segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Sejam bem-vindos, senhores comissários da troika

Sejam bem-vindos, escrevo-o com sinceridade.
Como acredito que eram sinceras as boas vindas do agricultor quando recebia a visita do senhor feudal (já no século XX...) retratado na série Downton Abbey.
Estar em lados diferentes da estrutura produtiva, agora globalizada, para o bem e para o mal, não deve impedir o relacionamento fraterno entre os homens nem deve levar à violência.
Mas graças ao progresso das ciências e das técnicas, podemos hoje falar de coisas interessantes para a questão.
Trazem vocês 18 exigências, dizem os jornais.
E eu digo que é natural que o façam, pese embora recentemente a vossa parte FMI ter reconhecido que as medidas originais dos PEC e do memorando foram mal projetadas por agravarem a nossa própria economia, isto é, tal como previram muitos de nós, sem o prestígio académico que vocês teem, a austeridade provocou uma diminuição do PIB superior à que vocês supuseram.
É natural vocês virem com essas exigências porque vocês vivem um padrão de vida com níveis de rendimento e conforto muito superiores aos que a maioria da população portuguesa consegue.
As próprias elites portuguesas que tantas vezes vos têm incensado, precisamente por viverem sem as dificuldades da maioria, tendem a desprezar os protestos desta maioria.
É muito difícil quem não vive uma situação real compreender as suas implicações no espírito e na carne de quem a sofre.
Porém, podemos dizer qualquer coisa em termos objetivos, sem emoções que tomem partido, graças ao que referi, aos progressos da ciência e da técnica.
Isto para considerar apenas o exemplo da vossa exigencia de despedir mais facilmente, individualmente, de modo a estimular o investimento privado, o qual está pelas ruas da amargura (com honrosas exceções, mesmo honrosas, também o digo com sinceridade).
Este poderá ser um exemplo de como os economistas de prestigio, como vocês, luminares sucessores de Haieck e Friedman e sólidos fundamentos do consenso de Washington, talvez revelem uma grave deficiência de apreensão de conceitos físicos.
É que não basta a matemática para entender, ou tentar entender, um fenómeno. É necessária a sua interpretação física.
Não ponho em causa a vossa preparação matemática.
Mas a vossa preparação física deixa muito a desejar.
Nada tenho a objetar que numa economia forte e com empresas a funcionar bem, a surgir e a aumentar a sua produção, seja fácil despedir individualmente.
De forma também fácil esse indivíduo arranjará emprego na empresa do lado.
Mas numa economia frágil, sem investimento significativo, com empresas a fechar, como em Portugal (não deem grande valor quando vos dizem que abrem mais empresas do que fecham; é verdade, mas são precárias, sem capacidade de captar investimento), quem é despedido dificilmente encontra outroo emprego. É a diferença entre uma economia saudável e uma economia limitada.
É um pouco como o gráfico da lei dos rendimentos decrescentes. Numa economia débil, com pouca massa crítica, estamos na zona da armadilha da pobreza, quando a curva ainda tem uma derivada de baixo valor, isto é, pouco inclinada, e os rendimentos não teem retorno, onde se paga para criar emprego e se perde esse  dinheiro. Ver:
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2013/11/a-armadilha-da-pobreza.html

Notem que a curva de que vos falo tem um comportamento mais próximo de fenómenos físicos, como aquele da histerese magnética, do que a curva perfeitinha da saturação dos rendimentos decrescentes que vos é habitual nas vossas faculdades.
Mas eu queria chamar-vos a atenção para um fenómeno físico regido pela lei da Fermat-Weber, do tipo da gravitação ou atração universal, em que matéria atrai matéria (mais corretamente, está sujeita a campos de forças) na razão direta da massa e na razão inversa do quadrado da distancia.
É esta noção física que falta aos senhores economistas para apreenderem a realidade. Economias fortes, com excedentes (8% é o excedente da Alemanha em 2015!) têm tendencia para atrair mais investidores do que economias fracas com défices. As taxas de juro mais baixas que proporcionam a quem queira montar um negócio contribuem para atrair mais investidores que vão reforçar a economia enquanto as mais fracas mais fracas ficam.
É outra forma de justificar por que razão as cidades mais importantes de um país ficam cada vez maiores relativamente às cidades secundárias, ou por que razão as palavras mais utilizadas numa língua vão sucessivamente sendo mais utilizadas. Ver:
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/search?q=weber

Era isto que vos queria dizer, com a mensagem de boas vindas, tentem compreender a realidade física, não a virtual dos manuais universitários ou dos estereotipos dos centros de estudos do FMI, do BCE, da CE ...






Sem comentários:

Enviar um comentário