quinta-feira, 30 de junho de 2016

Gentrificação

Gentrificação, do inglês gentrification, de gentry, nobre. Derivado do francês arcaico gentrise, bem nascido.
Nome dado à transformação de antigos bairros populares ou industriais no centro de cidades em bairros para pessoas de níveis elevados de rendimento.
http://www.aps.pt/vicongresso/pdfs/84.pdf

O que se está a passar em Lisboa e, em parte, no Porto, com o aumento constante da ocupação de edifícios por hoteis, hosteis ou apartamentos transformados para aluguer de curta duração a turistas, é também considerado gentrificação, porque o rendimento obtido com os turistas inflaciona o preço do aluguer de longa duração e o valor patrimonial, dificultando a habitação do centro da cidade por pessoas com menores rendimentos.
A grande vantagem da gentrificação é dar alguma animação ao centro da cidade, compensando a desertificação e degradação do parque habitacional que se vinham verificando.
Os inconvenientes são a discriminação que impede o acesso à habitação às pessoas de menor capacidade financeira e a desagradável evocação da "visita à reserva dos selvagens" do Admirável mundo novo. Ou pondo a questão de outro modo, depois da resposta de um jovem turista a quem chamaram a atenção para o barulho que fazia no terraço à noite, prejudicando o descanso de crianças"eu pago para poder fazer barulho", talvez não interesse este tipo de selvagens, que provavelmente não farão isso na sua terra.
Pessoalmente, considero os inconvenientes maiores do que as vantagens, fundamentalmente por parecer que se cai numa mono-atividade dependente do nível de segurança das outras zonas turísticas. Mas aparentemente sou minoritário.
Pelo menos em Lisboa, uma vez que em Barcelona e em Berlim proibiram (quem diria, em tempos de liberalização cega) a instalação de mais hoteis e até o aluguer de curta duração.
Talvez esteja aqui mais um exemplo para as soluções tipo mix e para os planos de transição. Em vez de deixar o mercado simplesmente a funcionar à solta, delimitar áreas, para o aluguer de curta duração, para o aluguer de longa duração, para os hoteis, para a atividade secundária (oficinas e fabricação compatível com a habitação, para escritórios e comércio, para a habitação, como se fazia antigamente com os planos de urbanização, e nivelar os rendimentos em cada área através dos impostos.
Mas parece utópico, não é? Contrariava os dogmas da liberalização e exigiria capacidade de planeamento, desburocratização e rapidez de reação às mudanças.


Acordo no porto de Lisboa

Congratulo-me com a assinatura do acordo coletivo válido por 6 anos e felicito as partes envolvidas, operadores e estivadores do porto de Lisboa, além de, naturalmente, o blogue "Há flores no cais".
Tal como referido na Transportes em revista:
http://www.transportesemrevista.com/Default.aspx?tabid=210&language=pt-PT&id=54523

espera-se que a atividade e a expansão dos portos de Lisboa e Setubal progridam.
Será difícil, até porque ainda não está assimilada a necessidade do fecho da golada e a aptidão dessa zona para o porto entre a Cova do Vapor e o Bugio, mas haja esperança.
Tal como referido por especialistas do setor, criticando ambas as partes que atrasaram a resolução do processo, não podemos voltar ao tempo da jorna contratada diariamente, além de que o prazo das concessões por 25 anos em vez de 40 anos afasta mais operadores do que qualquer greve...
Mas haja esperança.

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Referendo, ou business as usual?

                            "O Reino Unido não é a causa de tudo isto. A zona euro e os seus lideres                                               assustadoramente fracos são os culpados"
                                                         Wolfgang Munchau, editor do Finantial Times, no DN,                                                                            defendendo  uma união política na zona euro

O referendo é uma forma elevada de democracia, penso que devemos reconhecer e aceitar os seus resultados.
Mas a própria democracia ainda não conseguiu encontrar meios de se defender contra os efeitos nocivos dos seus próprios mecanismos.
E não basta a educação e o conhecimento da História, porque se vota também com a emoção, não apenas a razão.
Hitler ganhou um referendo e podemos discutir se a responsabilidade da guerra não deverá também ser partilhada pelos eleitores. E já tinha ganho antes umas eleições... Que fazer se os resultados de uma votação forem uma declaração de guerra, a opressão de um povo mais fraco?
Ou, mais terra a terra, não poderemos dizer que há perguntas que não se fazem? Especialmente quando não queremos ouvir algumas respostas.
Poderemos ainda discutir se 37,44% de eleitores podem decidir uma coisa tão importante como um país sair da união europeia, contra a vontade expressa de 34,56% (não discutamos se estes são citadinos e mais jovens do que os outros) e sendo os abstencionistas 28%.
Mas enfim, são as regras constitucionais do United Kingdom  (continuará a ser unido?) e temos de aceitar o resultado.
Deixou-me triste e chocado.
Porque numa comunidade de nações deve haver normas e procedimentos organizativos que sigam as regras do método científico. E em qualquer ciência ou técnica o trabalho deve ser feito com contactos internacionais  e regras bem definidas, desde questões de saúde a questões de transportes.
Não seria de esperar que um país onde nasceu a aplicação prática do método científico (séc.XVII: academia das ciências com obrigatoriedade de divulgação e submissão a referendo de todas as inovações) e a democracia moderna da revolução gloriosa do século XVIII (sem esquecer a magna carta limitadora do absolutismo) se afastasse assim da ideia de Europa.
Terá triunfado o ministro do "Yes Minister"; "a Inglaterra sempre lutou pela divisão da Europa. por isso devemos aderir á união" (e sair).
E contudo, não esqueçamos o Leopardo, de Lampedusa, mudemos para ficarmos na mesma. Talvez que o petróleo da Escócia exerça o seu poder, ou as eólicas da Irlanda do Norte, e seja apenas um recuo para a EFTA (ainda existe a EFTA...), para o lado da Noruega, com livre circulação à mesma, embora só para alguns (os ingleses gostam pouco do coeficiente de Gini).
Aguardemos, pode ser que não haja grande diferença, e continue a usar-se o metro na Inglaterra, não jardas.

sábado, 18 de junho de 2016

Jo Cox

Inclino-me perante a memória de Jo Cox, deputada inglesa assassinada por um doente mental. Num dia em que morreram, como de costume, inocentes em atentados por psicopatas ocidentais e orientais, e mais uma criança foi vítima do homicídio piedoso pela sua mãe (em que estado mental ela estaria, que correlação se poderá estabelecer com a situação económica e social do país?), é o crime sobre Jo Cox que mais me impressiona.

