem o vosso voto contra a condenação do regime da Coreia do Norte.
Até porque, e digo com sinceridade, o regime da Coreia do Norte usurpou os ideais socialistas e comunistas ao limitar a liberdade de expressão. O povo que trabalha e que não vota nos partidos comunistas não é "lumpen", simplesmente os militantes dos partidos comunistas não demonstraram convenientemente a ideia da solidariedade universal, não a defesa de interesses individuais.
Por isso o regime da Coreia do Norte não ajuda o partido comunista português a colaborar na mudança da desgraça em que o atual governo e a troika nos querem. Socialismo e comunismo não é o que faz a Coreia do Norte e nunca poderá ser imposto se a população não quiser.
Vocês deviam estar zangados com o regime da Coreia do Norte, não apoiá-los ou virar a cara para o outro lado.
Ser-se socialista ou comunista não se esgota em Marx. As coisas evoluiram e o método cientifico permitiu descobrir coisas que Marx não podia sonhar.
Mas a ideia de solidariedade mantem-se, e não é o regime da Coreia do Norte que a defende.
Por isso escrevi isto, para vos pedir que revejam  a vossa posição.









sábado, 1 de março de 2014

Que sabe o ministério das Finanças de universidades?

Para ilustrar o império da ignorancia que tomou de assalto os orgãos decisórios, e digo tomou de assalto porque as instituições não estão a funcionar regularmente o que é motivo mais do que suficiente para a demissão de um governo que representa 29% dos eleitores com voto expresso, cito o reitor da universidade de Coimbra:
"Até há poucos meses, podíamos criar e gerir empresas que nos ajudassem a cumprir a nossa missão. Subitamente, saiu o Decreto-Lei 133/2013, seguido do Decreto Regulamentar 1/2014, sobre os quais não fomos sequer previamente ouvidos, que diz que todas essas empresas passam a ser geridas diretamente pelo Ministério das Finanças".
"Que sabe o Ministério das Finanças de universidades?"
"Outro exemplo profundamente negativo é a Portaria 48/2014, saída há poucos dias, que retira às universidades a capacidade de escolher o seu pessoal".
A partir de agora, "será o Instituto Nacional de Administração (INA), que selecionará os jardineiros para o Jardim Botânico, os técnicos para o ciclotrão do Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde (ICNAS), os gestores dos projetos comunitários, os técnicos que acolherão os estudantes internacionais".

Este é um dos exemplos do atraso do nosso país, a ingerencia do poder político nas empresas, especialmente as públicas, através dos seus comissários políticos (sim, o governo anterior foi particularmente desastrado com as pessoas que nomeou).
As decisões são tomadas por quem não conhece os assuntos. O ministro da saúde, apesar da sua boa vontade e da sua capacidade de analisar os custos-benefícios, não tem conhecimentos de medicina, o secretário de Estado dos transportes não conhece as leis do movimento acelerado, do atrito das rodas e do consumo de combustível pelos aviões, o ministro da defesa ignora o que a Marinha conhece do mar, o ministro da administração interna ignora como se combatem fogos e vem lamentavelmente dizer à comissão parlamentar que os bombeiros portugueses estão muito longe de terem formação (ao fim de dois anos e meio de ministro vem dizer isto, quando teve tanto tempo para montar planos de formação eficazes?), a ministra da agricultura não sabe como combater o nemátodo, o ministro da Economia não faz ideia como a energia elétrica é produzida por fontes renováveis, do que precisa para ser exportada para a Europa, e de como pode ser utilizada para fabricar combustível para os automóveis. Como dizia o professor Carvalho Rodrigues antes da desgraça deste governo, e durante a desgraça do anterior, "a Ciencia não está a fazer parte desta equação".
O que esta legislação agora faz é estender a ignorancia dos burocratas do ministério das finanças às decisões sobre os assuntos de cada empresa ou orgão.
É o predomínio da contabilidade formal sobre os conhecimentos e competencia técnicos.
É uma idade de trevas e sabe-se o prejuizo que as idaddes de trevas causam no futuro.
O reitor disse "estamos fartos de cortes transversais que tratam de igual modo quem gere bem e quem gere mal".
Oiço o autor da coleção de livros "Decifrar a arte em Portugal", Paulo Pereira, dizer, a propósito do desinvestimento em arte, da falta de estratégia consistente e do desprezo até pelo seu valor comercial via turismo, que "nós não deixaremos que isto continue".
Vamos tentar não deixar, mas a máquina de marketing do governo, apoiada pela troika e pelos serventuários da comunicação social, especialmente televisão, é muito forte.




