segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Os TPC do nosso descontentamento

Aviso: o que segue é uma forma de ironia

No exercício das suas funções relevantes para o progresso da educação, a associação de pais espanhola requereu o fim dos trabalhos de casa para que as crianças pudessem dar largas à sua criatividade lúdica, socializassem melhor com os pais e amigos e assim se desenvolvessem harmoniosamente.
De tão evidente que esta medida contribuirá para a abertura das mentes das novas gerações e para a melhor produtividade e competitividade dos que serão brevemente os jovens adultos da nação espanhola, que imediatamente a associação de pais portuguesa se fez eco, concordando que os TPC são uma forma tirânica de impedir as crianças de se divertirem e de socializarem , criando-lhes complexos e sentimentos de frustração por não poderem executá-los.

De facto, frustrados são os professores e os pais (e avós) desatualizados, informáticos iletrados que não descarregam apps nos smartphones nem frequentam as discotecas e os bares de shots. Que repetem os programas curriculares como robôs e assim querem transmitir aos alunos a sua ausência de criatividade. Que os programas contenham o resultado de séculos de esforço da humanidade para compreender minimamente o que a rodeia, isso não interessa, quando contribui muito mais para o desenvolvimento da personalidade passar o tempo depois das  aulas com os últimos jogos na consola ou no smartphone. E que não venham os professores desatualizados dizer que a matemática é como a ginástica, que não basta o exercício nas aulas, é preciso fazer exercícios em casa para ginasticar o cérebro.

Aviso: o que segue não é uma forma de ironia

Se um grupo com capacidade de modelar a evolução da sociedade quisesse condicionar a futura distribuição dos jovens por classes de rendimento pecuniário e de capacidade intelectual, não faria melhor.  Não digo que a eliminação dos TPC seria só por si responsável. Mas contribuirá para que uma maioria dos jovens, tornada dependente dos jogos de smartphone , dos concertos pop e dos bares de shots,  fique separada de uma minoria de jovens que fizeram os seus exercícios de matemática quando crianças (até tiraram prazer disso, mas há muita gente que não compreende isso, parece que tem alergia à matemática) e adquiriram capacidades e hábitos de trabalho que lhes permitirão uma vida melhor.
Até parece uma teoria da conspiração, divirtam-se, que os nossos filhos (nós até lhes pagamos umas explicações em privado ou os mandamos para colégios religiosos de disciplina rigorosa) cá estarão para abocanhar a fatia do rendimento que puderem e vocês deixarem. Ou de como a hipocrisia dos imperadores romanos não desiste, panem et circenses...

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