sábado, 17 de dezembro de 2016

A propósito da morte das duas adolescentes por um comboio de velocidade elevada.

Email dirigido ao GISAF, gabinete de investigação de acidentes


Exmos Senhores

Consultando hoje o vosso site
verifica-se que não está a decorrer nenhum inquérito á morte das duas adolescentes em Vila Nova de Anços em 7 de dezembro de 2016.
Dada a gravidade do acidente, parecerá que deverão ser analisadas em profundidade as circunstancias e as causas do acontecido, e elaboradas recomendações para tornar segura a exploração com comboios de elevada velocidade.
De facto, a comunicação social criou a ideia de que o acidente foi causado pelo uso de auriculares, o que poderá ter sido uma circunstancia que favoreceu o acidente. Mas a tónica poderá ser os riscos de sucção  pelo deslocamento de ar em velocidade elevada (criação de uma depressão junto da parede do comboio), o que implicará a divulgação pública da distancia de segurança aos comboios com essa velocidade, nomeadamente nos bordos dos cais. Recordo o acidente que vitimou 2 agentes da polícia em Santa Iria da Azoia, em zona de elevada velocidade.
A ocorrencia de acidentes semelhantes, nomeadamente junto da estação do Fogueteiro, justifica uma análise rigorosa das condições em que um comboio pode parar fora do cais da estação ou apeadeiro ou em que a separação entre a zona de paragem e a via não é clara. Pessoalmente, conheço vários casos na linha Alfarelos-Figueira em que o acesso à via nãoestá devidamente sinalizado. Em caso extremo, poderá propor-se a instalação de detetoes de descida à via nas extremidades dos cais.
Esta problemática está relacionada com as travessias pedonais das vias férreas, mesmo as protegidas com semáforos para peões, uma vez que velocidades superiores a 40 m/s são incompatíveis com o tempo de reação e a velocidade de deslocação de uma pessoa idosa ou com deficiência motora.
As recomendações saídas desses inquéritos contribuiriam assim para o aumento da segurança das circulações dos comboios de velocidade elevada.

Com os melhores cumprimentos


Fernando Santos e Silva

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Expansão do metropolitano de Lisboa do Rato ao Cais do Sodré

 Notícia de 15 de dezembro de 2016 no Público:


Ao longo dos anos, o crescimento da rede do metropolitano foi revelando na maior parte dos casos em que se decidia por uma ampliação, graves erros de planeamento. Isto apesar de, felizmente, o plano base de expansão, elaborado em 1974-1975 por um gabinete de estudos ligado à Siemens, ter  sido parcialmente seguido nas expansões que se verificaram.
A rede atual é assim em grande parte o resultado de acrescentos decididos pontualmente de acordo com critérios  políticos pouco fundamentados tecnicamente.
Curiosamente, uma das medidas prioritárias proposta por esse plano, a expansão até Alcantara, ficou por concluir.
Um dos erros mais vulgares nos momentos de decisão consiste em querer resolver com uma linha apenas, zigzaguiante, em boomerang em forma de “V”, ou simplesmente em círculo, o serviço de várias zonas mais densamente habitadas ou concentradoras de emprego, perdendo-se assim a valencia de uma verdadeira rede, de garantir percursos múltiplos através do cruzamento de várias linhas, no pressuposto de que os caminhos nas estações de correspondência estarão minimizados e que as circulações em todas as linhas são regulares e frequentes.
Ficaram célebres  o desvio na fase de projeto da linha do Campo Grande para Odivelas imposto pela junta da freguesia da Ameixoeira e o desvio da linha da Pontinha para a Amadora do seu destino ideal, a estação central da Amadora, para a Reboleira, por imposição da respetiva câmara municipal.
O traçado proposto retoma o plano de expanão apresentado pelo governo em 2009 apontando já para uma linha circular, apesar dos seus inconvenientes, privilegiando a comodidade de alguns passageiros dispensados de percursos de correspondência em detrimento de “ir buscar” passageiros a zonas mais afastadas do centro.
Compreendem-se pois, dada a recorrência deste tipo de erros, as palavras do senhor ministro e acredita-se que está a ser sincero  e bem intencionado quando diz que o rio terá finalmente uma ligação direta ao centro e que assim se resolverá o principal problema de mobilidade do metropolitano.
Infelizmente não parece ser assim. O principal problema da mobilidade não é esse. É a falta de ligações segundo eixos de penetração e eixos tranversais que eliminem o excesso de penetração e de atravessamento de automóveis na cidade, com todos os custos associados de congestionmento, de desperdício energético com combustíveis importados, com emissões de gases de estufa. Apesar de todos os progressos da indústria automóvel, o transporte ferroviário metropolitano continua a ser mais eficiente por passageiro.km para fluxos elevados. Para a solução desse problema da mobilidade  em nada contribui a expansão do Rato ao Cais do Sodré, a menos da atração de passageiros moradores nos bairros da Lapa e de Santos ou de moradores na margem sul ou Cascais que trabalhem entre a Estrela e o Saldanha e troquem o transporte individual pelo metro por não terem de mudar na estação Baixa Chiado.  E evidentemente, a solução da mobilidade da área metropolitana não deverá ser vista apenas com critérios restritos, memo que sejam os duma câmara importante como a de Lisboa.  Quanto ao problema da ligação do rio ao centro, ele  resolve-se simplesmente, com a infraestrutura existente, com um serviço mais regular e frequente nas linhas amarela, azul e verde, com as correspondências existentes e, no caso da linha verde, com recurso a comboios de 6 carruagens (anote-se que, no caso da procura de passageiros continuar a aumentar, a frota existente, mesmo melhorando a taxa de disponibilidade, começa a ser insuficiente).
Admito, inclusivé por razões deontológicas, que a informação recebida pelo senhor ministro esteja correta. Mas infelizmente poderá estar incompleta. Durante a minha experiência profissional, mais ligada à manutenção de infraestruturas e à integração de disciplinas ferroviárias durante os trabalhos de ampliação da rede do metro, chamei por várias vezes a atenção dos colegas projetistas que deviam ter a humildade de reconhecer que quem faz os projetos não faz geralmente a manutenção. Ou por outras palavras, não sente as dificuldades resultantes da desadequação entre o projeto e as realidades do dia a dia da manutenção. Por exemplo, o declive elevado entre Rato e Cais do Sodré implica um consumo adicional de energia; a profundidade da estação Estrela implica gastos adicionais na ventilação e escadas mecânicas; uma linha circular tem inconvenientes que explicitarei a seguir.
Outro erro grave consiste em privilegiar critérios financeiros em detrimento de razões técnicas. Compreende-se que é dificil preparar processos  de  financiamento e encontrar financiamentos. Mas é um erro justificar uma expansão só porque se obteve financiamento, como é dito agora. Um exemplo desse erro foi a expansão da estação Oriente ao Aeroporto, envolvendo uma obra complexa e carissima, com curvas e declives contraindicados em linhas de metro, quando teria sido muito mais económico construir uma linha independente parcialmente em viaduto, do Campo Grande a Oriente, com correspondencia nestas estações com as linhas verde e amarela, e a linha vermelha, respetivamente.
No caso do plano apresentado, aponta-se o erro grave de querer uma linha circular numa área de influencia pequena. As linhas circulares justificam-se quando o seu “diãmetro” é significativo, de modo a fazerem o seu papel de distribuição de fluxos de passageiros por vários eixos de penetração.  Entre estações das linhas amarela e verde existem atualmente distancias da ordem de 600 e 900  metros com uma média, entre Campo Grande e Baixa Chiado, de 1060 metros. Numa cidade em que a distancia média dos habitantes a uma estação de metro é superior, parece mal empregado o dinheiro investido na criação de uma linha circular de “diâmetro” tão pequeno. Do ponto de vista da topologia, nas zonas de estações próximas a linha circular corresponde a uma única linha com 2 vias no sentido sul-norte e outras 2 no sentido norte-sul. Do ponto de vista de exploração da linha circular, o seu inconveniente principal consiste em que uma perturbação em qualquer dos seus pontos afeta toda a linha, coisa que não acontece com 2 linhas independentes. Numa altura em que o  metropolitano é tão acusado de fornecer um serviço com perturbações, convem sublinhar este aspeto, apesar de, obviamente, se poder explorar a linha parcialmente, enquanto o troço com avaria está desativado. Porém, isso exige tempo com toda a linha parada e envolve alguns riscos. A inexistencia de términos numa linha circular limita ainda a capacidade de recuperação do intervalo entre comboios (a otimização da oferta depende da regularidade da exploração) após perturbações por excesso de afluência ou por avarias.
Anota-se que dada a natureza aluvionar dos terrenos, os custos de construção da ligação à estação Cais do Sodré são elevados e que, se se quiser cometer o mesmo erro na ligação das linhas amarela e verde nos viadutos do Campo Grande, os custos de construção serão elevadissimos e as caraterísticas resultantes de perfil horizontal e vertical das vias não são de recomendar.
Tal como o senhor ministro referiu, existem alternativas, várias, e a sua análise em debate alargado, contrariamente ao secretismo que tem sido seguido, seria preferível. Como ele próprio referiu, o prolongamento da linha vermelha a Alcantara (ou da própria linha amarela, concretizando a proposta do estudo de 1974-75) apesar de mais caro (4 km para a linha vermelha; 2,3 km para a linha amarela) deve fazer-se, nomeadamente para redução do tráfego de penetração automóvel vindo da A5 (parque de estacionamento a construir integrado na urbanização de Campo de Ourique Norte) e correspondencia com a linha de Cascais e da ponte 25 de abril em Alcantara.  Note-se que a aceitação da ideia não fundamentalista de construção em viaduto na zona de Alcantara minimizará os custos. Igualmente a não construção da estação de Campolide, que tem o inconveniente de ser muito profunda, reduzirá os custos. Quanto ao financiamento, recorda-se que as candidaturas aos programas CEF e Juncker tiveram reduzidissima participação dos metropolitanos, que o próprio Juncker insiste no aumento do financiamento de infraestruturas, que já deviam estar a ser elaborados projetos para submissão como candidaturas ao programa comunitário 2021-2027 e que só há seleção de candidaturas se assentarem em projetos bem elaborados com critérios técnicos e não políticos.