Porque trabalhava por um mundo que ela acreditava ser melhor, e  porque é a barbárie da insanidade consentida que põe fim à sua vida e que ameaça manter com perenidade as desigualdades sociais e a infelicidades das comunidades.

"Foi ali (na universidade de Cambridge) que percebi como importa o sítio em que se  nasceu, que importa a forma como se fala, que importa quem conhecemos. Eu não falava bem nem conhecia as pessoas certas. Os meus verões eram passados a embalar pastas de dentes na fábrica onde o meu pai trabalhava" - de uma entrevista de Jo Cox ao Yorkshire Post.

Para além das manifestações de pesar, conviria que os senhores decisores políticos aceitassem o que os especialistas de sociologia já vêm dizendo há muito.
É um ideal de liberdade deixar ao indivíduo a escolha da forma como quer viver. mas viver em sociedade implica normas, e a simples observação (primeiro passo do método científico)  verifica que 1/4 da população sofre de perturbações mentais revelados por comportamentos desviantes que podem conduzir a violencia física e atentados.
Não vale a  pena perdermo-nos em discussões se as ideologias dominantes, nomeadamente os critérios do consenso de Washington de minimização do controle do Estado, estão ou não fortemente correlacionados com este tipo de crimes através, por exemplo, do estímulo à violência da competição em vez da cooperação nos desenhos animados que se impingem às crianças nas televisões e nos jogos de consolas, nas séries televisivas cheias de violência, ou na marginalização de grandes camadas de jovens a quem é vedada a formação.
Em vez disso, os políticos fariam bem em ouvir os sociólogos e em adotar medidas de prevenção, que são obviamente contra as regras de mercado porque implicam despesa pública na garantia de acesso de todos os jovens à educação e ao emprego.
E isso é mais importante do que lamentar a morte de Jo Cox.
Como ela dizia, em muitas circunstancias, nascer conduz a que um jovem "não fale bem".
E isto num país desenvolvido (embora vítima das medidas que a seu tempo Thatcher impôs). Tal como em Portugal.

Numa entrevista a uma das melhores alunas da escola secundária da Damaia, onde existe uma importante comunidade de origem africana, ela afirmou que tinha escolhido o curso profissional em vez seguir letras ou ciências porque tinha consciência de que "nâo falava bem" , que tinha dificuldades de linguagem, porque em casa também as tinham.
Isto não pode ser, isto é contra a Constituição, contra a Declaração universal dos direitos humanos, contra a solidariedade entre semelhantes.

E isto será tão dificil de explicar aos senhores da comissão europeia, do FMI, do BCE?
Que tem de se gastar dinheiro com a formação e ocupação dos jovens (o mercado dirá que é mais prático deixá-los na ociosidade para poderem dedicar-se ao consumo e tráfico de drogas, de música festivaleira, de filmes de culto da violência e das armas; o mercado que gosta de que o deixem em paz para promover a sua guerra,  lá saberá).

E que evidentemente tem de se gastar dinheiro público no tratamento, acompanhamento e prevenção de psicopatas como o assassino de Jo Cox,   como o norueguês Breivik, como os assassinos de Olof Palme e da ministra sueca, mesmo que os fundamentalistas dos direitos da liberdade digam que isso viola a privacidade de todos. A psicopatia da violência não é exclusiva dos autores dos atentados do Daesh.
Até podiam utilizar para isso o "dinheiro de helicóptero" de que até os próprios profetas da religião dos mercados falam...

O Parque Cine da Figueira da Foz e a globalização

O Parque Cine foi um cinema-teatro na Figueira da Foz:
http://arquivoartigospalhetas.blogspot.pt/2011/10/parque-cine-da-figueira-da-foz_08.html

Tenho de o recordar com nostalgia por lá ter visto os filmes da minha infancia e adolescencia, por no seu lugar estar agora um horrível batoque típico da também horrível arquitetura dos anos 80 (fins) e por ter comido pevides e camarinhas que comprávamos às senhoras dos arredores que vendiam pasteis em baús na praia de manhã e depois à tarde se sentavam nas escadarias de acesso com sacos de coisas boas para vender aos espetadores das matinés tardias.

Lembrei-me porque comprei um pacote de pevides no supermercado. De abóbora, claro, torradas como as outras mas já descascadas, que descascá-las era tarefa nossa, nas cadeiras do Parque Cine.
E então reparei na etiqueta da embalagem, com o código português 560 de produtor final, mas com indicação de origem: China.

Importamos sementes de abóbora, rica em fibra e em componentes saudáveis para as vias urrináriias, da China, enquanto displicentemente deitamos para o lixo as pevides nascidas e criadas nos campos portugueses.

