sábado, 1 de março de 2014

Dedicado aos parlamentares europeus que votaram pelo modelo sueco da criminalização da prostituição

hupokrisis (hypocrisis) - significa, em grego antigo, a resposta do oráculo, iludir com a interpretação de um sonho ou de uma visão profética, simular uma personagem numa peça, demonstrar uma coisa quando pensa ou sente outra, dissimulação

Citação de Reinaldo Ferreira, Reporter X, em "A virgem do Bristol Club":"...apenas pedi para darmos um passeio à volta do Campo Grande"

O tema principal já foi tratado neste blogue em:
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2011/09/blue-station.html



Vós sois hipócritas, vós, os parlamentares europeus que, invocando a dignidade humana das prostitutas e a necessidade incontestável de combater o tráfico humano, votastes pela criminalização do cliente, como na Suécia.
Decidistes isso sem ouvir as trabalhadoras do sexo, achastes que todas elas são exploradas quando recebem dinheiro.
Dissestes que a prostituição é um negócio e que os clientes, pagando, estimulam o mercado.
Hipócritas que sois, acaso ides arranjar emprego às trabalhadores do sexo que ficarem sem clientes?
Hipócritas como as puras senhoras defensoras da criminalização da interrupção voluntária da gravidez. Acaso elas vão partilhar os custos e as dificuldades de criar uma criança quando não se tem capacidade financeira e educacional para o fazer?
Hipócritas como os senhores governantes que decidem sobre assuntos de que não têm um minimo de conhecimentos técnicos, sem ouvir, ou sem sequer ter capacidade de avaliar quem deva ser ouvido, quer sejam métodos de combate a incendios, nunca combateram um fogo, ou a seleção de investimentos em transportes, não andam de comboio na hora de ponta.
Hipócritas como os governantes e os seus serventuários da comunicação social que fazem recomendações sobre a liberdade económica mas que nunca trabalharam numa empresa de produtos úteis à comunidade.
Como os clérigos que teorizam sobre o preservativo que não é assunto deles.
Como os governantes que proibem o consumo de droga mas mantêm leis que impedem os produtores de obterem rendimentos se cultivarem outros produtos.
Hipócritas. Se citei a "Virgem do Bristol Club" foi porque o clube, frequentado pela elite endinheirada lisboeta dos finais dos anos 20 e que dava emprego a quem não tivera a sorte de nascer em familia rica,  foi fechado em 1928 por uma politica moralista do regime saido do golpe de 28 de maio.

PS em 1 de março - a penalização dos clientes está em vigor na Suécia, Noruega e Islandia e foi submetida ao senado em França. De notar que nos paises escandinavos a taxa de desemprego é baixa e existem programas de apoio social, situação diferente em muitos paises da união europeia. Provavelmente o moralismo protestante desempenhou a sua função, embora se saiba que na Suecia não se pode beber uma lata de cerveja na via pública, mas pode apanhar-se o ferry para a Dinamarca (ou atravessar a ponte de Malmoe/Oresund) e beber-s as cervejas que se puder durante todo o fim de semana, contanto que às 19 horas de domingo os suecos já estejam recolhidos em suas casas.
Ensina ainda a história que a proibição leva ao mercado paralelo. Eu ainda sou do tempo em que se anunciavam "french lessons" nas portas do Soho, para quem quisesse aprender francês, claro. Atualmente anunciam-se mais serviços de massagens, ou de spas para relaxamento com esfoliação e óleos quentes,mas estará nascente a publicitação de terapias comportamentais ou de psicoanálises em sofás freudianos, preços em conta, uma sessão de meia hora 40 euros e uma de uma hora 100 euros.
E se a moda pega, isto é, se se vai penalizar o cliente sempre que o prestador de serviços é explorado, se se argumenta que o cliente está a estimular o mercado em prejuizo do prestador, e se os bancos se queixam de que os seus clientes lhes estão a limitar as margens de lucro, então penalizem-se os clientes dos bancos.
Admirável mundo do liberalismo absoluto.







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