Deixo pois estas críticas à  consideração dos decisores, chamando a atenção para os erros graves que este traçado encerra enquanto utilização de dinheiros que são para nós parcos, sem que se alargue significativamente a zona de influencia do metropolitano de Lisboa, em detrimento dos interesses da população residente na área metropolitana que tem de se deslocar a Lisboa e desprezando soluções mais eficazes nesse sentido.

ver tb:
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2017/11/a-expansao-da-rede-do-metropolitano-de.html

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Hercules, oratório-ópera de Handel

Mais uma vez, graças ao canal Mezzo, aprendo um facto curioso na história da música. Hercules é hoje reconhecida como uma das obras primas de Handel, mas durante 2 séculos permaneceu no esquecimento. Oscar Wilde, ele próprio vítima de preconceitos,talvez dissesse "se desprezam esta obra, é porque é muito boa".
Mas não devemos seguir o libreto à risca. As notícias são para se saberem, haja ou não interesse político no seu silenciamento:



segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Discurso de Marco António ao povo de Roma depois da morte de Cesar, segundo Shakespeare

Marco António:
Amigos, compatriotas, escutai-me! Venho para sepultar César, não para elogiá-lo. O mal que os homens fazem sobrevive-lhes. O bem costuma ser sepultado com os seus ossos. Que seja assim com César. O ilustre Brutus disse que César era ambicioso. Se assim foi, tratava-se de uma grave falta, e ele pagou, gravemente, pela ambição. Com a autorização de Brutus, que é um homem honrado, como também o são os demais, venho falar-vos no funeral de César. Era meu amigo, sempre leal e justo comigo. Mas Brutus diz que era ambicioso, e Brutus é um homem honrado. Muitos cativos trouxe para Roma cujos resgates encheram os cofres públicos. Era isso ambição? Se os pobres se lamentavam, César chorava. A ambição devia ser mais dura. Contudo, Brutus disse que era ambicioso. E Brutus é um homem honrado. Todos vós vistes, nas Lupercais apresentei-lhe, por três vezes, uma coroa real. E por três vezes a recusou. Era isto ambição? Contudo, Brutus disse que era ambicioso e ele é um homem honrado. Não desaprovo as palavras de Brutus! Mas estou aqui para dizer o que sei! Todos o amastes alguma vez, e não sem uma razão. Que razão, então, vos impede de chorá-lo? Ah, julgamento! Deves cobiçar os irracionais, porque os homens perderam a razão. Perdoai! O meu coração está ali...........



Todos os historiadores dizem que Churchill era um político genial, um defensor até ao extremo da democracia.
E os historiadores são  homens honrados.
Também dizem que a civilização e a cultura lhe ficaram a dever muito, na sua luta contra a tirania, a selvajaria e a guerra.
E os historiadores são homens honrados.
E também dizem que foi ele que na sua defesa da democracia fez vingar o conceito de cortina de ferro,ultrapassada a aliança de Yalta com o ditador Estaline.
E os historiadores são homens honrados.
Mas, sem querer desaprovar as palavras dos historiadores, Churchill foi o artífice da expedição aos Dardanelos, durante a primeira guerra mundial, era ele secretário de Estado da guerra, delineando uma estratégia também mal executada. E por isso responsável pela morte de milhares de soldados inocentes, dum lado e doutro, australianos, franceses, ingleses, turcos...
Sem querer desaprovar as palavras dos historiadores, digo que Churchill também mandou bombardear Dresden, a pretexto de retaliação do crime sobre Coventry do ditador de Berlim. Era fevereiro de 1945. Dresden não tinha fábricas, não participava diretamente do esforço de guerra. Só tinha civis. Mas não estou a dizer que foi um crime de guerra mandado executar pelo defensor máximo da democracia ocidental, nem posso formular nenhum juízo de intenções imaginando o que Churchill  faria se pudesse ativar uma bomba atómica, como Truman. Churchill, que no dia seguinte ao da tomada de posse em 1940, antes dos ataques dementes da aviação alemã sobre Londres, mandou bombardear uma cidade alemã onde não havia fábricas, nem instalações militares, apenas civis, Monchengladbach...
Mas os historiadores são homens honrados, que porém não se interrogam como eu, quantos inocentes morreram com as decisões dos seus herois ...

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

O sal da terra e a corrupção

Recordando o sermão dos peixes do padre António Vieira, que deduziu uma analogia a partir do evangelho aplicável ainda nos dias de hoje. 
Embora se corra o risco de generalizar e considerar todos como corruptos, ou até esquecer que há coisas e economias paralelas que se fazem por condicionamentos exteriores à vontade das pessoas. 
Estas coisas deviam debater-se às claras, sem sigilos e sem espírito de pelourinho...

«Vos estis sal terrae (Mateus, 5:13)
Vós, diz Cristo, Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: 
e chama-lhes sal da terra, porque quer que façam na terra o que faz o sal. 
O efeito do sal é impedir a corrupção; mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que têm o ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção? 
Ou é porque o sal não salga, e os pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou porque a terra não se deixa salgar, e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhes dão, a não querem receber. 
Ou é porque o sal não salga e os pregadores dizem uma coisa e fazem outra; ou porque a terra não se deixa salgar, e os ouvintes querem antes imitar o que eles fazem, que fazer o que dizem. 
Ou é porque o sal não salga, e os pregadores se pregam a si e não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, em vez de servir a Cristo, servem a seus apetites. 
Não é tudo isto verdade? Ainda Mal. (...) Isto suposto, quero hoje, à imitação de S. António, voltar-me da terra ao mar, e já que os homens se não aproveitam, pregar aos peixes. 
O mar está tão perto, que bem me ouvirão. 
Os demais podem deixar o sermão, pois não é para eles.

sábado, 12 de novembro de 2016

O Metropolitano de Lisboa em duas entrevistas, nos primeiros dias de novembro de 2016


Introdução 
Provavelmente, nas sociedades primitivas ainda nómadas, em situações de emergência e de fuga, funcionaria uma escala de prioridades com o objetivo de preservar o  grupo, com eventual sacrificio dos individuos mais fracos, ou menos importantes para o futuro do grupo. Mais recentemente ficaram registados os casos do sacrificio sistemático dos primogénitos, coisa consagrada pelas religiões de povos como os cartiganeses e fenícios, ou a eliminação das crianças com deficiência, ou simplesmente com indícios de menor reação às ameaças exteriores, como tambem ficou registado na antiga Esparta.
No fundo, mecanismos biológicos para a manutenção da espécie,fenómenos a estudar na antropologia, na sociologia, na psiquiatria (aquela questão dos níveis dos neurotransmissores que afetam a capacidade de adesão ou, ao menos , de compreensão, do que o outro diz, por exemplo).
E um desses mecanismos era a importancia dada aos velhos que mantivessem a capacidade de pensar. Em situações de emergência, a assembleia de seniores, graças à experiencia dos seus membros, analisava e propunha soluções, a executar pelos mais fortes ou a seguir por toda a comunidade. O étimo de senado mostra isso mesmo. Em situações de fuga, a prioridade era dada às mulheres em idade fértil, aos homens mais fortes, aos velhos, e só depois aos jovens (estes a sacrificar como carne para canhão). Porque em qualquer altura as mulheres em idade fértil reporiam o nível demográfico e a capacidade de propor soluções dos velhos era sempre necessária.
Provavelmente a evolução tecnológica, a sedentarização, a proteção sanitária e os mecanismos de pacificação contribuiram para o desprezo dos velhos, considerados agora como um peso inútil a sustentar pelas novas gerações.
E contudo, são os grandes grupos económicos que mostram o poder dos velhos, através dos mecanismos da herança (ver Picketty, 900 páginas, ou Zuckman, 150 páginas), de Angola ao Casaquistão, do Continente ao Pingo Doce, da corticeira às tintas Barbot, da Zara ao Santander, o discurso da tomada de posse na renovação das gerações termina sempre como na anedota, obrigado, papá. Na verdade, não podemos responsabilizar a ferramenta, que não tem culpa do objeto de quem a maneja, não devemos acusar de cumplicidade no assalto ao banco o fabricante do automóvel que serviu de apoio. Mas seria desejável que a experiência dos mais velhos pudesse beneficiar a comunidade, como fazem aqueles grupos...

Questões deontológicas
Eis porque hesito sempre que escrevo sobre questões de transportes. Posso estar a mostrar uma reforma mal aceite, apesar de na altura pensar que estava a fazer a transição de acordo com os manuais, ou a petulancia de um saber superior ao dos mais novos. Talvez devesse cortar com o passado, mas não, insisto, embora receando beliscar os princípios deontológicos que mandam respeitar o trabalho dos outros, não desmerecer dos mais jovens, nos quais aliás tenho confiança. Não quero que eles possam ser acusados de me passar informações que afetem a imagem do metropolitano ou dos seus dirigentes. Por isso o que escrevo baseia-se fundamentalmente nas memórias e registos que tenho e no que vem a público, tal como escrevi, preocupado com questões deontológicas, em:
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2016/08/depois-da-reposicao-dos-complementos-de.html

em texto que aliás enviei em agosto de 2016 ao secretariado da administração do metropolitano com o pedido de transmissão ao seu presidente. Em julho as comissões sindical e de trabalhadores tinham divulgado publicamente as condições de degradação no metropolitano e as ameaças para a retoma da procura depois das férias. Alinhei uma série de sugestões e questões como a falta da encomenda de rodados e da admissão de 30 trabalhadores que não mereceram qualquer resposta.

