quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Praça 25 de abril, ou o triunfo dos grandes arquitetos e dos pequenos gestores públicos




Praça 25  de abril, em Lisboa, junto da doca do Poço do Bispo, monumento aos construtores da cidade, de José Guimarães

A nor-nordeste da praça 25 de abril, os primeiros edificios da urbanização de Renzo Piano

imagem Google maps

O artigo do DN chamou-me a atenção para o empreendimento junto da Matinha e do Poço do Bispo. Concretizou-se parte da ideia de entregar a arquitetos de renome internacional pedaços da cidade. Renzo Piano aqui, Jean Nouvel e Siza Vieira em Alcantara, Frank Gehry no Parque Meyer, Amanda Levete no MAAT, Paulo Mendes da Rocha no Museu dos Coches.
Muitos, a maioria, receio, incenseiam a mentalidade pequenina e nova-rica dos gestores autárquicos que os convidaram.
Pessoalmente, prefiro a ideia de Sidney para a sua ópera, por concurso público internacional. Mas os australianos têm destas coisas. Lembram-se de construir uma ponte em plena crise internacional depressiva,  felizmente antes de Haiek, que teria ficado mais fulo do que quando se esqueceram de lhe pagar a reforma que ele reclamou, com fundos públicos. Mas os australianos têm a costela anglo-saxónica que leva os ingleses, tão snobs em tanta coisa, a selecionar por concurso público internacional o governador do seu banco central, e por acaso até selecionaram um estrangeiro, na terra do brexit. Isolacionistas.
Nós não, não somos isolacionistas, somos internacinalistas, gostamos que os grandes arquitetos nos decorem a cidade para atrair turistas.
São assim desprezadas as ideias de grupos e grupos de jovens arquitetos portugueses. Eles que se integrem nos ateliers dos grandes, que se submetam e obedeçam religiosamente.



https://www.dn.pt/sociedade/interior/novo-bairro-de-marvila-vai-ligar-expo-ao-terreiro-do-paco-8948166.html

Sinceramente, como me repugna este sentimentalismo, o grande arquiteto gostaria de viver a sua reforma num pequeno apartamento em Lisboa, onde espera que os seus edificios e o seu bairro "não seja apenas para pessoas especiais":
https://www.dn.pt/artes/interior/espero-que-o-braco-de-prata-nao-seja-so-para-pessoas-especiais-8556322.html

É tão pequenino, tão provinciano, me perdoem as pessoas da provincia, utilizo o termo no sentido que lhe dava Sofia de Melo Breyner.

E quanto à urbanização, que não se pode dizer condomínio, que parece mal, são 13 hectares com a pretensão de ser "um local de encontro e de destino", e de "ligação do Terreiro do Paço ao Parque das Nações".

Porque me detenho com isto?  Porque acho estranho que tão brilhantes mentes, que sabem projetar infraestruturas de um bairro, alimentação elétrica, de águas canalizadas, de gás, telecomunicações, esgotos, se esqueçam de uma coisa que qualqueer organização do território deve contemplar: os espaços canais de transportes. Mas isso não interessa, chama-se com o smartphone o taxi descaraterizado da Uber, ou apela-se à app de carros autónomos ou de partilha,  a Carris providenciará paragens para o seu 728 e a câmara de Lisboa dirá aos ingénuos que reivindicavam uma linha de metro ligeiro do Cais do Sodré ao Parque das Nações junto da margem do rio (a tração elétrica sobre carris é energeticamente mais eficiente, o que deveria ter importancia num país energeticamente dependente de combustíveis fósseis) ,  que talvez se faça à superfície, no meio do jardim de Renzo Piano e de criancinhas a correr e de bicicletas de rápidos ciclistas, ou em viaduto (horror, que impacto visual), ou enterrado parcialmente como na marginal de Barcelona, ou totalmente, ou imerso em tuneis pré-fabricados  ao longo da frente de água. E recolherá votos.

Em resumo: a fazer fé nos elementos disponíveis, esta urbanização funcionará como um tampão, cortando a ligação rodoviária à rotunda de entrada sul no Parque das Nações e canalizando o tráfego rodoviário para a Av.Infante D.Henrique, troço interior. Manter-se-á assim a estratégia da câmara, de dificultar o tráfego automóvel sem reforço de alternativa de transporte coletivo.

Que me perdoem os geniais arquitetos, mas estariamos melhor com arquitetos menos geniais. Talvez planeassem melhor os transportes na zona, talvez não fizessem aqueles telhados assim, a pedir paineis fotovoltaicos, numa perspetiva de minimização de danos...

edificio Abel Pereira da Fonseca


arranjo ajardinado, monumento e edificios Renzo Piano

Doca do Poço do Bispo

o Turbulento, provavelmente no seu leito de morte

fim de vida

barcaças e silo

os planos inclinados dos telhados têm frestas, mas podiam rentabilizar o investimento instalando paineis fotovoltaicos


assoreamento curioso, a norte do pontão de estacas em ruina; ao longe, o Funchal e o Porto atracados

o promotor desenvolve intensa campanha; visitantes em visita guiada

ciclando antes do arranjo dos jardins sem transporte coletivo

o Funchal e o Porto, da companhia de cruzeiros classicos Potamos

ao fundo, a estrutura dos depósitos de combustível que foram da SACOR

ao longe, a marina do Parque das Nações e a ponte V.da Gama





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