segunda-feira, 27 de junho de 2016

Referendo, ou business as usual?

                            "O Reino Unido não é a causa de tudo isto. A zona euro e os seus lideres                                               assustadoramente fracos são os culpados"
                                                         Wolfgang Munchau, editor do Finantial Times, no DN,                                                                            defendendo  uma união política na zona euro

O referendo é uma forma elevada de democracia, penso que devemos reconhecer e aceitar os seus resultados.
Mas a própria democracia ainda não conseguiu encontrar meios de se defender contra os efeitos nocivos dos seus próprios mecanismos.
E não basta a educação e o conhecimento da História, porque se vota também com a emoção, não apenas a razão.
Hitler ganhou um referendo e podemos discutir se a responsabilidade da guerra não deverá também ser partilhada pelos eleitores. E já tinha ganho antes umas eleições... Que fazer se os resultados de uma votação forem uma declaração de guerra, a opressão de um povo mais fraco?
Ou, mais terra a terra, não poderemos dizer que há perguntas que não se fazem? Especialmente quando não queremos ouvir algumas respostas.
Poderemos ainda discutir se 37,44% de eleitores podem decidir uma coisa tão importante como um país sair da união europeia, contra a vontade expressa de 34,56% (não discutamos se estes são citadinos e mais jovens do que os outros) e sendo os abstencionistas 28%.
Mas enfim, são as regras constitucionais do United Kingdom  (continuará a ser unido?) e temos de aceitar o resultado.
Deixou-me triste e chocado.
Porque numa comunidade de nações deve haver normas e procedimentos organizativos que sigam as regras do método científico. E em qualquer ciência ou técnica o trabalho deve ser feito com contactos internacionais  e regras bem definidas, desde questões de saúde a questões de transportes.
Não seria de esperar que um país onde nasceu a aplicação prática do método científico (séc.XVII: academia das ciências com obrigatoriedade de divulgação e submissão a referendo de todas as inovações) e a democracia moderna da revolução gloriosa do século XVIII (sem esquecer a magna carta limitadora do absolutismo) se afastasse assim da ideia de Europa.
Terá triunfado o ministro do "Yes Minister"; "a Inglaterra sempre lutou pela divisão da Europa. por isso devemos aderir á união" (e sair).
E contudo, não esqueçamos o Leopardo, de Lampedusa, mudemos para ficarmos na mesma. Talvez que o petróleo da Escócia exerça o seu poder, ou as eólicas da Irlanda do Norte, e seja apenas um recuo para a EFTA (ainda existe a EFTA...), para o lado da Noruega, com livre circulação à mesma, embora só para alguns (os ingleses gostam pouco do coeficiente de Gini).
Aguardemos, pode ser que não haja grande diferença, e continue a usar-se o metro na Inglaterra, não jardas.

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