Existem perturbações
E agora é a campanha dos meios de comunicação social sobre as perturbações na linha azul, na linha amarela, na linha verde, na linha vermelha. Claro que existem perturbações, mas como mostrou a amostragem que fiz, não exageremos:
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2016/10/uma-amostragem-o-metropolitano-de.html

E eis que sou surpreendido, nesta euforia jornalística com as deficiências de funcionamento do metro, por duas entrevistas televisivas nos primeiros dias de novembro de 2016.

Entrevista de 7 de novembro com o senhor presidente
Na primeira, na SIC, em 7 de novembro, respondendo à reporter sobre o que se está a fazer para melhorar o serviço prestado, o senhor presidente do metropolitano diz que estão a reparar os 18 comboios avariados (18 comboios parados em 111, não 18 carruagens como dito na entrevista) e a formar 30 novos maquinistas.
Ora, é público através das informações das comissões sindical e de trabalhadores, que os rodados encomendados ainda não estão disponíveis (previsão durante o resto do mês de novembro de 2016), e que ainda não há 30 novos funcionários para libertar 30 agentes de estação para o curso de  novos maquinistas (seleção a iniciar e concurso interno previsto para fins de novembro de 2016).
Será suscetibilidade minha, mas cresce-me ao ouvir isto um sentimento de vergonha, pela incompreensão quando atempadamente os técnicos propuseram a encomenda de novos rodados, pelas demoras burocráticas, com a desculpa não confessada de que se quer cumprir o défice. Pelas inaceitáveis demoras nas obras de Arroios (as sugestões que eu já fiz...), de conclusão das obras de adaptação de Colégio Militar a pessoas com mobilidade reduzida e início dessas obras em Campo Grande (já realizada a ligação da superfície ao primeiro piso), Entrecampos, Jardim Zoológico, Baixa-Chiado (falta ligação da superfície ao mezanino).  Pela incapacidade de dinamizar a elaboração de projetos e programas base a submeter a candidaturas de fundos europeus, como aliás já se tem feito, mas não vejo os jovens colegas do metro e Ferconsult lançados nessa via.
Uma nota ainda para a falta de esperança na entrega da gestão da Carris à CML. Não tenho confiança na sensibilidade para as questões de planeamento de transportes no seio da CML, nem acredito nos autocarros de gás como solução. Continuo a acreditar que deviamos ter um operador único a gerir e a estudar o planeamento das redes de transporte na área metropolitana de Lisboa (confesso também a minha falta de confiança na solução "autoridade metropolitana  de transportes", por manifesta falta de meios e recursos humanos).

Entrevista com o senhor ministro no dia da inauguração da web summit
E no dia 8, no dia da web summit, a segunda entrevista, do senhor ministro do Ambiente que tutela os transportes (eu diria que o peso dos transportes justificaria que fosse o contrário e que os transportes estivessem integrados em ministério como o da economia, energia ou infraestruturas, ou melhor, como antigamente, nas Obras Públicas, mas as pessoas gostam de inovações).
http://www.tvi24.iol.pt/sociedade/web-summit/confusao-no-metro-de-lisboa-deveu-se-a-numero-invulgar-de-utentes-diz-ministro

Questionado pelo excesso de afluência na linha vermelha, a caminho de Oriente, disse uma verdade, que apesar de tudo foi cumprido o plano de intervalos entre comboios, no caso 6 minutos e 15 segundos, e reconheceu uma evidencia, que quem trabalha no metropolitano o faz em condições deficientes e com dedicação.
Mas também disse que a linha vermelha não pode ter intervalos inferiores a 6 minutos e 5 segundos por razões de engenharia e de exploração.
Concordo que por razões de exploração possa dizer-se isso, é uma questão de dimensionar em conformidade a chamada almofada, destinada a absorver perturbações, isto é, oscilações em torno do intervalo médio.
imagem retirada do noticiário da RTP, cais de Alameda II cheio depois da partida do comboio; felizmente as pessoas respeitam a faixa amarela  e as de trás não empurram

Mas não posso concordar com a invocação de razões de engenharia. Aliás, preferiria ver um técnico do metro a falar nas razões de engenharia e no intervalo possível do que o senhor ministro.
A entrevista induziu em mim  a nostalgia do tempo em que fazia as contas do intervalo mínimo na linha, que é o mesmo que calcular a capacidade máxima de transporte de passageiros por hora e por sentido ((=60min/intervalo em min) x lotação do comboio). E fi-lo para o sistema ATP/ATO (automatic train protection/ automatic train operation) que esteve a funcionar entre 2000 e 2009 e que foi desativado quando a linha foi prolongada de AlamedaII a S.Sebastião II. Quem tinha o poder e a falta de conhecimento técnico decidiu assim, a pretexto de custos de manutenção (claro, a segurança e a rapidez paga-se), embora a principal causa das perturbações, aliás dentro do razoável, estivesse relacionada com o modelo de gerador taquimétrico em uso no material circulante. Não guardei os cálculos, de modo que os refiz agora, com a reserva de, como disse acima, nada ter pedido aos colegas no ativo, para que alguém mal intencionado não os possa acusar de me passar informações. O que segue é de minha exclusiva responsabilidade.

Cálculo do intervalo mínimo entre comboios
O intervalo entre comboios depende da distancia de libertação dos sinais, que nesta linha é maior porque foi projetada para ATP com sinalização mais simples, de recurso, apenas com sinais de saida e de manobra (sem sinais de entrada), Isto é, um comboio só pode sair duma estação depois do comboio precedente ter saido da estação seguinte e deixado um espaço de cerca de 200 metros depois da estação para servir de distancia de travagem de emergencia. A condicionante do intervalo será assim a soma do tempo de percurso, mais o tempo de saida e entrada de passageiros, mais o tempo para o arranque e atingir os tais 200 metros livres. Ou seja, cerca de 2 minutos e meio.
Mas não é isto que impõe o limite mínimo do intervalo, é o estrangulamento do término de S.Sebastião II, inserido numa zona de condições topográficas desfavoráveis, em curva e em rampa, e com uma ligação de serviço com a linha azul.  Ver esquema no fim do quadro Excel seguinte.




En passant, esclareço que as condições desfavoráveis do término resultaram de:
1- os decisores não terem aceite a solução de maior proximidade entre as duas estações de S,Sebastião de correspondencia com o pretexto de servir melhor a zona da Duque de Ávila
2 - os  decisores, incluindo os da CML, terem alterado o traçado original, mais retilineo e mais plano (se nos lembrarmos que as obras de ampliação de Arroios chegaram a estar adjudicadas mas foram canceladas por imposição da CML, que não queria obras simultaneamente em S.Sebastião e Arroios, eventualmente por razões eleitorais - como se mudam as vontades - compreende-se porque não gosto de ver ministros ou a CML a falar de  questões técnicas de metropolitanos) .
Na realidade, o comboio de Saldanha só pode sair depois do comboio precedente ter carregado passageiros no cais único de inversão e depois de ter passado pelo aparelho de via e deste ter voltado à posição de via direta.
De acordo com a linha  14  do quadro, esse tempo, incluindo uma almofada de 30 segundos para absorção de perturbações, é de 5 minutos e 28 segundos se considerarmos a velocidade atualmente limitada a 45 km/h, ou de 5 minutos e 16 segundos, se repusermos o limite de 60 km/h.

Não há portanto razões de engenharia que não sejam falta de material circulante disponível  para o intervalo ser de 6 minutos e 5 segundos. Aliás, o horário inaugural do término de S.Sebastião II tinha um intervalo de 5 minutos e 35 segundos.
Mas evidentemente, por razões de exploração pode haver, basta aumentar o tempo da almofada (para absorver o "engarrafamento" de descidas e subidas nas escadas do lado poente de S.Sebastião II que não foram dimensionadas para chegadas e partidas - poderia reservar-se uma para subida e outra para descida).

Pode ainda melhorar-se o intervalo introduzindo o chamado condutor de reforço, um maquinista que aguarda a chegada do comboio em S.Sebastião na extremidade nascente e entra logo para a cabina, substituindo o maquinista anterior. Obriga a mudar de maquinista em todas as inversões em S.Sebastião. Exige um pouco mais de esforço aos maquinistas, mas o esquema chegou a funcionar há muitos anos, antes da extensão de Alvalade para Campo Grande.
Poupa-se o tempo de mudança de cabina e chega-se aos valores da linha 16:      4 minutos e 8 segundos para limite de 45 km/h e 3 minutos e 56 segundos para limite de 60 km/h.

Finalmente, pode ainda reduzir-se o intervalo se se fizer a inversão no aparelho de via a jusante. Tem o inconveniente de estar em rampa, mas o material circulante permite isso. Por razões de segurança, convirá prever a presença de um maquinista ou inspetor na extremidade nascente do cais de inversão enquanto o  maquinista faz a mudança de cabina. Como se encontra longe da estação (por causa da ligação de serviço) a economia de tempo não é muito grande.
Na linha 22 do quadro dão-se os valores:   3 minutos e 52 segundos para o limite de 45 km/h e 3 minutos e 40 segundos para o limite de 60 km/h.

Espero não me ter enganado nas contas nem nas distancias.

