segunda-feira, 29 de maio de 2017

Consulta pública sobre o terminal de contentores do Barreiro

O Ministério do Ambiente tem em consulta pública o terminal de contentores do Barreiro, um porto para navios de 8000 TEU e 14m de calado numa zona de assoreamento de sondas 0 na zona de manobra e com um estreito canal com sondas de 6 e 7 m a alargar e aprofundar.

http://www.participa.pt/consulta.jsp?loadP=1890

Comentários que enviei no âmbito da consulta:

1 - A justificação apresentada parece insuficiente por ausencia de comparação do impacto económico e da perda de competitividade externa com as alternativas:
- porto de águas profundas na Cova do Vapor/Golada (não confundir com Trafaria, cuja contestação foi utilizada para inviabilizar o porto de águas profundas na foz do Tejo; aliás. será inevitável intervir na zona para fecho da Golada  contra o desassoreamento da Caparica e o assoreamento da barra do Tejo, e para instalação de um terminal de líquidos)
- ampliação com estacaria do terminal de S.Apolónia, receando-se que o objetivo da sua transferencia para o Barreiro seja o imobiliário S.Apolónia- Matinha
- melhoria da barra e desenvolvimento do porto de Setubal
2 - é exagerada a previsão para o navio de projeto: a sonda disponível (ver carta náutica em anexo
https://1drv.ms/i/s!Al9_rthOlbwehXHPPlehfdltEDvb     ) no canal de aproximação é de 6 a 7m e na zona de manobra é 0 (comprimento do navio 350m), o que para um calado desejável de 14 m (!) obriga a dragagens profundas ; existe colisão com a rota do barco do Montijo que terá de se deslocar para onde existem hoje baixios (obrigando a dragagens não pagas pelo concessionário do terminal)
3 - segundo estudo do LNEC, os valores indicados para as dragagens anuais são otimistas, o que justifica a recomendação de se realizarem já experiencias de determinação de taxas de assoreamento tanto quanto possível próximas das condições reais; igualmente se receia que os custos estimados para as dragagens sejam otimistas (2€/m3, quando poderá ser 5€/m3); a localização do terminal do Barreiro é desfavorável do ponto de vista do assoreamento dada a sua exposição aos ventos dominantes N e SW, pelo que se consideram otimistas os valores apresentados, tanto mais que os custos de dragagens deverão ser assumidos pelo concessionário; recomenda-se a sobreposição da carta náutica ao projeto do porto para avaliar bem aas necessidades de dragagens
4 - enquanto terminal de contentores de volume significativo para navios de 8000 TEU o terminal do Barreiro não parece, pelo exposto, ser uma boa solução; no entanto, a sua valência como porto fluvial, de ligação a portos fluviais a montante, como receção de transhipment e como terminal ferroviário com ligação a Setubal e Poceirão é importante, sendo desejável para navios de menor calado, mantendo-se os terminais de Alcantara e Santa Apolónia e preparando-se o fecho da Golada e um futuro porto de águas profundas na Cova do Vapor-Bugio.
5 – Insiste-se  e reforça-se a recomendação de realização de ensaios para determinação experimental da taxa de assoreamento