Dirão que é a globalização, que é mais barato importar (mais barato quando a balança de pgamentos alimentar é negativa? e a geral para lá caminha?) e eu direi que globalização não é boa nem é má, que os seus resultados dependem do uso que se lhe dá.
Que bom que seria se se aproveitasse a globalização (e a união à Europa) para importarmos os procedimentos e os normativos de organização correta da produção e dos métodos de tomada de decisão.
Mas não, nós, portugueses, somos assim, achamos que nãoprecisamos dos procedimentos e normativos, que sabemos o que devemos fazer, e que é melhor importar sementes de abóbora, embora nada impeça as abóboras de crescer em Portugal.

quarta-feira, 15 de junho de 2016

A pista

O aeroporto de Lisboa tem duas pistas, mas que se intersetam, pelo que só uma de cada vez pode ser utilizada.
A mais comprida com a orientação SW-NE e a mais curta SSE-NNW, esta indicada para quando o vento está de NW.
Assim que a Vinci adquiriu a ANA e a Azul adquiriu a TAP consolidou-se um plano de sobreexploração do aeroporto na espetativa de complementar a sua operação com o aeroporto do Montijo (existem rotas de aproximação ou de descolagem dos dois aeroportos que são incommpatíveis, ou pelo menos são-no segundo critérios de segurança; além disso, adaptar o aeroporto do Montijo custa dinheiro, que teoricamente deveria ser deduzido ao orçamento do novo aeroporto em Canha/Alcochete) . Desse plano fazia parte o fecho da pista mais curta de Lisboa e o aproveitamento do seu espaço para estacionamento, coisa que reduz encargos  às companhias aéreas low-cost, especialistas em aproveitarem as infraestruturas que não pagaram.

Foi portanto com surpresa que dei por mim a ver os aviões a usar cada vez mais a rota de aproximação da pista mais curta.
E lá vem no DN a explicação: decorriam obras há uns tempos na pista principal e recentemente, "saltou um bocado de asfalto" (sic), pelo que, com os atrasos a que isso obriga, se está a utilizar a pista mais curta.
 Será que os decisores que gerem a ANA e a TAP, quanto a mim ao arrepio do interesse público, vão continuar a querer fechar a pista mais curta? Vão aceitar o conceito de reserva de funcionamento? E vão insistir em gastar dinheiro no Montijo e em cosméticas no aeroporto de Lisboa que ficam caras e não resolvem a sobrelotação?

Tenho muita pena do que aconteceu à ANA e á TAP, especialmente quando continua por resolver o cancro da empresa de manutenção brasileira cujos prejuízos a TAP suporta, quando é pública a posição do regulador sobre a predominancia do não residente na UE Neeleman (claro, era o senhor Pedrosa que decidia os sharklets, os rearranjos de cabinas e os ATP para a ponte aérea para o Porto e Vigo...?), quando são patentes os prejuízos da Azul e a sua aquisição parcial por uma companhia chinesa, quando os aviões em excesso da Azul são deslocados para rotas novas da TAP, quando o primeiro destes aviões na nova rota de Boston fica lá retido por avaria.

Tenho muita pena que tenha sido possível a campanha de privatização  "a tout prix"a que se assistiu, sempre com a desculpa, falsa, de que a UE não deixava de outra maneira (leiam o tratado de funcionamento da união, e a "autorização" expressa da exploração de linhas sem retorno comercial).






Acidente ferroviário em Saint Georges sur Meuse, Bélgica, em 5 de junho de 2016

Os caminhos de ferro belgas têm um mau registo de acidentes. Na sequencia do acidente de janeiro de 2010 decidiram a instalação de um sistema de controle de velocidade do tipo do CONVEL, que transmite para a cabina do comboio, através de balizas, o estado dos sinais laterais. É o TBL1+, correspondente ao primeiro estágio do ETCS (european train control system).
No entanto, consta que apenas 70% dos sinais estão integrados no sistema. E as informações são contraditórias sobre se estaria operacional na linha em que ocorreu o acidente em 5 de junho.

Mais uma vez se põe a questão se se deve esperar pelos resultados do inquérito ou se se devem colocar hipóteses que contribuam para evitar a repetição deste tipo de acidentes.
A posição anglo-saxónica e a francesa, conforme se viu no caso do acidente do TGV em ensaios, é a de promover conferencias de imprensa imediatamente a seguir aos acidentes para informar sobre a evolução da investigação e para recolha de informações e sugestões, e fornecer rapidamente um relatório preliminar.
A posição portuguesa e, pelos vistos, belga, é a de pedir reserva durante o inquérito. O problema é que a divulgação dos inquéritos é normalmente muito tardia e não convincente (por exemplo, muito tempo depois do acidente de Alfareloa a conclusão foi de que a causa tinha sido o mau tempo. Igualmente foram insuficientes as conclusões do relatório sobre os dois descarrilamentos em agulhas na linha de Cascais.

Não me parece defensável o secretismo nos inquéritos. Um debate alargado permite encontrar mais hipoteses e possibilidades de adoção de medidas que evitem os acidentes.

Por isso insisto em considerar hipóteses para o acidente de 5 de junho.