PS - a propósito da web summit, não podendo constituir-me em investidor, embora alinhasse num crowdfunding, gostaria de ver a concretização de aplicações ou equipamentos robotizados para informação aos passageiros do estado de funcionamento dos elevadores, do intervalo real praticado em todas as linhas (em vez do antipático anuncio "existem perturbações") ou para guiamento e informação nas estações de cegos e amblíopes.



segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Os TPC do nosso descontentamento

Aviso: o que segue é uma forma de ironia

No exercício das suas funções relevantes para o progresso da educação, a associação de pais espanhola requereu o fim dos trabalhos de casa para que as crianças pudessem dar largas à sua criatividade lúdica, socializassem melhor com os pais e amigos e assim se desenvolvessem harmoniosamente.
De tão evidente que esta medida contribuirá para a abertura das mentes das novas gerações e para a melhor produtividade e competitividade dos que serão brevemente os jovens adultos da nação espanhola, que imediatamente a associação de pais portuguesa se fez eco, concordando que os TPC são uma forma tirânica de impedir as crianças de se divertirem e de socializarem , criando-lhes complexos e sentimentos de frustração por não poderem executá-los.

De facto, frustrados são os professores e os pais (e avós) desatualizados, informáticos iletrados que não descarregam apps nos smartphones nem frequentam as discotecas e os bares de shots. Que repetem os programas curriculares como robôs e assim querem transmitir aos alunos a sua ausência de criatividade. Que os programas contenham o resultado de séculos de esforço da humanidade para compreender minimamente o que a rodeia, isso não interessa, quando contribui muito mais para o desenvolvimento da personalidade passar o tempo depois das  aulas com os últimos jogos na consola ou no smartphone. E que não venham os professores desatualizados dizer que a matemática é como a ginástica, que não basta o exercício nas aulas, é preciso fazer exercícios em casa para ginasticar o cérebro.

Aviso: o que segue não é uma forma de ironia

Se um grupo com capacidade de modelar a evolução da sociedade quisesse condicionar a futura distribuição dos jovens por classes de rendimento pecuniário e de capacidade intelectual, não faria melhor.  Não digo que a eliminação dos TPC seria só por si responsável. Mas contribuirá para que uma maioria dos jovens, tornada dependente dos jogos de smartphone , dos concertos pop e dos bares de shots,  fique separada de uma minoria de jovens que fizeram os seus exercícios de matemática quando crianças (até tiraram prazer disso, mas há muita gente que não compreende isso, parece que tem alergia à matemática) e adquiriram capacidades e hábitos de trabalho que lhes permitirão uma vida melhor.
Até parece uma teoria da conspiração, divirtam-se, que os nossos filhos (nós até lhes pagamos umas explicações em privado ou os mandamos para colégios religiosos de disciplina rigorosa) cá estarão para abocanhar a fatia do rendimento que puderem e vocês deixarem. Ou de como a hipocrisia dos imperadores romanos não desiste, panem et circenses...

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

A web summit e o metro

No meio da euforia jornalística sobre a web summit de novembro de 2016 em Lisboa, leio que o metro vai reforçar o serviço mantendo as composições de 6 carruagens durante todo o horário, criou um passe a preço razoável para o metro, Carris e CP Sintra/Cascais e ... vai melhorar a limpeza das estações.
Aplausos para as primeiras medidas, a que penso se juntará alguma condescendência para o trabalho extraordinário. Aplaudo apesar de confessar que o entusiasmo pela web summit me parece um pouco de provinciano novo rico, embasbacado com as potencialidades da internet e do microprocessamento. Mas sou eu que sou velho,que acha que a comunidade perde mais do que ganha desprezando os velhos, especialmente quando vêm com inovações que ignoram principios básicos da industria e da segurança de exploração de equipamentos. Terão ensinado aos designers da Samsung as leis da mecânica quantica que relacionam a libertação da energia ao nível do átomo com o movimento dos eletrões? e explicado que a concentração de matéria na miniaturização dos circuitos gera calor que por o volume ser pequeno não pode ser dissipado? e que por isso a temperatura sobe e o lítio das baterias (será que querem substituir a mineração do petróleo pela mineração do lítio? é que há mais vida para além do lítio, isto é, há outros elementos que servem de cátodo e que têm bom rendimento, e há a possibilidade de carros elétricos com células de combustível alimentados por hidrogénio; as eólicas pode,alimentar instalações de eletrólise espalhadas pelo país...) tem um ponto de fusão muito baixo, 180º, e quando derrete combina-se com o material do ânodo e simplesmente explode. Qual será a idade média dos projetistas dos smartphones que explodem e qual será a idade média dos responsáveis pela segurança aérea que puseram uns avisos nos aeroportos que dispositivos eletrónicos com baterias não podem ser transportados no porão? (convinha divulgar a lista de acidentes e incidentes em aviões com origem nas baterias de lítio...).
E quanto à limpeza, os visitantes da summit merecem mais limpeza das estações do que os habitantes da cidade? ou doutro modo, os habitantes da cidade, os produtores de mais valias ou os jovens que se preparam para produzir ou emigrar, merecem menos limpeza do que os visitantes? porquê? faz-me lembrar as visitas do coronel da arma nas suas inspeções, tinha de se limpar tudo na véspera, o que confirmava aquela velha lei que ainda não foi alvo de tratamento inovador, o comportamento do observado deponde do observador.
Votos de boa, produtiva e segura  summit

PS em 5 de novembro - pouco depois de escrever este texto, li a notícia de mais um incêndio das baterias de um Tesla. O acidente desta vez poderia ter-se  dado com qualquer tipo de carro, dada o excesso de velocidade, mas o que impressiona é a explosão da bateria devido ao impacto. Uma explosão consequencia de um impacto violento pode acontecer com carros de gasolina e de gasóleo; até num posto de abastecimento, saltando uma faísca e estando a mistura do vapor de gasolina com o ar dentro dos índices de explosividade. Parece ainda que o Tesla não levava o piloto automático ligado (não confundir com condução autónoma).
Sem querer acusar os carros da Tesla de menos seguros, conviria que a fábrica esclarecesse melhor os outros casos de incêndio (no choque com um camião por deficiência dos sensores óticos do piloto automático; num teste drive em França, desculpando-se a Tesla com uma ligação mal apertada, saltando uma faísca - ora se a ligação estava mal apertada era porque o circuito não foi testado e a bateria não estava protegida, além de que pode acontecer ao longo da vida do carro; num  posto de carregamento rápido, que se sabe provoca uma grande sobrecarga nas baterias). Isto é, para proteger as baterias lá se vai o rendimento volumico e de peso (atualmente 200 - 250Wh/Kg). E não será melhor rever o fabrico dos elementos da bateria, que se sabe serem pequenos cilindros (demasiado pequenos?), com o cátodo e ânodo demasiado próximos? Ou mudar para baterias de zinco, ou de cátodo de ar, ou para carros de hidrogénio. Salvo melhor opinião, claro. Um dos problemas das tecnologias novas é por vezes serem lançadas sem estarem completamente estudadas.


sexta-feira, 28 de outubro de 2016

uma amostragem - o metropolitano de Lisboa em 24 de outubro de 2016

Com todo o barulho à volta do orçamento e a nova palavra na moda "cativações", já se vai relacionando os cortes na despesa das empresas públicas, como o metro, com as deficientes condições do seu funcionamento.
Embora já encomendados os novos rodados, mantem-se a imobilização de comboios que fazem falta ao serviço , bem como 30 maquinistas ainda não formados. Faltam comboios, faltam maquinistas, com a agravante destes não terem um sistema de controle automático (ATP) mais perfeito que os dispositivos de travagem automática por ultrapassagem de sinais vermelhos e de controle pontual de velocidade em poucos locais.
Por isso as pessoas protestam pelas perturbações do serviço e criticam os cortes financeiros e os senhores jornalistas e comentadores já descobriram que o problema está nas cativações para equilibrar o défice.
 Pena não se obter de Bruxelas, tão ciosa das suas responsabilidades ecológicas, uma exceção para financiar a operação de modos de transporte mais eficientes e menos poluidores do que os automóveis e os autocarros. A menos que se prefira o desperdício de continuar  a andar de carro em vez de metro, talvez por causa dos impostos sobre os combustíveis. O que não admiraria, dada a miopia, como diz o senhor ministro Centeno, lá de alguns em Bruxelas.
Resolvi fazer uma amostragem do funcionamento do metro. Sentei-me em bancos de 5 estações no dia 24 de outubro de 2016, entre as 17 e as 20 e anotei a passagem dos comboios.
É apenas uma amostragem, mas deu para calcular o intervalo médio entre comboios e concluir que apesar de tudo, e graças ao esforço de quem trabalha, os comboios vão circulando, penalizando os seus passageiros porque são menos do que deviam e gerando atrasos que se acumulam, mas circulando, à espera de melhores dias, sem cortes no orçamento.




Infelizmente, depois de 3 horas em que apesar da grande afluência de passageiros ir provocando alguns atrasos, lá apareceu, antipaticamente insistente,  o aviso temido, que nas linhas azul, amarela e verde existiam perturbações na circulação. Embora, apesar de tudo, os comboios continuassem a circular, com intervalos maiores, mas a circular, uns demasiado cheios, outros com mais comodidade.