quinta-feira, 25 de maio de 2017

Igualdade de género


Nunca sei se não serei bem interpretado, ou se sou eu que não me explico bem, ou se penso que estou a pensar bem e estou simplesmente a falhar o que escolhi como objetivo ou como mensagem a transmitir.
Escrevo sobre a igualdade de género. Penso que é um conceito ligado ao lema da revolução francesa, entendendo-o como   igualdade de todos e cada um perante a lei, as regras da convivencia, os direitos e as obrigações. Mesmo que não concordemos com alguns ou algumas. E que as diversidades inevitáveis  de uns para outros sejam compensadas com
a diretiva “de cada um segundo as suas capacidades e a cada um segundo as suas necessidades”, embora seja admissível que numa fase transitória haja alguma desigualdade na remuneração dos resultados diferentemente alcançados por pessoas de diferentes capacidades e que o critério de definição de “necessidades” seja contido.
Isto para  recordar o que disse uma vez à colega que protestava porque eu lhe dava o dobro do trabalho que dava aos colegas masculinos. Claro que tenho de lhe dar o dobro dotrabalho, querida colega, se tem o dobro da capacidade dos seus colegas...
Não sei se fui mal interpretado, mas fui sincero. É vulgar ouvir-se dizer que as mulheres têm de trabalhar mais para provar que são tão boas profissionais ou melhores do que os colegas masculinos.  Infelizmente muitas vezes existe uma forma de exploração nisto, comprovada pela média inferior nos salários em igualdade de complexidade ou de penosidade.
 Mas é um facto que eu verfiquei, e não só naquela colega. O cérebro feminino tem caraterísticas (a teoria comprovada com as imagens da atividade cerebral, da comunicação entre hemisférios enquanto o cérebro masculino tende para uma menor comunicação) que na vida profissional produzem bons resultados onde a análise masculina tem dificuldades. Isto é, muitas vezes na análise de questões tentei ter um pensamento mais feminino... e não sei se não serei mal interpretado.
Escrevo isto também porque num destes dias viajei num comboio do metro conduzido pela única maquinista do metro (penso que é apenas uma, ainda). Lembro-me de em períodos de alguma desmotivação ter proposto a algumas colegas que se inscrevessem no curso de maquinistas. Que tirassem primeiro a carta de pesados e depois se inscrevessem no curso. Mas não consegui convencer nenhuma. Eis porque não resisti, quando encontrei no bar da empresa a única maquinista, então na fase fimal do seu curso, a dizer-lhe: estava a ver que me reformava sem ver uma maquinista no metro. Ao que ela interpretou bem, como um cumprimento.
Quando a vi entrar agora para a cabina do comboio, em S.Sebastião II, com o  seu rabo de cavalo, como as atletas de alta competição, resolvi ficar atento à sua forma de condução. Logo à saída da estação, em contravia, o comboio tem de negociar um aparelho de via, que lá deixámos na esperança de que a linha vermelha rapidamente seria expandida para Campolide, Camp de Ourique e Alcantara, santa ingenuidade. Alguns maquinistas, especialmente quando o comboio vai vazio, esquecem algumas regras da prudencia, e em condução viva sujeitam os poucos passageiros ao solavanco para a direita, logo seguido do solavanco para a esquerda, e alegremente passam pelo sinal de fim de limitação a 30 km/h, na reta para Saldanha. O que não é muito bom para a saúde dos rodados e da suspensão, nem das lanças do aparelho de via, é a questão do desgaste...
Antigamente havia uma norma no metro, sobre aparelhos de via em posição de mudança de via não podiam circular comboios com passageiros, mas as limitações financeiras ditaram esta inconformidade...
O comboio arrancou suavemente, e não terá atingido o limite de 30 km/h quando, antes de atingir o aparelho de via, a maquinista reduziu ligeiramente. Passámos calmamente sobre o aparelho de via, sem solavancos,  e deslizando deixámos o sinal de fim de limitação a 30 e de início de limitação a 45 km/h (para quando o regresso aos 60?) acelerando a  caminho de Saldanha.
Quando me apeei na Alameda  pensei ir lá à frente, e enviar-lhe do cais um beijinho soprado na palma da mão.

Mas podia ser mal interpretado, fiz apenas um discreto aceno de boas viagens...                                                                                                                                                         

sexta-feira, 19 de maio de 2017

De Pirandello a Gudel e a nós

O DN tem sido muito valorizado, acho eu, com a colaboração de jornalistas correspondentes estrangeiros.
Este artigo é um bom exemplo, em que se conta a história de um cidadão de parcos rendimentos que fez uma despesa de 2 euros no supermercado, e que tinha pedido à funcionária da caixa a confirmação do preço de um detergente, e que conclui, o artigo, a relacionar as críticas dos povos do norte com os baixos salários do sul:

http://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/convidados/interior/no-supermercado-com-luigi-pirandello-8484464.html

Mas antes disso, o artigo cita o título da peça de Pirandello: Cosi é, se vi pare (se assim vos parece, é porque é mesmo assim). A história da peça é interessantissima, uma relação entre uma sogra, um genro e a filha ou suposta filha, para a qual há duas visões, e uns defendem uma e outros outra, e não há hipótese de ter certezas. O que é curioso, Gudel tambem chegou à mesma conclusão, com o seu teorema da incompletude, que com mecanismos matemáticos fiáveis, de imunidade ao erro, é sempre possível existirem problemas matemáticos que não possam ser resolvidos. Não há certezas universais, e o método científico impõe regras, mas que só são válidas em domínios restritos.