Factos sobre o acidente:
- ocorreu numa zona de agulhas, com acesso a outras linhas que servem uma pedreira
- um comboio de passageiros bateu num comboio de mercadorias com vagões carregados nessa pedreira com brita
- no momento do acidente o sistema de sinalização não estava a funcionar normalmente; por isso o comboio de mercadorias tinha sido retido e o seu maquinista tinha cumprido os procedimentos para ultrapassar o sinal junto do qual tinha parado
- segundo informações publicadas na imprensa belga e não desmentidas, o registador da cabina do comboio de passageiros indica que o sinal anterior ao comboio de mercadorias estava duplamente amarelo e o maquinista do comboio de passageiros, que faleceu no acidente, acionou o "acknowledge", isto é, o botão que permite a ultrapassagem dum sinal restritivo sem a travagem automática atuar
- a ser assim, existe uma inconformidade grave, o sinal não devia estar duplamente amarelo (significa que o próximo sinal está vermelho) mas deveria estar vermelho, porque o cantão queprotege estava ocupado
- segundo confirmado pela Infrabel, a empresa de manutenção, durante a tarde anterior houve uma trovoada que provocou avarias no sistema de sinalização (falha no processamento lógico das condições da linha, de alimentação dos sinais, ou de operação dos circuitos de via que dão informação aos circuitos de processamento); embora a Infrabel tenha informado que a avaria tinha sido resolvida, conforme referido no momento do acidente o sistema de sinalização nãoestava operacional; em caso de descargas atmosféricas, é possível a sensibilidade dos circuitos de vias alterar-se, podendo dar indicação de desocupado quando na realidade está ocupado, mas colocando-se o sistema numa situação restritiva dada a incompatibilidade com outros circuitos; notar que se tratava de um domingo à noite, com eventuais limitações no campo da assistencia  a avarias; note-se que durante a reparação de avarias os sinais podem ser postos artificialmente permissivos, pelo que os procedimentos que dão a avaria por reparada são críticos
- desconhece-se a intervenção de postos centrais de comando, sendo certo que as informações de que estes dispõem não são de segurança, isto é, podem por motivo de falha de transmissão ou de falha dos equipamentos locais, não atualizar a informação real, havendo divergencia entre a realidade e as informações no posto central; daí a necessidade de, em caso de avaria do sistema de sinalização, ter um agente local que garanta ao maquinista que pode prosseguir.

Ainda duas notas: - a partilha de uma linha por modos diferentes (mercadorias, suburbanos, regionais, intercidades, alta velocdade) tem riscos devido às caraterísticas diferentes do material circulante, o que implica naturalmente equipar a linha e o material circulante com sistemas de controle automático de velocidade ATP para garantir a segurança
- mesmo um sistema como o TBL1+ depende, para controlar a velocidade e a posição dos comboios, de informações dos circuitos de via, cuja tecnologia mais antiga não garante segurança intrínseca, a menos que sejam objeto de manutenção rigorosa, Por isso se deverá recorrer a níveis mais elevados de ETCS, utilizando mensagens rádiopara a localização dos comboios.

Entretanto, aguardemos os resultados do inquérito, com muita desconfiança sobre as condições de segurança na rede belga, pelo menos em parte significativa dela.

PS em 15 de junho de 2016 - A Infrabel publicou um comunicado em que afirma não ter sido autorizada pelo procurador do rei a divulgar informações relativas ao inquérito. 
HTTP://WWW.INFRABEL.BE/FR/PRESSE/PRECISIONS-SYSTEME-AIDE-A-CONDUITE-TBL1
Acrescenta alguns esclarecimentos sobre o TBL1+ e o ETCS e considera que a rede belga está na vanguarda da segurança ferroviária. Registo o comportamento diferente em comparação com os organismos de investigação de acidentes ingleses, americanos e franceses e a prevalencia , quanto a mim intolerável, de critérios jurídicos sobre técnicos. O senhor procurador do rei (título já de si meio medieval) não tem de saber, por não ser técnico ferroviário, se o debate das hipóteses perturba ou não o inquérito. E teria obrigação de defender o direito à informação em assunto de interesse público. E de considerar o princípio básico do método científico, qualquer coisa que se analise e descubra deve ser posto imediatamente à consideração da comunidade. Desde o século XVII que é assim, ainda não havia comboios, com a Academia das Ciencias inglesa.
Não me parece correta a declaração da Infarbel de que o TBL1+ é um sistema de ajuda à condução e não um sistema de segurança. De facto, a segurança da informação está no sistema de sinalização, mas o sistema TBL1+, enquanto função de controle de velocidade que provoca uma travagem automática em caso de incumprimento dos sinais laterais pelo maquinista, é também um sistema de segurança. Salvo melhor opinião, claro. O que não é obrigatoriamente um sistema de segurança é o sistema de comando centralizado de tráfego.


Fotos google e le soir e la libre






PS em 25 de junho de 2016 - Segundo declarações do administrador delegado da Infrabel, a linha de acidente não está equipada com o sistema TBL1+ de controle da marcha em função dos sinais através de transmissão baliza-comboio. Mais informou que o sinal anterior ao comboio de  mercadorias embatido estava vermelho. Isto contradiz a anterior divulgação da leitura dos dados do registador do comboio que referia que o sinal estava duplo amarelo. 
Se é assim, seria o segundo sinal anterior ao comboio embatido que estaria duplo amarelo e isso só poderá ser confirmado pela comissão de inquérito. Lamentavelmente, o presidente da SNCB já afirmou que a maioria dos acidentes se deve  a desatenção dos maquinistas, ignorando o verdadeiro objetivo dos sistemas de segurança: garantir a segurança através do equipamento, e não através do maquinista (segundo a SNCB, os sistemas de controle de velocidade e de ultrapassagem de sinais são sistemas de ajuda à condução, não de segurança).
Se não é assim, a Infrabel está a distorcer as provas. Aguardemos o resultado do inquérito. Entretanto, junto descrição do funcionamento do sistema Memor-crocodile que parece estar instalado nesta linha (não provoca a travagem automática à passagem por um sinal vermelho, apenas trava se o maquinista não fez o "acknowledge" à passagem pelo sinal anterior, duplo amarelo):

https://vimeo.com/9641192 
https://fr.wikipedia.org/wiki/Crocodile_(signalisation_ferroviaire) https://fr.wikipedia.org/wiki/Memor_(signalisation_ferroviaire)

Consultado o site do organismo belga responsável pelos inquéritos a acidentes, SPF mobilit,
http://mobilit.belgium.be/fr/traficferroviaire/organisme_denquete/les_enquetes/collisions

verifica-se que a única informação é a de que o inquérito prossegue. Discordo deste secretismo que considero contribuir para a insegurança de exploração.
Verifico ainda que o site Vimeo nao autoriza agora o acesso aos descritivos do sistema memor-crocodile. Lamentável.