Entre as 17:23 e as 17:58 na estação Alameda I da linha verde, o intervalo médio que verifiquei foi de 4 minutos e 13 segundos, para um intervalo programado de 3 minutos e 50 segundos. Não é ainda uma perturbação grave, mas o facto dos comboios serem de 3 carruagens tende a aumentar o tempo de paragem por dificuldade de saída e entrada de passageiros, o que se vai repercutindo de estação para estação. Tempo médio de paragem na estação verificado: 57 segundos, muito superior ao normal, 20 segundos.
Tempo de paragem a aumentar faz aumentar o intervalo entre comboios e o tempo de percurso e baixar a velocidade comercial e seriam necessários mais comboios para o mesmo serviço  ( número de comboios = tempo total do percurso de ida e volta a dividir pelo intervalo entre comboios).
Uma forma de melhorar o serviço seria aumentar a velocidade entre estações, quebrando a proibição atual de ultrapassar os 45 km/h.  Aumentando a velocidade, pelo menos nas horas de ponta, poderá reduzir-se o número de comboios necessários ou  pelo menos, aliviar a pressão da procura (tal como assegurar o serviço com comboios de 6 carruagens, acelerando o processo de ampliação e aplicando entretanto as soluções provisórias já propostas, como serviço alternado de composições de 3  e  de 6 carruagens ou fecho da estação Arroios nas horas de ponta com serviço alternativo de autocarros elétricos Alameda-Arroios-Anjos). É verdade que a falta de manutenção na esmerilagem dos carris poderá contribuir para maior desgaste, mas talvez não seja significativo.

Entre as 18:03 e as 18:19 na estação Alameda II da linha vermelha o intervalo médio entre comboios foi de 7 minutos e 27 segundos para um intervalo programado de 6 minutos e 15 segundos.   O tempo médio de paragem foi de 40 segundos, o que está de acordo com a elevada afluência de passageiros e ocupação dos comboios.

Entre as 18:28 e 18:46 na estação S.Sebastião I da linha azul, verifiquei 5 minutos e 17 segundos na via D e 6 minutos e 35 segundos na via A, para um intervalo programado de 5 minutos e 15 segundos. O desequilíbrio indicia o início de uma perturbação na via A a montante, para o lado de Colegio Militar e Reboleira (um serviço otimizado mantem igual o intervalo entre comboios ao longo de toda a linha, acelerando os que se atrasaram mais e atrasando os menos atrasados) O tempo médio de paragem foi de 31 segundos, apesar da grande afluência de passageiros e movimento de saídas na via D.

Entre as 19:28 e 19:45 na estação Saldanha I da linha amarela, o intervalo médio foi de 5 minutos e 37 segundos na via A e 6 minutos e 5 segundos na via D para um intervalo programado de 6 minutos e 50 segundos, superior ao verificado, apesar da elevada afluência na via D. O tempo de paragem também foi razoável, 27 segundos.

Como já referido, como provável consequencia de acumulação de atrasos, a partir das 20:00 foram anunciadas perturbações nas linhas azul, amarela e verde. No entanto, na estação Alvalade da linha verde, entre as 20:10 e as 20:30, apesar desse anúncio, verifiquei um intervalo médio de  6 minutos e 5 segundos  e um tempo de paragem médio de 20 segundos na via A e um intervalo de 8 minutos e 53 segundos e um tempo de paragem de 26 segundos na via D indiciando desequilíbrio e perturbação para montante (lado de Telheiras e Campo Grande). O intervalo programado era efetivamente inferior, 4 minutos e 55 segundos (6 minutos a partir das 20:30).



Julgo que merece uma reflexão se o nível das perturbações justifica a repetição do anúncio de perturbações (o que não impede que continue a pedir-se desculpas pelos incómodos dado que o serviço não está a ser bom). É que o tempo de propagação da perturbação até à sua extinção ou atenuação pode ser inferior ao tempo de tomada de decisão de  difundir a informação de perturbação (isto é, quando se decide anunciar a perturbação já ela começou a atenuar-se) . Isto é importante porque muitos passageiros podem alterar a intenção de viajar nometro ao receber essa informação. Por maioria de razão, a informação de uma interrupção de exploração pode ocorrer quando a avaria que lhe deu origem já esteja resolvida ou contornada.
Para além do proposto, aumento da velocidade e disponibilização de mais comboios e maquinistas, exploração alternada na linha verde 3/6 carruagens, sugere-se um pequeno programa  com base nos dados que utilizei (intervalo entre comboios e tempo de paragem) referidos a um grupo de estações em cada linha, e que a informação transmitida aos passageiros seja o intervalo entre comboios estimado e não que existem perturbações. Embora essas informações possam ser retiradas  do programa do comando centralizado do sistema de sinalização, poderá ser mais fácil, a partir de detetores da paragem dos comboios, o cálculo desses parâmetros e sua centralização no sistema de anúncios aos passageiros, estabelecendo um limite para o intervalo de tempo e de paragem que, uma vez ultrapassado, corresponderia ao anuncio de interrupção momentânea da exploração. O desenvolvimento de  uma app para smartphones ligada ao sistema de cálculo de intervalo entre comboios para acesso desta informação através da internet seria interessante para uma start-up da web summit. 

Em resumo, parece exagerada a fúria com os senhores comentadores criticam a degradação do serviço do metropolitano. E pouco simpática com quem está comprometido com o seu trabalho e mantem os comboios a circular.
Efetivamente o serviço não está a ser de qualidade, mas julgo que não há indicadores de que a degradação se esteja a agravar, além de que não me parece que os senhores comentadores baseiem as suas críticas nos indicadores de fiabilidade em MTBF , de disponibilidade e de regularidade. Mas se de facto baseiam, conviria que os mostrassem em quadros comparativos.

PS em 28 de outubro - Não deixei claro no texto que se trata de uma amostragem pouco significativa que não pode generalizar-se. Pretendia apenas verificar se os comentadores, que impantes se exibem nas televisões, não teriam razão quando diziam que o metro era um desastre que estava sempre com perturbações. 
Não é verdade, não está sempre com perturbações e mesmo com perturbações continua a servir. Conviria conhecer os indicadores mais precisos de MTBF, disponibilidade, regularidade, oferta (carruagens.km) e procura (passageiros.km).
Mas a triste realidade é que é preciso repor comboios a funcionar e, para as novas extensões, comprar novos comboios (conviria pensar em comboios com alimentação por catenária rígida, eventualmente com dupla alimentação, também por 3ºcarril, para circulação nas linhas atuais, e coordenar a aquisição com os comboios para a linha de Cascais).
Para isso, seria conveniente começar a elaboração dos cadernos de encargos para aquisição ao abrigo dos programas europeus 2021-2027, uma vez que, para fins ferroviários, não foram devidamente aproveitadas, por falta de fundamento para as propostas (isto é, indefinição de planos) as oportunidades do programa 2014-2020, do CEF e do plano Juncker. Dir-se-á que ainda é muito cedo, que há tempo. E eu digo que não, que há pouco tempo.









terça-feira, 25 de outubro de 2016

Aeroporto, aeroporto

O acidente na aterragem de um ATR subcontratado à Omni para a ponte aérea Lisboa-Porto em 22 de outubro suscita-me os seguintes comentários.
Desta vez não quero colocar hipóteses ainda durante o curso do inquérito, até porque as declarações do diretor do gabinete de investigação de acidentes merecem credibilidade (não é de facto admissível a falta de meios do gabinete de investigação nem considerar-se que não se pode taxar os bilhetes de avião com 20 centimos; serviço público tem de ser financiado pelos lucros privados se não querem uma economia totalmente pública). Apenas comentários relacionados com a gestão do aeroporto de Lisboa.
1 - recentemente, numa entrevista de um sindicalista do serviço de estrangeiros, foi referido o grande investimento nas áreas de movimentação de passageiros mas a insuficencia de condições para o controle policial,incluindo de meios humanos e, especialmente, que o aeroporto não tem capacidade para o movimento crescente
2 - de acordo com informações da ANA, pretende-se fechar a pista secundária, ignorando-se se no plano de investimentos se está incluida a ligação do fim da pista principal à área de estacionamento para evitar o cruzamento da pista principal; o acidente do ATR ilustra a vantagem de uma segunda pista (apesar de ser convergente) a comparar com o que se pretende com o seu fecho, aumentar a área de estacionamento (coisa muito útil para planeamento dos horários das low-cost)
3 - seria interessante comparar os custos das remodelações no aeroporto de Lisboa, que me parece ter atingido o seu limite (a menos que se autorize, ao arrepio da lei do ruído (mesmo assim, não é admissível a rota de aproximaão passar por cima de 3 hospitais nem o aeroporto funcionar às duas da manhã) e das diretivas europeias) com os custos da 1ªfase da construção de um novo aeroporto multi-pistas (embora com o inconveniente dos custos adicionais para a ligação ferroviária a Lisboa, mas com os benefícios da ausência de ruído e riscos de acidentes)
4 - idem para os custos elevados da opção  portela+1 relativamente à adaptação do aeroporto do Montijo (incluir a ligação a Lisboa)

O NPIU, núcleo de preservação da identidade urbanística

Espera este blogue não ser processado, dado que o que segue é pura ficção.