Isto para dizer que eu digo uma coisa, apresento provas, ou pelo menos o que me parecem provas, mas depois vêm uns senhores, e com muita lábia dizem que eu estou errado, mas o que dizem não me parece nada confiável.
Enfim, pode ser mesmo verdade, o que diz Pirandello, Cosi é, se vi pare.
Pena as pessoas irem atrás disto, que no fundo é, acreditem mais na vossa perceção do que na realidade.
Pena.


quarta-feira, 17 de maio de 2017

Lisboa, Praça Martim Moniz, maio de 2017

não era hora de ponta, mas a procura do elétrico do Castelo era grande; benefícios do turismo
trabalhos para instalação de escadas rolantes; não será barata a operação, em custos de energia e manutenção, mas é um bom equipamento social (na condição de cumprir as especificações de intempérie) e útil para moradores e turistas




Estação de  metro de Martim Moniz, azulejos de Gracinda Candeias.
Recentemente foi apresentada uma queixa contra a destruição de alguns azulejos. Penso que se trata de um mal entendido. As lojas, tal como o gabinete do agente de estação parecem integrados no projeto original relativamente à intervenção com estes azulejos, que alternam com revestimento de pedra. Mais grave me parece o cadeado na porta de emergencia (eterno pretexto da insegurança das grades dos ventiladores).








jacarandás em Lisboa Lisboa, maio de 2017Lisboa, em maio de 2017


Lisboa, praça de Alvalade, maio e 2017,jacarandás em flor;  alguns já têm fruto

terça-feira, 9 de maio de 2017

Aeroporto do Montijo II

Depois da sessão realizada pela Ordem dos Engenheiros em 24 de março de 2017 sobre o aeroporto do Montijo, tive oportunidade de assistir a uma apresentação em 5 de abril na Sociedade de Geografia pelo presidente da Ana, Dr Ponce de Leão, que aliás participara na sessão da Ordem dos engenheiros. Assisti também ao programa prós e contras de 10 de abril dedicado ao aeroporto do Montijo.

Embora alguns especialistas me tenham a seu tempo ensinado, provavelmente com grau elevado de insucesso, alguns rudimentos da ciencia ou tecnica dos transportes,  principalmente a construção de matrizes origem-destino, o cálculo de custos e de benefícios de percursos, a análise da problemárica das energias e o relacionamento das redes de transportes com a estrutura de organização de um território, a verdade é que é grande a minha ignorancia das questões aeronáuticas.