Experimentemos novamente:
https://vimeo.com/9641192


PS em 14 de setembro de 2016 - Cumpridos os 3 meses anunciados pelos principais dirigentes para elaboração e divulgação do relatório, a consulta do site do gabinete de investigação de acidentes, dá como resposta que o inquérito está em curso.
Aguardemos as recomendações sobre os sistemas de controle automático de velocidade.












sexta-feira, 10 de junho de 2016

O dia 7 de junho de 2016

O dia 7 de junho de 2016 deve ter sido considerado propício por S.Cristovão, padroeiro dos transportes, e por Mercúrio (ou Hermes, em grego) deus dos transportes(de mercadorias).
Porque houve 3 acontecimentos simultâneos dedicados à problemática dos transportes.
Em Lisboa, no auditório do Alto dos Moinhos, a AFERSIT promoveu uma mesa redonda sobre as Ligações Ferroviárias Internacionais: Impacto na competitividade da economia.

Em Madrid, a European Railway Review promoveu um seminário sobre Iberian Rail Development com a presença dos principais operadores ibéricos. Segundo a convocatória, o plano de desenvolvimento espanhol é de 1260 milhões de euros para redes suburbanas e urbanas e de 3560 milhões de euros para redes de alta velocidade. Quanto à rede portuguesa, segundo a mesma convocatória o seu "grande plano" é de 2560 milhões de euros. 

Finalmente, na Figueira da Foz, promovido pelo Conselho Português de Carregadores, um "workshop" sobre Infraestruturas 2016-2020 – Caminhos de Competitividade e Crescimento.

Como Mercúrio não me bafejou com nenhum dote de ubiquidade, nem S.Cristovão, para mais tendo uma relação pouco simpática comigo, dado o meu agnosticismo extremo, tive de optar por uma das realizações, que foi a do CPC.


Retirei algumas ideias, que não estou seguro de serem a interpretação correta dos autores das apresentações, mas graças ao CPC podemos ver aqui as referidas apresentações.

https://drive.google.com/folderview?id=0B-ILrOVj_ZMFNVJSUUZFanF2Znc&usp=sharing

Destaco o interesse do trabalho do comandante Laranjeira Anselmo, pela importância do transporte marítimo como o mais eficiente e o de melhor ligação aos 400 portos da Europa (sem o constrangimento ferroviário da passagem por França). No entanto, as ameaças são o estágio pouco desenvolvido dos portos portugueses e das suas ligações ferroviárias. De referir ainda a necessidade internacional de substituir o combustível dos navios (gás natural ou hidrogénio produzido por fontes renováveis), a localização permanente dos contentores  e o apelo que fez para que se organize um grupo de propostas estratégicas constituindo um plano de ação concreto. É necessário aproveitar os fundos comunitários apesar de escassos, especialmente do plano Juncker, o que exige um trabalho intenso na preparação dos projetos e das candidaturas através da criação do referido grupo estratégico. No entanto reconhece-se a dificuldade da iniciativa proposta  dada a preferência portuguesa pela discussão desorganizada, sem objetivos bem definidos.

Muito interessantes também os trabalhos dos outros oradores (João Eduardo Carvalho ex coordenador do GTIEVA, Vitor Almeida, negociador de PPP, António Ramalho presidente da IP, João Carvalho presidente da Autoridade da mobilidade e transportes). O plano mostrado pelo presidente da IP parece deixar em segundo plano as ligações à Europa em bitola UIC, e não valorizar a necessidade de coordenação com Espanha, do que discordo. Discordo também do reaproveitamento da linha existente da Beira Alta em vez de linha nova em bitola UIC. 
Mas enfim, sem um apoio comunitário massivo dificilmente se poderão tomar as decisões corretas. Pena não se conseguir dar seguimento à proposta de Laranjeira Anselmo, constituição de um grupo alargado para definição da estratégia. 

PSS em 13 de junho - Acrescento a comunicação na sessão da ADFERSIT no Alto dos Moinhos, pelo seu presidente , Mário Lopes, sobre as Ligações ferroviárias internacionais, com informações importantes sobre a problemática da bitola UIC
https://1drv.ms/f/s!Al9_rthOlbwehTxqNai666t8MvpY

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Que relação tem com o seu banco? DN, 8 de junho de 2016