Vila Nova de Santa Silvana é uma cidadezinha como as outras.
As pessoas movem-se segundo os padrões da sociologia e da antropologia, sem grandes particularismos. Talvez as mudanças do 25 de abril de 1974 tenham alterado alguns comportamentos, mas isso também aconteceu nas outras cidadezinhas.
Pessoas que foram crescendo integradas nos seus grupos de interesse. Algumas que se foram deslocando de uns grupos sociais para outros, denotando atividade intensa, como movimentos moleculares em busca de estados de maior estabilidade. Fazendo-me recordar as animações dos filmes que vi quando miúdo, nos terrenos então abandonados à beira do rio, onde os exibidores ambulantes passavam filmes no verão. Lembro-me de ver, como documentários antes dos filmes da Disney, animações com movimentações de grandes manchas azuladas, representando as bactérias, enquanto outras manchas, de glóbulos vermelhos e de leucócitos, se engolfavam   umas nas outras.
As mudanças do 25 de abril deram oportunidade a alguns de intervir na coisa pública. A cidadezinha encheu-se de construções novas. Apartamentos para residencia permanente na periferia, apartamentos para aluguer na marginal, blocos disformes plantados no meio dos bairros antigos, ofuscando os modestos mas graciosos edifícios, uns do tempo da alternancia entre regeneradores e progressistas, do tempo da bancarrota do fim do século XIX, outros do tempo da I grande guerra e da belle epoque, quase todos mantendo vestígios de algum requinte com pormenores arquitetónicos que lá foram deixados; apesar das limitações financeiras da época e graças às promessas do crescimento da economia, já em globalização nessa altura, antes da grande depressão.
Cresceram pois, à medida que as estruturas municipais foram ganhando a força da democracia  local, os blocos inestéticos, enquanto se agilizavam os mecanismos de ligação entre empreiteiros e decisores e licenciadores autárquicos.
Mas precisamente por causa dessa agilização e dos seus resultados era patente a necessidade de moderar a fúria construtiva.
Formou-se assim o núcleo. Um núcleo de preservação do charme antigo da cidadezinha, dos seus pormenores mimosos, o núcleo de preservação da identidade urbanística de Vila Nova de Santa Silvana, o NPIU. Em sintonia com os princípios do controle de qualidade das grandes empresas e da supervisão pelas entidades públicas da conformidade com os padrões da legalidade urbana e do equilíbrio estético. Associado o núcleo, em interpenetração como nos desenhos animados os glóbulos e as bactérias, às forças de geração da construção civil interligadas, por sua vez, com os decisores camarários. Controlando por um lado a barbárie da destruição dos vestígios, mas ao mesmo tempo dissimulando a barbárie do ofuscamento desses vestígios pelas novas construções e pelo novo urbanismo, e legitimando a assunção do poder pelos membros do núcleo.
Foi o aproveitamento de uma oportunidade, porque nenhum dos grupos mais ou menos maçónicos, que cresceram na cidadezinha com a República como cogumelos, o podia fazer. Além de que sempre foram pouco recetivos aos recem-chegados, quer os que vinham de fora de Vila Nova de Santa Silvana, quer os que, nascidos santasilvanenses, vinham dos extratos sociais mais humildes, menos preponderantes.
Assim foram percorridos pelos entusiastas do núcleo as ruas da cidadezinha. Feito o levantamento das maravilhas dos azulejos decorativos nas pequenas fachadas, rocócó uns, art deco outros, devidamente reportados em paineis na via pública. Mas feito também o levantamento dos edificios abandonados e deixados a apodrecer com a morte dos moradores, cujos descendentes emigraram para a Europa ou para Lisboa.
Como recuperá-los? interrogaram-se no núcleo. E a resposta foi dada. Os herdeiros absentistas que não conseguiam vender os desprezados edificios, ou que apenas não tinham dinheiro para pagar sequer a pintura exterior, porque as paredes se encontravam em estado avançado de degradação, ou porque o telhado já tinha deixado entrar água suficiente para corroer os sobrados, começaram a receber intimações da câmara para fazer as obras. Caso o não fizessem, a taxa de IMI seria aumentada astronomicamente, ou teriam de pagar obras coercivas. De nada serviu aos pobres pedir apoio à câmara na obtenção de fundos comunitários para rentabilização dos seus imóveis, nem reivindicar um mercado de remodelação de edifícios com preços controlados oficialmente, ou a negociação de um seguro de bom fim para as obras, quanto mais não fosse para prevenir a fuga do empreiteiro a meio da obra.
Ao contrário, o núcleo coordenou com um empreiteiro conhecido, já com amplos negócios com a câmara a apresentação aos herdeiros proprietários de proposta de aquisição por preços francamente abaixo dos valores patrimoniais atualizados.
E assim foram sendo vendidos, à medida que os anos passavam e os IMIs subiam para quem não vendia, ao mesmo tempo que todos os anos a proposta de compra baixava de valor, afastando-se a eventual concorrência com a garantia de não aprovação dos projetos que apresentassem por não cumprirem os requisitos de preservação do núcleo.
Tendo vários empreiteiros devidamente selecionados integrado este movimento de renovação urbanística, a coisa chegou ao ponto do núcleo promover o embargo de obras de remodelação de edifícios, normalmente de acrescento de andares para aluguer a turistas, ou construção de garagens,que estivessem a cargo de empreiteiros estranhos aos seus movimentos. Por não cumprimento, claro, dos requisitos.
E mais se lembrou o núcleo de nova forma para afirmar o seu poder. O presidente da câmara e a sua vereadora do urbanismo concordaram. E na próxima assembleia municipal fizeram aprovar o novo regulamento com a atualização da tabela dos valores patrimoniais. Aqueles terrenos ali, na zona urbanizada e urbanizável onde já pululavam moradias uni-familiares de alto nível e blocos residenciais para a classe média-alta, tiveram uma subida vertiginosa do seu valor patrimonial.
Bem protestaram, mas inutilmente, os proprietários, que almejavam vender os terrenos com lucro depois de aprovado um projeto de construção. Não tiveram sorte porque os avaliadores da arbitragem estavam por demais ligados ao núcleo.  De modo que não tardaram em começar a vender os seus lotes a preços de cerca de um terço do valor patrimonial. Por coincidência, a maior parte dos compradores estava ligada ao núcleo, aguardando a aprovação de novo plano de urbanização, convenientemente compatível com novo plano municipal diretor e nova atualização, mais modesta, do valor patrimonial.
Coisa semelhante, aliás, ao que se passara anos antes, quando os terrenos junto da ETAR foram vendidos barato, e comprados pelo núcleo, para mais tarde serem vendidos com lucro, depois da mudança de local da ETAR.
Vila Nova de Santa Silvana prossegue a sua auspiciosa caminhada. Ainda recentemente o seu presidente da câmara anunciou, no auditório do palácio dos congressos da cidadezinha, a realização do próximo concurso mundial de uma modalidade desportiva ligada ao mar, mas que não tem nada que ver com o NPIU. Será uma nova oportunidade, na diversidade.

domingo, 23 de outubro de 2016

De Jorge de Sena, a Paz, a propósito da problemática da energia elétrica

Com os devidos agradecimentos  à antena2 e o seu programa A vida breve
http://www.rtp.pt/play/p1109/a-vida-breve

e ao amigo Mario Ribeiro, sempre atento e diligente na distribuição de informação sobre as energias e os transportes,

https://www.publico.pt/economia/noticia/governo-avanca-com-corte-de-140-milhoes-nas-renovaveis-1747382?page=-1



De Jorge de Sena,também engenheiro nos Monumentos Nacionais e na Junta Autónoma de Estradas de 1947 a 1959, com uma breve referência aos negócios das centrais elétricas e à sua sábia questão:

na insólita fortuna da desgraça
à luz do cogumelo cor de fogo
que vitrifica areias do deserto
e não distingue o livro de horas
do duque de Berry
de uma criança no berço nem a Venus de Milo duma welwichia mirabilis
nem um tigre do amor de dois gatos num pátio entre latas vazias
e que chegarão para liquidar a sábia questão 
das centrais térmicas de apoio às hidroelétricas
com as respetivas companhias de distribuição
onde não há que chegue para umas e para outras
mas é preciso comprar carvão
e as vocações de aguadeiro ainda não acabaram 
nesta insólita fortuna a luz que vem
oh em poeiras inofensivas
rezo a mim mesmo para não perder a memória por vós
para que saibais sempre lembrar-vos
de que tudo se perde onde se perde a  paz
e primeiro que tudo 
se perde a liberdade

Isto a propósito do anunciado corte de 140 milhões de euros nas rendas as empresas de renováveis (de 100€/MWh quantto terá baixado? terá chegado ao máximo dos máximos, 50€/MWh?), e que aplaudirei quando se concretizar, juntamente com cortes nos subsídios da "interruptibilidade" e "garantia de potência" (o conceito de seguro não se terá estendido infelizmente até aqui), concorrendo assim para a redução do défice tarifário.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

email para o DN de Paulo Baldaia - um dia na vida dos sindicatos, ou o silêncio dos sindicatos

Um dia na vida dos sindicatos, ou o silêncio dos sindicatos

Senhor diretor

Considere, por favor, esta missiva como um desabafo.
No dia 18 de outubro publicou um editorial perguntando onde estava Wally Nogueira e afirmando que os sindicatos da CGTP deviam ter vergonha pelo seu silêncio.
No dia seguinte o DN, honradamente, publicou uma resposta da FENPROF mostrando que tem publicitado as suas denúncias e protestos.
Atribuí o editorial a falta de assessores que preparassem o trabalho. Como hipótese, porque não conheço os pormenores.
Mas no dia seguinte, no Publico, a opinião de J.M Tavares, desvalorizando completamente as denúncias do site da FENPROF e mostrando saudades de greves.
Verifico que nas caixas de comentários há muitos que aplaudem, e nem todos estipendiados pela oposição.
Isto é, dizer que  a CGTP está em silêncio por causa da geringonça dá audiência (ou como talvez dissesse Oscar Wilde, se as caixas de comentários te aplaudem, vê onde erraste).
Há dias enviei um email a J.M.Fernandes porque também ele falava no silêncio dos sindicatos perante a degradação dos transportes públicos (degradação sim, ma non troppo porque há bons trabalhadores):
Claro que não tive resposta, mas o Observador é um jornal de fação, um bom jornal, com bons colaboradores e bem estruturado, mas de fação, cumpre a sua função.
No mesmo dia assisto ao telejornal da RTP1 e apanho, a todo o ecran, com o Wally Nogueira, anunciando que tem uma ação contra o ministério por sobrecarga dos horários dos professores do 1ºciclo (num país cujo principal problema é o desemprego e o peso da despesa pública com pessoal está na metade inferior da estatística dos países europeus), ver minuto  20.25:
Concluo, mas é também uma hipótese, que os meios de comunicação social andarão a silenciar os sindicatos porque na verdade já não via Wally há uns tempos. Mas vi-o, nesse dia.
E depois de jantar, oiço esta coisa incrível na prova dos nove, pela boca de Paulo Rangel, que zero, o Wally não aparece na televisão  e que o metro é um desastre (informe-se o senhor que os rodados novos já foram encomendados e os primeiros chegam em novembro, e o serviço entretanto vai funcionando), ver minuto 24.20:
Claro que P.Rangel é um bom deputado, mas falou como voz de uma fação (num país que precisa de colaboração/coordenação e não de competição).
Recebo ao fim do dia a informação 176 da FECTRANS (federação dos sindicatos dos transportes e comunicações), anunciando uma greve para 27 de outubro pelo desprezo a que o governo tem votado a EMEF (num país cuja situação social e financeira justifica, conforme as regras da UE, alguma proteção a empresas) e outra no MTS para 2 de novembro:
Não me parece motivo de regozijo, mas J.M.Fernandes e J.M.Tavares poderão matar saudades de greves (dirão talvez que as greves vão ser canceladas, mas então dêem atenção às greves da Portway).
Enfim, senhor diretor, o meu desabafo, em forma de voto, é este: que os senhores jornalistas e os senhores comentadores não me afirmem coisas que são o contrário do que eu vejo.
Com os melhores cumprimentos
F.Santos e Silva
Reformado do metropolitano de Lisboa com o nº 3051
Sócio 21059 do STRUP
Especialista de transportes da Ordem dos Engenheiros com o nº 10973
santos.silva45@hotmail.com