Por isso me interessei pelo tema  do novo aeroporto ou aeroporto complementar da Portela. É sempre interessante mergulhar nos meandros dum conhecimento específico, embora não tenha a veleidade de ultrapassar a camada superficial. Mas tenho a convicção de que devem ser amplamente debatidas estas questões.
Neste caso, talvez imprudentemente (porque primeiro fazem-se os estudos, depois testa-se a validade dos estudos e procede-se em conformidade) porque o XXI governo já declarou a irreversibilidade da decisão de instalação na base aérea nº6 de um aeroporto complementar ao da Portela.
Imprudentemente, talvez, também porque se vão sabendo coisas aos poucos, o que prova que o debate foi mantido em sigilo parcial, e porque, feito o ponto da situação no programa da RTP1 de 10 de abril, faltam os seguintes elementos para tornar definitiva a decisão (isto é, a decisão já é neste momento irreversível, mas ainda não é definitiva; faz-me lembrar o general austríaco na I Grande Guerra, telegrafando para o seu colega a resposta com o estado da sua frente: a situação já é catastrófica, mas ainda não é grave; ou quiçá literalmente, porque as irreversibilidades são em Portugal um grave problema, o "Irreversível" de Monica Belluci:
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/search?q=belluci ) :
1 - conclusão das negociações com a ANA sobre a comparticipação desta nos custos das acessibilidades rodoviárias e fluviais
2  - conclusão das informações pelas companhias aéreas interessadas sobre as especificações da pista no Montijo, ou dito de outra forma, o número de movimentos por hora no Montijo, e consequentemente a resposta à procura, dependerá sempre de que companhias low cost para lá quiserem ir, sendo que um dos fatores de decisão é a capacidade de estacionamento (para poderem esperar que as reservas encham o avião)
3 - aquisição dum sistema de regulação de tráfego aéreo que permita 48 movimentos por hora na Portela (este tema não foi tratado neste prós e contras, envolve uma verba de cerca de 23 milhões de euros e é o principal estrangulamentoo da Portela para aumentar os seus movimentos)
4 - conclusão do relatório da Força Aérea com os custos da deslocação ou da coexistencia, remotamente possível, com os 24 movimentos por hora civis que se pretendem
5 - conclusão do estudo comparativo de impacto ambiental  (final de 2017?), o qual pode ter legalmente força de veto.

Isto é, temos uma decisão irreversível agora e teremos outra decisão irreversivel em finais de 2017.

Outra razão por que me interessei por esta questão é a formação de convicções num assunto público. Curiosamente, o painel de opinião dos espetadores dava no início do prós e contras 59% de aprovação da localização do aeroporto complementar no Montijo. No fim do programa a taxa de aprovação era de 48%. Poderá pôr-se a hipótese de que militantes do partido comunista acorreram a manifestar apoio à posição oficial do seu partido, ou da associação de municípios da região de Setúbal. Mas também podemos pensar que os espetadores foram sensíveis aos argumentos dos pilotos, tão críticos relativamente ao Montijo, o que será positivo, se nos lembrarmos que "quem decide onde ficam os aeroportos não é quem pilota os aviões que nele aterram". Ou mesmo aos argumentos do presidente da câmara do Barreiro, cujo hospital e habitantes (especialmente Lavradio e Baixa da Banheira) serão molestados pelo ruído dos aviões na aproximação ou na descolagem. Se a pista a aproveitar fosse a leste-oeste, a câmara do Montijo manteria o parecer favorável ao aeroporto?).


Grave, muito grave, para mim, é insistir-se em números do relatório Roland Berger que são manifestamente exagerados enquanto custos da solução faseada e final no campo de tiro de Alcochete
e que assim retiram valor a essa solução. É muito grave o senhor ministro, depois de formalmente pedido pelo ex-bastonário da ordem dos engenheiros, e de informado que os números estavam mais de 5 vezes exagerados, ter mantido a estimativa de 2000 milhões de euros, limitando-se  citar acriticamente o estudo, tal como se fazia antes do método cientifico citando o  magister dixit. O pedido do ex bastonário ao senhor ministro foi muito claro: "denuncie o estudo".

Também será grave propagar-se a ideia de que o aeroporto do Montijo rapidamente atingirá a saturação depois de contribuir com 24 movimentos por hora para se atingir os 72 movimentos por hora. Quando é o próprio drPonce Leão que depois da sessão na Sociedade de Geografia, informalmente, confessou que não espera nos tempos mais próximos mais do que 8 movimentos por hora no Montijo. Ou 1200 passageiros por hora nos dois sentidos, ou 600 passageiros por hora nas chegadas, coisa que um barco da Transtejo escoará facilmente.