foto retirada do DN/Dinheiro Vivo


A senhora jornalista no seu editorial de diretora cita o presidente do BBVA internacional a reconhecer que  "a industria (?) bancária se tornou obsoleta, com estrutura de custos pesada, sistemas arcaicos e sobrecapacidade".
Concordo, embora provavelmente não pelas mesmas razões. Adivinho que o senhor quererá reformas aligeiradoras, isto é, penalizadoras do fator trabalho.
E talvez os senhores banqueiros da fotografia não concordem.
A culpa será dos outros, não de tão eminentes gestores a quem o país tanto deve.
O senhor da esquerda, por exemplo, sorriu para a entrevistadora da TV e disse que o seu banco só fazia bons negócios. Isto a propósito do BANIF, cujas valias engoliu, enquanto as não valias ficaram para os contribuintes.
O senhor interior esquerdo sofre com o ditado europeu e respetivo racismo económico sobre as relações do seu banco com a economia angolana, pelo que não o critico aqui, sendo mais vítima dos seus colegas eurocratas e convencidos.
O senhor interior direito teve o triste comentário de que o banco mau (ou traseiro) para ficar com o crédito mal parado era uma solução divina de que não precisava. Valente ateu, superior à teoria económica do banco mau, que em breve regressará à sua ilha off-shore.
E finalmente o senhor da direita, que sofre com os ataques bolsistas, não se sabendo ainda se há manipulação tipo short selling.
Em suma, 4 exemplos da boa gestão bancária num país em que há bancos a mais e utilidade dos bancos a menos.
O que passo a explicar, embora sem a esperança de que chegue aos ouvidos do distintissimo presidente do BBVA e da eminente editorialista, até porque é um exemplo de um cliente insignificante.
Ora dá-se o caso que tenho uma conta no BBVA. Que fechou a sua agencia em Alvalade, onde eu tinha um cofrezinho com umas joias de família e o back-up profissional do meu filho. Fiquei sem cofre e se quiser ir ao banco tenho de ir ao Areeiro. `Como pode isto ser sobrecapacidade?
E quanto ao senhor "só bons negócios" queria contar-lhe que perdeu um bom negócio.Bom, à minha escala, claro, mas que o senhor ministro das finanças teria  aplaudido se soubesse, por poupar nos juros dos certificados de aforro.
Dá-se o caso que recebia o meu ordenado pelo seu banco e agora recebo a reforma. E aconteceu que precisei de fazer obras na casa antiga que era dos meus pais, na sua  cidadesinha. A respetiva câmara municipal achou que a casa estava com mau aspeto e intimou a fazer obras. Escusou-se a cumprir a sua obrigação de facultar fundos comunitários para reabilitação urbana. Escusou-se mesmo, num belo exemplo de imobilismo. De modo que pedi um empréstimo ao banco do senhor "só bons negócios".
A senhora gestora de conta não se riu, mas disse que era impossível, embora eu propusesse pagar um juro de 6% quando o banco obtem a quase 0% . De modo que fui aos meus certificados de aforro e fui levantando para pagar a obra, felizmente já concluida. O banco perdeu o negócio dos 4%, sem risco porque a casa valia mais do que o montante das obras e servia de garantia. Eu perdi o juro bonificado dos certificados de aforro e nenhum país pode funcionar bem quando os seus agentes económicos responsáveis por emprestar dinheiro se comportam assim.
De modo que sim, concordo, os banqueiros têm sido incompetentes, não têm visto a questão, pelo que não admira que a Europa tenha a pior reação a uma grande depressão quando comparada com as outras zonas económicas e as outras grandes depressões.
Mas enfim, vão mantendo o seu poder e os seus grupinhos de influencia e de amigos, embora não tenham sido eleitos pelos contribuintes.
Como dizia o presidente dos USA, um grupo de banqueiros pode ser pior que um exército.

A los baños del amor sola me iré ; motettu de la tristura


1 - Vilâncico de anónimo do fim da idade média, no cancioneiro do Palácio, séx.XV-XVI, exprimindo a tristeza da solidão quando existe um rio de banhos assim.





2 - Canção popular sardenha, na versão de Luciano Berio:


da Wikipedia:
Nel testo l'autrice apostrofa l'usignolo (rouxinol): "Come mi assomigli, perché mi consigli di piangere per il mio amante? Quando sarò sepolta, cantami questa canzone".
« Tristu passirillanti
Comenti massimbillas
Tristu passirillanti
E puita mi consillas
A prangi po s’amanti?
Tristu passirillanti
Cand’happess interrada
Tristu passirillanti
Faimi custa cantada
Cand’happess interrada »

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Seleção de traçados numa rede urbana


Continuo a pensar que os períodos de contenção de despesas devem ser aproveitados para planear os investimentos futuros.
No caso dos transportes urbanos, esses investimentos correspondem a compromissos internacionais, nomeadamente para redução das emissões poluidoras, e são suscetíveis de obtenção de apoio  comunitário, basta recordar os discursos de Jean-Claude Juncker, da comissária dos Transportes Violeta Bulc ou de Daniel Gros (Centro de Estudos Europeus):
http://europa.eu/rapid/press-release_SPEECH-16-1893_en.htm
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2015/01/transportes-e-investimentos-email.html
http://www.jornaldenegocios.pt/opiniao/economistas/daniel_gros/detalhe/a_europa_e_a_mania_dos_investimentos_mal_orientados.html

Lisboa e Porto, com 60% de quota do transporte individual nas deslocações motorizadas nas áreas metropolitanas precisam de uma intervenção decisiva.
Não é sustentável continuarmos a despender o dinheiro que não temos no desperdício energético do transporte individual.
Não é possível sustentar o apetite dos importadores de automóveis e de petróleo.
Nos primeiros 5 meses de 2016 o crédito para  aquisição de automóveis atingiu 199 mil milhões de euros, ou 117% do PIB, vendendo-se 95240 automóveis.
É isto compatível com a afirmação gaspariana de "não há dinheiro"?

Possivelmente por concordar comigo, embora só em parte, a câmara de Lisboa vem criando sucessivos estrangulamentos à circulação automóvel.
Onde havia 3 vias para aumentar o escoamento, nos semáforos de mudança de direção ou nos recortes de paragem de autocarros, reduz para 2 vias.
Na 2ª circular, ignorando prepotente e arrogantemente os pareceres dos cidadãos, reduz a largura da via utilizada pelos autocarros para alargar o separador central. Pela cidade vai criando praças pedonais e vias cicláveis.
Claro que concordo com a restrição do trânsito automóvel, nomeadamente impondo limites urbanos de velocidade e fiscalização rigorosa do estacionamento, mas devem desenvolver-se alternativas. Porém, o transporte público não tem neste momento capacidade de resposta se houver um aumento de procura, além de que faltam ainda alguns troços para a rede de metropolitano cobrir a cidade.
É possível que os técnicos da CML se tenham deixado encantar pelo paradoxo que a seguir explicarei e que pode seduzir pelo velho princípio da sangria, para baixar a hipertensão. O problema é que pode criar anemia fatal ás atividades económicas, quando a procura turística baixar.

Apresento aqui uma proposta de estudo de expansão da rede do metropolitano com base nalguns princípios da técnica dos transportes, desejando que se passasse a um debate aberto sem ideias preconcebidas.