terça-feira, 11 de outubro de 2016

2030 na Alemanha de carros elétricos

Curiosa a notícia que vem da Alemanha, porque não parece ser o mercado a funcionar. 2030 é um bom marco para início da exclusividade de fabrico de automóveis elétricos, por razões ambientais.

http://observador.pt/2016/10/10/alemanha-vai-banir-carros-a-gasolina-e-gasoleo/#comment-post-1720041-1388002

Mas não resolve o problema dos engarrafamentos  do transporte individual em cidades não preparadas. Também seria interessante uma diretiva para utilização da tração elétrica em autocarros e camiões (já há troços experimentais de autoestradas eletrificadas com catenárias para camiões...).

Continuo a pensar que há espaço para a variante elétrica com alimentação por hidrogénio de células de combustível a bordo. O hidrogénio pode ser fabricado por eletrólise de forma descentralizada a partir da rede elétrica de fontes renováveis.
Quanto às baterias, duvido dos valores de autonomia anunciados (mais de 350 km), até porque o peso das baterias para a capacidade requerida (em climas quentes com necessidade de ar condicionado, estimo um consumo de 250 Wh/km, o que implicaria uma bateria com 85 kWh úteis - 500 kg? a juntar a 350 kg para 4 passageiros e bagagem...).

A seguir, com interesse.

Os 3 poderes

Ensinaram-me no liceu, na disciplina de organização política e administrativa da nação, que há 3 poderes, o executivo do governo, o legislativo do parlamento e o judicial.
E dizia a professora, que apesar de esposa de um ministro do doente de Santa Comba, tinha uma sólida formação em história e filosofia e humanista, que a independencia destes 3 poderes é essencial.
E que o problema era, tal como no caso de quem guarda o guarda de Juvenal, quem controla o judicial.
Parecerá que a resposta é ir aos fundamentos da democracia e concluir que serão os cidadãos e as cidadãs que controlarão o poder judicial através da exigência de exame de todas as decisões, ou como se diz agora, de escrutínio. Não se pretendem julgamentos populares, mas que se mostre bem quando um disparate é cometido, quando manifestamente quem tem poderes decisórios põe á frente o interesse corporativo em vez do interesse público, que as coisas fiquem bem claramente expostas.

Eis porque agradeço à Antena 2 , ao seu programa Um certo olhar, e ao seu  convidado Francisco Teixeira da Mota, as informações preciosas sobre algumas inconformidades gritantes do poder judicial em Portugal, com decisões do supremo condenadas pelo tribunal europeu dos direitos humanos (ver a partir do minuto 42 como se apresentam as reclamações ao tribunal pela internet e de forma gratuita).
http://www.rtp.pt/play/p304/e253557/um-certo-olhar

Assim se compreende o pobre estado da justiça em Portugal, que merece apelos do senhor presidente da República, mas que só mudará, salvo melhor opinião, se se aplicar ao poder judicial, para além do tal escrutínio público, o critério organizativo nas empresas dos departamentos de qualidade  (independentes do poder hierárquico, isto é, neste caso, nenhum orgão supremo de magistrados poderá ter poder hierárquico sobre outros magistrados que investiguem um caso ou trabalhem num processo, nem impedi-los de publicamente dizerem sobre o caso o que entenderem ser o melhor para a investigação ou o processo - lá se iria mais um sigilo, que, como se sabe, é um dos melhores meios de manter os privilégios ou a incompetência de um grupo).
Mas é difícil, seria preciso mudar de linguagem académica, acabar com o sigilo, dar mais importancia aos factos e aos dados criticamente aceites, do que às formalidades jurídicas.
Difícil, mas não impossível, pelo menos valha-nos o tribunal europeu.

No mesmo programa, centrado nas condenações devidas a liberdade de expressão, dão-se vários exemplos. Um deles em que um jornal foi condenado pelo supremo a pagar uma indemnização a um clube de futebol por ter revelado que este tinha uma dívida, o que, para o tribunal português, constituiu uma difamação contra o bom nome (!!!) . Mas o tribunal europeu, naturalmente, não concordou. Só que as indemnizações a que o estado português é condenado por não respeitar a liberdade de expressão (artigo 10 da convenção) são pagas com dinheiro dos contribuintes (!!!). Assim é difícil, pobre estado da justiça em Portugal (será este blogue processado?).

PS em 6 de novembro - Oiço admirado no programa O último apaga a luz,um dos intervenientes contar a história de um cidadão reformado que escreveu uma carta zangada ao senhor deputado que criou o termo "a peste grisalha". O senhor deputado, abstraindo que tinha sido ele a começar os insultos chamando peste a quem recebe a sua reforma de acordo com as contas legais, processou o reclamante e ganhou o processo. Que ele, convencido do seu poder, tenha insultado primeiro e humilhado depois, é com ele e a sua consciência, mas o tribunal violar o direito de expressão por indignação, e depois do tribunal dos direitos humanos ter admoestado a jurisprudencia portuguesa e condenado o Estado (os contribuintes) a indemnizar os lesados injustamente condenados, faz descrer na capacidade da instituição  integrar a equipa dos 3 poderes.
E vamos a ver se este blogue não é também processado.

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Email para o Observador de José Manuel Fernandes

Comentário ao artigo de José Manuel Fernandes no Observador de 2 de outubro:




Exmo Senhor José Manuel Fernandes

Relativamente ao seu artigo no Observador de 2 de outubro sobre a degradação do serviço do metropolitano de Lisboa,

envio-lhe, na qualidade de reformado, o seguinte comentário por este meio, dada a sua extensão inviabilizar a inserção na caixa de comentários.

Duma maneira geral, como aliás não poderia deixar de ser, considerando a evidente degradação do serviço do metro, o seu artigo contem informação válida e tem interesse público.
No entanto, gostaria de mencionar três incorreções do seu texto.

Uma irrelevante, dada a pequena diferença entre os 15 milhões de euros anuais dos complementos de reforma e o valor real inferior a 13 milhões, com tendência a decrescer dada a mortalidade que já se vai verificando entre os 1400 reformados com direito ao complemento de reforma (este direito extinguiu-se em 2004, deixando os trabalhadores admitidos posteriormente de beneficiar dele).

Das outras duas, uma refere-se ao termo "exponencial" para o aumento dos custos de pessoal devido à reposição dos complementos de reforma. Não disponho dos gastos com pessoal de 2015 (não houve pagamento de complementos de reforma) nem de 2016 (já houve pagamento de complementos de reforma a partir de abril), mas estimando valores semelhantes aos de 2014 (não houve pagamento de complementos de reforma) de 68 milhões de euros, a subida devida aos complementos seria de cerca de 20%. Numa subida exponencial, é preciso que um expoente se aplique à base da potência, e não parece ser matematicamente o caso.

A terceira incorreção parece mais grave do ponto de vista jornalístico, por negar uma informação pública. Como se poderá ver por estas ligações,

Comunicado STRUP 13jul2016 degradação empresas transportes:
resolução aprovada em 14jul2016 com mensagem entregue ao 1ºministro:
carta aberta ao ministro das finanças de 20set2016:

a CGTP não esteve muda e queda quanto à degradação verificada no metro, não podendo portanto ser acusada de esconder as deficiências, embora, qualquer que seja a sua atitude, suscitará sempre críticas.
Aliás, os serviços técnicos do metro avisaram oportunamente a sua administração da necessidade de encomenda de novos rodados  por os mais antigos terem atingido o limite inferior de tolerância. Igualmente avisaram do próximo esgotamento do stock de rolos de cartolina com chip, mas não terá sido dada a devida atenção (os gastos normais com fornecimentos e serviços externos no metro são da ordem de 31 milhões de euros por ano, suficientes para cobrir uma primeira encomenda de rodados e de rolos de cartolina, sem necessidade de ir “buscar” dinheiro aos gastos com pessoal ). Como consequência, estão atualmente parados 18 comboios num total de 111. Mas já foram encomendados rodados novos, esperando-se um prazo de entrega de 4 meses mais outro tanto para reposição em serviço de todos os comboios afetados.

Poderei ainda falar numa quarta incorreção, mas esta de natureza subjetiva.
Não foi o meu caso, dado ter retardado a minha reforma (mesmo assim, vi diminuído o meu rendimento de cerca de 20%, o que contraria o mito de que os reformados do metro têm uma reforma que lhes permitiu conservar o rendimento), mas muitos dos meus colegas viram o seu rendimento diminuido de cerca de 40% enquanto os complementos de reforma estiveram cortados. Recebiam 2000 euros (depois de uma carreira contributiva de 40 anos, apesar de alguns se terem reformado com 55 anos) e passaram a receber 1200 euros. Quando se lhes chama privilegiados e se responsabilizam os reformados do metro pelo colapso económico da empresa (e do país, como alguns comentadores jornalistas ou de caixa de comentário fazem) está-se, quanto a mim, a ofendê-los, embora isso não seja mais do que um esforço de desvalorização do fator trabalho.
É ainda verdade ( contudo, os artigos de opinião não devem apresentar só meias verdades) que a média dos complementos de reforma, 640 euros, é muito mais do que a maioria das pensões de reforma. Certo, mas isso demonstra o estado de penúria do país quando comparado com o resto da Europa (exceto países de leste), que os pensionistas do metro tiveram carreiras contributivas longas, que, como disse o ministro sueco a Otelo, deve nivelar-se por cima, não por baixo, e que podemos em qualquer altura abrir um debate sobre  a abertura ou fecho do leque salarial e das pensões em Portugal (comparar por exemplo os salários e as reformas do metro e do Banco de Portugal, da EDP, da TAP, os complementos de reforma do metro com as subvenções vitalícias por poucos anos de deputado…com a reforma do senhor doutor Catroga…) .

Eis porque acho deselegante o seu artigo, repetindo que é uma apreciação subjetiva, embora com base numa conceção moral, e convidativo aos comentários pouco educados que se podem ler em anexo do artigo (e contudo, alguns comentadores mostraram lucidez nas suas análises).

Gostaria ainda de chamar a sua atenção, já que se trata de dinheiros públicos, para algumas das razões da existência de complementos de reforma até 2004. Até aos anos 90, os ordenados do metro eram inferiores até aos da CP. Por isso a inclusão dos complementos no contrato de trabalho servia de atrativo.
Se calcularmos o rendimento obtido com a capitalização desse diferencial, coisa que em parte poderia ter sido feita mas não o foi por incúria de algumas administrações (outras foram sucessivamente tentando, sem sucesso junto da tutela e do ministério das finanças, a criação de fundos de pensões – como é fácil criticar quando não se está dentro do furacão, coisa aplicável ao escândalo dos swap) obteremos (obteríamos) um valor confortável para o pagamento dos complementos durante 20 anos.
Igualmente podemos dizer que a reforma antecipada de grande parte dos 1400 reformados do metro com complementos de reforma gerou poupanças para a empresa graças ao trabalho desses reformados que ao longo dos anos foram capazes de construir um metropolitano cujos indicadores ombreavam com os homólogos, que souberam manter o serviço quando empresas inglesas e americanas exerceram boicote de fornecimento de peças a seguir ao 25 de abril e que, graças à excelência do seu trabalho e à própria inércia do sistema, deixaram um sistema de transportes que pode funcionar com menos trabalhadores.
Admitindo um valor médio do complemento de reforma de 640 euros (a pagar pelo metro depois da reforma) correspondente a um salário antes da reforma de 2200 euros (incluindo descontos para a segurança social), a poupança mensal por reformado será de cerca de 1600 euros (22400 euros por ano por reformado). Se  1000 trabalhadores anteciparam a sua reforma (a empresa insistiu com eles) de 5 anos, a poupança terá sido de cerca de 110 milhões de euros. Metade bem poderia ter sido utilizada num fundo de pensões, coisa prevista na lei da reforma da segurança social de 2007, mas não se pensou nisso.
É verdade que este é um processo perverso, porque a poupança é suportada pela segurança social, mas consideremos que se tivessem permanecido na empresa ter-se-iam reformado com uma carreira contributiva de 45 anos (quando se obrigam crianças a trabalhar, como querem que haja justiça?).

Caso tenha curiosidade em conhecer outros pontos de vista sobre a problemática dos transportes, seu financiamento, condicionamentos, contexto internacional, relação com as energias e as emissões,  e sobre os reformados do metro, incluindo o cálculo dos custos das privatizações (pág.231) e da capitalização das poupanças do diferencial de salários anteriores aos anos 90 (pág.300), sugiro a leitura de

Terei muito prazer em lhe oferecer gratuitamente uma versão pdf , caso queira.

Mas não tenho grande esperança que este email chegue ao destinatário ou que este lhe preste atenção, e quando digo isto estou a manifestar grande descrença na sociedade que se diz de informação e de partilha de conhecimentos, experiências e potencialidades, o que, no fundo, virá confirmar a manutenção do estado em que vivemos de apagada e vil tristeza de que já Luis Vaz falava, e a incapacidade que nós, portugueses, temos de nos organizarmos em comunidade aberta, participativa e produtiva.

Com os melhores cumprimentos
Fernando Santos e Silva

Reformado do metropolitano de Lisboa

PS em 27 de novembro de 2016 - Será quase certo que o email não foi lido pelo destinatário, mas ele surpreendeu-me ontem, numa mesa televisiva de comentário ao aniversário do XXI governo. Voltou a falar no metro e nas excessivas regalias dos seus trabalhadores, Só que desta vez disse que as suas remunerações eram excessivas apenas por comparação com a maioria dos outros trabalhadores, que era uma coisa relativa, não um valor absoluto do seu trabalho. Como diria Fernando Pessa, e esta hein? afinal não quer desvalorizar o trabalho de quem trabalha, é só por uma questão de comparação (não claro, com o banco de Portugal ou com a EDP ou com a reforma da SAPEC). Pode ser que mais tarde venha a concordar que se deve nivelar mais por cima do que por baixo. Vamos ver.

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

o acidente em Hoboken e o New Jersey Transit

Para além de lamentar amorte da jovem mãe no acidente de Hoboken, pouco há de novo a dizer. Até porque é a repetição de um acidente de 2011, por ausencia de um sistema de controle continuo de velocidade.
O desinvestimento nos sistemas de transporte ferroviário aumentam as probabilidades de acidente.
Este tipo de acidentes, num terminal ferroviário multi-via e sem distancia de segurança na travagem tem normalmente como causas a perda do sentido de localização pelo maquinista (a síndroma do risco branco) ou uma sua desatenção, ou uma deficiência no sistema de travagem, ou a inexistencia de um controle de velocidade contínuo (ATP/Automatic train control na Europa, PTC/positiv train control nos USA).
Neste caso, a composição era composta por 4 carruagens e uma locomotiva. Segundo o revisor, a omposição normal é de 5 carruagens, o que, juntamente com a informação de que a dotação oficial da transportadora (que é uma empresa oública do estado de NewJersey) é um décimo do que era em 2009, que o prejuízo este ano é de 45 milhões de dolares e que a transportador está sem diretor executivo e sem reunião da direção há meses, indicia que as condições de exploração atuais são inseguras.

Numa altura em que o desinvestimento e a desorçamentação conduziram à degradação no metro e na linha de Cascais,este é um exemplo dos riscos do subfinanciamento das transportadoras (que obviamente, por não serem rentáveis se cumprirem as regras de segurança, no caso investir no controle contínuo de velocidade, não podem interessar exploradores privados, por mais eficazes que sejam) .

Mas continua a olhar-se para o problema do transporte coletivo ferroviário na ótica da contabilidade estrita, omitindo a análise de custos benefícios que contabilize as externalidades do transporte individual (o desperdício em combustíveis fósseis) e os benefícios do coletivo (redução das emissões com efeito de estufa).

E assim é dificil.



http://www.nytimes.com/2016/09/30/nyregion/nj-transit-executive-director.html?action=click&contentCollection=N.Y.%20%2F%20Region&module=RelatedCoverage&region=EndOfArticle&pgtype=article

http://www.nytimes.com/interactive/2016/05/17/us/amtrak-train-crash-derailment-philadelphia.html

http://newyork.cbslocal.com/2016/09/30/nj-transit-hoboken-crash-investigation/


PS em 7 de outubro de 2016 - Fiel à sua prática de divulgação dos avanços da sua investigação sobre os acidentes, diametralmente oposta à prática secretista de muitos gabinetes de investigação europeus (4 meses passados sobre o acidente na Bélgica em Saint Georges sur Meuse mantem-se o segredo sobre o inquérito) o NTSB informou divulgou ontem os dados da caixa negra entretanto recuperada:
http://abcnews.go.com/US/hoboken-train-sped-crash-emergency-brake-applied-ntsb/story?id=42613630 

38 segundos antes de bater, o manípulo de comando de tração mudou da posição neutra para a posição 4 e o comboio acelerou de 12,8 km/h para 33,6 km/h . A 1 segundo antes de bater a travagem de emergencia foi acionada. Isto é, até 60 metros antes de bater o comboio cumpria a velocidade regulamentar (podia travar em 7 metros), mas acelerou até 9 metros antes de bater, quando foi atuada a travagem de emergência.
Embora ainda sem se poder ter certezas, esta informação é compatível com a hipótese da síndroma do risco branco (comportamento do maquinista como que hipnotizado momentaneamente, perdendo  a noção da localização e julgando que já tinha parado e acelerado como se estivesse no percurso para outra estação - caso semelhante ao do maquinista do Metro North em Nova York que abordou a curva a uma velocidade superior à admissível e no metro de Lisboa no término da estação Aeroporto) quando bateu no fim do término). Também é compatível com a hipótese de que um sistema ATP teria evitado o acidente. Aliás a recomendação do NTSB para instalação de ATP é recorrente.
Aguardemos a evolução da investigação.