Dedicado aos parlamentares europeus que votaram pelo modelo sueco da criminalização da prostituição

hupokrisis (hypocrisis) - significa, em grego antigo, a resposta do oráculo, iludir com a interpretação de um sonho ou de uma visão profética, simular uma personagem numa peça, demonstrar uma coisa quando pensa ou sente outra, dissimulação

Citação de Reinaldo Ferreira, Reporter X, em "A virgem do Bristol Club":"...apenas pedi para darmos um passeio à volta do Campo Grande"

O tema principal já foi tratado neste blogue em:
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2011/09/blue-station.html



Vós sois hipócritas, vós, os parlamentares europeus que, invocando a dignidade humana das prostitutas e a necessidade incontestável de combater o tráfico humano, votastes pela criminalização do cliente, como na Suécia.
Decidistes isso sem ouvir as trabalhadoras do sexo, achastes que todas elas são exploradas quando recebem dinheiro.
Dissestes que a prostituição é um negócio e que os clientes, pagando, estimulam o mercado.
Hipócritas que sois, acaso ides arranjar emprego às trabalhadores do sexo que ficarem sem clientes?
Hipócritas como as puras senhoras defensoras da criminalização da interrupção voluntária da gravidez. Acaso elas vão partilhar os custos e as dificuldades de criar uma criança quando não se tem capacidade financeira e educacional para o fazer?
Hipócritas como os senhores governantes que decidem sobre assuntos de que não têm um minimo de conhecimentos técnicos, sem ouvir, ou sem sequer ter capacidade de avaliar quem deva ser ouvido, quer sejam métodos de combate a incendios, nunca combateram um fogo, ou a seleção de investimentos em transportes, não andam de comboio na hora de ponta.
Hipócritas como os governantes e os seus serventuários da comunicação social que fazem recomendações sobre a liberdade económica mas que nunca trabalharam numa empresa de produtos úteis à comunidade.
Como os clérigos que teorizam sobre o preservativo que não é assunto deles.
Como os governantes que proibem o consumo de droga mas mantêm leis que impedem os produtores de obterem rendimentos se cultivarem outros produtos.
Hipócritas. Se citei a "Virgem do Bristol Club" foi porque o clube, frequentado pela elite endinheirada lisboeta dos finais dos anos 20 e que dava emprego a quem não tivera a sorte de nascer em familia rica,  foi fechado em 1928 por uma politica moralista do regime saido do golpe de 28 de maio.

PS em 1 de março - a penalização dos clientes está em vigor na Suécia, Noruega e Islandia e foi submetida ao senado em França. De notar que nos paises escandinavos a taxa de desemprego é baixa e existem programas de apoio social, situação diferente em muitos paises da união europeia. Provavelmente o moralismo protestante desempenhou a sua função, embora se saiba que na Suecia não se pode beber uma lata de cerveja na via pública, mas pode apanhar-se o ferry para a Dinamarca (ou atravessar a ponte de Malmoe/Oresund) e beber-s as cervejas que se puder durante todo o fim de semana, contanto que às 19 horas de domingo os suecos já estejam recolhidos em suas casas.
Ensina ainda a história que a proibição leva ao mercado paralelo. Eu ainda sou do tempo em que se anunciavam "french lessons" nas portas do Soho, para quem quisesse aprender francês, claro. Atualmente anunciam-se mais serviços de massagens, ou de spas para relaxamento com esfoliação e óleos quentes,mas estará nascente a publicitação de terapias comportamentais ou de psicoanálises em sofás freudianos, preços em conta, uma sessão de meia hora 40 euros e uma de uma hora 100 euros.
E se a moda pega, isto é, se se vai penalizar o cliente sempre que o prestador de serviços é explorado, se se argumenta que o cliente está a estimular o mercado em prejuizo do prestador, e se os bancos se queixam de que os seus clientes lhes estão a limitar as margens de lucro, então penalizem-se os clientes dos bancos.
Admirável mundo do liberalismo absoluto.