Seleção de traçados. Matriz origem-destino, problema geral de transportes. Fluxo de custo mínimo em redes de transporte, algoritmos de otimização (programação) linear, micro-simulação. Lei fundamental do trânsito, paradoxo de Braess. TOD – traffic oriented development (desenvolvimento orientado pelo trânsito). Organização do território. Caso de Lisboa

O método correto de abordagem do problema dos transportes numa dada região consiste, a partir dos dados de ocupação e organização do território, principalmente com recurso a inquéritos de tráfego, habitação e emprego, traçar a matriz origem destino, com a procura dos percursos nas colunas de entradas e a oferta da transportadora nas linhas de entradas.
Os pontos definidos serão os valores estimados para os custos de construção, operação e manutenção dos percursos.
A conversão da matriz em grafo ou rede de arcos e vértices representando os destinos segundo o princípio do fluxo de custo mínimo permitirá escolher os percursos a construir.
O problema geral de transportes pode enunciar-se como a ligação entre um conjunto de polos geradores de oferta ou origens e um conjunto de polos atrativos de procura ou destinos.
Do lado da oferta ou origem pode considerar-se um conjunto de locais de produção de um bem ou serviço e do lado da procura ou destino um conjunto de locais de utilização desse bem.
Os custos Cij do transporte por unidade de fator de produção do transporte podem registar-se num quadro em que no rodapé das colunas estão os volumes Dj de tráfego de procura desses destinos e na lateral das linhas os volumes Oi de tráfego gerado nos locais de origem.




destinos
Oferta total

origens
C11
C12
C13
C14
C1j
O1
C21
C22
C23
C24
C2j
O2
C31
C32
C33
C34
C3j
O3
Ci1
Ci2
Ci3
Ci4
Cij
Oi
Procura total

D1
D2
D3
D4
Dj



(Referência:  Investigação operacional – Transportes, afectação e optimizaçãode redes” de Manuela Magalhães Hill, Mariana Marques dos Santos e Ana Líbano Monteiro, ed.Sílabo )


O método de programação linear do fluxo de custo mínimo é aplicável ao problema geral de transportes ao pretender determinar o custo mínimo total entre os vértices extremos de uma rede existente em função dos fluxos entre vértices, ou o custo mínimo de construção de uma rede em função do custo de construção dos arcos entre vértices.
Pode resolver-se pelo algoritmo de Dijkstra (Daikstra), dada uma rede de vários vértices e conhecidos os custos de transporte (ou as capacidades de transporte do troço, ou os tempos de percurso) ou de construção dos respetivos arcos e afetando a cada vértice uma etiqueta à medida que avança a resolução, sempre no sentido do custo mínimo do caminho entre vértices e conjuntos sucessivos de vértices.


    Os números representam o custo, a distância, a capacidade, o tempo de percurso, etc.

vértices
Etiquetagens e eliminações sucessivas
B
AB=4
ACB=3
Elimina AB
C
AC=2


D
ACD=10
ACBD=8
Elimina ACD
E
ACE=12
ACBDE=10
Elimina ACE
F
ACBDEF=12
ACBDF=14
Elimina ACBDF

O caminho mais curto ou o custo mínimo é  ACBDEF=12

Referências youtube do algoritmo de Dijkstra:



Lei fundamental do trânsito – Considerando uma procura elástica (curva pouco inclinada, quantidade de procura em abcissas), ou um potencial elevado de procura, qualquer aumento da capacidade de uma via de transporte para resposta a uma situação de saturação, rapidamente conduzirá a uma nova situação de saturação por ter aumentado a sua atratividade.
No caso de transportes de massas, com um diagrama de cargas normalmente limitado nas horas de ponta, esta lei traduz-se pela descompressão das pontas sempre que se aumenta a capacidade de transporte.


Os métodos de programação ou otimização linear são especialmente indicados para análise do trânsito rodoviário, nomeadamente para o conjunto dos nós e vias rodoviárias, bem como os programas de microsimulação que permitem visionar a estimativas de distribuição dos fluxos de trãsito pelas artérias disponíveis ou previsíveis.
 Na teoria da previsão das escolhas de itinerários tem interesse referir o paradoxo de Braess, aplicável principalmente ao tráfego rodoviário, destacando no entanto os riscos da sua interpretação fora de contextos ou isolado da teoria do equilíbrio de Nash.
No trânsito rodoviário com tendência para o congestionamento, o condutor egoísta tende a adotar comportamentos que o beneficiem, contando que os outros condutores mantenham as suas estratégias de condução. Por exemplo, a ultrapassagem em vias congestionadas sem intenção de mudança de direção, manobra proibida pelo código da estrada, tem como consequência a redução do tempo de percurso do condutor egoísta mas o aumento do tempo médio de percurso de todos os condutores, por gerar perturbação no sentido contrário do trânsito ao provocar uma travagem no veículo ultrapassado. No entanto, o sistema acaba por atingir um equilíbrio, o equilíbrio de Nash, quando se torna impossível a um condutor obter benefícios ao alterar a sua estratégia unilateralmente, isto é, independente dos outros participantes.


                                             Paradoxo de Braess 



As políticas de economia de investimentos podem recorrer a estes critérios para justificar o não investimento em novas infraestruturas.
Numa rede existente mal dimensionada, com troços de pouca capacidade, ou se se alterou a matriz habitação-emprego de um território, o paradoxo de Braess pode efetivamente verificar-se se é adicionado à rede um novo troço que fique em série com os troços saturados em vez de os by-passar. 
Dependendo da atratividade dos troços da nova rede, a escolha dos condutores pode sobrecarregar os percursos preferidos aumentando os respetivos tempos. 
Este fenómeno pode ser invocado para fechar troços de uma rede para, por exemplo, transformação em vias cicláveis ou praças pedonais, em vez de investir nas infraestruturas de transporte público alternativas ao transporte individual.
Por outro lado, dificultar o escoamento do tráfego de veículos pode diminuir a sua procura, desviando o trânsito para outras artérias ou os condutores para o transporte público (se houve investimento prévio no transporte público), ou simplesmente arrefecendo a economia,  justificando o fecho de vias urbanas e a sua transformação em vias cicláveis ou praças pedonais.
Inversamente, a expansão eficaz  de uma rede rodoviária para resolver o congestionamento prévio poderá ter o efeito perverso de desviar passageiros do transporte público para o transporte individual, aproveitando o aumento de oferta das suas iinfraestruturas.

