terça-feira, 24 de novembro de 2015

De Armando Cerqueira, "Revolução e contrarrevolução(1974-1975)"

"Revolução e contrarrevolução em Portugal (1974-1975)", de Armando Cerqueira, ed.Parsifal é um livro apaixonado que contem testemunhos muito interessantes daqueles dois anos , uns apenas testemunhos mas outros documentos e factos.
http://www.parsifal.pt/

A paixão com que o autor descreve alguns factos não retira o interesse histórico, até porque a propaganda oficial tem sistematicamente apresentado outras versões - a história é sempre escrita pelos vencedores...
Mas também na análise histórica é preciosa a diversidade, se não para entender a verdade, que ela é tantas vezes difusa, indeterminista ou polifacetada, pelo menos para ouvir todos os lados.
Citação do livro, transcrevendo um documento do PCP sobre a intervenção de Álvaro Cunhal na reunião plenária do comité central de agosto de 1975 (verão quente, período que antecedeu o 25 de novembro): "O sectarismo conduz a reservas, desconfianças e recriminações entre forças políticas que poderiam e deviam cooperar estreitamente ... em toda a parte os militantes comunistas têm indicação expressa de procurar contactar e estabelecer formas de cooperação com membros de partidos revolucionários, com membros do PS e de outras formações".
Não admira portanto a reunião nas vésperas do 25 de novembro entre Álvaro Cunhal e Melo Antunes, relatada por testemunhos de origens diferentes, da qual sairam amigos, e o apelo subsequente de Melo Antunes à aceitação do PCP na vida democrática.
Transcrevo também, ao mesmo tempo que recordo um documentário televisivo de André Nekrasov, "Adieu, camarades" (investigação histórica pela filha de um militante do partido comunista soviético do seu passado - "aprendi que por mais nobre que seja um ideal, não deveremos nunca impô-lo pela força":
http://www.arte.tv/fr/adieu-camarades-1975-1991/4314104.html ),

o excerto na badana do livro:
"Ao anoitecer de 25 de novembro de 1975, vários militantes de base do Partido Comunista Português, bancários de profissão, seguindo ordens do seu partido, encontravam-se reunidos no centro de trabalho na rua dos Fanqueiros, em Lisboa. Tinham-nos instruido para aguardarem ordens... Acreditavam ingenuamente que o socialismo estava próximo, quase lho tinham prometido militares progressistas e políticos de esquerda, que a realização do multissecular sonho acalentado era possível. Com sacrifício, abnegação e coragem, estaria ao seu alcance a passagem à sociedade do futuro, socialista, da justiça social, da cultura e da sabedoria, da paz e do bem-estar, do fim da opressão e da exploração ... Já a noite caíra quando a ordem veio. Tombou súbita e brutal, provocando espanto e desespero, cremos, em cada um: "As ordens do partido são que cada um regresse a casa. Fiquem lá e não saiam"."





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