Quanto à pergunta, esta da coordenadora do programa, que também ficou sem resposta "o que propõem não havendo dinheiro?" num tema em que não há comparticipação comunitária (os aviões agravam substancialmente as emissões de gases com efeito de estufa), parecerá que o que há a fazer é um plano faseado de abandono do aeroporto da Portela, sem aeroportos complementares, para se ir progressiva e lentamente executando de modo aos custos anuais serem suportáveis, e à transferencia do aeroporto da Portela se verificar a prazo de 10 anos. Pelo menos os projetos já se podiam ir fazendo. Já se sabe que as companhias "low cost" não querem uma solução assim, nem a maioria das entidades  e das pessoas habituadas ao local de trabalho na Portela, mas os compromissos internacionais, expressos pelas diretivas comunitárias, são claros, não deve haver aeroportos no meio das cidades, nem em Lisboa (é intolerável pelos riscos o atual movimento de 140 camiões diariamente para fornecimento de combustível aos aviões) nem no Montijo.




segunda-feira, 8 de maio de 2017

O 736 já não fica só no Senhor Roubado, já vai a Odivelas

O 736 já não fica só no Senhor Roubado, já vai a Odivelas, ao bairro do dr Lima Pimentel.
Não conheço bem o local, mas acho que fica a 600 m da estação do metro.
O Estado português gastou muito dinheiro para construir a linha de metro a Odivelas. Poupou algum dinheiro com os combustíveis, dada a maior eficiência energética do transporte ferroviário.
Mas agora, a linha de autocarros 736 que com desperdício já dobrava as linhas de metro do Cais do Sodré-Campo Grande e do Campo Grande-Senhor Roubado foi prolongada até ao bairro do dr Lima Pimentel.



E vejam, vão dois autocarros dos articulados, um logo a seguir ao outro.
Isto é, gasta-se o gasóleo para fazer um serviço que o metro já faz.
Será uma ideia de concorrencia, de dar a escolher ao cliente.
Que é quem paga as consequencias das ineficiencias, claro. O que não ilustra a câmara de Lisboa, agora a decisora no caso da Carris.
Ou de como existe descoordenação, e muita, na gestão dos transportes em Lisboa.

Merci chèr(e)s concitoyen(ne)s

Bicha (queu) para votar, em frente da embaixada francesa, em 7 de maio de 2017



Merci, chers concitoyens et chères concitoyennes.

domingo, 7 de maio de 2017

Exmo(a)s senhore(a)s comentadore(a)s

Exmo(a)s senhore(a)s comentadore(a)s do meu jornal

Grato, com sinceridade, pelo conteúdo informativo dos vossos comentários. Escrevo isto, repito, com sinceridade. Mas também sinceramente vos digo que dispenso adjetivos.
Compreendo a vossa preocupação por uma realização profissional, "fazendo opinião".
Mas preferia a não adjetivação, porque vós pensais pela vossa cabeça, e são vossos os adjetivos, e eu penso pela minha cabeça e não os quero adquirir, os adjetivos; apenas a informação e as hipóteses, as hipóteses também porque são passos essenciais no método científico.
Dou-vos dois exemplos: um de vós classificou os apoiantes de Melenchon com "irracionalidade", e outra de vós os apoiantes de Le Pen como carentes de recursos de cultura.
Não tenho de confessar, mas confesso à mesma, que no primeiro caso fui atingido pela irracionalidade. E tenho pena por isso, dou muita importancia à razão, embora, como dizia Marx, às vezes a razão entra na história de forma pouco racional (outra forma de dizer que não devemos confiar muito nas certezas).
Mas enfim, de França chega a notícia que compensa esta minha pena, Le Pen não passou. Esperemos então pelas legislativas.
Votos de sucesso pessoal e profissional.

sábado, 6 de maio de 2017

A tuneladora, the boring machine, de Elon Musk





Mais uma ideia de Elon Musk ou da sua equipa. Vale lembrar que a ideia do transporte subterrâneo para fugir ao transito vem do século XIX. E que vale a pena discutir, caso a caso, a distribuição do tráfego por transporte individual e coletivo. É válida a ideia de tratar a deslocação de pessoas com os critérios de "grupagem" e de "colisão para acesso ao canal" desenvolvidos para a teleinformática. Mas convem não se perder a visão global, desde os consumos energéticos aos custos.