Neste contexto é importante a regulação dos preços de utilização das rodovias para controlar a procura destas, para melhor distribuir o tráfego pelas diferentes vias  e para garantir procura ao transporte público, através de diferentes tarifas de portagens de vias de acesso às cidades,  de portagens de entrada nas cidades e de tarifas de estacionamento.

 Apesar da elegância das soluções de programação ou otimização linear, o seu carater académico e caraterísticas não típicas  da organização efetiva do território poderão recomendar uma análise mais concreta da realidade existente.

O departamento de planeamento de S.Paulo introduziu o conceito de “corredor progressivo”, ou de realização faseada de um plano integrado, diferida no tempo consoante as disponibilidades de financiamento, no pressuposto de serem evitadas soluções intermédias que comprometam o plano final (exemplo de aplicação a Lisboa: sendo prioritário o prolongamento da linha vermelha para ocidente, poderá deixar-se a construção da estação Campolide para segunda oportunidade, aplicando os fundos disponíveis na construção de mais quilómetros de galeria, ou viaduto).

O método TOD (traffic oriented development, ou desenvolvimento segundo o fluxo de tránsito) parecerá mais prático, consistindo em procurar que qualquer ponto de uma zona habitacional e de emprego não fique a mais de 10 minutos a pé de distancia de uma estação de metro. 
Esse tempo de percurso a pé corresponde aproximadamente a 800m e à distancia interestações ótima. 
Considera-se a parte habitacional como polo gerador de oferta, e a parte secundária e terciária como polo atrativo de procura.

Considerando que:

- é prioritária por razões de sustentabilidade energética a transferência de deslocações em transporte individual para o transporte coletivo ferroviário garantindo os atuais fluxos por rodovia de penetração ou contorno dos limites do município (A1 – A8 – A16 – IC19 - A5 – Marginal – Ponte 25 abril – Ponte V.Gama)
 
-  a distância entre estações eficiente do ponto de vista energético é da ordem de 900m, o que justifica o critério de que qualquer ponto urbanizado da cidade esteja a menos de 800m de uma estação

- a rede de metro deve ser complementada com outros modos de transporte mais ligeiro e flexível, desde o metro de superfície a frotas de veículos a pedido, com condução integralmente automática (driverless) e  guiamento em sítio segregado

-a organização do território da área metropolitana de Lisboa encontra-se desequilibrada, nomeadamente pela desertificação da cidade de Lisboa (envelhecimento da população, degradação dos edifícios, reabilitação urbana com custos elevados de revenda, predomínio da atividade turística, abandono de atividades económicas), e da concentração da população e deslocação de empresas do setor secundário e terciário para cidades dos subúrbios,

parecerá que a elaboração de um plano de transportes para a área metropolitana de Lisboa deverá basear-se na realidade existente, com todas as suas inconformidades, na integração da rede de transportes nos planos de reorganização do território e na economia e rentabilidade, em termos de custos-benefícios, dos meios a empregar.

Tal plano não deverá exigir um ritmo demasiado apressado, antes deverá ser faseado, evoluindo de estado para estado segundo o princípio de custo mínimo, considerando os custos e benefícios, incluindo temporais, e manter a natureza de plano integrado no tempo e com as restantes atividades económicas.


Apresenta-se nesta perspetiva uma proposta de um novo mapa de traçados da rede de metro e modos complementares que deverá ser completada com uma análise de custos-benefícios e de viabilidade de obtenção de fundos comunitários.

Será com base em análises de custos-benefícios que deverá ser feita a comparação com outras propostas.






Pormenorização do mapa de expansões

1- linha vermelha, S.Sebastião-Belém-Algés


Construção faseada, com prioridade à construção dum interface intermodal junto das Amoreiras e nova urbanização de Campo de Ourique para o TI vindo da A5; objetivo turismo em Belém  e interface com a linha de Cascais em Algés e com a linha da ponte 25 de Abril no Alvito

2 - Linha vermelha, Aeroporto-Campo Grande


melhoria das correspondências com as outras linhas; serviço do terminal 2 do aeroporto; liação em viaduto do terminal 2 ao Campo Grande;  receção de futuras linhas de metro de superfície servindo Sacavem, Bobadela, Frielas, Loures, e a Alta de Lisboa

3 - Linha amarela, Rato-Cais do Sodré-Cacilhas


linha em espiral dado o desnível entre Rato e Cais do Sodré; serviço da Estrela, MNAA, Alcantara, Campo de Ourique, Parlamento e, por ligação hectométrica, Cais do Sodré; futura ligação a Cacilhas e metro sul do Tejo


4 - Linha azul, Reboleira-Hospital Fernando Fonseca


objetivo interface com o TI do IC19; ligação a futura linha de metro de superfície Algés-Loures

5 - Linha azul, S.Apolónia-Olaias


correção do término de S.Apolónia com prolongamento até Comendadeiras com correspondência em estação sobreelevada de nova linha de metro de superfície; construção articulada com o alargamento do terminal de contentores de S.Apolónia; nova linha em viaduto empre que posível com correspondência em Olaias com a linha vermelha e a linha de cintura da CP


6 - Linha verde, Telheiras - Pontinha


objetivo interface com o TI do IC16 e IC17 e ligação a futura linha de metro de superfície Algés-Loures; em viaduto serve a nova feira popular e tem correspondência com a estação Pontinha