quarta-feira, 15 de abril de 2015

Armazenamento por flywheels e por sais térmicos; as coisas mexem-se

O colega Mário Ribeiro, sempre atento, enviou-me a notícia da construção de uma subestação na Irlanda com flywheels (volantes de inércia no vácuo com rolamentos magnéticos) como dispositivos de armazenamento da energia elétrica produzida em excesso nos períodos de fraco consumo.
Eu, que sou da escola clássica, diria que o despacho da energia não devia depender para além do razoável das questões económicas, mas no contexto atual a ideia é armazenar a energia elétrica nos períodos de baixo consumo em que a remuneração do MWh é baixa (pouca procura), armazená-la e vendê-la depois a melhor preço nos períodos de maior procura (pontas do diagrama de cargas).

Uma pequena incursão pela wikipedia informou-me que a subestação poderá fornecer 20 MW durante 15 minutos, ou 5 MWh. Será um princípio, uma experiencia piloto como outras na Irlanda (foram estendidos cabos submarinos entre a Irlanda e a Inglaterra para alimentar consumos na Inglaterra  nos períodos de vazio na Irlanda.
São experiencias de que os beneficiários dos CMEC não gostam, mas parecem-me muito válidas.
Cada volante de inércia pode fornecer 100kW durante 15 minutos, isto é, pode armazenar cerca de 25 kWh. São fabricados pela Beacon Power, a estimativa de custos é de 250 € por kW instalado,  e usam a mesma tecnologia dos centrifugadores para produção de uranio enriquecido (vácuo, rolamentos magnéticos sem contacto).

As formas de armazenamento da energia elétrica podem ser as seguintes (é uma pena o atual governo não querer candidatar o desenvolvimento destas formas a fundos comunitários, com a desculpa de que não há dinheiro e que se gastou muito em infraestruturas):
- bombagem em centrais hidráulicas reversíveis
- baterias estacionárias
-depósitos de ar comprimido (a produção de ar comprimido será mais rentável se descentralizada, isto é, em postos locais de produção alimentados pela rede elétrica)
- produção descentralizada por eletrólise de hidrogénio, especialmente para fins de tração rodoviária (idem - 1 kg de hidrogénio consome 60 kWh)
- volantes de inércia (flywheels)
- sais térmicos em centrais solares com concentradores e sais térmicos para conservar o calor depois do por do sol  (solução já muito utilizada em Espanha e na Califórnia)

Foi pois com satisfação que na edição da revista Ingenium da Ordem dos Engenheiros de janeiro-fevereiro de 2015 encontrei um artigo dscritivo das vantagens das centrais hibridas de concentradores solares com sais térmicos e back up com combustíveis fósseis (eu preferiria sem a intervenção fóssil, com a diversificação das formas de produção renovável mesmo à custa de menores rendimentos, e a redução até 3% da rentabilidade das PPP de energia, sendo certo que apesar do atual governo as ter reduzido a 8% se deve assinalar o facto  como positivo) .
O artigo traça uma perspetiva interessante do panorama energético ibérico, e é da autoria dos profs H.M.I.Pousinho, V.M.F.Mendes, M.Colares Pereira e C.Pereira Cabrita, das universidades de Évora, ISEL e Beira Interior.

Isto é, a coisa irá, vai mexendo, será imparável, apesar do baixo preço do petróleo e do gás natural e da força dos seus comercializadores.

PS - Cheguei a estudar as experiencias de flywheels no metropolitano de Londres. Eram instalados nas subestações de tração, absorvendo a energia de regeneração da travagem dos comboios e devolviam-na, descontando o rendimento, claro, no arranque dos comboios. Penso que o metro de Hamburgo tambem teve uma instalação experimental. Parece que não vingaram as experiencias. Tambem se pensou montá-los nas automotoras (há muitos anos circularam num metro dos USA esses volantes de inércia). Penso que os construtores de autocarros elétricos tambem estão a experimentar isto. E os construtores de fórmula 1 para absorver a energia de travagem e devolvê-la nas acelerações. Enfim, admirável mundo da tecnologia de aplicações à mobilidade. Mas sem certezas... o petróleo está baratinho e o gás não é problema...

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