Salvador Sobral

Curioso, como esta entrevista revela uma pessoa lucida e com uma visão aberta para o progresso das pessoas e a compreensão mútua.

http://sic.sapo.pt/Programas/altadefinicao/videos/2017-05-04-Cada-pessoa-tem-o-seu-problema.-aprendi-que-o-ser-humano-consegue-lidar-com-tudo

Confesso que não acho muito bom o texto da canção que vai cantar no festival da Eurovisão, embora a ideia seja boa. Quanto à musica, não é o meu género, mas reconheço valor e bom gosto ao cantor. Gostaria de sugerir o estudo dos clássicos (a chamada musica erudita), mas não se deve impor nada.
Destaco mais uma vez a lucidez deste jovem de 27 anos, que todas as pessoas conseguem adaptar-se e ninguém deve ser desprezado por ter problemas ou ser diferente.

Difícil de compatibilizar com as leis do mercado, mas eu subscrevo.


"os jovens desempregados deviam fazer manifestações em frente das sedes da CGTP e da UGT"

Eis um exemplo de sinedoque (tomar a parte pelo todo ou o todo pela parte):
https://www.dinheirovivo.pt/economia/sindicatos-sao-os-principais-culpados-por-haver-tantos-jovens-desempregados-e-precarios-em-portugal/

A maior parte das ideias deste texto merece análise e debate sério, mas encabeçar a reportagem com esta frase, "os sindicatos são os principais culpados por haver tantos jovens desempregados" desvirtua o texto. Talvez o autor esteja interessado em corrigir. Vejam-se os comentários, em que apenas um ou outro comentador, típico do botaabaixismo pouco educado e anti-sindicatos, aplaude o autor (seria também interessante que qualquer comentador fosse bem educado, independentemente da razão que possa ter).

Ver entretanto o texto de Maria de Lurdes Rodrigues sobre a sindicalização:
http://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/maria-de-lurdes-rodrigues/interior/compreender-a-revolta-populista-7201122.html

e o seu gráfico em que o norte contrasta com o sul (contrastes, ao longo da história, a diversidade religiosa ao norte, a inquisição ao sul, a alfabetização da maioria da população no século XVI ao norte e no século XX ao sul ...) :



E um retrato dos empregados oficialmente registados (bom seria se o rendimento bruto anual fosse de 17300 euros; poderá estimar-se uma economia paralela de 40% no mundo do trabalho?):







As heranças e o seu peso

Reportagem no dinheiro vivo sobre 40 jovens de menos de 40 anos com sucesso:
https://www.dinheirovivo.pt/economia/galeria/eles-dao-que-falar-40-lideres-com-menos-de-40-anos/

Muito interessante reportagem. Das 40 pessoas retratadas, 12 (30%) têm a origem do seu sucesso em empresa familiar, 6 (15%) na política, e 22 (55%) com outras origens. Sem obviamente menosprezo para com a valia profissional e humana dos envolvidos, valerá a pena pensar nos argumentos de Picketti atribuindo às leis das heranças grande responsabilidade nas limitações do crescimento da economia. Ainda bem que a maioria é de outras origens.

Do teorema da incompletude de Gudel à campanha eleitoral para as autárticas

A National Geographic é credora de agradecimentos pela série em que apresenta as grandes figuras da Física e da Matemática. Dum dos últimos números, dedicado a Gudel, retiro o teorema da incompletude. Gudel é uma das maiores figuras da matemática, e veio contrariar o grande objetivo de outro grande vulto, David Hilbert, que procurava o grande teorema de que todos os outros se deduziriam, uma espécie de verdade universal.
Ora o teorema que Gudel demonstrou diz apenas que a utilização de métodos à prova de erros conduz ao reconhecimento de que existem problemas matemáticos que nunca poderão ser resolvidos. E uma das consequencias é que uma lei só é válida num dominio restrito, não é uniiversal.
Curioso pensar que a sabedoria popular já tinha descoberto isso, que muitos problemas só são resolvidos porque os métodos utilizados são falaciosos ou simplesmente conseguem enganar os cidadãos. E que uma coisa que é verdade num certo contexto, pode nãoser noutro contexto (e aí entra Murphy, se pode não ser, certamente não será).

