segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Acis e Galatea, Fundação Gulbenkian, 23 e 24 de fevereiro de 2017

Não sou crítico nem conhecedor de música, mas gosto muito de música, principalmente quando requer o instrumento da voz humana. Esta realização de Acis e Galatea foi um espetáculo de qualidade extraordinária, e com cantores portugueses. Ana Quintans, se não atingiu a perfeição, esteve tão perto, que na prática se pode considerar perfeição. E os cantores que a acompanharam estiveram à altura. O maestro argentino Leonardo Alarcon conseguiu tirar da orquestra gulbenkian um som cheio e firme.
Handel escreveu esta pequena ópera pastoral sobre um tema das metamorfoses de Ovidio. Ao gosto da época e integrado no desenvolvimento cultural e económico da Inglaterra de 1718. A revolução gloriosa tinha 29 anos (reforço do parlamento, dos direitos humanos e da atividade económica) e a quadrupla aliança (exércitos inglês, austríaco, francês e holandês) iria asfixiar as tolas ambições de Filipe V de Espanha. Em Portugal o ouro do Brasil, apesar dos esbanjamentos de D.João V, ia equilibrando as finanças. O novo riquismo de então abandonou o plano de Conde da Ericeira, pensado para criar uma economia sustentável, como se diz agora e como poucos compreendiam na altura.  O conde da Ericeira compreendia.
É interessante ver como Handel, ou melhor, o seu libretista (ver
http://www.naxos.com/education/opera_libretti.asp?pn=&char=all&composer=handel&opera=acis_and_galatea&libretto_file=english/libretto.htm )

ao descreverem os componentes da riqueza de uma das personagens, o fazem como se estivessem a caraterizar a riqueza de um senhor feudal inglês em 1718, como aqueles para quem Handel trabalhava, antes de se lançar como empresário : propriedade de extensas terras agrícolas e de gado.
Interessante também como Galatea faz ressuscitar o amante morto, numa associação com o cristianismo e com o pensamento mágico, que segundo alguns tem a origem na imaginação infantil e que dá por sua vez origem às religiões.

Sem comentários:

Enviar um comentário