segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Saint-Simon e Fourier ao volante (guiador) de um Volkswagen MOIA

Gosto de frequentar os seminários que por aí se vão fazendo sobre a mobilidade elétrica.
Por formação profissional só posso gostar da ideia de mobilidade elétrica. O rendimento do motor elétrico, próximo da unidade, só tem concorrencia no motor hidráulico, que não é muito prático para a tração automóvel .Podiamos imaginar um depósito a bordo com água comprimida, mas o peso das suas paredes para resistir à pressão tornava-o proibitivo. Já os entusiastas do automóvel elétrico com baterias gostarão pouco de saber que, graças ao peso das baterias, o seu rendimento equivale ao dos automóveis por ar comprimido.
Mas a moda dos automóveis com baterias que se vai desenvolvendo parece esquecer alguns princípios da nossa física. Crêem os assistentes deslumbrados que vamos ter mais cedo ou mais tarde aviões elétricos e automóveis autónomos com 600 km de autonomia.
Depois derivam para conceitos interessantes, por exemplo, a substituição da posse do automóvel pela partilha do automóvel.
Confesso que já ouvi coisas que não esperaria ouvir de Saint Simon ou Fourirer, os teóricos do socialismo utópico. Utópico porque anulando o conceito de propriedade privada. Não esperaria isso de Proudhon, o da propriedade ser um roubo, mas nestas coisas devemos ir aos especialistas. Cito então o livro de Miguel Nogueira de Brito, da coleção da fundação Francisco Manuel dos Santos, Propriedade privada, com o extrato do Código da natureza, de Etienne Gabriel Morelly (século XVIII) onde Fourier e Saint Simon se apoiaram:
"nada na sociedade pertencerá individualmente  a qualquer pessoa, a não ser as coisas de que faça uso efetivo, seja para as suas necessidades, lazer ou trabalho diário; todo o cidadão será sustentado e alimentado à custa do público e contribuirá para a utilidade pública segundo as suas forças, talento e idade..."
Confesso que é interessante ler um escrito assim, em pleno século dos sucessos do mercantilismo e de Adam Smith (que curiosamente falava da responsabilidade social da propriedade). E o mesmo se diga da constituição alemã de 1949: art.49, nº2 - "a propriedade traz obrigações e o seu uso deve servir o bem estar geral""  !!!
ver também:
https://en.wikipedia.org/wiki/From_each_according_to_his_ability,_to_each_according_to_his_needs

Mas não há dúvida, é o que dizem agora os propagandistas da mobilidade elétrica, como o automóvel fica parado a maior parte do tempo, o melhor é partilhá-lo. Além do mais , reduz a congestão no transito.
Vamos que em Lisboa circulam por dia 150 mil automóveis dos seus habitantes mais 150 mil de habitantes nos municípios adjacentes, gerando 700 mil viagens diárias (admitindo 6km por viagem teremos 4,2 milhões de veículos.km só na área do município de Lisboa, sem contar com o resto da área metropolitana).
Supondo que depois da introdução da partilha temos uma adesão de   30%, graças à intensa publicidade e uma utilização média de 10 vezes por automóvel partilhado (em vez de estar estacionado, sabendo-se que o estacionamento gera congestionamento), resultará 210 mil automóveis de posse a circular mais 90 mil/10=9 mil automóveis de partilha. Ou 219 mil automóveis em vez de 300 mil, ou cerca de 40 mil a circular nas duas horas de ponta, em vez de 60 mil.
O que é uma vantagem, embora conviria não esquecer que o objetivo de redução eficaz do congestionamento e da emissão de gases com efeito de estufa (não esquecer que fabricar baterias emite gases com efeito de estufa e que o atrito da borracha com o asfalto gera mais consumo por passageiro.km do que no contacto ferro com ferro acima de um dado volume de tráfego).

Mas a publicidade da mobilidade elétrica inclui ainda outra "novidade"(como se fosse possível existir sob o sol algo de novo...) - o conceito de car sharing ou melhor, de ride sharing. E aí temos a Volkswagen a desenvolver a sua nova marca Moia, derivada da Transponder mas com tração elétrica e 6 cómodos lugares, com alguma privacidade.
O que me trouxe à lembrança os candongueiros de Luanda, que há anos sabem o que é a economia da partilha aplicada ao transporte urbano.

Vejam-se as fotos seguintes:

Não são Volkswagen Transponder de motor elétrico, são principalmente Toyotas Hiace, mas são na mesma vanshared, ou ride sharing, como soe dizer-se agora, ou simplesmente candongueiros, como se diz em Luanda 

Em Luanda não há metro, nem taxas de congestionamento, só congestionamento, com tudo o que isso significa para a degradação da saúde das pessoas


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