Ora, isto tem uma aplicação nas regras eleitorais, concretamente na impossibilidade de satisfação de todos os criterios de uma eleição justa, ou teorema da impossibilidade de Kenneth Arrow
(ver
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2013/05/analise-logica-das-acoes-do-tribunal.html     )

É preocupante ver o afã dos comentadores televisivos (aspirantes a formadores da opinião pública)
em defender o voto uninominal (um método que conduziu à linda escolha do presidente dos USA com menos 3 milhões de votos do que o concorrente) em detrimento do voto proporcional e do voto preferencial.
Concordo que é um problema matemático de alguma complexidade e que existe um preconceito nacional contra a matemática, mas convinha não exagerar. Mesmo que exista uma maioria, as minorias têm o direito de estar representadas no parlamento, no governo e no poder judicial. O argumento da "governabilidade" e da possibilidade do presidente da câmara escolher a sua equipa é simples de contrariar, habituem-se a trabalhar em equipa, com pessoas que pensam de maneira diferente, analisem os dados e aprovem soluções. Deixem estar o voto proporcional (melhorem-no até, porque é possivel, não é admissivel que um partido tenha um deputado com 19000 votos e outro partido precisasse de 75000 votos para eleger um deputado). E deixem-se salvadores de pátrias e de dogmas universais. Gudel demonstrou que não existem.

Ivan o Terrível

Centro cultural de Belem, em 28 de abril de 2017, pela orquestra Metropolitana e o coro princesa das Astúrias, Ivan o Terrível, de Prokofiev, musica dos filmes de Eisenstein em forma de oratória.

No início, referencia ao que se passava na Europa no mesmo tempo, século XVI, a obsessão pelo domínio da Europa por Carlos V, a Inquisição, as lutas religiosas...
Curioso comparar Ivan,o primeiro  czar da Russia, com o rei de Portugal a que chamam principe perfeito, D.João II. Ambos ferozes inimigos dos senhores feudais e centralizadores. Ambos com profundas psicopatias. Ambos com fins de vida sem poder.
Interessante ver como Estaline tinha a política de enaltecer os herois da história russa, tentando incutir na população as suas próprias semelhanças com eles, e para isso se serviu de Prokofiev e de Eisenstein (e especialmente de Chostakovitch, honesto, ingénuo e sincero militante).
Prokofiev, que fez a sua vida com independencia, entrando e saindo da união soviética, e que de uma vez respondeu a Estaline, que criticara a sua música como sendo politicamente fraca, que a politica dele era musicalmente fraca. E que é sempre apresentado pelos comentadores ocidentais como um oprimido por Estaline.
É bom agora podermos utilizar os procedimentos de análise histórica e desmitificar os herois, podermos identificar os seus desatinos, as suas psicopatias, as suas insuficiencias, as suas formas de enganar o povo. E assim desmitificar também os salvadores de pátrias que se apresentam agora a recolher votos e elogios pelos comentadores.
Engraçado lembrarmo-nos como António Ferro fez o mesmo com a política cultural do Estado Novo, com a elegia de Camões, a exposição universal de 1940, o bailado Verde Gaio, a música com referencias populares (como Prokofiev ...), os filmes de temática popular (António Silva, Vasco Santana, Ribeirinho...).

Mas é extraordinária, a música de Ivan o Terrível.

E foi muito bem interpretada.

Interpretação da orquestra Philarmonia:

Messages, Jonathan Harvey

Fundação Gulbenkian, 5 de maio de 2017, pelo coro e orquestra Gulbenkian, Messages, de Jonathan Harvey, com texto constituido pelos nomes dos anjos das tradições judaica e persa, organizados hierarquicamente, de Khabiel, Gabriel e Suria, no primeiro céu, a Midrash, Aniel e A-El, no sétimo céu.

Curiosa a tradição partilhada pela cultura antiga judaica e persa. aliás paraiso é uma palavra persa, o que indicia que o conceito de paraiso nasceu na antiga Pérsia, para os lados do Eufrates, de Susa, por aí... o berço da civilização ocidental foi no médio oriente...se conseguissemos que a beleza literária dos textos sagrados se sobrepusesse aos dogmas religiosos...

Interpretação retirada do youtube, pela filarmónica e coro da radio de Berlim: